Seguir em frente não é o mesmo que desistir

Portais, semelhanças e habitantes ariscos


— Humph!- Foi mais ou menos o som que Hiro emitiu após cair direto em um monte de caixas de papelão. Bem, pensou, não foi a pior aterrissagem que já tive que fazer. Apesar de praticamente todo o seu corpo pulsar de dor, não chegava nem perto da dor de quebrar um osso ou algo do gênero. Ele ficará bem. E Baymax pode dar uma olhada nele de qualquer maneira… Droga, Baymax!

Porque, vejamos, o motivo da aterrissagem ter sido tão… Brusca, era que, após atravessarem o portal, Baymax sofreu uma espécie de… congelamento. Ele simplesmente parou de funcionar, como se tivesse sido desativado, sem o seu consentimento. Hiro pensou que o espaço dentro do portal devia anular grades níveis de energia como os que Baymax precisava para funcionar. A reserva de oxigênio de Hiro ainda funcionava, ainda que, outras funções do seu traje tivessem sido desativadas também. No crescente desespero para encontrar uma solução para o problema imediato, Hiro quase perdeu a figura brilhante em neon amarelo do Dr. Hoffmann do outro lado daquela imensidão escura, flutuando para longe. Ele tentou usar sua força para impulsionar o estático Baymax em sua direção, mas eles eram muito lentos. O Hoffmann já tinha tirado uma das várias esferas de metal presas em sua cintura, e estava prestes a lançá-la no espaço quando Hiro, agindo mais rápido do que poderia pensar, fez uso de uma das últimas atualizações em seu traje: um dardo com uma carga elétrica mínima, feita com o objetivo de causar pequenos curtos-circuitos em máquinas como uma porta eletrônica não muito avançada, por exemplo. Ou, nesse caso, com sorte, desativar qualquer possível tecnologia presente nas esferas. Mas, como seu próprio traje estava desativado, ele teria que fazer isso manualmente.

Não foi tão difícil: já que não havia resistência do ar, nem força peso ou qualquer coisa do tipo atuando no dardo, ele acertou Hoffmann bem na mão, e o doutor, grunhindo de dor, largou a esfera que flutuou inocentemente para longe, antes de virar o olhar irritado para Hiro. Mas o herói já estava com outro dardo na mão, dessa vez mirando no cinto que prendia todas as outras esferas. Acertou, mas Hoffmann estava mais bem preparado dessa vez: quando todas as esferas começaram a flutuar para todas as direções, ele agarrou uma logo antes de lançá-la no espaço próximo a ele. A esfera se abriu em uma luz arroxeada, expandindo-se em um círculo grande o suficiente para que só o raio tenha em torno de uns 2 metros. A camada escura de imensidão parecia ser rasgada pelo círculo como se fosse feita de tecido tensionado frágil. Depois de um momento que parecia longo de mais, uma vegetação fechada podia ser vista do outro lado do círculo, que aparentemente, era mais um portal. Um portal móvel e de provavelmente pouca duração. Hiro entrou em pânico. Um novo ângulo tinha que ver por um novo ângulo!

Mas já era tarde, Hoffmann já havia atravessado o portal, e eles estavam se aproximando muito lentamente para atravessá-lo também, visto que o portal estava se fechando gradativamente. As esferas continuavam a se espalhar pela escuridão, e Hiro se esforçou para pegar o maior número possível delas. Se quisesse sair dali, era óbvio que precisaria de, pelo menos, uma delas.

Depois de esticar-se tanto que quase perdeu o contato com Baymax, ele decidiu que três esferas eram o melhor que ele conseguiria. Dando uma olhada em uma delas pensou que não era preciso ser um gênio para descobrir como ativá-las, mesmo que precisasse ser um gênio para construí-las. Agora, lembra-se do que eu disse antes sobre energia, vibração e frequência? Bem, em cada esfera estava mostrando em uma tela, o mesmo nível de energia e vibração, mas com diferentes tipos de frequência. Qual desses ele deveria usar? Bem, se o bom doutor estava levando todos eles, teoricamente, todos eles devem funcionar.

Torcendo para que sua linha de pensamento não estivesse equivocada, ele aperta o único botão de uma das esferas, mal tendo tempo para registrar o brilho arroxeado, antes de jogá-la logo no espaço na frente deles. O portal se abriu, praticamente do mesmo modo que o outro, só que dessa vez, no lugar de uma vegetação fechada, um galpão aparentemente abandonado apareceu do outro lado do círculo. Assim que eles passaram pelo portal, a gravidade se fez presente, lançando os dois no chão de uma vez.

Depois de se recuperar o suficiente, Hiro procurou pelo seu amigo inflável que não estava muito longe de si, ainda estático. Examinando-o por algum tempo, Hiro emitiu um “ai” sem muita confiança. Mas a tentativa deu certo, no momento seguinte, Baymax parecia retomar a consciência. Ainda bem, porque Hiro não queria nem saber como ia transportar um robô grande e pesado (o peso estava concentrado principalmente na armadura.) daquele lugar sozinho. Depois de olhar ao redor com toda a calma que só um robô poderia ter, Baymax fixou seu olhar em Hiro e disse.

— Olá Hiro. Você está coberto por contusões e escoriações por toda a região do tronco, braços e pernas. - Hiro sabia que, se não estivesse usando um traje vermelho resistente parecido com o dele, a barriga de Baymax se iluminaria em um desenho do corpo humano, ressaltando essas mesmas partes. - O tratamento inclui: bolsas de gelo e spray antibacteriano. - Ele completou com o dedo levantado.

— Oi pra você também, Baymax. Mal posso esperar pelo tratamento, sabe, mas eu acho que descobrir onde exatamente fomos parar, e como voltamos para casa é um pouquinho mais importante agora. - Hiro respondeu olhando em volta. Sim, galpão abandonado, cheque. - Alguma chance do seu sensor funcionar, amigão?- olhou para o robô com expectativa.

Baymax olhou em volta, mas para a decepção de Hiro, - Meus sensores estão com mau funcionamento. - Hiro suspirou. Por que são sempre os sensores?! - Asas?- foi a próxima pergunta mais contida. Dessa vez ele foi recompensado com o aparecimento de um par de asas nas costas de Baymax, aparentemente em pleno funcionamento.

Demorou um pouco para fazer os ligamentos magnéticos dos trajes funcionarem, mas quando funcionaram, Hiro pulou nas costas do amigo, e ambos voaram através da janela do galpão, voando cada vez mais alto, até se distanciarem da cidade, o suficiente para perceber… que parecia… San Fransokyo. Tudo aquilo só para aparecer do outro lado da cidade? Bom, o jeito era reagrupar e descobrir como pegar Hoffmann.

— Vá para o Instituto, Baymax. Temos que consertar os seus sensores, e ver se os caras estão bem. - Olha só, antigamente, ele teria apenas ido para a garagem da própria casa para concertar os sensores de Baymax, em vez de passar por todo o “estresse” de ter que pousar a umas duas quadras de distância, em um beco escuro, para tirar tanto o seu traje como o de Baymax (ainda bem que uma das últimas atualizações era para acelerar esse processo, agora o grupo todo demorava uns dois minutos para tirar e colocar a armadura, que tomava a forma de uma mochila, quando desativada. Hiro ainda estava trabalhando para melhorar o tempo e também, ver Baymax, o marshmallow gigante, usando uma mochila vermelha nas costas, era sempre engraçado, mas era melhor do que tentar esconder a armadura em algum outro lugar em um momento de desespero.) e caminhar tranquilamente até sua própria sala, do outro lado do Campus, para poder finalmente mexer no traje. Mas já fazia uns dois meses que tia Cass decidiu reformar a garagem, e todo o equipamento que não cabia no quarto (que era quase nada), tiveram que ir para a sua sala no laboratório. Quando eles entraram no laboratório, estava vazio. Provavelmente era o horário de almoço. Ah, bem. Não faz diferença.

Mas ao abrir a porta para sua sala, Hiro franziu a testa. Quem mexeu nas suas coisas?! Tudo bem, não tem muitas pessoas que poderiam perceber a diferença. Era bagunçado antes, e é bagunçado agora. Mas uma pessoa sempre consegue se virar na própria bagunça. Existia um sistema, mesmo que mais ninguém percebesse.

Depois de caçar um pouco, ele achou o computador padrão da universidade. Pegou o traje de Baymax e começou a concertar os sensores. Depois de uns 15 minutos, ao mesmo tempo em que começou a ouvir um grupo de vozes no laboratório, ele terminou. Saiu para dar uma olhada, era a gangue. Estranho, normalmente eles se encontram na casa do Fred, se tiveram que reagrupar. E mesmo que não soubessem que Hiro tinha saído do portal, eles não iriam para a escola… bom, pelo menos ele poderia reclamar do estado da sua sala.

— Caras, que bom que estão todos bem e morrendo de preocupação pela minha segurança, posso ver. - Ele estava tão concentrado no que dizia que perdeu o suspiro coletivo do grupo, ou suas caras de espanto. - Mas alguém pode me explicar por que parece que um desastre natural aconteceu na minha sala? E não vem falar que já estava assim, porqu... - mas ele não teve tempo para continuar, porque no instante seguinte, ele estava com a cara pressionada no chão, e alguém estava com o pé nas suas costas, puxando seus braços pra cima. Segunda vez em um dia que seu corpo pulsava de dor, e algo dizia que não seria a última.

— Quem é você?! E o que você quer?! - Foi a voz fria e surpreendentemente furiosa de Gogo vindo das suas costas. Ok, ele sentia que tinha perdido alguma coisa bem importante ali. Tinha alguma coisa muito errada.