― Atchim!

Ele já estava no quarto espirro seguido quando o professor se aproximou, carregando em sua face costumeiramente gentil uma expressão não muito amigável. Gintoki iria pedir que ele não o olhasse daquela forma, porque aquilo sempre tinha bastante potencial para assustá-lo, principalmente quando sabia que estava prestes a ser repreendido, mas a sequência seguinte não deixou que ele pronunciasse sequer uma sílaba.

Após espirrar mais cinco vezes, entretanto, percebeu que a expressão do mais velho só tornara-se mais dura que antes.

― Não me olhe assim. Eu não tenho culpa se um maldito vírus gostou de mim e meu sistema imunológico foi inútil o suficiente para não conseguir eliminá-lo! ― Irritou-se, contrariado.

― Não tem culpa, hum? ― começou Shouyou, ainda o encarando feio. ― A chuva na qual você saiu correndo também não tem nada a ver com isso, certo? ― insinuou, lembrando ao garoto das travessuras que aprontara durante a manhã.

O pequeno responderia se não fosse mais uma sequência de espirros desenfreados o impedindo. Shouyou, por sua vez, suspirou, logo se direcionando à cozinha, voltando apenas alguns minutos depois, com uma pequena bandeja com um copo fumegante em mãos.

― Eu deveria deixar essa gripe te perseguir até resolver ir embora, para assim talvez você aprender a dar ouvidos quando eu peço para não sair correndo na chuva ― repreendeu abaixando-se e abandonando a bandeja junto do garoto.

― O que é isso? ― questionou encarando o copo que fumegava com a quentura do líquido em seu interior.

― Chá de gengibre com limão. Irá ao menos diminuir os sintomas ― explicou entregando o copo nas mãos do aluno, que fez careta ao sentir o cheiro do gengibre.

― Eu odeio gengibre, você sabe disso ― reclamou.

― Então devo supor que você prefere continuar espirrando desenfreadamente e esperar os outros sintomas, que são piores, virem também? ― perguntou um tanto mais sério que o de costume; estava começando a pensar seriamente sobre o quanto estava mimando aquelas crianças.

Gintoki, por sua vez, resmungou contrafeito, logo desistindo, porém, de reclamar sobre aquilo e engolindo de uma vez o chá, exagerando na careta póstuma, já que nem estava tão ruim quanto ele imaginara que estaria. O professor então pegou o copo e a bandeja novamente, levantando-se e voltando para a cozinha. Precisava terminar o jantar antes de Takasugi e Katsura chegarem.

― Não saia de dentro de casa. O clima ainda está frio ― alertou enquanto já passava pela porta que levava ao outro cômodo. ― E se você piorar por ser teimoso demais, eu realmente o deixarei sentir todos os sintomas impertinentes que lhe virão ― advertiu tranquilamente, embora deixando bem claro a ameaça no ar.

(...)

A chuva continuava torrencialmente lá fora, como já caía desde a tarde. Já eram três da manhã e ainda assim o abajur no quarto do professor permanecia aceso, enquanto ele revezava sua atenção entre o livro que lia e o menino adormecido sobre seu futon. Levou sua mão direita à testa do garoto novamente, certificando-se se a febre realmente havia ido embora e suspirando aliviado ao perceber que sim.

Depois do aviso que dera pela segunda vez naquela tarde, se dedicara a preparar o jantar, o que o fez perceber que Gintoki havia o desobedecido ― de novo ― somente quanto terminara e voltara à sala, aonde seus outros dois alunos já se encontravam esperando pelo chamado para comerem.

Perguntou aos garotos aonde Gintoki havia se metido, tendo como resposta dois “não faço ideia” simultaneamente. Nada satisfeito por ter sido desobedecido pela segunda vez naquele dia serviu o jantar para os presentes e resolveu esperar pacientemente pelo discípulo mais velho, para que assim pudesse castigá-lo como devia.

No final das contas, porém, seus planos não seguiram como pretendia. Quando Gintoki chegou já era noite, perto das sete e meia, completamente encharcado e espirrando mais do que já estava antes; o que trazia nos braços, no entanto, surpreendeu o professor ao ponto desse não brigar tudo o que tinha que brigar assim que o prateado colocara os pés dentro da sala de estar. Sob seu kimono, o Sakata trazia uma criatura peluda e escura, que logo chamou a atenção dos outros dois companheiros.

― Ele estava encolhido no canto da calçada da soverteria do Kazuki-san, então eu trouxe ― explicou quando finalmente conseguiu parar de espirrar e de tossir.

― Sensei, podemos ficar com ele? ― Fora Katsura quem pedira, enquanto tentava enxugar o pelo molhado do gatinho, que já começava a ronronar, satisfeito.

― Tudo bem, mas o sequem antes de alimentá-lo ― pediu, permitindo que os dois logo corressem ao quarto, em busca de uma toalha. ― Agora, você. ― Encarou o prateado. ― O que estava fazendo na calçada da soverteria do Kazuki-san? ― Sorriu à seu modo sereno, mas verdadeiramente assustador.

― Hum... Bem... ― Tentava encontrar uma boa desculpa, enquanto se afastava propositalmente do professor que cada vez mais se aproximava. ― Procurando e ajudando gatinhos sem lar?

― Gintoki... ― chamou pelo nome num tom mais ameaçador e estava prestes a abandonar um cascudo sobre a cabeça do menor, quando finalmente percebeu o quanto esse tremia, e não era de medo.

Com muita seriedade, embora sem carregar a aura negra que antes carregava, se aproximou mais do discípulo, imediatamente levando sua mão à testa do garoto e logo percebendo o que temia: ele estava ardendo em febre.

― Troque logo essas roupas e venha à cozinha ― exigiu voltando a se direcionar ao cômodo.

Gintoki, por sua vez, finalmente resolveu obedecer ao mais velho e fez exatamente o que lhe pedira, não demorando muito a ir para a cozinha e ouvir tudo o que tinha que ouvir do mestre, além de comer e tomar tudo o que lhe era ordenado.

Agora estavam ali, no quarto do professor. A febre não tinha diminuído à altura em que foram se deitar, e por isso fez com que o pequeno dormisse em seu quarto para poder observá-lo durante a noite.

Suspirou em meio a um sorriso.

No final das contas, mesmo que tivesse dado todo o esporro que tinha que dar, não cumpriu com sua ameaça e ali estava ele, passando a noite em claro, enquanto ficava atento a seu pequeno samurai dormindo.

Ele realmente precisava arranjar um jeito para parar de mimar aquelas crianças.