Segredos

A Ladra E A Dançarina


Stephen estava no alto de um prédio encarando a cidade. A visão do rapaz estava estranha, como se estivesse observando através da água. O vento forte balançava sua roupa com vontade. John apareceu atrás do rapaz de repente, chamando-o. Stephen virou-se rapidamente para encará-lo e chama-lo, porém John não o escutava. Sua voz não saía, porém o rapaz conseguia escutar seu eco, o que era bem estranho. John virou-se e foi embora e foi quando Stephen perdeu o controle, avançando para o rapaz. Stephen corria e gritava por John na tentativa de não deixa-lo ir, mas era inútil já que ele não saia do lugar. Quando John desapareceu completamente, o chão sob os pés de Stephen sumiu e o garoto caiu no vazio acordando suado e vermelho em sua cama.

No dia seguinte, Cara e Russell reuniram todos dos que moravam com eles naquele prédio em um enorme auditório, onde o Fundador e Jedikiah começavam muitas reuniões e discursos de amor aos Seres Do Amanhã e como eles deveriam ser caçados. Todos estavam inquietos, até Cara começar a falar.

– Como vocês sabem, ontem um fiscal nos viu usando nossos poderes e durante uma luta lá fora, alguém com certeza viu alguma coisa. Depois disso, eu percebi que não havia mais sentido em nos escondermos dos humanos. Os que nos caçavam foram derrotados.

– Então você está dizendo que podemos usar nossos poderes em público? – Perguntou um adolescente próximo a grupo que estava sempre cochichando.

– Não seria o ideal. As pessoas não estão prontas para nós. Então nos misturarmos com humanos sem usarmos nossos poderes já é um bom começo. Mas não foi só esse novo mundo legal que me fez perceber isso. Ter esse prédio tem um custo muito elevado. Não dá para vivermos apenas roubando comida e o lugar de outras pessoas.

– Então porque não voltamos lá para baixo? – Perguntou uma menina

– Pelo mesmo motivo de que saímos. Não vai caber todo mundo e eu não vou expulsar ninguém. – Cara suspirou – Eu não gosto dos humanos. Eles nos desprezam, nos odeiam. Só que esse mundo não é só deles. Temos que nos misturar para vivermos em paz. Quem quiser voltar para suas famílias, tudo bem. Não vou segurar ninguém. Vocês estão livres, mas os que quiserem ficar deverão arrumar algo.

“O que você vai arrumar?” perguntou Russell telepaticamente.

“Eu não tenho tempo para pensar nisso. Preciso achar Jedikiah e garantir a segurança deles. Vou procurar por Morgan”.

Stephen e Astrid estavam indo para a escola, os dois conversando alegremente. Felizes e bem humorados. Stephen ainda estava se sentindo estranho sobre o sonho que tivera com John, mas não sabia ao certo se deveria ou não dizer à amiga - que começou a namorá-lo a alguns meses.

– Você parece preocupado. – Comentou Astrid – E eu não leio mentes, então... você pode me dizer, se quiser.

– Eu quero, só não sei se eu devo.

– É sobre o John, não é?

Stephen acenou com a cabeça, confirmando.

– Ele apareceu? Ele deu notícias? Deixou de ser um idiota?

– Não, eu... Sonhei com ele.

– Você está preocupado com ele por causa de um sonho? Tem alguma coisa errada com você? Ou vocês dois estão dividindo alguma conexão psíquica agora?

Stephen não respondeu. Não conseguia pensar direito. Não entendia o porquê de estar tão preocupado com John por causa de um sonho, como dissera Astrid. Mas seus pensamentos foram interrompidos, assim que os dois presenciaram cinco pessoas teleportando próximas à um beco.

“Cara, tem um pessoal se teleportando aqui perto da escola”

“Eu sei. Eles estão indo com você para se matricularem na sua escola.”

“Isso é muito bom. Só que eles quase foram vistos”.

Stephen pareceu notar que Cara dera um sorrisinho.

“Acabamos de terminar uma guerra e já estamos sendo ameaçados outra vez. Deixo-os em paz um pouco, Stephen.”

– Stephen, você está fazendo aquela cara.

– Que cara?

– Cara de quem está se comunicando telepaticamente com sua ex-peguete. – Astrid riu do próprio comentário.

– É, você está certa. Eles vão com a gente. Vão estudar na minha escola.

– Seres Do Amanhã e humanos juntos?

– Tipo eu e você?

Os dois riram e se juntaram aos outros cinco para irem à escola.

Stephen acompanhou-os até a secretaria, onde eles fariam a matrícula, e depois se encontraria na sala de aula com Astrid. Sua professora o encarou com um olhar torto, nervosa com Stephen – que já tinha um certo histórico com atrasos, que acontecia com frequência quando seu tio Jedikiah o chamava para missões inesperadas ou quando ele tinha que ajudar os Seres Do Amanhã.

– Stephen eu preciso te contar uma coisa. – Cochichou Astrid para o amigo enquanto a professora discursava sobre a segunda guerra mundial.

– O que é? – Stephen inclinou o corpo um pouco mais para o lado.

– Eu estou saindo com alguém.

Stephen caiu da cadeira causando um estardalhaço enquanto Astrid revirava os olhos.

A noite chegou e as luzes da cidade se acenderam provocando um lindo efeito de cores. Os bares e as boates estavam abrindo e começando a encherem, mas havia uma boate em especial onde havia uma dançarina mais especial ainda. Zoey era a mais antiga dançarina da boate “Amor Venenoso”. Já vira de tudo o que uma pessoa normal conseguia imaginar. Desde roubos de carteiras até um sexo selvagem atrás do balcão. Coisas até piores do que isso. Mas ela não se importava. Sabia que o mundo era um lugar estranho, então nunca se abalou/impressionou facilmente, até recentemente pelo menos.

Algumas semanas atrás, numa sexta-feira, uma loira alta com um estranho cabelo comprido chegou e pediu um drinque, mas ela não tinha dinheiro. Zoey sabia disso porque com o tempo que trabalhava na boate aprendeu a ler as pessoas. Um velho que estava sentado ao lado da loira, levantou-se para ir embora, mas a sua carteira flutuou suavemente e discretamente para o colo da loira. Quase ninguém havia percebido o que aconteceu. Quase ninguém.

Algumas semanas atrás, a loira voltou ao bar. Zoey, mesmo dançando sensualmente para os homens no palco, não deixou de prestar atenção na jovem, que repetira o mesmo truque.

Hoje, Zoey dançava alegremente e nada podia perturbar sua dança. Exceto, talvez, pela terceira aparição da loira. Zoey se desconcentrou, com medo de ver a telecinese de Natalie pela terceira vez. Caiu do palco e torceu o pé.

Natalie a encarou, no começo achando a cena engraçada, mas depois, ao perceber que Zoey chorava com a dor, percebeu que era algo sério. Natalie se sentiu estranha, por se preocupar com uma humana que nunca vira na vida, apesar de ter ido a mesma boate pela terceira vez.

Zoey fora levada por alguns homens para os fundos da boate e Natalie, teleportando-se, esperava-os lá. Zoey não tinha percebido a presença de Natalie até que o homem que a carregava falara.

– O que você está fazendo aqui? – Vociferou o homem – Este lugar não é...

– Cala sua merda de boca. – Natalie se aproximou de Zoey e pôs a mão em seu ombro – Você vai ficar bem. – Falou sorrindo, mesmo sem acreditar no que estava dizendo/fazendo.

Natalie segurou também no ombro do homem e os três teleportaram-se.