Seven minutes in the Snow

Capítulo 2: Um equívoco


—Eu não faço a menor ideia de onde eu estava com a minha cabeça de fazer tudo isso pra ela! —Janna gritou enquanto tomava seu ponche devagarinho no frio congelante do jardim. Não havia ninguém além dela mesma ali naquele lugar, mas ela ainda gritava—Agora ela está lá, com toda aquela pose, maravilhosa olhando para minha cara enquanto eu não consigo nem me aproximar.

—Ela falou de você quinze minutos seguidos—Jackie disse se aproximando e Janna escondeu os olhos com as luvas. Ela se sentia péssima. O frio estava congelando seu cérebro e a neve caia gelada na sua cara—Janna...

—Nada de Janna! Nada de: “Você precisa falar com ela Janna. Precisa ser honesta, Janna”! Sabe o que eu tenho que fazer? Tira-la da minha vida. Está óbvio e claro— Ela gritou e olhou para Jackie. A amiga tinha flocos brancos de neve por todo seu cabelo curto—Vocês insistem em dizer que eu tenho que aproxima-la da minha vida mas quer saber? Vocês estão errados.

—Mas você gosta dela... —Jackie sussurrou e a garota riu, debochada.

—Mais do que eu posso dizer—ela admitiu e Jackie balançou a cabeça como se aquilo fosse claro—Acho que nunca te contei o porquê de ter me afastado. Nós passamos um dia incrível em Mewni juntas e sei lá, Jackie. Minha percepção sobre ela mudou. Mesmo eu sabendo que isso era platônico. Era impossível. Ela já namorou antes e não foram como pessoas como eu.

—Ela é melhor que isso, Janna—Jackie retrucou—Aposto que ela nunca ligaria para isso.

—Ela é melhor do que qualquer outra pessoa que eu conheci. Eu achava que ela não ligaria para isso também até aquele dia. Foi um equívoco. Eu achei que pudesse ser real até que tudo veio na minha cara. O universo cuspiu isso em mim—Janna gritava cada vez mais— Ela disse toda sorridente que ela e o Marco tinham ficado, Jackie. Foi ai que eu percebi que isso não era justo. Ela sempre o amou e mesmo que eu fosse um garoto, ou a pessoa mais linda do universo não adiantaria NADA. Porque ele é o Marco e eu sou só... A Janna.

Naquele momento Jackie percebeu como aquilo machucava a amiga. Sua respiração estava entrecortada e suas mãos permaneciam em seus olhos, escondendo seu rosto. Mesmo que soubesse que Star não fazia por mal e sentia saudade, ela tinha total noção que se ninguém falasse o que estava acontecendo, Star nunca teria a menor noção de como machucava Janna a cada palavra que dissesse enquanto a garota estaria apenas ouvindo e desmoronando. Como sua amiga mais antiga ela sabia que seria errado de obriga-la a fazer isso.

—Então... Deixa isso pra lá, Janna. Não quero que faça nada que machuque você, ouviu? —A garota perguntou e acarinhou suas costas—Mas não fique nesse frio. Você vai ficar doente.

—Se eu não for isso... Isso não vai machuca-la? —ela perguntou e Jackie sorriu. Céus como ela se preocupava...

—Talvez. Mas você sabe que não é obrigada a nada, certo? —Janna assentiu enquanto Jackie apenas dava passos para longe do quintal dos Diaz. A garota tremeu e sentiu os flocos caírem em seu rosto.

Na sua mente apenas flashbacks passavam. Ela lembrou do sorriso da garota e se colocou em seu lugar. Star havia recebido uma comemoração de Janna e talvez achado que elas se veriam depois de quase um ano e meio. Elas tinham dezessete quando se encontraram pela última vez, e agora tinham dezoito e meio. Janna apostava que a saudade que Star sentia dela não era tão aguda quando a sua própria, mas mesmo assim soube que doía para ela ver sua amiga dar as costas e ir embora ao invés de ir te cumprimentar.

Ela não sabia o que estava acontecendo. Não sabia que machucava Janna só pelo fato de respirar em um mesmo cômodo.

A garota se levantou e precisou tomar uma decisão naquele momento. A rua estava a cerca de uns 10 passos e a casa dos Diaz, a 20. Era uma decisão fácil, mas ela era difícil. Era do contra.

Seguiu sua cabeça até os vinte passos seguintes, em uma oração silenciosa de não encontrar Star. Pelo amor, não tenho condições de encontrá-la.

A casa ainda permanecia tão cheia quanto, mas as entradas estavam bem mais vazias. Ela não fazia ideia de para onde as multidões haviam se dissipado, mas logo depois teve uma ideia. Provavelmente estavam ouvindo os grandes feitos da princesa Butterfly, afinal, a festa era para ela mesmo.

Andou até a mesa de ponche e tomou um gole pequeno. O gosto estava péssimo, quente e pareciam que tinham misturado algo a mais ali. A garota simplesmente deu de ombros e tomou mais uns seis copos. Ela esperava do fundo do coração que fosse algo que tirasse todo aquele desespero dela.

Era o fim do sexto copo quando Janna ouviu risadas altas vindas da sala. Ela hesitou em ir ver o que eram quando sua curiosidade e a mente leve pelo ponche a arrastaram até lá. A garota simplesmente caminhou até ver que o chão estava lotado de pessoas que formavam um círculo bem precário.

—O que é isso? —Ela perguntou para o garoto que estava bem em frente a porta.

— Estamos brincando de verdade ou consequência. A Mavis já beijou o... —O tal garoto começou a falar mas Janna simplesmente o cortou antes que ele completasse sua fala.

—Posso jogar? —ela perguntou antes que pudesse refletir se aquilo era uma boa ideia. Talvez Star pudesse estar ali entre eles. Mas quando a garota se deu conta disso, já estava dentro.

As rodadas continuaram e ela só conseguia olhar ao redor. Jackie e Marco estavam na jogada, um em cada extremidade da sala. Janna riu da cara de assustado de Marco que parecia rezar para que não fosse escolhido naquela roleta péssima. Jackie seguia distraída quando percebeu o olhar de Janna. Ela apenas sorriu de maneira confortável e seus olhos quase disseram “Que bom que está aqui”. Fora aquilo, tudo tranquilo. Nada amedrontador.

As pessoas tinham falado verdades péssimas e todos riram de suas idiotices. Outros foram obrigados a tomar toda a bacia de ponche. O jogo não tinha chegado a níveis extremos porque talvez ninguém estivesse tão louco a ponto de fazer coisas muito idiotas. Mas era óbvio que todos estavam se divertindo muito e não queriam parar, inclusive Janna, que tinha parado de olhar freneticamente para todos os lados da sala. Eram muitas pessoas naquela sala minúscula e talvez por isso ela nem ao menos notou a garota de touca e trança do outro lado da sala que tinha um olhar atento. Star tinha tentado se levantar em meio ao jogo para ir diretamente a Janna, mas eram as regras do jogo. Ninguém levantava enquanto um colega falava da história mais constrangedora da sua vida.

A roleta girou mais uma vez e foi ai que as coisas começaram a pesar. Marco foi sorteado duas vezes e obrigado a falar coisas super constrangedoras. Janna nunca tinha rido tanto em sua vida as custas de alguém e o garoto a fulminou com os olhos a cada gargalhada.

A segunda vez ele faria a pergunta ou o desafio para alguém. Todo mundo ovacionou quando a roleta parou e Janna entendeu tarde demais.

—Parece que alguém foi sorteada, não é mesmo? —Marco disse e sorriu. Janna não estava enxergando nada por cima daqueles cabeções que ficavam na sua frente. Mas foi quando a garota ajoelhou que ela percebeu que aquilo não seria nada, nada bom.

—Parece que sim—Star disse e riu. Janna ficou séria após aquilo. Ela já pressentia coisas ruins. Coisas muito ruins. Coisas péssimas.

—Verdade ou desafio, Star? —ele perguntou e todos ficaram em silêncio.

—Eu acho que desafio—ela disse e sorriu—Eu fiz certo?

—Fez sim princesinha. Mas veja bem, você é o motivo da festa então nada mais justo do que um pequeno desafio bem legal para você—outra pessoa que Janna nem ao menos sabia de onde vinha disse. Ela quase chorava naquele momento porque as coisas iam dar muito errado—Eu sugiro “Sete minutos no paraíso”

Janna sabia. Aquilo tinha acabado de dar muito errado. Agora Marco e Star iam ficar presos dentro de um armário por sete minutos. Era só o que faltava a ela.

Todo mundo começou a gritar e levantar a voz quando a pessoa idiota que tinha sugerido aquilo voltou a falar.

—Como somos legais, você pode escolher a pessoa para ir com você. Vocês vão ficar presos um com o outro durante sete minutos—ele disse e Star deu uma risada. O ambiente caiu em silêncio total enquanto Janna se preparava para levantar. Jackie havia a olhado novamente mas ela tinha ignorado. Não queria pena de ninguém queria pegar um maldito ponche. Ela queria ir para o mais longe possível antes que imaginasse coisas quando os dois saíssem daquele cômodo. Um beijo já tinha sido horrível o suficiente.

Antes de se levantar, ela notou um olhar da garota. Star a encarou e Janna a encarou também e tudo ali parou. Ela soube que era a última vez que a veria pois nunca mais faria festas idiotas ou iria a Mewni, nem para sua coroação ne para o casamento dela nem para nada. A última lembrança de Star Butterfly que era teria seria essa. A garota com aparência mais madura com duas tranças ao invés de uma e um gorro fofo na cabeça. Ela lembraria de como os olhos dela eram lindos e em como aquele casaco fofo a deixava ainda mais maravilhosa. Lembraria que a amizade delas foi uma das melhores coisas que tinham acontecido. Lembraria que ela era uma das melhores coisas que ela nunca teria.

—Eu já sei quem eu escolho—Janna fechou os olhos e se levantou, indo em direção a cozinha. Mal tinha dado o primeiro passo quando duas palavras a pegaram de surpresa—Janna Banana Eu escolho ela.

A sala toda caiu em silêncio enquanto a garota continuava de costas. Ninguém fazia nada além de respirar e esperar a reação da garota que já estava pronta para ir embora dali.

—Você não ouviu? Eu escolhi você, garota! —Star gritou e começou a dar vários passos até a garota. Janna estava em choque, e sabia que a melhor maneira de resolver aquilo era correr o mais longe possível. Mas suas pernas não a obedeciam—Será que você não me escuta ou não me vê? Ou será que está me ignorando. EU TE ESCOLHI! Agora você vai vir comigo até esse lugar maldito e vai falar comigo nem que seja obrigada!

NÃO! —ela gritou e se virou para a loira que já praticamente estava a tocando—Eu não vou. Se você quiser escolher outra pessoa, escolha o Marco. Eu te sugiro ele.

O Diaz corou um pouco enquanto a princesa negava com a cabeça freneticamente.

—Você, Janna. —A cada momento que ela dizia isso o coração dela afundava mais. Ela estava a escolhendo e aquilo era incrível. Mas no fundo Janna sabia que ela não fazia a menor ideia do que significava aquilo. Não fazia ideia do que aquilo significava para ela.

Janna encarou todas aquelas pessoas que as encarava como se fosse o último capítulo de um seriado e sentiu seu peito pegar fogo. Sentiu seus olhos ficarem esquisitos e sabia que o choro era iminente.

—Eles não contaram a você o que eles fazem lá? São pessoas que se gostam que vão para lá. Ficam sete minutos se beijando ou fazendo coisas do tipo—ela disse lentamente, mas não viu recuo nenhum da parte da princesa, o que fez seus olhos marejarem ainda mais. A maldita esperança—Eu não posso ir para lá.

—POR QUÊ? Por um acaso tem algo estranho nisso? Já fizemos coisas piores do que ir para um lugar apertado—ela disse e Janna sentiu que não ia mais aguentar—Eu só preciso falar com você e se isso significa que nós temos que ficar presas num cômodo durante sete minutos, eu faço. Não importa o que temos que fazer, Janna. Isso não muda nada.

—MUDA SIM! —Ela gritou e sentiu as primeiras lágrimas descerem—Não muda para você mas para mim as coisas mudam sim!

—Qual é, Janna. Não é como se nós fossemos ficar ou algo... —Nesse momento Star notou que a garota estava chorando. Chorando mesmo. Sem lágrimas falsas ou algo assim. Eram lágrimas e a princesa não soube lidar com aquilo—Janna eu não quis te fazer chorar o que foi que eu...

A garota negou com a cabeça e secou o rosto com as mãos. Maldito sentimentalismo. Maldito amor.

Jackie finalmente se levantou e pôs suas mãos nos ombros de Star. A garota ainda permanecia em choque quando Janna saiu correndo pela porta dos fundos, coisa que já deveria ter feito a anos atrás. Ela deveria ter ido embora assim que aquele jogo maldito começou.

Mas Star, Star continuava em choque, com as mãos de Jackie a segurando. Parte dela queria correr atrás de Janna e exigir que ela falasse com ela. Que explicasse a situação. A outra parte dela já sabia

—Não posso acreditar no que meus olhos presenciaram—Marco disse e esfregou os olhos.

—Que ela gostava tanto assim da Star? —Alguém perguntou e Marco negou freneticamente.

—Que a Janna chorou. Ela era uma rocha inabalável.

As pessoas gargalharam, e foi isso que despertou a princesa para vida. Ela simplesmente ajustou o gorro na cabeça e preparou para correr atrás da amiga.

—Star talvez eu ache melhor você não ir—Jackie disse e ela negou—Não é um bom momento ela está se magoando com muita...

—Janna é minha amiga e eu vou atrás dela, sim—Star retrucou e se preparou para correr neve abaixo. As camadas abaixo dos pés dela já tinham cerca de uns três centímetros e mesmo que fosse pouco, o frio congelava os ossos de qualquer um que passasse.

Mas Star não desistiu. Ela não era muito de desistir