Seven minutes in the Snow

Capítulo 3: Os sete minutos.


O frio era a única coisa que mantinha Janna sã. O rosto dela estava tão congelado que as lágrimas não desciam mais. Ela queria que o cérebro congelasse também para que ela esquecesse tudo aquilo. Agora tudo estava realmente arruinado. No mínimo agora Star não ficaria com raiva da ausência dela, ficaria curiosa ao ponto de ir atrás dela todo mês na terra

Maldito jogo idiota.

Ela ainda sentia arrepios em ver a determinação da garota. A parte mais idiota da sua mentalidade gritava internamente de ver a decisão. Mas estava óbvio que Star não sabia o que era aquela brincadeira idiota. “ Nós já fizemos coisas piores”. Claro. Afinal, beijar amigos é super normal. Talvez para ela sim, que beijou Marco.

Janna queria morrer congelada. Era seu destino. Congelada e rejeitada.

Nada pioraria mais.

—Janna—Ela ouviu um grito distante e olhou para trás. No meio dos flocos finos de neve ela viu uma figura caminhando em sua direção. De início achou que fosse Jackie, por isso parou, pronta para falar tudo que estivesse preso em seu coração. Após aquilo notou duas tranças sendo movidas pelo vento frio—Janna espera, por favor.

Ela tinha que correr para longe. E foi o que ela fez.

—Vai embora. Por favor—Ela pediu mas aquilo não foi um pedido atendido por ela. A garota viu coisas brilhantes surgirem por entre a fina camada branca e logo Star já estava ao seu lado, flutuando em uma nuvem voadora mágica—Que droga, Star! Eu só te peço para ir embora!

—E eu digo que não vou—ela retrucou e continuou andando lado a lado da garota—Eu ainda tenho sete minutos na neve com você.

Star deu uma risada e Janna suspirou. Parou em frente a garota e olhou bem nos olhos dela, embora aquilo fizesse todo seu corpo ficar louco.

—Isso não tem graça—ela disse calmamente—Talvez tenha para você mas pra mim não tem! Eu vou ficar melhor se você não estiver por perto, acredite.

—Mas eu não—ela disse e Janna fechou os olhos. Não eram coisas boas a serem ditas a ela—Você me evitou a noite toda.

—E não adiantou nada pelo jeito. No final as coisas ficaram esquisitas como eu estava evitando que ficassem—ela disse e passou as luvas pelo rosto—Você é uma das melhores amigas que eu já tive, Star. Mas eu não posso ficar perto de você.

A princesa suspirou e olhou para o chão branco que estava entre elas. Ela se sentia confusa. Se sentia deprimida por ver a amiga tão triste daquela maneira. Ela queria realmente melhorar as coisas, mas viu que talvez aquela situação não tivesse resolução.

—Podemos ao menos ficar esses sete minutos, então? —ela pediu e Janna suspirou. Não, não podiam. Mas ao olhar nos olhos da princesa e ver que eles marejavam assim como os seus, ela não conseguiu negar—Você sabe como machucou ver você me dando as costas hoje. Eu não te via a um ano e meio.

Janna deu uma risadinha.

—Desculpa por isso mas eu também já fui bastante machucada—ela disse e Star a encarou. Certamente a escolha de palavras tinha sido péssima, pois agora ela iria querer saber quando, onde e como—Eu senti sua falta.

Aquilo foi suficiente para a loira esquecer de tudo. Ela sorriu e hesitou em abraçar a amiga, porém sua mente a acusou que aquilo não seria uma boa ideia. Ela queria usar aqueles sete minutos para passar um tempo com Janna, apenas saber como iria a vida, dar algumas broncas pelo súbito afastamento. Mas agora com aquelas revelações ela mal sabia o que dizer.

—Eu não quis que pensasse coisas sobre o desafio. Entenda, você não olhava para mim, não falava comigo. Eu não te encontrava em lugar nenhum e quando falava disso para o Marco e para a Jackie eles se entreolhavam e não diziam nada—Star disse e olhou para as luvas. Janna entendeu que ela estava sem graça ao dizer aquilo, mas se esforçava—Eu não fazia ideia do que eram esses tais de sete minutos no paraíso, muito menos que afetava tanto assim você.

Janna suspirou e abriu a boca para retrucar, mas Star estava atropelando as palavras.

—Agora eu estou confusa pois não sei muito bem o que está acontecendo comigo e com você. Eu sei que mentir não está dando certo pois se estivesse nós estaríamos nos falando normalmente e não fazendo um escândalo—A garota brincou mas tudo naquele clima era pesado—Então, seja honesta comigo, por favor. Eu não vou ficar zangada. Nem vou sair correndo ou sei lá. Eu vou encarar porque eu sei que eu posso perder você se não fizer isso.

Janna a encarou enquanto o silêncio reinava. Ela prestava atenção nos detalhes da garota. Seus olhos baixos, Seu cabelo um pouco branco pela neve e notou que era uma grande mentirosa em dizer que não queria ver mais Star mesmo depois do fiasco anterior. Ela era a sua melhor amiga e amizades assim não se jogam no lixo. Nem mesmo quando os sentimentos se tornam confusos.

Janna teria que entender e lidar com isso. Star era desse jeito e não deveria mudar por conta do que Janna sentia.

—Olha, eu vou ser honesta—ela disse e foi a sua vez de baixar os olhos. Era a hora de mentir e salvar tudo. Inventar uma desculpa—Eu só estava confusa mas agora entendi tudo. Não precisamos ficar esquisitas, só superar essa noite catastrófica e fingir que eu nunca passei esse mico terrível! Tudo bem, amiga?

Janna deu uma risadinha tentando amenizar aquilo, mas não tinha adiantado nada. Star ficou séria e aquilo era a confirmação que a sua mentira não tinha sido tão clara.

—Você mente—Star disse e olhou bem profundamente nos olhos escuros da garota—Sinceramente, eu não ligo pro quão esquisita a verdade for. Joga. Joga isso na minha cara porque eu já disse que eu não vou abominar e nem sentir raiva de você! Eu só vou te perder se você continuar assim. Com o passar do tempo a mentira vai cair, você vai se cansar e vai fazer de tudo para me evitar a qualquer momento. Não vai mais pensar em mim ou falar o meu nome ou até mesmo se lembrar de quem eu era e eu vou estar ocupada de mais para me importar! Então a escolha é sua.

Janna ficou em silêncio e tentou abrir a boca para dizer que aquilo que ela tinha dito era mentira. “Que coisa idiota,eu não estou mentindo! ”.

Mas algo dentro dela mesma sabia que aquilo era a mais pura verdade. Talvez até seus 19 anos ela sustentasse a mentira. Após isso tudo que ela faria seria tentar viver com aquilo e ver que tinha estragado tudo.

—Eu não quero perder você—ela disse e sentiu os malditos olhos encherem novamente de água—Mas eu sinto que se eu falar para alguém eu vou perder você. Você vai me achar repulsiva ou estranha ou então vai me ignorar e pensar repetidamente que eu nunca superei você. Você vai me evitar até que esqueça quem eu sou porque eu disse...

—Você sabe que o motivo para eu gostar tanto de você é o fato de você ser estranha e repulsiva, certo? —Star retrucou e Janna riu enquanto as primeiras lágrimas escorriam.

—Eu nunca liguei para o que pensavam de mim, Star. As pessoas diziam: “Janna, você tem que amar rosa porque é uma menina” e eu simplesmente ignorava e continuava pintando tudo que e via pela frente de preto. Elas diziam: “Você tem que brincar com coisas de menina” “Tem que fazer coisas de menina” “tem que se comportar feito uma menina sentimental” “Tem que gostar apenas de meninos” E eu ignorava tudo isso pois isso é uma besteira sem fim. Eu nunca me escondi, nunca. Nunca escondi meu lado rebelde e inconsequente nem mesmo de você. Mas parece de uns tempos para cá que eu nem ao menos sei quem eu sou de verdade—Janna disse e suas lágrimas corriam soltas. Star apenas a encarava—Eu choro feito uma idiota. Eu penso vinte quatro horas sobre o que as pessoas pensariam se descobrissem sobre mim. O que você acharia de mim.

Star arregalou os olhos pois não fazia ideia daquilo. Para ela Janna era tão louca e inconsequente como ela. Ambas faziam o que queriam e não pensavam em outras pessoas.

—Eu não vou mentir, eu não ligo para as pessoas. Mas eu ligo para você. Você é tão incrível e maravilhosa e tudo que eu faço é medir as palavras enquanto falo com você ou ver minhas atitudes—ela confessou, limpando o rosto com as grossas luvas. Ela tremia pois se sentia nua ali no meio de toda aquela neve. Não haviam mais mentiras—Eu não sei o que deu em mim. Eu não sei...

—Foi por isso que você temeu tanto pelos sete minutos? Achariam que nós iriamos nos beijar, é isso? —Star perguntou e Janna acenou afirmativamente com a cabeça—Janna, isso é besteira.

—Eu quase tive uma parada cardíaca quando você me escolheu. Achei que você queria mesmo. Eu... —ela disse e tapou o rosto com as mãos—Parte de mim temeu pelo que você pensaria e a outra... A outra temeu por você perceber.

—Perceber? O que? O objetivo do jogo? —Star perguntou e ela negou.

—Que eu queria aquilo.

Silêncio total. Janna nem ao menos teve coragem de tirar as luvas dos olhos e ver a expressão descontente de Star. Ver a maneira como ela estaria apavorada ou que talvez tivesse corrido para longe seria muito humilhante.

Ela não tinha relógio ali, mas sabia que tinha se passado um bom tempo até Star se recuperar.

—Janna, não tem problema imaginar ficar com um dos seus amigos—Star riu e tentou deixá-la calma. Mas suas bochechas estavam ruborizadas—É coisa de...

—Eu gosto de você—ela deixou escapar e o ambiente caiu em silêncio de novo—Desde aquele dia maldito no castelo. É por isso que eu fiquei apavorada, porque você nunca retribuiria algo desse tipo. Nunca nem ao menos entenderia. Nós somos amigas, você ama o Marco e eu sou garota. Você nunca ficou com garotas—Janna riu bem alto e retirou as mãos dos olhos para rir mais—Isso é patético e agora com certeza você vai me odiar.

Star a encarou com os olhos azuis indecifráveis. Essa era uma das coisas que Janna admirava do amadurecimento de Star. Ela tinha aprendido a controlar as emoções e não deixar nada passar. Ela poderia estar gritando por dentro, voltando naquele dia fatídico, tendo uma repulsa por Janna e ela nem ao menos saberia. Neste momento ela não sabia nada sobre o que ela estava sentindo ou pensando.

—Você não deveria temer o que eu acho—foi tudo que ela disse. Janna negou com a cabeça e elas ficaram em silêncio.

Ninguém disse mais absolutamente nada. A neve caia simplesmente e o frio piorava a cada segundo. Os sete minutos já deveriam ter acabado mas nenhuma das duas se mexia. Star ainda permanecia com os olhos fixos na garota a sua frente sem dizer uma só palavra. Janna apenas pensava na melhor forma de se despedir, já que provavelmente ela tinha arruinado tudo.

—Eu sinto muito por ter arruinado tudo. Acho que isso nunca mais vai voltar a acontecer—Ela disse e ajustou o gorro na sua própria cabeça—Se eu fosse você voltaria para a casa dos Diaz e aproveitaria o resto da festa. Veja os nossos antigos amigos, eles não merecem ter um fiasco de noite também.

Star piscou rapidamente mas não disse nada. Janna suspirou e ajeitou sua roupa para seguir o caminho de volta para sua casa.

—É isso. Tenha uma vida boa, Star. Não se preocupe com os sentimentos ruins a meu respeito. Eu tenho total ciência que é tudo minha culpa—Ela disse e deu mais um longo suspiro antes de encara-la pela última vez—Adeus.

A garota deu cerca de uns trinta passos até ouvir barulhos mágicos novamente. Ela fechou os olhos e se preparou para correr quando uma mão pequena puxou seu braço com força.

—Eu não abomino você. Eu não vou voltar para festa nenhuma muito menos deixar você ir. Você está errada em cinquenta coisa diferentes que disse e eu não vou deixar você sair com tudo isso assim—Star retrucou todas as palavras ditas anteriormente por Janna, e agora seus olhos tinham uma chama brilhante que era incrivelmente perceptível—Que se dane os sete minutos se eles acabaram ou não. Eu sou a futura rainha.

Janna riu e apenas se virou para a loira a sua frente.

—Eu não abomino você. Eu não vou deixar você ir—ela disse e Janna negou com a cabeça—Eu gosto de você também. Talvez não da maneira que você goste de mim mas eu já tive experiências anteriores que me mostraram que eu não posso fugir das coisas. E eu não vou fugir de você. Tudo vai voltar a ser como era antes e a gente pode até ser amiga se você estiver disposta.

Janna engoliu o seco e baixou os olhos. Não sabia se conseguiria ser amiga dela com tudo aquilo acontecendo, mas sabia com toda certeza que não conseguiria ficar sem ela.

—Eu não posso dizer que gosto de você da mesma maneira, mas não vou dizer que é por você ser menina ou ser estranha ou por eu amar o Marco. Eu não amo o Marco dessa maneira também, eu não ligo se você é menino, menina, Mewniana ou terráquea e nós duas somos esquisitas—ela retrucou e sorriu— Se eu amasse você, nada disso seria importante então deixe de ser boba e se importar com que eu penso.

Janna tapou a cara com as mãos e deu um risinho.

—Eu acho que arruinei tudo

—Nós arruinamos tudo. E como já está tudo arruinado há uma coisa que eu queria te falar—ela disse e Janna levantou o olhar. Star tinha as bochechas coradas e os corações acessos. A garota não entendeu na hora, mas sabia que não era uma coisa muito boa—Importa se eu já fiquei com meninas?

Janna olhou pro seu rosto fofo e infantil ruborizado pela pergunta e sorriu. Ela sorriu mesmo pela primeira vez em meses junto a Star. Não demorou muito para que a princesa se juntasse as gargalhadas da amiga.

—Isso importa para você? —Janna retrucou e ela deu de ombros—O que importa é o que você acha. Fala sério, Star! Você acabou de me dar uma lição de moral sobre isso.

Star riu e ficou em silêncio. Algo ali era inquieto, e Janna sabia muito bem que ela não tinha terminado. Alguns segundos depois ela levantou o olhar e encarou Janna bem nos olhos.

—Você já? —Star perguntou e mexeu nas mãos de forma nervosa e ansiosa. Tudo que a outra garota fez foi balançar a cabeça e observa-la atentamente. Ela estava procrastinando. Aquilo não era o sentido que Star queria dar a conversa—Acho que não deveríamos falar sobre isso eu...

—Nós somos amigas, se lembra? —ela disse e sorriu. Star sorriu de volta e Janna tomou folego—Acho que esse não é o ponto. Seja honesta, é isso que você quer me perguntar?

Star balançou a cabeça e baixou os olhos. Janna apenas aguardou com paciência enquanto sentia o estômago revirar como se algo que não fosse muito bom estivesse prestes a romper.

—Se isso não for te chatear eu... Queria—Star praticamente sussurrou e Janna franziu as sobrancelhas.

—Queria o quê?

—Você sabe... Passar pelos sete minutos direito.

Janna arregalou os olhos e se afastou. Então esse era o ponto principal da conversa. Star estava sendo levada por algo que ela achava que queria, mas que ela na verdade não queria. A garota tinha certeza, podia ler isso em seus olhos. No mínimo ela achava que devia isso a amiga. Mas ela não devia.

De jeito nenhum ela queria fazer isso.

—Você não quer, Star. Apenas está curiosa e confusa e vai se arrepender de... fazer isso—ela disse e Star deu uma risada.

—Eu não estou confusa. Eu sei o que quero. Se você topar levar isso numa boa, eu quero. Se jurar que isso não te machuca, nós fazemos—Ela disse e olhou nos olhos de Janna— Como rainha eu ordeno que faça isso. Por favor.

Janna riu bem alto com aquilo e se aproximou da garota. Star pegou seus braços e fez com que Janna a envolvesse, como se fosse abraça-la. Ela nunca confessaria, mas duvidava que conseguia fazer aquilo.

—Você tá brincando? Eu beijo até mesmo meus primos e isso nunca foi estranho para nós—a garota mentiu e sentiu as mãos de Star envolverem suas costas. Ela era quente e o toque dela em seu corpo a aquecia de uma maneira surreal. Janna tossiu, nervosa e sentiu suas mãos tremerem e o coração descompassar. Era uma coisa que ela desejava, mas temia ao mesmo tempo—Eu não sei se você quer...

—Janna, eu já disse. Acho que você é quem está com medo—Star disse e olhou nos olhos dela—Não quero induzir você a nada. Só esqueça o que eu penso por dois segundos.

A garota respirou fundo. Acompanhou os olhos azuis de Star bem a sua frente e achou que estava sonhando. Ela estava, e iria acordar de repente.

A loira levou as mãos envoltas em uma luva rosa fofinha até as maçãs do rosto da garota e sorriu. Tudo ali era novo e esquisito, como um primeiro beijo. Janna ainda permanecia tensa e parada, temendo por cada movimento que faria e as consequências daquilo. Ela só queria ser estranha e inconsequente por um segundo. Só um...

Suas mãos nos braços de Star subiram para as suas tranças que ela averiguou com atenção. Em seguida levou-as para o rosto dela e envolveu seus corações com o indicador.

Star foi quem avançou. Ela levou delicadamente o rosto para perto da garota e esperou por alguns segundos. A respiração de ambas se padronizaram e foi cerca de segundos até Janna tomar coragem e puxar o rosto dela para o seu próprio.

As duas pareceram constrangidas no início. Nenhuma se mexeu nem um musculo, até que o cérebro de Janna desligasse e apenas seguisse os seus instintos.

E beija-la foi como ela sempre achou que seria. Doce, calmo e surreal. Tudo ali tinha ar de sonho e acabaria a qualquer momento. Seria extremamente clichê dizer que tudo naquela hora se intensificou ainda mais e ela sentiu que ia explodir, mas era a mais pura verdade. Aquele beijo era o melhor da vida da garota e sem dúvida o mais distante. Pois Janna sabia que nada daquilo era real.

Quando se afastaram, não tardaram a dar dois passos para trás. Star sorriu, mas Janna apenas encarava a garota minunciosamente, desesperada por respostas negativas.

—Eu já fiquei com uma garota—ela disse e sorriu—Ponto para a Star aqui.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.