Stephen e Cara estavam aproveitando o tempo juntos no Central Park. Estavam felizes. Sorridentes. Conversando sobre a vida que estavam levando e sobre o futuro não muito distante que lhes aguardava.

Após o Fundador da Ultra se perder no Limbo, os Seres Do Amanhã tomaram o prédio da Ultra como refúgio e Cara os liderava em busca de novos Seres se revelando. Russell a ajudava sempre que podia, assim como Stephen, mas o feriado estava acabando e como uma boa líder, Cara precisava buscar soluções para os problemas que os esperavam.

– Então... Você não me chamou só para dar uma volta – Stephen olhava contente para Cara – Sobre o que exatamente você queria conversar?

– Parece que você me conhece mesmo. – Cara sorri um pouco triste ao lembrar que John a conhecia mais do que ninguém e agora Stephen estava tomando o seu lugar – Bom, eu aprecio demais a ajuda que você e o Russell estão dando, mas eu creio que vamos ter que sair do prédio da Ultra.

– Por quê?

– Hoje um fiscal apareceu por lá. Ele viu alguns de nós usando poderes e sem uma roupa apropriada para alguém que frequenta um local de pesquisas biológicas. Entende o que eu quero dizer?

– Sim. Não vamos ficar escondidos pra sempre.

– Exatamente. O número de Seres Do Amanhã está crescendo cada vez mais e isso começou a me preocupar recentemente. Se formos juntar cada Ser que se revela, nem o prédio da Ultra vai adiantar mais.

– O que você tem em mente?

– Nada. Por isso vim falar com você. Queria ficar longe deles pra conversar sem ter o medo de alguém ouvir a minha mente. Eu sou a líder deles e sinto que estou falhando.

– É. Eu concordo com você quanto ao fato de que precisamos de uma solução para isso... O que você fez com o fiscal?

– Entrei na mente e tentei distorcer o que ele viu. Como se o que ele visse estivesse num filme passando num telão.

– Você fez isso?

Cara fez que sim com a cabeça, sorrindo e orgulhosa de si mesma.

Os dois sentaram-se num banco próximo para continuarem a conversa. Era um dia de Sol, mas não estava muito quente. A brisa bateu contra os cabelos longos de Cara e essa cena a fez lembrar-se do passado dos dois, onde Stephen e John estariam disputando por ela.

– O que você acha que aconteceu com John? Faz três meses que ele não dá uma notícia. Astrid não teve notícias dele?

– Não. – Stephen olhou para o chão desapontado com a falta de notícias do amigo. Apesar de tudo, sentia falta de John também. – Acho que ele está com Jedikiah ou procurando redenção de algum modo.

– Jedikiah? Redenção?

Cara encarou Stephen tentando segurar o riso que viria a seguir. Stephen também riu de si mesmo, mas não mudou de ideia por isso.

– É, digo... Ele queria os poderes de volta e se alguém podia dá-los esse alguém era o Jedikiah, levando em consideração o que Irene disse. Minha teoria é de que Jedikiah disse que o queria ao lado dele em troca dos poderes. Jedikiah tinha John como um filho.

– E a redenção?

– Bom, John estava descontente com ele mesmo e com Jedikiah por causa de tudo o que aconteceu então sumiu e foi procurar por algum jeito de se redimir pelo o que fez ao meu pai. Ele não voltou lá pra baixo?

– Não... Suas duas teorias fazem um pouco de sentido apesar de serem um pouco antagônicas. – Cara também olhou para o chão imaginando John aparecendo atrás dos dois naquele instante. Teleportando-se como se não se importasse em serem vistos. – Eu só queria que ele desse alguma notícia. Vai que ele morreu e não sabemos.

Stephen sentiu um arrepio percorrer a coluna. Não conseguia imaginar John morto. Os dois podiam ter suas diferenças, mas Stephen nunca quis que John se machucasse – a menos que ele fosse o causador e alguma menina entre os dois fosse o motivo.

– Ele não está morto. É teimoso demais para isso. – Stephen encarou Cara com um sorriso no rosto e ajeitou o cabelo da moça que caia rebeldemente.

Cara levou seu rosto para mais perto do rosto de Stephen, que ficou sem reação ao ver que Cara o beijaria. Stephen quis pará-la, mas não parou. O beijo foi seco e sem muita vontade da parte de Stephen. Cara percebeu que seu beijo não estava agradando então parou.

– Desculpe.

– Tudo bem, é só que... – Stephen suspirou – eu estou cansado.

– Cansado de mim? – Cara riu com desdém. Não era possível que estivesse ouvindo aquilo.

– Não, eu não estou cansado de você. Só estou cansado de perder você. Eu não quero começar um relacionamento com você e perde-la de novo.

– Eu entendo.

“Cara, temos um problema.” Dizia Russell mentalmente para Cara, mas não foi preciso falar mais. Natalie acabara de aparecer na frente de Stephen e Cara, jogando o rapaz longe usando o teleporte.

“Natalie está aqui, Russell usando os poderes em público”.

– Russell não vai chegar a tempo, queridinha.

– O que você quer, Rumpel? – Disse Cara fazendo raiva em Natalie.

– Terminar algo que eu já deveria ter terminado faz tempo! – Natalie puxou a arma do coldre na lateral e apontou para Cara.

Cara, por sua vez, leu a mente de Natalie quando a mesma puxou a arma e vendo qual seria a ação de sua oponente criou um campo telecinético à sua volta. As balas ricochetearam. Uma passou de raspão na perna da própria Natalie, deixando-a mais furiosa ainda.

Natalie lançou Cara para o alto que se teleportou para livrar-se do controle da loira. Apareceu ao lado de Stephen e se teleportou de novo. Natalie vendo que havia chamado mais atenção do que gostaria e que ficou sem concluir o que fora fazer, também teleportou-se.

– Russell, o que aconteceu? – Perguntou Cara ao chegar no novo covil.

Stephen caíra de mau jeito no chão quando apareceram ali.

– Mesmo após a guerra contra a Ultra eu ainda preciso melhorar o pouso. – Disse ele pondo as mãos nas costas. – O que temos pra hoje, Russell?

– Pelo visto, Natalie visitou vocês. Ela quase matou um dos nossos. Leu a minha mente e... bom, o resto só quem sabe são vocês.

– Achei que ela iria querer distância de nós. – Disse Cara

– Eu quero distância dela. – Falou Russell - Chegaram algumas contas do prédio, dizendo que irão cortar nossa energia em breve. Como a gente fazia lá embaixo mesmo?

– Eu não sei. John começou tudo. Era ele quem lidava com essas coisas. – Cara suspirou pensando no que eles deveriam fazer para contornarem a situação – Acho que está na hora de nos juntarmos aos humanos.

– O que você quer dizer? – Perguntou Stephen, intrigado.

– Arrumar emprego, terminar o colegial, criar vínculos com os humanos... Não podemos ficar escondidos pra sempre. Na verdade, não precisamos. Esse é o nosso mundo também.

– Mas e nossos poderes? – Perguntou Russell – Eu não sei se você notou, mas a maioria de nós é adolescente e... bom, você sabe como são os adolescentes. – Dizia Russell receoso por Stephen lembrar-se de como ele teve participação na morte do pai do rapaz.

– Contanto que não seja nada errado eu não vejo problemas. As pessoas vão se acostumando com pequenos truques. Objetos que somem, uma cola na prova. Uma hora eles irão descobrir mesmo. Além disso não somos os pais deles. O que eles fazem ou deixam de fazer não é nosso problema contanto que não comecem uma guerra.

– Eu até concordo com você e acho que isso será uma excelente ideia, mas e se descobrirem sobre nós e começarem a nos caçarem, assim como a Ultra fazia. Cara, eles vão começar uma guerra. Não são maduros o suficiente para se interagirem com humanos adultos.

– E os humanos adultos são?

– Cara, Stephen está certo. Eu sei que não sou a melhor pessoa para falar isso, mas eu faço pequenos truques em pequenos bares.

– Como daquela vez que você nos contou queria ser um herói? – Perguntou Stephen rindo.

– Não. – Russell deu um sorriso seco para Stephen – Mas esse é um bom exemplo.

– Então nós lutaremos. – Disse Cara por fim. – Vou juntar todos e ter uma longa conversa. Vai ser um debate comprido, na minha opinião, mas acho que assim é o melhor.

– Isto está ficando insano. Nunca imaginei que X-men fosse tão real – Comentou Russell para si mesmo.

Cara revirou os olhos e ia respondê-los, mas Charlotte teleportou-se para o lado de fora da sala, onde os três podiam vê-la. Cara acenou para Charlotte e a mesma se aproximou.

– Cara. Desculpe interromper esta conversa, mas você provavelmente vai querer ver isso. – Disse uma voz computadorizada ecoando pela sala por meio de altos falantes.

– Ponha no visor, Tim.

– Ei, Charlotte! – Stephen cumprimentou a menina.

Diferente da época em que moravam no subsolo, Charlotte estava bem cuidada, com os cabelos bem penteados, roupas mais novas – não menos usadas – e perdera um pouco a postura infantil que tinha.

– Cara, eu vim correndo pra te avisar...

– É. – Cara a interrompeu – Tim também me avisou que temos visita.

No canto da sala estava sendo projetado o vídeo das câmeras de segurança da porta da frente do prédio, onde outrora Natalie atirara em Cara. Stephen estremeceu só de lembrar-se do que havia acontecido. No vídeo mostrava um rapaz, provavelmente um pouco mais alto do que Stephen. Cabelos cacheados e a pele branca. Usava um casaco de couro escuro e calça jeans. Poderia até dizer que ele não tinha intenções de entrar no prédio por parecer uma pessoa qualquer.

– Será que ele quer se juntar a nós? – Sugeriu Stephen inocentemente, até pensar em algo – Se ele sabe sobre nós, como nos achou?

– Provavelmente acha que a Ultra ainda funciona. – Cara suspirou – Obrigada, Tim e Charlotte, por avisarem. Hora de conhecer o nosso visitante.

Lá embaixo, logo na entrada, o quarteto fora receber o estranho que caminhava em direção ao prédio. O estranho abriu um sorriso e parou a poucos centímetros da escada.

– Podemos ajudar? – Perguntou Cara com um sorriso no rosto, tentando parecer simpática, mas para alguém que entendesse de leitura corporal, poderia ver que ela estava muito preocupada.

– Me chamo Kevin Orick. Eu vim em paz.

– O que você procura?

– Estou procurando pelo Jedikiah. – Kevin colocou as mãos nos bolsos do casaco de couro demonstrando não estar preocupado, o que deixou Cara um pouco menos alarmada.

– Você sabe que a Ultra caiu. – Disse Stephen de repente.

Cara revirou os olhos. Se Stephen soubesse de alguma coisa deveria ter dito à ela telepaticamente. Mas por confiar no amigo e no fim da guerra deixou que ele continuasse.

– Você é um dos que tomou o soro do projeto Anexo. Estava aqui quando...

– Stephen, você não precisa revelar tudo. Vai com calma. Eu sei que a Ultra caiu. Lutei aqui pelo senhor Bathory, mas não tenho intenções nenhuma de recomeçar uma guerra. Só quero falar com Jedikiah.

– Bom então... – Stephen ia continuar, mas fora interrompido por Russell.

– O que o faz pensar que Jedikiah está entre nós?

Charlotte estremeceu. Não estava com um bom pressentimento.

– Ouvi dizer que ele mudou de lado durante a guerra. Digamos que nós temos assuntos inacabados.

“Charlotte” Era Cara, falando com Charlotte telepaticamente. “Você sentiu alguma coisa?”

“Sim. Estou com um mal pressentimento.”

“Acredito em você. Entre e fale com os outros. Esperem pelo meu sinal.”

Charlotte teleportou-se.

– Você não vai entrar – Disse Cara com firmeza na voz – Eu não sei quem você é, mas Jedikiah não está aqui.

Cara, Russell e Stephen sentiram uma pontada psíquica em suas mentes, provavelmente Kevin estava vasculhando em suas mentes a possível localização de Jedikiah.

– Esqueceu a educação em casa? – Disse a morena com raiva. – Nós não temos negócios com Jedikiah.

– Vocês podem não saber onde ele está, mas a Ultra tem os dispositivos de que preciso para encontra-lo. Deixem-me entrar.

– Não.

– Por favor.

Cara não disse nada. Apenas encarou Kevin com firmeza.

Stephen sumiu de repente. Cara tentou alcança-lo telepaticamente, mas havia um bloqueio em sua mente.

Kevin estalou os dedos ao sussurrar “Boom” para si mesmo.

Os vidros de todo aquele andar explodiram. Cara e Russell se abaixaram, evitando serem cortados.

“Charlotte. Tire todos daqui.”

Russell se teleportou para o lado de Kevin, mas ao aparecer no ar teleportou-se outra vez contra a vontade.

– Ninguém vai a lugar nenhum!

Cara começou a levitar, sendo controlada pela telecinese de Kevin que movia apenas uma das mãos levemente, como se tudo aquilo fosse uma simples brincadeira para ele.

Ainda no ar, Cara fora cercada pelos cacos de vidros, resultantes da explosão telepática anterior. Sentiu um arrepio percorrer suas costas só de pensar nas pontas indo rapidamente em sua direção. Se aquele soldado tinha provado do mesmo soro que a Natalie, então a vida de Cara estava por um fio.

– Eu não vim para começar uma guerra, mas para cumprir um objetivo. Vocês não sabem onde está Jedikiah, então é só encontra-lo. Traga-o para mim e os Seres Do Amanhã continuarão existindo. Você percebeu que eu não me importo com o publico, então é melhor fazer o que eu mando.

– Como... Eu... Te encontro?

– Não vai me encontrar. Vocês têm uma semana para achar aquele filho da puta. Temos um acordo ou uma segunda batalha?

Cara não respondeu. Tentou se teleportar, mas não conseguia se livrar da telecinese de Kevin. O rapaz, percebendo que ela não queria concordar, lançou um dos cacos de vidro em sua direção, passando de raspão em sua bochecha esquerda.

– Sim! – Disse Cara, por fim.

– Ótimo.

Cara caiu no chão. Ao seu lado, Stephen e Russell reapareceram, Stephen completamente encharcado. Ainda sorrindo, Kevin estendeu ambas a mãos, e os cacos de vidro juntaram-se no lugar onde estavam anteriormente e colaram-se como se nem tivessem quebrados.

– Te encontro daqui a uma semana. – Disse Kevin antes de desaparecer dali.