O QUÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ?” era o que eu pensava enquanto permanecia chocada.

O mundo havia parado.

As pessoas que conversavam ao meu redor, o discurso que deveria estar em sua reta final, os gêmeos perfeitos ao meu lado, tudo parecia distante, em outra dimensão. ”Masaomi... Coffee Milk... Chiclete...” parecia serem as únicas coisas que se passavam na minha mente. Logo as perguntas também apareceram, o problema era a inexistência de respostas. Perguntas como: “O que eu faço agora?”, “Por que essas coisas só acontecem comigo?”, “Quem grudou essa coisa aqui?”, fizeram-me perceber que não só o espaço e o tempo estavam contra a minha pessoa, como também a má sorte havia simpatizado comigo! Ou talvez, alguém simplesmente me odiava a ponto me lençar maldições e fazendo bonequinhos de vodu de mim!

Perdi-me nas minhas reflexões, mas algo parecia tentar me tirar do meu estado atual, algo que se intensificava a cada momento.

Assim, algo dentro de mim despertou, fazendo-me voltar à realidade; e a realidade não era nada boa: as pessoas estavam aplaudindo de pé. E isso só podia significar uma coisa: a cerimônia havia acabado. Bem, isso qualquer um podia perceber, porém, eu ainda estava atordoada!

E naquele momento, sim, especialmente naquele momento, meu olhar cruzou com os olhos que antes haviam me desprezado, o demônio disfarçado de professor. A situação não mudou muito, só que dessa vez o que aquelas safiras queriam transmitir era: "Aplauda agora ou nem queira saber o que será da sua nota".

Instintivamente tentei me levantar, entretanto algo teimava em me manter conectado com a cadeira, me relembrando do meu terrível estado presente. Acabei por aplaudir sentada mesmo.

Minha vida estava acabada (ou pelo menos as minhas notas).

Dessa vez não tinha nada que eu pudesse fazer. Aceitar a situação era só o que me restava, o que não tornava as coisas nada mais fáceis!

“Maldita pessoa que grudou esse chiclete!”, ”Você vai levar um super tombo e deslocar o pé!” “Tomará que também nasça duas aftas embaixo da sua língua e uma em cada canto da boca...”. Só me restava praguejar e amaldiçoar no momento. De maneira positiva (se tinha alguma), estava me ajudando um pouco.

Mesmo com tudo o que estava se passando, eu consegui identificar um suspiro a minha direita, fazendo-me parar de praguejar e xingar mentalmente por um momento. Virei-me a tempo de observá-lo despir seu próprio agasalho.

—Aqui – deixando a peça de roupa cair sobre a minha cabeça.

E virando-se, seguiu em direção à saída como os demais, com seus cabelos cor de caramelo, mesmo não tão longos, tendo um balançar suave, e a sua irmã o acompanhando logo atrás.

Fiquei observando ele se afastar, não conseguindo esconder a surpresa que eu sentia.

“Ele havia me dado o agasalho dele?!”, ”Não, não, ele só deve ter me emprestado!”, ”Mas por que ele faria isso?”, ”O que está acontecendo?!”. Os meus questionamentos novamente estavam me tomando, questões conflituosas.

De repente senti os pelos dos meus braços se eriçarem, reparei no meu ambiente ao meu redor.

Meu primeiro pensamento havia sido que o garoto que lembrava a Sadako estivesse por perto, mas ao prestar atenção nas pessoas a minha volta o que se notava eram olhares de garotas, e essas garotas não pareciam nada felizes em me ver.

Entendi que aquele, um aviso explícito para mim, significava uma deixa para sair daquele local!

Retirei o agasalho que ainda permanecia na minha cabeça e amarrei em volta do meu quadril, apressando o passo para alcançar a minha fila.

Durante todo o trajeto até a sala meus olhos não desgrudaram do chão, mas infelizmente eu ainda podia ouvir, e o que me alcançava nem chegava perto de um simples comentário ou curiosidade sobre a minha situação.

“Como se eu quisesse chamar atenção!!!!!!”, era o que eu queria gritar no momento com todas as minhas forças.

—Como se eu tivesse opção – sussurrei meus olhos já marejados de lágrimas. ”Por que eu era tão sensível?!”,”Por que esse lugar é tão rígido?!”,” Eu não deveria ter levantado da cama hoje!”. E repetidamente o que me acompanhava no momento não passavam de pensamentos.

Ao chegarmos à sala, sentei-me no meu lugar permanecendo cabisbaixa, desejando que esse dia já tivesse terminado.

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O professor responsável entrou na sala e o ambiente antes alegre e descontraído ficou em total silêncio.

Os passos dele eram as únicas coisas que se ouviam, o sapato dele contra o chão se tornou um barulho extremamente alto com os ecos que a sala produzia. Depois do que pareceu segundos intermináveis, ele parou no meio da sala, em frente ao quadro.

—Prestem atenção! – sua voz tomou o lugar que antes pertenciam aos seus passos - Observem e ouçam bem, irei repetir apenas uma vez – e com sua voz grave e autoritária ele conseguiu a atenção de todos na sala, inclusive a minha, mesmo eu não querendo olhar diretamente para ele – Sou Fukuyama Jun, o professor responsável de vocês, como já devem ter notado – ele escreveu o nome com agilidade na louça – Espero que não estejam com suas mentes dispersadas nesse momento, pois o que direi se aplicará até o final do ano - nossos olhares se cruzaram e percebi que aquilo se referia explicitamente a mim naquele momento – Não admito quebra das regras, não permito bagunça e desordem durante as minhas aulas e nem no meu campo de visão – os passos recomeçaram, sua voz onipotente continuava a ressoar com lentas e duras palavras, dessa vez enquanto caminhava entre as filas – Não sou de fazer piadas e acredito que a sala de aula não seja lugar para isso. As minhas decisões são absolutas, ou seja, não volto atrás do que eu digo. Por isso, pensem bem nas suas atitudes para depois não se arrependerem. Também não tolero atitudes infantis, agora vocês já estão no colegial, estão se preparando para serem adultos, tendo a responsabilidade como sinônimo - a essa altura ele já estava chegando ao fim do seu caminho, logo ele passaria pela minha carteira – E tendo esse sinônimo em mente, não terão problemas com a redução das suas notas, não perderão pontos – dito isso ele deveria ter terminado a “jornada” entre as carteiras passando pela minha por último, mas ele parou ao meu lado; pressenti que não ia vir coisa boa -Não é, Monami-san?-um calafrio percorreu a minha espinha, eu estava certa - Acho que você é o melhor exemplo que tenho agora, e logo no primeiro dia. Os exercícios que preparei antecipadamente estarão esperando-a no final da aula.

Senti meu rosto esquentar rapidamente.

—Você me ouviu, Monami-san?

Assenti.

—Não ouvi a sua resposta, Monami-san – quando ele pronunciava meu nome era como se estivesse se referindo a um bandido! Quem permitiu que ele se tornasse professor?!

—S-Sim – uma resposta afirmativa sem convicção nenhuma, não era uma novidade vindo de mim.

—Monami-san, creio que para haver algum tipo de comunicação há a necessidade de a pessoa compreender o que a outra diz, você não concorda?

—S-Sim – aquele desgraçado estava fazendo de propósito! Aposto que toda a sala estava se concentrando no incrível diálogo entre mim e o sensei; as lágrimas estavam querendo cair, mas de raiva!

—Acho que não entendeu ainda, Monami-san, eu ainda não a compreendo, talvez por sua resposta não ser clara o suficiente. Você entendeu ou não?

—S-Sim – completei em seguida, entredentes, contendo um soluço – Eu entendi.

—Pelo visto você não é só relaxada com seus pertences como também é mal educada... - meu cérebro zumbia de tanta raiva, não conseguia ouvir mais nada. Da onde ele tinha tirado que eu era mal educada?!!! Eu tinha chegado ao meu limite, aquilo estava muito acima de um simples sermão! O problema era dizer isso na cara daquele professor sem ir para a coordenação! Mas eu tinha que reagir!

Levantei-me, com os punhos cerrados, continuei olhando para a minha carteira para não perder a coragem. Quando eu ia dizer algo,outra voz do fundo da sala interrompeu-me.

—SENSEI.