Anger, Sadakos and Coffee Milks!

Dirigi-me ao meu armário para trocar os meus sapatos e as ideias que se passavam pela minha cabeça não eram nada agradáveis. Fiquei notavelmente corada, pelo pensamento que circulava pela minha cabeça, enquanto colocava os sapatos brancos substitutos.

“Será que alguém viu o que tinha acontecido entre o Masaomi e eu?”

Aquilo tinha sido a gota d’água, sentia que a minha cabeça iria explodir! Aquele desgraçado...... me fazendo ficar parecendo um pimentão!

—Masaomi no baka!— e bati a porta do armário com força, deixando o local com passos firmes.

Masaomi Kei era meu amigo de infância, ou algo próximo disso, acho. Ele sempre se comportava assim, sem se importar com as outras pessoas, sendo esse o porquê dele sempre me irritar. Mas ironicamente ele era popular, e de praxe, era bom em tudo. Entretanto, ninguém sabia que as boas notas dele se baseavam na MINHA ajuda! Kei não era nada mais que um cabeça de vento e se prestasse atenção nas aulas ele continuaria tirando boas notas, mas isso não parecia interessar ele, aliás, ele era uma daquelas pessoas que entendia tudo muito fácil sem fazer quase nenhum esforço, mas ainda assim, ele não prestava atenção na aula e depois vinha me incomodar em véspera de prova!

Mesmo com toda as sua “qualidades”, ainda não conseguia ver o que todos –leia-se garotas- viam nele. Admito, ele era bonito, mas não é só beleza que conta, não é? Mas acredito que em relação a elas, a beleza em si só já contava, e muito!

Suspirei, o dia definitivamente não começara bem.

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Tinha decidido ir para a sala de aula quando alguém me chamou.

—Ei, Monami!

Virei-me ao reconhecer uma voz já muito conhecida.

—Eri-chan!

—Fico feliz de você não ter mudado de escola – talvez o entusiasmo de Erika me contagiasse um pouco.

—É , talvez.

—Hã? Por quê? O que aconteceu?

—Ainda me pergunto.

Erika suspirou, algo que por algum motivo sempre acontecia quando ela estava comigo.

—Você não muda mesmo. Vamos, agora somos colegiais! Esse é um período em que muitas coisas acontecem. Passaremos esse momento juntas, mesmo que em classe diferentes! Por isso, alegre-se um pouco, ok?

—Você tem razão – o sorriso se espalhando magicamente em minha face.

—É assim que se fala! – e me deu uns tapinhas no ombro.

Mas de longe, outras garotas que normalmente acompanhavam a Erika vinham em nossa direção; eu já estava tendo uma sensação de déjá vu.

—Erika, então você estava aí – era uma garota de cabelos pretos e com traços que evidenciavam a beleza e jeito nipônico, algo que mesmo eu sendo japonesa não possuía.

—Vamos, vamos, temos que conhecer os nossos colegas! – uma garota energética que vinha aos pulos balançando seu maravilhoso cabelo castanho escuro acenava vigorosamente.

—Que nada! Vamos é conhecer nossos senpais! – essa parecia vir de uma país estrangeiro, talvez a França. Ela parecia uma modelo, desfilava em vez de andar e os cabelos loiros parecendo ter um balançar próprio.

E fiquei admirando o trio que acabara de chegar, já levando a minha amiga embora; mais uma vez eu só observava e ficava para trás.

—Ei, calma, esperem! – foi a última coisa que eu ouvi de Erika enquanto ela tentava relutar de ser puxada pelas outras amigas escada acima.

Suspirei, parecia que eu não estava fazendo nenhum progresso.

Mas neste momento uma outra sensação pareceu me tomar. De repente senti um arrepio, parecia que o local havia sido invadido por uma aura negra e fria, era aterrorizante!

E parecia que eu não era a única a perceber isso. Todos ao meu redor estavam atentos e , olhando na mesma direção que eles, descobri a fonte dessa “aura”.

Fiquei congelada, não podia acreditar no que eu via:

“A SADAKO ESTAVA FREQUENTANDO A ESCOLA?!!!!”

Depois de passado o susto olhei atentamente, reparando em suas roupas e..... ERA UM UNIFORME MASCULINO!!!

Mesmo vestindo aquela calça preta, agasalho verde, e com uma camiseta branca que mal aparecia devido ao tamanho do agasalho, de longe ele lembrava a Sadako. Ele parecia se arrastar em vez de caminhar, tendo uma postura encurvada e, o principal, seus cabelos pretos, longos e extremamente lisos, encobriam a sua face e faziam as pessoas se afastarem. Senti pena dele, mas não deixava de ser assustador.

Porém eu tinha os meus próprios problemas para resolver e não eram poucos.

Comecei a subir as escadas em direção ao primeiro piso, as pessoas já haviam começado a chegar e eu não queria que todos se voltassem para mim quando eu entrasse na sala, não que eu acreditasse que isso realmente fosse acontecer, mas era melhor prevenir.

Entrei na sala e como esperado não tinham muitas pessoas. Fui então em direção ao mapa da sala. Ao checar o meu lugar, parecia que o tempo e o espaço estavam contra mim: eu me sentaria no mesmo lugar que eu sentara no ano passado. Ou seja, a primeira carteira, na primeira fileira perto da porta.

Suspirando, sentei-me no meu lugar e fiquei vendo cada pessoa que chegava, já que não tinha me restado outra opção. E pouco tempo depois parecia que a maioria já havia chegado. As conversas que eu escutava eram as mesmas e aquilo estava me irritando.

Não, não era isso. Era difícil aceitar, mas eu estava com inveja. Eu também queria dar gritinhos e pulinhos de felicidade ao reencontrar uma amiga e dizer –como todas diziam - : “Estamos na mesma sala de novo!”

Ah, a inveja que me corrói.

Então a porta se abria e um garoto com uma expressão sonolenta e com um Coffee Milk na mão apareceu. Parecia que todos tinham se virado em sua direção. Uns garotos já foram cumprimentar ele rapidamente, fazendo com que houvessem muitas pessoas perto da minha mesa.

O que eu escutava vindo daquela rodinha era:

—Como esperado do Ryu, chegando atrasado de novo!

—HÁHÁHÁ, já estamos no primeiro ano e você ainda está tomando Coffe Milk?!

—Ah, cale a boca –era uma voz rouca, deveria ser do tal Ryu.

—HÁÁHÁHÁ, já está estressado no primeiro dia de aula?

—Aposto que nem dormiu, olha o rosto dele!

—HÁHÁHÁ

—Eu já disse para.....

—OI RYU!- um garoto loiro tinha acabado de chegar e dado um tapa no ombro do Ryu, e como reação, ele havia se assustado com a chegada repentina dele, tanto que apertou a caixinha de Coffee Milk e....... ESTAVA ESPIRRANDO EM MIM!

Mas, em vez do idiota parar de apertar a caixinha, ele continuava em estado de choque por estar espirrando coffee milk em mim. Bem, mas eu também continuava paralisada, não acreditando no que estava acontecendo.

—Ei Ryu, pare de apertar a caixinha!

—Você está molhando ela!

Com isso ele parecia ter acordado e parou de apertar a caixinha, mas não adiantava, meu agasalho já estava molhado. Eu também parecia ter despertado e rapidamente comecei a despi-lo, por pouco não molhando a minha blusa que estava por baixo.

Após fazer isso eu ainda tentava processar a situação. Inconscientemente eu me levantei e sai da sala, não sabendo o que poderia acontecer se eu continuasse ali. Ao me afastar conseguia ouvir muito comentários vindos da minha sala:

—Não acredito que você fez isso!

—Senti pena dela, logo no primeiro dia levar um banho de Coffee Milk.

—EI, A CULPA NÃO É MINHA! A CULPA É DESSE IDIOTA!

—EI! Não fui eu quem apertou a caixinha!

—MAS FOI VOCÊ QUE ME ASSUSTOU!

Eu não queria mais ouvir nada, eu fui ao único lugar que me pareceu conveniente: o banheiro.