Seven minutes in the Snow

Capítulo um- Congelando


—Alguém por favor me diz por que eu sugeri que fizéssemos isso? —Janna disse com o tom mais calmo que conseguiu. Mas seu interior estava louco, gritando a plenos pulmões—Eu quero voltar atrás.

Marco revirou os olhos e apenas suspirou. Jackie Lynn riu do seu drama total.

—Porque você está com saudade dela mesmo que não admita—Marco expôs sem muita paciência. E ela entendia. Uma festa na casa dos Diaz lotada de adolescentes não o trazia boas lembranças. Ele estava calculando qual era a probabilidade daquilo dar errado e virar uma catástrofe. Talvez por isso os três adolescentes estivessem do lado de fora da casa, naquele frio congelante. Todos eles tinham lembranças terríveis.

Janna também estava apavorada. Na verdade ela não fazia ideia do porquê ter feito essa maldita festa. Tudo estava dando errado... Ela considerava o número de pessoas que haviam chegado até aquele momento e viu que as coisas não estavam da maneira que ela esperava. A “festa” começou com a ideia de reunir Star na casa dos Diaz de novo e depois cada vez mais pessoas surgiram no negócio. Os convidados trouxeram mais convidados e agora cerca de 30 pessoas adentravam todos os cômodos da casa. A neve lá fora só piorava ainda mais aquilo. Todas as pessoas tinham que ficar dentro da casa quentinha pois uma idiota completa havia resolvido dar uma festa em uma casa pequena no dia mais frio registrado em janeiro na cidade de Echo Creek.

Mas na verdade, isso não a incomodava. Seria apenas uma desculpa reclamar que havia gente gastando papel higiênico de mais ou bebendo todo o ponche. Seria desculpa dizer que a culpa de todo o mau humor da garota era o chilique do Diaz ou o excesso de gente desconhecida.

Ela. Ela era o problema.

—Não acredito que estão comendo todos os meus nachos! —Marco gritou e saiu correndo para dentro da casa. Jackie riu e Janna permaneceu olhando para a rua, seus pensamentos longes.

—Espero que não tenha mudado de ideia e pensado em fugir da sua própria festa—Jackie disse e tomou um gole do seu chocolate quente em uma caneca. A garota estava envolta em camadas e mais camadas de roupas quentes, e um vapor branco saia da sua boca enquanto ela falava—Acho que quanto mais cedo você vencer esse empecilho, melhor vai ser.

A garota com o capuz e casacos de pelo olhou para todos os lados. Ninguém jamais poderia saber nada daquilo. Nada. Apenas Jackie sabia e ela nem ao menos sabia por que havia deixado escapar aquilo em meio a uma das aulas de educação física.

—Ninguém pode saber, Jackie—ela disse e Jackie deu uma risadinha.

—Olha Janna. Nós somos amigos. Eu, Marco e Star somos seus amigos. Você não pode guardar as coisas só para você—Jackie pegou as mãos enluvadas da garota. Mas aquilo era algo que ela levaria ao túmulo consigo mesma. Marco não iria saber, Star tão pouco—Lembra do porquê marcamos essa reunião?

—Para eu matar a saudade dela—Janna murmurou e escondeu seu queixo embaixo do casaco. Jackie sorriu e concordou com a cabeça—Mas isso não quer dizer que eu tenha que dizer nada!

—Você não tem que dizer absolutamente nada que não queira. Mas, Janna, você tem a péssima mania de achar que as coisas são bobagem. Você sentia tanto a falta dela que dava para notar, mas seguia dizendo que isso era a mais pura bobagem quando todo mundo sabia que não era—A garota disse e o ambiente caiu em silêncio—Não te peço nada além disso hoje. Apenas fale com ela, entendido?

Janna apenas assentiu em silêncio enquanto Jackie se levantou e adentrou na casa. A garota olhou para suas luvas e suspirou. Ela não queria entrar e o caminho para longe dali parecia tão fácil e próximo...

Janna sentia que faziam décadas desde que não via Star. Desde que ela e Marco tinham voltado pra Mewni ela podia contar como uma ou duas as vezes em que tinha a visto. E as duas foram catastróficas. Uma, todos brigaram e na outra ela fugiu. Fugiu quando ela disse o que havia acontecido. Entre ela e....

Não havia maneira de olhar nos olhos dela hoje.

A garota permaneceu ali do lado de fora apenas pensando em nada e tudo ao mesmo tempo. Ela pensava em como Star pareceria. Ela ainda teria o mesmo sorriso? Ainda falaria as mesmas besteiras? Janna ainda se sentiria péssima ao ver como ela estava linda, imponente enquanto a única diferença aparente nela era seu corte de cabelo mais curto e seu espírito mais rebelde.

Passaram-se cerca de quinze minutos até ela sentir que estava congelando. Se levantou e andou aos poucos notando a neve cair. Cedo ou tarde alguém iria ali dizer para ela que Star havia chegado. No mínimo a própria princesa apareceria em carne e osso para falar com ela ali mesma. Janna preferiu se precaver e entrar para a casa lotada, talvez se esconder em algum lugar. Ela poderia mentir para a Jackie. Afinal, Star estaria em Mewni e não desmentiria uma palavra que ela dissesse.

A casa estava barulhenta com música tão alta que ninguém ouvia nada. Nenhuma voz sequer. Janna tirou as luvas e o casaco e adentrou na multidão de pessoas que se amassava para dançar, comer e conversar, tudo ao mesmo tempo.

Ela pegou algo para comer da mão de alguém e seguiu para achar seus amigos sumidos. Andou toda a sala em busca de todos quando ouviu os murmurinhos assim que a música parou para iniciar a próxima.

A Star chegou e estão dizendo que ela está uma gata” um garoto disse e Janna sentiu seu estômago virar em 360 graus. Aquela era a hora de fugir correndo ou então encarar.

A garota engoliu o seco e continuou andando. Procurou por Jackie para desabafar o quanto ela estava se sentindo horrível quando os viu. Jackie Lynn, Marco e Star batendo um papo aos pés da escada. E naquele momento ela soube o que era morrer. Ela tinha morrido naquele instante.

Os três falavam animadamente, mas a única coisa em que ela prestou atenção foi a garota. Ela ainda era mesma. Mesmo cabelo, mesmos olhos, mesmo sorriso espontâneo. Ela não ligava para nada ao redor dos três e estava completamente distraída. Lindamente distraída.

Ela ainda era a mesma, mas diferente. Vestia uma roupa mais formal, mais adulta e menos infantil. Ela era uma mulher agora, e sua aparência fazia jus a sua condição.

E foi naquele momento que Janna deveria tomar sua decisão. Jackie notou o olhar dela, assim como Marco em seguida e Star logo adiante. A garota a encarou e Janna sentiu seu coração tropeçar e correr em seus batimentos. Os olhos da garota encontraram os seus e o sorriso foi formado nos seus lábios. Janna sabia. Sabia que ela viria em sua direção e soube também que tinha que tomar sua decisão. Correr, ou encarar. Cumprimentar ou ignorar.

E dentre as decisões, ela tomou a mais covarde.

Deu as costas e correu para bem longe.