Sem Final Feliz

Capítulo 3 - Terceiro Estágio: Negociação e Barganha


IX.

Por um tempo nada muda realmente, simplesmente porque Regina é teimosa demais para deixar alguma coisa leve como uma condição fatal desacelerá-la.

Como um dínamo, ela simplesmente continua se movendo e se movendo, cuidando das crianças e da casa e se recusando a parar ou, quem dirá, a se render.

É enfurecedor, algo que Emma não tem medo de apontar, e as duas estão constantemente brigando a respeito, batendo cabeças e discutindo em voz alta até que estejam ambas igualmente infelizes e exaustas, mas ainda assim não dispostas a ceder.

Isso até que os sintomas apareçam e o câncer comece a afetar seu corpo, e à custa de sua própria obstinação, mesmo Regina está fadada a se curvar.

Então, quando isso acontece, quase parece repentino.

Seu corpo começa a falhar, e os tratamentos que deveriam fazê-la se sentir melhor acabam, na verdade, fazendo-a se sentir pior.

Ela não gosta disso, nem um pouco. E isso parte o coração de Emma ao mesmo tempo que a deixa louca porque Regina sabe tudo sobre como cuidar de sua família e ser a responsável, mas quando se trata de ser cuidada, ela sabe muito pouco.

Vulnerabilidade é algo que Regina nunca soube administrar com elegância e nenhuma doença poderia mudar isso.

"Você precisa comer!" Emma insiste, a exaustão transbordando de seus poros.

“Tente comer você sem sentir o gosto de nada além de borracha seca. É o mesmo que tentar comer sua comida, querida,” Regina torce o nariz em desgosto. "Sem ofensa."

"Nenhuma." Emma releva naturalmente, cansada demais e muito acostumada a isso agora. "Você está pele e ossos Regina, não comer não é opcional."

“É sim, quando esta é a alternativa.”

“Já chega Regina, isso não é uma negociação! Ou você come, ou então--”

"Ou o que? Você vai enfiar essa colher goela abaixo?” Sua pergunta é quase um desafio.

"Não", Emma responde lentamente, mas não pode fingir que o pensamento não passou por sua mente. "Mas só porque você vai comer e não me forçar a fazer exatamente isso.”

Ela está falando sério, Regina percebe.

"Talvez tarde." Ela oferece e a condescendência em seu tom é o suficiente para fazer Emma perder a paciência de uma vez por todas.

"Pelo amor de Deus, você é pior do que as crianças!" Emma afasta a bandeja, colocando-a com força sobre a mesa de cabeceira. Regina fecha os olhos, estremecendo ao som do gesto.

Quando ela fala, seu tom é frio e suas palavras, afiadas.

"Sinto muito se minha condição torna sua vida mais difícil."

Emma apenas suspira com pesar. "Não foi o que eu quis dizer Regina e você sabe disso.”

"Bem, se serve de consolo, tudo isso é muito pior quando você é a pessoa que está morrendo."

“Será que você poderia não--” Emma tem que conter sua irritação e moderá-la. "Você pelo menos ainda possui algum controle sobre o que sai da sua boca?"

"Não desde a quimio, não."

“Regina...”

"Não! Você não entende, Emma! Cuidar de mim pode ter sido um desafio até agora, mas estar sob minha pele enquanto esta doença está me comendo viva é algo que eu não desejaria ao meu pior inimigo. E nós dois sabemos que eu tive muitos deles, incluindo sua querida mãe."

"Ei, eu sei que isso é difícil, mas é a única maneira."

“Não tem que ser.” Regina rebate em um piscar de olhos, sua voz ganhando uma qualidade mais suave quando ela finalmente diz o que se passa em sua cabeça. "Emma, é meu desejo interromper o tratamento.”

As palavras imediatamente chamam a atenção de Emma, que ergue a cabeça em um movimento súbito, a surpresa estampada em seu rosto. "Você o que?"

"Se você apenas me ouvir--"

"Não! Por que você diria algo assim?"

"Porque estou morrendo, querida, e se isso não me dá esse direito, então o que?"

Emma se levanta de uma vez, a bandeja há este ponto esquecida sobre mesa de cabeceira, ignorada por ambas as partes. Andando de um lado para o outro, a loira não responde imediatamente e Regina interpreta isso como um sinal para continuar pressionando.

“Olha, nós duas sabíamos que fazer esse tratamento era só uma questão de ganhar mais tempo. Mas, honestamente, desde que o tratamento começou, eu só me sinto cada vez pior. Ele me deixa completamente inútil e quase não tenho forças para passar mais tempo com você ou com as crianças.”

Mesmo estando perfeitamente claro para Regina que ela está pisando em um terreno delicado, ela não se dá por vencida. “Emma, você e eu sabemos que eu não estou melhorando. Não existe melanoma de estágio 5. Então, por que não podemos simplesmente aproveitar o tempo ainda temos?"

“Porque não é suficiente!” Emma explode, e dói em Regina enxergar o quão impotente e devastada sua esposa se sente diante do que estão enfrentando. Mas não a ponto de que ela esteja disposta a sacrificar o tempo que ainda podem ter prostrada em uma cama, apenas uma versão desbotada de si mesma.

“Oh Emma,” Regina estende o braço e Emma sem palavras vem até ela, incapaz de recusar sua esposa de qualquer forma. Com o mais leve dos toques, Regina puxa a loira em sua direção até que as duas estejam suficientemente próximas para que ela encoste sua testa contra a de Emma. “Meu amor, todo o tempo do mundo não seria suficiente.”

“Eu sei,” Emma concorda trêmula. “Mas envelhecer juntos também não faria mal.”

Desta vez Regina apenas sorri em meio a lágrimas não derramadas. E então Emma sabe que vai ceder aos desejos de sua esposa simplesmente porque ela não consegue se lembrar da última vez que viu este sorriso e porque ela não sabe até quando será capaz de vê-lo.

“O que iremos dizer às crianças?”

A resposta vem depois de uma eternidade de silêncio. "A verdade."

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X.

Imogen e Michael não entendem muito bem o que está acontecendo. Tudo o que sabem é que a mamãe não se sente bem, tudo está triste agora e Ma tem passado muito tempo em casa.

Então, em uma tarde ensolarada, sentados em um banco de um parque com casquinhas de sorvete derretendo nas mãos e grama verde manchando as solas de seus tênis, eles são informados de que sua mamãe fará uma longa viagem para um belo lugar muito distante.

A viagem é chamada de morte, e depois de fazer isso, você não pode voltar.

Imogen questiona porque Regina tem que ir em primeiro lugar e Michael tem dificuldade em entender o conceito de tempo.

O que significa para sempre? E quando isso acaba?

Depois, há questões mais urgentes: quem vai cantar canções de ninar para eles se a mamãe não estiver por perto? Ma é boa em contar histórias, mas sua voz para cantar não é das melhores. Ela também não sabe cozinhar e isso é um problema real porque pizza todas as noites não faz bem para a sua barriga, ou pelo menos é o que a mamãe sempre diz.

Imogen fica com raiva. Esta viagem é estúpida e se a mãe tem que ir, então por que ela não pode simplesmente ir com ela?

Assim que a pergunta sai dos lábios de sua filha, Emma se levanta, sobrecarregada pela onda de tristeza e frustração que de repente a atinge, e é Regina quem assume o controle, puxando Imogen para seu colo com infinita paciência e ternura, e com seus lábios selando um beijo em sua cabeça, ela explica a sua filhinha que ela precisa ficar para ajudar seus irmãos a cuidar de sua Ma.

Michael é muito jovem para perceber a irrevogabilidade de tudo, mas ele é uma criança sensível e nas semanas seguintes ele se mostra carente e excessivamente apegado a Regina, recusando-se a comer a menos que seja ela quem o alimenta, ou ir para a cama sem que a mamãe fique com ele até ele adormecer.

Imogen tem pesadelos com sua mamãe saindo no meio da noite sem se despedir. E outros pesadelos que ela não tinha há muito tempo, sonhos de quando ela era muito pequena e sua outra mãe, a primeira, ficou muito doente e o policial veio no meio da noite e a levou embora.

Isso significa que ela terá que ir embora de novo?

A menina pergunta durante o jantar, entre contar sobre seu dia na escola e entregar o bilhete que sua professora enviou e provavelmente é uma coisa boa que sua mamãe não esteja se sentindo bem o suficiente para se juntar a eles na refeição esta noite porque os olhares nos rostos de Ma e Henry lhe dizem que ela pode ter dito algo muito ruim.

Emma não responde imediatamente, quase com raiva demais para falar, e leva alguns momentos para ela recuperar a calma e para Imogen perceber que ela não é a pessoa a quem a raiva de sua mãe é direcionada. E que, o que primeiro parecia raiva, se trata de uma tristeza maior do que o que ela consegue expressar com palavras.

Quando sua mãe responde, é olhando diretamente em seus olhos, da mesma forma que ela faz quando quer a mais absoluta verdade e nada além da verdade, e Imogen acaba contando onde escondeu os brinquedos de Michael ou confessando que pode ter sido ela quem quebrou o vaso favorito de sua mamãe.

Escute bem mocinha, esta é a sua família. Para sempre. Aconteça o que acontecer. Então não, você não vai a lugar nenhum, ok?

Então Ma continua jantando, assim como Henry e Michael nem está comendo mais, só brincando com a comida no prato e tudo ainda está triste, e a mamãe dela ainda está muito doente, doente demais para fazer o jantar ou mesmo checar se ela está fazendo o dever de casa (que é principalmente a razão pela qual ela recebeu aquele bilhete de sua professora em primeiro lugar), mas pelo menos ela pode respirar agora.

Ainda assim, na maioria das noites, Imogen aparece no quarto de suas mães buscando refúgio em sua cama, apenas para se certificar que sua mamãe não vai a lugar nenhum sem se despedir.

Henry ajuda muito em casa e, apesar dos protestos de ambas as mães, decide esperar um pouco mais antes de submeter suas inscrições para a faculdade. É o suficiente para deixar Regina louca da vida e não há uma única oportunidade em que ela não toque no assunto, mas ele sabe como lidar com ela melhor do que ninguém, sempre desarmando suas tentativas com um sorriso e charme natural.

Acontece que suas habilidades de atuação são bastante admiráveis ​​porque à noite, quando às vezes Henry acorda com os sons de sua mãe vomitando no quarto ao lado, ele se lembra de como ela sempre parecia ser forte, como se ela fosse feita de aço ou outro material inteiramente, e como ela está frágil agora e tudo isso o deixa tão triste que ele nem sabe o que fazer com esses sentimentos e então, deitado em sua cama, Henry apenas fecha os olhos e aumenta o volume em seus fones de ouvido até não haja nada além de ruído branco e absolutamente nenhuma chance de qualquer pensamento indesejado invadir sua mente.

A princípio, ele ia ao quarto delas, pairando perto da porta e observando enquanto Emma levava Regina de volta para a cama, esfregando suavemente a parte inferior de suas costas e sussurrando coisas inaudíveis apenas para os ouvidos de sua mãe. Mas então quando elas notavam sua presença e inevitavelmente Emma dizia "Tudo bem garoto, eu cuido disso." E sua mãe ficava absolutamente arrasada por ser vista assim, mas tentava ainda tranquilizá-lo com um sorriso forçado que não alcançava seus olhos, um sorriso nascido de uma força que ela não deveria mais desperdiçar apenas para fazê-lo se sentir melhor.

Agora ele acorda mesmo assim e vai ver como estão os pequeninos, para depois voltar para a cama e colocar os fones de ouvido novamente.

Quanto mais alta a música, mais silenciosos seus pensamentos se tornam, o que é bom porque em dias como este até as lembranças boas doem.

Especialmente elas.

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XI.

Emma tenta cuidar de tudo sozinha, tira uma licença do trabalho e se dedica em tempo integral aos filhos, a casa, Regina. E ainda assim, não é o suficiente.

Não demora muito até que ela esteja exausta e Regina possa ver nas marcas escuras sob seus olhos, e no fato de que ela perdeu peso, e a casa está uma bagunça e as crianças não têm roupas limpas para vestir e a cozinha passou a ter um odor distinto e pouco agradável.

Então Regina faz a única coisa que pode (e nunca pensou que faria).

Snow chega dois dias depois e Henry se mostra chocado demais para conseguir oferecer sequer uma recepção decente à mulher que não vê há mais de seis anos.

Ao invés disso, ele fica boquiaberto diante da porta aberta, acometido pelo quão inesperada se faz essa visita e também pelo constrangimento ao se dar conta de que a casa está uma bagunça completa.

“Vó,” As palavras o deixam em um sopro de ar e a mulher apenas sorri para ele, quase radiante.

"Oh Henry, olhe para você!" Ela não espera por um convite – ou permissão – simplesmente o envolvendo em um abraço quase sufocante. A única coisa que falta, na verdade, é que ela aperte suas bochechas.

Oh espere. Podemos riscar isso da lista.

"O que você está fazendo aqui?" Ele pergunta sem jeito e não tentando ser rude, mas muito inseguro de como sua mãe vai reagir a esta visita repentina.

“Eu liguei para ela,” A voz vem de trás deles, e ambos se viram em sua direção ao mesmo tempo, surpresos ao ver Regina – embora por razões muito diferentes.

“Regina--” é tudo o que Snow consegue dizer, muito surpresa ao ver uma mulher que não se parece em nada com a Rainha Má que ela conhecia – ou qualquer uma de suas outras versões, na verdade.

"Mãe, você não deveria sair da cama."

“Em primeiro lugar, eu posso estar doente, mas ainda sou a mãe aqui, então não aceito ordens de meus filhos. E em segundo lugar, você não vai convidar sua avó para entrar? Henry, esta não é a educação que sua mãe e eu demos a você.”

O tom de Regina é tão majestoso como sempre, mas há uma delicadeza em sua voz que quase diminui sua reprimenda. O fato de ela estar usando pijamas e um robe no meio da tarde também afeta muito sua figura de autoridade, embora não aos olhos de seu filho, aparentemente.

"Desculpe." Henry se desculpa com um leve rubor e se vira novamente para Snow: “Por favor, entre, vovó. Você gostaria de algo para beber?"

"Obrigado, querido, isso não é necessário." Snow declina educadamente.

"Henry, meu querido, por que você não vai nos preparar um pouco de chá?" Regina sugere com um sorriso caloroso e cansado.

"Ok." O garoto obedece prontamente, deixando as duas mulheres sozinhas na sala. Um breve correr de olhos é o suficiente para que Regina perceba o estado lamentável de apresentação do cômodo. Revirando os olhos, ela indica o assento à sua frente para sua antiga arqui-inimiga com um gesto simples.

"As coisas geralmente não se encontram tão bagunçadas, mas tenho certeza de que você pode nos perdoar dadas as circunstâncias."

"Eu fiquei muito surpresa quando você me ligou." Snow se senta rigidamente na beirada da poltrona, sem saber como responder a isso.

"Bem, eu não vou insultá-la inventando qualquer desculpa sobre meus motivos. Se eu tivesse escolha, provavelmente nossos caminhos nunca mais se cruzariam,” Snow quase engasga diante da fala de Regina, e ainda assim algo em suas palavras parece suficientemente familiar para que ela se permita relaxar ao menos um pouco. Aqui está a Regina da qual ela se lembra. "No entanto, se há algo que tudo isso me ensinou, é que há coisas mais importantes do que orgulho e velhas desavenças."

Snow quase engasga tentando conter seu ressentimento. “Não acho que ‘desavença’ seja um termo que se aplica à nossa história, Regina.”

“E eu não acho que vou viver muito mais tempo, Snow. Então, chame como quiser. Eu estou finalmente pagando o preço por meus erros e você se dar como vingada quando voltar para casa, junto ao seu querido Charming e sua nova família para viver o seu final feliz.” A zombaria no tom de Regina é mais do que familiar. Algumas feridas tempo algum ou felicidade podem curar. "Não foi por isso que eu liguei para você."

"Então por que você fez isso?" A voz de Snow treme. Ela havia se esquecido da capacidade de Regina de ferir com palavras, simplesmente brincando com verdades que são difíceis de engolir.

"Por que mais?" Regina mantém sua fachada, mas aí reside sua fraqueza, na quebra de sua postura assim que o nome de Emma mal é mencionado. Um estranho poderia não ter notado, mas isso é algo que Snow e Regina definitivamente não são.

"Onde ela está?" Snow pergunta, preocupada.

"Mercearia. Estávamos sem leite.” Regina responde simplesmente. E a domesticidade presente neste simples fato é quase um incentivo para o rancor de Snow, mas então ela pensa em Emma chorando em seu saguão, perdida e pedindo ajuda porque estava prestes a perder seu verdadeiro amor.

Esta mulher.

É o suficiente para que Snow mantenha sua resolução. "Ela sabe que estou aqui?"

"Ela vai saber, assim que chegar."

"Ela não vai aceitar isso bem."

"Provavelmente não," Regina responde calmamente, e então algo acontece dentro dela porque a bravata simplesmente evapora feito fumaça de repente, deixando uma versão mais suave de Regina para trás. “Você vai poder ficar? Até--"

"Sim. Está tudo resolvido. Charming vai cuidar das meninas.”

“Bom,” Regina diz distraída, o esforço da conversa demasiado para suas escassas reservas. "Isso é bom."

Quando Henry volta, uma bandeja na mão e uma certa suspeita quanto ao silêncio que reina na sala, é apenas para encontrar sua mãe dormindo no sofá, uma manta fina colocada sobre seu corpo, e sua avó olhando pensativa pela janela.

"Eh, aqui está o chá." Ele anuncia, claramente confuso perante o que acabou de acontecer.

“Obrigado, querido”, diz sua avó pegando uma das xícaras com as duas mãos, apenas para acrescentar a seguir. "Agora, que tal você me ajudar a limpar essa bagunça antes que sua mãe chegue?"

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XII.

Emma acorda de supetão, o motivo para tanto o som de um baque, cuja origem ela não consegue determinar de imediato. Então ela percebe que algo está errado, o lado de Regina da cama vazio e os lençóis frios. O quarto está escuro e o pânico que de repente se eleva em seu peito aguça seus sentidos.

"Regina?" Emma chama por sua esposa, seus olhos verdes se ajustando à ausência de luz no cômodo e não é uma resposta o que ela recebe, mas um grunhido familiar vindo do chão do outro lado da cama.

Leva segundos para alcançá-la, menos do que isso realmente, e então a visão de Regina prostrada no chão a destrói por dentro. “O que você está fazendo no chão? Você caiu? Você está machucada?"

A solicitude de Emma é recebida com um olhar mortal e quando ela tenta se aproximar, é apenas para ser repreendida por uma voz atormentada. "Não me toque!"

A reação de Regina pega Emma de surpresa, mas não o suficiente para apaziguar sua preocupação. No entanto, ela respeita os desejos de sua esposa e dá um passo para trás, dando-lhe o espaço exigido. Com um tom paciente então, Emma tenta novamente, sua voz quase um sussurro. "O que aconteceu?"

"O que você acha que aconteceu?" É a resposta amarga que ela recebe, envolta em raiva e uma voz rouca. Mas Regina atacando não é o suficiente para fazer Emma ceder. Não depois de quase sete anos de casamento.

Para ser honesta, não é nem mesmo uma novidade.

"Eu não sei. Eu estava dormindo." Emma responde com simplicidade, e algo em seu tom ou em suas palavras é o suficiente para irritar Regina.

"Isso mesmo! Você estava dormindo!" As palavras saem como uma acusação. Sobre o que? Emma não tem certeza. Algo dentro dela simplesmente entende que Regina precisa de um alvo agora. E lá está ela, parada, esperando. “Eu acordei com dor e você parecia tão exausta e tudo que eu tinha que fazer era alcançar aquelas pílulas idiotas. Mas eu estou fraca! " Regina cospe a palavra com nada além do mais puro desdém.

Emma tenta chegar perto dela mais uma vez, mas é impedida novamente, a mão levantada de Regina se colocando como barreira entre as duas, embora o gesto seja quase invisível quando a única luz no quarto vem das cortinas parcialmente abertas.

“Com muito custo eu consegui me levantar sozinha e então me senti enjoada por causa da dor, o que me levou aonde estou agora: uma inválida deitada nesse chão, banhada em meu próprio vômito.” Regina pisca furiosamente, lutando contra as próprias lágrimas. "Eu suponho que morrer com dignidade é um luxo que não será concedido à Rainha Má."

"Por que você simplesmente não me acordou?" As palavras de Emma escapam estranguladas, sentindo-se desolada pelo visível sofrimento da esposa.

Grandes olhos castanhos olham para ela com algo difícil de ler, algo que pode ser descrença.

"Porque você estava exausta." Ela repete com naturalidade, quase irritada com a falta de discernimento de Emma. Então ela suspira profundamente, a confissão escorregando por seus lábios. "E estou cansada de ser um fardo."

A reação de Emma é imediata, todas as barreiras e cortesias esquecidas quando ela se ajoelha ao lado de Regina, segurando seu rosto com as mãos e forçando-a a olhar diretamente em seus próprios olhos.

"Você nunca é um fardo." Ela afirma com absoluta convicção e deposita um beijo na testa de Regina, apenas para acrescentar com um sorriso. "Além disso, você tá fedendo."

Há um gemido então, do tipo sardônico que Regina lhe oferece sempre que Emma está sendo deliberadamente boba ou irritante. Ele é fraco, mas ainda está lá.

"Bem, estou encharcado em meu próprio vômito. Qual é a sua desculpa?" Regina levanta uma sobrancelha perfeitamente delineada e Emma entra no jogo.

"Talvez eu estivesse tentando fazer você se interessar em um banho." Ela explica casualmente, oferecendo a Regina um sorriso inocente, e então acrescenta. "Juntas."

Quando Regina olha para ela, Emma não vê a doença ou a tristeza, as lágrimas ou a dor. Ela vê os olhos de Regina brilhando e a linha mais tênue de um sorriso, descansando no canto de seus lábios, perto da cicatriz que ela adora beijar. Cada detalhe contido nesse pequeno momento é dolorosamente familiar e, sendo assim, seu convite não é nada além de sincero. "Quer se juntar a mim?"

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XIII.

Mais tarde, quando o quarto e os travesseiros cheiram a maçãs e canela, aromas distintos presentes no creme que Regina sempre passa após o banho, e elas estão deitadas em sua cama, suas peles quentes e macias se tocando sob os lençóis limpos, Emma sente a mão de Regina emaranhada em seus cabelos, seus longos dedos perdidos em seus cabelos dourados quando sua voz quebra o silêncio.

"Eu gostaria que você me levasse para longe daqui." Emma sorri então, seus olhos fechados, quase cochilando.

"E para onde nós iríamos, Majestade?" Ela pergunta indulgente.

“Um lugar bonito. Uma praia, uma ilha, poderia ser qualquer lugar, na verdade.” Algo na voz de Regina, entretanto, deixa Emma desconfiada.

"Você está falando sério?" Ela indaga intrigada e Regina não responde por um longo tempo, tanto tempo que Emma já está quase dormindo quando as palavras finalmente chegam ao seu destino.

"Eu não quero morrer em nossa cama."

Emma não diz nada e Regina simplesmente presume que ela adormeceu, mas na calada da noite, ouvindo o ritmo constante dos batimentos cardíacos de sua esposa e sentindo o movimento continuo de seu peito enquanto ela respira, os olhos de Emma permanecem abertos.

Seu sono nunca vem.

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Continua...