E lá estava eu, correndo pela extensa, sombria floresta negra, sem rumo algum, apenas querendo fugir o mais rápido possível dos caçadores que me perseguiam.

Rasgando minha frágil pele entre os espinhos das roseiras, perfurando meus pés descalços em pedras pontiagudas e sendo praticamente devorada por enormes insetos jamais vistos por olhos humanos, já estava cansada e prestes a cair em sono profundo, mas algo dentro de mim me dizia para não desistir de me distanciar daqueles homens raivosos.

Escutava ao longe o som abafado pelas árvores dos caçadores que queriam minha cabeça como prêmio, porem o que eu uma pobre garotinha poderia ter feito? Talvez desobedecido a mamãe? Ou roubado um delicioso doce da padaria do Jõao? Ou talvez, só talvez cometido um horrendo homicídio?

Sentia-me confusa, sem respostas, sempre fui uma menina bondosa, de olhos azuis, vestida com um lindo capuz vermelho, sempre com uma cestinha de doces para levar á vovózinha e isso me corroía, jamais machucaria uma mosca, que mal eu teria cometido?

Os furiosos homens se aproximavam cada vez mais de mim, isso me deixava ainda mais amedrontada com a situação.

— Lá está ela! – Dizia um grande caçador.

Olhei para trás por um breve segundo e por um descuido tropecei em uma raiz de árvore, cai ao chão, pisquei meus olhos e me vi cercada por diversos homens fortes e furiosos.

— Te encontramos aberração! – Falou um deles.

— Eu não fiz nada. – Murmurei com lagrimas nos olhos.

— Você é um monstro! – Falavam vozes aleatórias entre eles.

— Sou apenas uma frágil criança. – Disse chorando.

Quando terminei de dizer aquelas sinceras palavras um senhor, alto, de óculos e cabelos brancos se aproximou de mim dizendo aos prantos:

— Você matou meu pequeno filho!

— Não, jamais faria isso! – Gritei.

— Pobre pinoquio tão inocente, nem pode dizer adeus! – Falava o homem histericamente.

— Senhor eu não conheço nenhum pinoquio. – murmurava enquanto chorava.

— Foi você! Vi quando estava abocanhando seu pequeno pescoço!

— Eu não me lembro. – Pronunciei aquelas palavras entre gaguejos.

— Mentirosa!

Após gritar aquelas palavras, o caçador já muito nervoso pela perda do filho, mirou um chute certeiro em meu estômago me fazendo ter náuseas.

— Por favor pare. – tentava dizer entre resmungos.

— Vou te matar! – Pronunciava o homem enquanto me dava uma sequência de chutes com ajuda de seus parceiros.

Lagrimas caiam dos meus olhos, junto com o sangue que jorrava de minha boca, queria parar de sentir aquela horrenda dor e acabar de uma vez com meu sofrimento, porem a cada segundo ficava muito pior.

— Traga meu punhal! – Gritou o velho homem para um garoto que ali estava.

Ao receber o punhal, o maldito me puxou dolorosamente pelos cabelos e colocou a arma diante de meu pescoço e sussurrou ao meu ouvido:

— Esse é seu fim.

Assim que terminou de pronunciar aquelas palavras senti uma chama se acendendo dentro de meu corpo como se eu fosse ter uma combustão naquele exato momento, minha visão começou a ficar turva, então apenas fechei meus olhos para não ver o meu próprio fim, mas quando os abri novamente me encontrei completamente suja de sangue, cercada pelas carcaças e entranhas dos malditos caçadores.