Sem Final Feliz

Capítulo 4 - Quarto Estágio: Depressão


XIV.

Emma torra suas economias e leva sua família a um pequeno pedaço do paraíso.

A casa é espaçosa e mais do que confortável; os pisos são feitos de madeira brilhante, as janelas são largas o suficiente para deixar o sol entrar livremente e o quarto principal tem uma enorme cama king-size que fica bem no centro com uma vista perfeita para o infinito oceano azul que se estende por quilômetros e milhas.

O que acaba sendo particularmente perfeito, já que Regina mal consegue sair da cama atualmente.

Ela está sofrendo muito, embora tente não deixar transparecer, e Emma finalmente tem que concordar que a presença de Snow não é a pior ideia de todos os tempos quando sua mãe está totalmente no comando dos pequenos.

Com o avanço da doença e a fraqueza que a acomete, Regina se torna mais dócil e o fato de ela quase não lutar mais não é tanto um alívio quanto um sinal de que o tempo está se esgotando.

Emma tenta não pensar sobre isso, focando sua atenção nas coisas mundanas, pequenos detalhes como lembrar o horário de todos os remédios que Regina deve tomar, ou desenvolvendo um interesse obsessivo nas menores variações de seus sintomas depois de ter lido tudo que há para se saber sobre sua doença na internet e buscando atender a todas as necessidades da esposa antes mesmo que ela as expresse.

Sua atitude se alterna entre absolutamente autoritária e ligeiramente maníaca. O que estão vivendo devastador e terrível demais para que Emma possa sequer começar a conceber e ela não chora mais, mas apenas porque ela também nunca se permite sentir isso.

Henry não pode deixar de notar o comportamento de Emma, a forma como ela também está sendo consumida por esta doença, só que de uma maneira diferente. E isso o deixa alerta e preocupado, mas falar com Snow não parece apropriado, o que só o deixa com uma opção.

As luzes do quarto estão apagadas, pois incomodam a visão sensível de Regina, mas é lua cheia lá fora e a noite está clara.

A princípio, parece que ela pode estar dormindo, mas então o menor movimento de seu corpo e o mais suave dos sussurros lhe dizem o contrário.

"Olá." Regina cumprimenta o filho com um sorriso cansado e ele não se move no início, sem saber o que fazer.

"Oi mãe."

"Vem cá," diz ela, acariciando a superfície da cama ao seu lado levemente, e não há ponto de interrogação, mas dificilmente parece um comando real ou mesmo uma ordem. Na verdade, há muito pouco na mulher que Henry tem diante de si que o lembre de sua mãe. Ele obedece de qualquer maneira.

"Posso pegar alguma coisa para você?" Ele pergunta atencioso, sentando na beira da cama e pegando uma de suas mãos. Elas parecem sempre estarem frias agora.

Regina olha para ele então, um sorriso intencional vagamente desenhado em seus lábios. "Você pode me contar o que quer que esteja te incomodando."

Henry hesita então, porque com certeza sua mãe é a única pessoa capaz de fazer Emma parar e ouvir, mas ela parece tão frágil agora, tão vulnerável e exposta.

"Eu apenas sinto sua falta. Isso é tudo." Algumas lágrimas ameaçam escapar contra sua vontade e embora essas palavras não sejam o que ele planejava dizer elas tampouco deixam de ser verdade.

"Meu pequeno príncipe," Ela deixa escapar o termo carinhoso reservado a Henry, sua voz quase um sussurro, sua mão ainda segurando a dele enquanto seus olhos se fecham, apesar de seus melhores esforços para ficar acordada. "Eu ainda estou aqui."

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XV.

Algumas horas mais tarde, na mesma noite, depois que Snow e seus irmãos foram para a cama e Regina mais uma vez caiu em um sono sem sonhos, Henry encontra Emma sentada sozinha no final do deck de madeira que vai em direção ao mar, com os pés balançando sobre a água e meia garrafa vazia de uísque descansando ao seu lado.

Ele se aproxima dela silenciosamente, descalço e com passos incertos.

"Já passou da sua hora de dormir, garoto." Ela diz a ele sem se virar, os olhos ainda perdidos no oceano, o vento fazendo seus longos cabelos dançarem descontroladamente.

"Eu poderia dizer a mesma coisa a você." Ele responde simplesmente, sentando-se ao lado dela. "Os pequenos estavam perguntando sobre você durante o jantar."

"Eu só... não estava com fome, ok?"

"Isso vai cair bem então." Ele se refere a garrafa de uísque com um olhar de soslaio e por um momento Henry não poderia ser mais filho de Regina. Sua postura e a expressão de visível reprovação uma lembrança tão distinta de Regina que Emma se sente diretamente transportada aos primeiros anos de seu relacionamento com a ex-prefeita de Storybrooke, quando tudo era conturbado e difícil, e as duas ainda sabiam tão pouco sobre o amor e ainda menos sobre serem amadas.

As memórias fazem o coração de Emma latejar por dentro. Ela agarra a garrafa e sela sua boca com os próprios lábios. Em seguida, ela fecha os olhos e deixa o álcool queimar a dor que está sentindo.

É a voz de seu filho que a traz de volta.

"Ela tem dormido muito ultimamente." Seu comentário é feito casualmente, com os olhos propositalmente fixos nas estrelas. A resposta é uma dura verdade que escapa rasgando da garganta de Emma, sua voz dilacerada.

“Não vai demorar muito agora.”

Houve um tempo em que ela teria protegido Henry, contando-lhe meias-verdades, em tentativas vãs de poupá-lo dos golpes baixos da vida. Mas a morte não é algo que se possa afastar simplesmente e, embora Emma insista em continuar chamando-o de "garoto", os dois sabem que ele está a cerca de dois segundos de se tornar um homem.

Talvez seja por isso que ela lhe entrega a garrafa.

Ele não pega imediatamente, apenas olha para o perfil de Emma, ​​como ela fecha os olhos e respira com dificuldade, uma imagem vívida de completa devastação. E o fato de que pela primeira vez ela não está colocando uma máscara e fingindo ser forte, o toca e o assusta de maneiras que Henry mal consegue começar a entender. Porque significa que isso é tudo. O fim da linha.

Sua mãe realmente vai morrer. E tudo o que lhes resta fazer é assistir. E estar lá quando isso acontecer.

Ele pega a garrafa e bebe um gole longo e diligente.

Então ele tosse, forte, apenas para tomar outro gole.

Em silêncio, eles bebem juntos até o sol nascer.

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XVI.

Regina acorda em meio ao que tem sido a soma de seus dias ultimamente. As cortinas dançando ao vento que vem da janela aberta e um tênue vestígio de uma dor persistente que ameaça a acometer sempre que os efeitos das pílulas começam a passar.

Então ela percebe a presença de outra pessoa em sua cama. Alguém que não é Emma.

Sua língua não encontra conforto nos lábios secos e na boca de algodão, e a entrada de ar exige muito esforço, o suficiente para fazê-la ofegar laboriosamente. Ainda assim, quando Regina abre os olhos e vê a imagem de seu filho caçula dormindo ao seu lado, um sorriso se desenrola suavemente em seus lábios.

Ela quer puxá-lo para mais perto. Tocar em seus espessos cabelos escuros e inalar o doce aroma de pasta de amendoim e leite que o menino parece sempre ter, mesmo nas primeiras horas da manhã. Mas ela mal consegue se mover e, embora ele esteja bem ao lado dela, ao mesmo tempo ele não poderia estar mais longe.

"Michael?" Snow chama da porta em um quase sussurro e Regina mal consegue ver sua mãozinha segurando firmemente os lençóis brancos no meio do sono ou seu pé com meia escapando sob as cobertas, sua visão turva com lágrimas translúcidas. Então ela se move, muito levemente, mas o suficiente para deixar Snow saber que ela está acordada.

"Pode entrar." Regina lhe diz quase sem fôlego.

"Desculpe, não tive a intenção de incomodá-la. É só ... eu acordei e não consegui encontrá-lo em lugar nenhum. "

"Você não me acordou. Acho que é hora... dos meus remédios. " Ela respira fundo. "Onde está Emma?"

"Ela está hmm-- indisposta esta manhã." Snow comenta com leveza, sem nenhuma intenção de mencionar a ressaca que acomete sua filha e neto no presente momento ou a repreensão que ambos receberam por seu comportamento imaturo e completamente inadequado na noite anterior. "Por que você não me diz o que precisa e eu pego para você?"

“Um pouco de água e um punhado de Vicodin seria ótimo,” Regina diz e espera pacientemente enquanto Snow prontamente atende seus desejos. De certa forma, toda a situação é quase familiar.

“Aqui”, a mulher oferece a ela os comprimidos e a água, que Regina toma sem cerimônias. A nuvem de dor aumentando gradualmente. "Eu provavelmente deveria levá-lo de volta para o quarto."

"Não... não", Regina responde fechando os olhos e sentindo os efeitos imediatos das pílulas turvando sua consciência. "Deixe-o estar."

Snow paira então, sem saber o que fazer. Mesmo com os olhos fechados, Regina ainda pode sentir sua presença. "Quão mal está Emma?"

A abordagem perspicaz realmente não deveria surpreender Snow. Ainda assim, ela tenta aplacar suas preocupações.

"Acho que é apenas uma dor de cabeça, talvez uma infecção alimentar. Nada para você se preocupar.”

"Eu não estou falando sobre a bebida, querida." Regina abre os olhos então, e por um breve vislumbre Snow é lembrada de com quem está falando.

Sem saída e sem rodeios, a Snow só resta uma opção.

"Bem, o que você acha?" Sua voz é neutra, mas não contém mais aquela qualidade açucarada que sempre irritou Regina. A secura nela é mais do que bem-vinda pela antiga rainha. Snow e Regina nunca serão próximas, mas a algo a se dizer sobre a capacidade de se dirigirem uma à outra com civilidade e pura sinceridade. "Ela está arrasada."

Regina acena em compreensão, nem de longe surpresa. As palavras de Snow, entretanto em nada aliviam o peso que ela sente. Seu filho então se mexe ao seu lado, ainda dormindo, e é o incentivo de que ela precisa para liberar as palavras que vinha adiando até agora.

“Snow, eu preciso que você me faça uma promessa. Uma que você deve manter, pois este é o meu último desejo." O tom de Regina é soberano e severo.

Snow o reconhece imediatamente.

“Regina...” Ela tenta se opor, mas é impedida de fazê-lo com um único olhar.

"Quando tudo isso tiver acabado, você levará minha família de volta para Storybrooke. Apenas... Certifique-se de que eles estão bem cuidados, seguindo em frente de alguma forma." Regina se permite um longo suspiro. Inalar e exalar. “Emma é forte, mas nós duas sabemos a dor de perder aqueles que amamos e o que isso pode provocar em cada um”, Regina explica com uma voz imparcial, seus olhos escuros cheios de determinação.

Snow tenta responder então, sua voz traindo suas emoções "Regina, o que você está pedindo--"

"Apenas diga sim." Regina implora cansada.

“Eu prometo,” Snow concorda com lágrimas escorrendo pelo rosto. “Mas você não precisava pedir. Eu faria mesmo assim."

“Pois bem,” Regina concorda satisfeita, suas palavras finais mal escapando em um sussurro antes que ela inadvertidamente volte a dormir. "Então, desta vez, cumpra sua palavra."

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Continua...