De frente para o espelho que tomava quase toda a parede eu via o meu reflexo no banheiro que estava vazio; era melhor assim.

Eu queria gritar de raiva! Coffee Milks deveriam ser proibidos na escola!

Dei uma olhada no agasalho, tinha uma mancha enorme nele. Eu precisava dele para a cerimônia de abertura, não poderia perder pontos logo no primeiro dia de aula! Porém não poderia andar por aí com algo que estava sujo e cheirando a coffee milk!

— O que eu faço?! — perguntei para o meu reflexo que possuía uma expressão aflita.

Obviamente não recebi nenhuma resposta.

Suspirei, tinha que tomar uma decisão rápida. Depois de pensar um pouco, decidi que ficaria só com o meu moletom, eu sabia que iria chamar atenção, mas seria melhor do que atrair olhares para uma enorme mancha de coffe milk!

O sinal tocou.

Eu tinha que voltar para a sala rapidamente, eles já deviam estar formando fila com o professor responsável. Respirei fundo e expirei lentamente, eu tinha que ir logo.

Saí do banheiro e percebi que as filas já estavam formadas. Sendo assim, dirigi-me apressada ao professor, muitos me observando enquanto eu percorria o trajeto em direção ao começo da fila. Aquela sensação de olhares na minha direção me fazia querer cavar um buraco e me enterrar dentro! Quando finalmente alcancei o professor no que parecia ter sido um caminho extremamente longo, tentei dizer algo:

—S-S-Sensei – foi o que eu gaguejei quase aos sussurros. Depois de um curto período sem resposta, perguntei-me se ele havia escutado, eu não queria chamar novamente.

Foi quando depois de alguns longos segundos ele me observou. Seus olhos azuis eram tão frios que me perguntei se ele era humano.

— Coloque o seu agasalho — sua voz era firme e sem sentimentos.

— Ele está sujo... — mal ouvi a minha própria voz, aquelas palavras acompanhadas daquele tom havia me intimidado mais ainda, fazendo perder o resto de segurança que ainda me restava.

— Não posso me responsabilizar pela sua incompetência.

Aquilo foi como uma facada. Eu não conseguia pensar em nada para dizer. Não conseguia suportar aqueles olhos frios como gelo, temendo ver o desprezo novamente neles. Senti meus olhos ficando úmidos, não era hora para isso, mas as lágrimas queriam sair. Por que eu tinha que ser tão sensível?!

Não sei se ele havia percebido as minhas lágrimas teimosas, mas logo completou o que havia dito.

— Faça como quiser — referiu-se a mim desinteressado – Mas já sabe que será punida depois – mal terminou de pronunciar essas duras palavras e já havia se virado, direcionando a turma para o local da cerimônia.

Os cochichos eram intensos, aquilo não podia ficar pior.

Fui rapidamente para sala, tentando conter as lágrimas de raiva, tanto pela maneira que aquele professor havia me tratado, quanto por eu estar chorando. Eu me sentia fraca quando chorava, já tinha chorado demais na vida e não queria me sentir novamente daquele jeito, mas estava me sentindo dessa maneira neste exato momento.

Dirigi-me aos cabides que se encontravam no final da sala e pendurei o meu agasalho. Após isso andei com passos rápidos para conseguir alcançar a minha fila. Eu estava arrasada.

Mas ao chegarmos ao local, somente um pensamento me ocupou em meio a tantos outros que estavam se passando em minha cabeça; o que eu não pensava que seria possível.

“I-I-Incrível” foi o que pensei ao entrar no salão da cerimônia.

O local estava cheio, realmente tinha muitos alunos. Então não estavam brincando quando disseram que o ensino da minha escola era bem disputado, eu realmente nunca tinha reparado muito...

As pessoas da minha sala se dispersaram entre as cadeiras reservadas para o primeiro ano, muitos se sentando perto de amigos que ficaram em outra sala. E como esperado, a Erika já estava cercada.

Procurei um assento disponível, mas a maioria já estava ocupado e eu sendo a última da fila não ajudou muito. Ainda caçando o lugar, encontrei um vazio não muito longe de onde eu me encontrava e me encaminhei para lá. Mesmo não sendo muito distante, percebi que eu atraía alguns olhares até chegar ao meu destino, fazendo-me ficar sem graça e tropeçar algumas vezes.

Quando finalmente consegui chegar até o local, percebi que havia ficado entre uma garota de cabelos cor de caramelo que parecia irradiar raios de beleza, perfeição e elegância, e um garoto com cabelos cor de caramelo que parecia irradiar raios de beleza, perfeição e... PERAÍ! Eles possuíam as mesmas características!

3 segundos se passaram...

AI MEU DEUS! O que eu estava fazendo no meio de gêmeos perfeitos?! Isso só podia ser coisa da minha imaginação! Mas eles pareciam tão reais! Imaginação ou não, eu sentia que esse lugar não era para mim. E não era mesmo !E por que tinha uma porcaria de cadeira entre eles?!

Eu olhei ao meu redor e todas as cadeiras possíveis já estavam ocupadas, só me restou abaixar a cabeça e fingir que eu não estava ali, o que não era difícil; com sorte até os gêmeos não iriam notar a minha presença.

E a cerimônia começou.

Alguns permaneceram calados enquanto outros ainda tentavam colocar o papo em dia, possuindo uma atmosfera amigável. Mas por algum motivo, o local em que eu me encontrava parecia estar com uma temperatura abaixo de zero. Olhei para o dois lados, a expressão indiferente deles me faziam pensar se eram humanos, já que pareciam estátuas muito bem esculpidas!

Tentei me concentrar no discurso, o que realmente não adiantou muito, já que além de longo, também era chato e cheios de indiretas camufladas, o que eu sentia que eram direcionadas especialmente para mim!

Mas parecia que eu não era única que achava isso.

Uma voz de garota indiferentemente perfeita ao me lado se pronunciou, o que acabou por me espantar.

— Que chato.

—Eu sei — concordou da mesma maneira indiferente o ser perfeito a minha direita.

— Para que tudo isso? Que chato.

— Você sabe que terá que ser paciente, pois a situação não vai mudar muito daqui para frente.

— Entediante.

O garoto suspirou, nem preciso comentar que a expressão cansada estampada no rosto dele era a perfeição em pessoa.

— Acho que deveríamos ter continuado em casa, pelo visto você não vai se adaptar.

A garota bufou graciosamente.

Apesar de toda aparência deles, se possível, a temperatura ficou mais baixa ainda. A tensão entre eles estava me afetando diretamente! E eu continuava cabisbaixa, tentando não estar no meio dessa briga silenciosa, o que era inútil, JÁ QUE EU ESTAVA NO MEIOS DELES! Eu estava sobrando, de novo...

Depois de um longo período de silêncio o garoto se pronunciou novamente, o que não mudou em nada a atmosfera do local.

— Você – uma pausa sem nenhuma resposta – Você de cabeça abaixada.

— Hã? Era eu? Será que ele estava se referindo a mim

Arrisquei-me a olhar para cima, à minha direita, e encontrei olhos cor de mel dele me observando, melhor dizendo, me perfurando. Eu já conhecia essa sensação, e não era nada boa.

—S-Sim? — tentei um sorriso, sem sucesso.

— Você está bem?

Eu teria ficado sem graça se a indiferença dele (hipnotizante por sinal) não fosse tão notável.

— Ela só deve estar com sono, o que não é difícil — respondeu sua irmã.

— Talvez – e me dirigiu os olhos mais uma vez — Mas me parece que ela está nervosa.

— Por que ela ficaria?

— Não sei. Vou perguntar.

Não havia necessidade, eu estava ali no meio, obrigada por notar. Mas, bem, era a minha chance de puxar uma conversa!

— Ah... er... vocês são irmãos, não é? – eu não acredito que fiz uma pergunta como essa.

Eu o tinha interrompido, mas ele não parecia incomodado com isso.

—A semelhança não mente – e foi tudo o que ele disse.

Tentei de novo, eu não podia deixar essa chance escapar, mesmo que eu não soubesse exatamente o que eu esperava dessa conversa.

— Se não se importa, por que deixaram uma cadeira entre vocês?

E com nada além de indiferença estampado em sua face, ele respondeu:

— Por que tinham acabado de grudar um chiclete nele.

Gelei.

Um tremor percorreu a minha espinha, eu estava estática, tentando ainda processar a informação.

“O QUÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ?”