Segredos

Dividindo O Quarto


Após a morte de Roger, Marla e Luca mudaram de cidade. O irmão de Marla ficou feliz por recebê-la e por receber o sobrinho. Stephen, no entanto, decidiu ficar, mesmo após a derrota do Fundador. Ele mesmo cozinhava, às vezes Astrid cozinhava, às vezes sua mãe o visitava e outras ele simplesmente visitava Cara e os Seres Do Amanhã, isto é, comida não era o problema. Sua mãe lhe mandava dinheiro todo mês para pagar as contas necessárias e sobrar algum dinheiro para o filho. Não. O verdadeiro problema era a solidão.

Mais de uma vez conversou com Astrid sobre seus sentimentos por Cara. Não sabia o que estava acontecendo, mas depois de tudo o que passou – desde a época em que brigava com John por Cara – ele não se sentia mais o mesmo. Além disso, a solidão era maior à noite, quando ele se deitava para dormir. Sentia o vazio tomando conta. Nem ele sabia o porquê deste vazio ser maior à noite, imaginando que deveria ser o contrário, levando em conta que passou mais da metade da vida dormindo sozinho no quarto. Exceto, talvez, pelo tempo que John dormira no chão do quarto dele, ao lado da cama quando Cara o expulsou do covil. Foram noites agradáveis apesar de tudo.

Stephen acordou assustado. Tivera um pesadelo com John. O mesmo sonho, acrescido de um tiro em sua direção. Estava muito suado e levantou-se para ir ao banheiro, sentindo um frio no peito nu ao sair debaixo das cobertas.

Quando voltou do banheiro, assustou-se. Havia alguém sentado em sua cama lendo um livro. Stephen sabia quem era, mas não acreditava.

– John?

– Você já me conhece? – Perguntou o loiro abaixando o livro para encarar Stephen. John sorriu exibindo todos os dentes que conseguia. Parecia estar excitado. – Não vai vestir uma camisa? Ou você está tentando me seduzir?

– O que? – Stephen ainda não estava acreditando. Não podia ser verdade que John abandonara todos, inclusive Astrid para aparecer assim, com um sorriso cínico no rosto como se não conhecesse Stephen.

– Seu tio provavelmente deve ter falado de mim. – John sentou-se na cama, jogando o livro para o lado. – Ele me mandou aqui atrás de você.

– Então você está trabalhando para meu tio outra vez? O que aconteceu com você, John?

– Não estou entendendo aonde você quer chegar, moço. – John levantou-se e caminhou até Stephen para encará-lo mais de perto. – Do jeito que você está falando parece que eu e você já nos conhecemos.

Stephen franziu a testa enquanto o sorriso de John desaparecia.

– Você me conhece? – Perguntou John surpreso.

– Eu não devia? – Antes Stephen queria bater em John, agora estava preocupado – John, o que está acontecendo com você? Depois que você sumiu ficamos preocupados e...

– Depois que eu sumi? – John balançou a cabeça e Stephen revirou os olhos. – Essa conversa está mais do que estranha. Que tal começarmos do começo? Oi, meu nome é John.

– Stephen.

– Agora sim. Então, me diga, Stephen. O que você sabe sobre mim?

Stephen respirou fundo. Parecia uma brincadeira. Fitou John por um instante e tentou ler sua mente. Foi um passeio rápido, mas não havia muita coisa sobre Stephen ou os Seres Do Amanhã. Percebendo, então, que John falava sério, Stephen contou ao amigo tudo o que acontecera nos últimos meses. Sem detalhes, claro. Isso eles poderiam compartilhar depois.

– E você? O que Jedikiah te contou sobre você?

– Ele me criou. Ele disse que eu estava mal da cabeça e que por isso eu não me lembrava de muita coisa. Agora eu vejo que não me lembro de nada... Se é que é verdade o que está dizendo.

– Eu queria que não fosse. Pelo menos a parte da Ultra.

John concordou com a cabeça.

– John... – O loiro encarou Stephen que tinha um olhar curioso e ao mesmo tempo compreensivo – O que você vai fazer?

– Acho que vou voltar e falar com Jedikiah. Se o que está dizendo é verdade, então ele deve ter me mandado aqui primeiro para você me dizer tudo isso. Provavelmente quer que eu recupere a memória.

– Onde você iria antes de me procurar?

– Porque eu confio em você?

É claro que John não iria revelar logo de cara os planos de Jedikiah. Stephen se sentiu estúpido por pensar que o John à sua frente era o mesmo John que ele conhecera.

– Posso te pedir algo estranho? – Perguntou John quebrando o silêncio.

– Você tem feito perguntas demais.

John sorriu para Stephen, que no fim disse que sim.

– Sabe... Isso é algo que o eu que você conheceu pediria à Cara ou Astrid, mas como eu não tenho ninguém... – John suspirou deixando Stephen com medo - Você me abraça?

– O que? – Stephen levou um susto. Fitou John por alguns segundos percebendo que o rapaz provavelmente se sentia sozinho, assim como Stephen. Ambos tinham companhias, mas no fundo se sentiam sozinhos. Então Stephen, após revirar os olhos, abriu os braços.

John praticamente correu para os braços de Stephen e o abraçou forte. Stephen se sentiu incomodado por abraçar John, mas após alguns segundos com o mesmo, sentiu o coração do loiro bater rapidamente e forte contra o peito. Além disso, acabara de descobrir duas coisas: Stephen também precisava de um abraço e John era cheiroso.

John, por sua vez, sentiu uma pontada psíquica em sua mente, que jogava flashbacks da época em que estava com Stephen. Ele se viu salvando o amigo que estava quase caindo de um prédio. Depois se viu lutando ao lado de Stephen na casa do fundador. Então ele se viu ao lado de Cara, Russell e Stephen quando este parou o tempo assim que Jedikiah atirara contra eles. Por fim, viu a cena em que tivera que fazer respiração boca à boca em Stephen, deixando escapar um sorriso.

– Acho que está na hora de voltar e falar com Jedikiah sobre minhas memórias. Enquanto isso, eu gostaria que você não contasse à Cara e aos outros sobre nada disso, pelo menos até eu estar pronto para eles.

– Tem mais uma coisa. Jedikiah está sendo procurado... Alguns estão procurando por você e por Morgan que são ligados ao meu tio.

– Bom...

Os dois ouviram um estrondo vindo do andar de baixo. A porta tinha sido arrombada, pensaram. Stephen desceu as escadas, deixando John no quarto, imaginando que ele e o tio estivessem envolvidos nisso.

– Olha! O garoto! – Falou um dos homens. Eram os mesmos homens que estavam na casa de Morgan.

– Não é ele, seu animal. Este é o sobrinho!

O homem usou telepatia para descer Stephen, que caiu rolando as escadas.

– Acho que vocês estão procurando por mim. – Disse John passando pelo corredor.

– Aquele é o menino!

O homem puxou uma arma do coldre, mas antes que pudesse atirar, John teleportou-se para onde o homem estava e matou seu parceiro com um tiro na cabeça. Em seguida apontou a arma que, sabe Deus de onde ele havia tirado.

– Diga à família do Senador que Jedikiah está morto. Eu o matei.

Stephen encarou John com os olhos arregalados, enquanto o loiro sorria.

– Você está blefando! – Disse o homem.

– Estou? Eu acabei de matar seu amigo. Que outro paranormal você conhece que pode matar?

– Isso não significa que você está blefando!

– Então vá em frente. Veja você mesmo.

“Estou farto, Jedikiah”

“Farto de quê, criança!? Eu sou seu pai, você tem que fazer o que eu te mando.”

“Eu não ligo de fazer o que você manda, só estou cheio de fazer o que você quer e nunca o que eu quero.”

“Não vou deixar você sair por aí para farrear. Você tem um propósito!”

“Que você escolheu!” John preparou a arma, que acabara de apontar para Jedikiah. “Eu sou grato por você ter cuidado de mim, mas pelo visto eu serei livre apenas quando você estiver morto.” Então a bala atingiu o peito de Jedikiah

Stephen, que também havia visto a memória de John, ficou pasmo, mas depois lembrou-se de que John estava indo visitar Jedikiah e que de algum modo o tio não estava morto.

O homem desapareceu e John teleportou-se dali com o corpo do parceiro.

Quando a noite chegou, John reapareceu no quarto de Stephen, dando um susto no mesmo. Sorrindo, ele se aproximou de Stephen, dando-lhe outro abraço.

– Muito obrigado.

– Você falou com Jedikiah?

John afirmou com a cabeça.

– E então?

– Foi uma conversa difícil.

– Bom... – Nem Stephen estava acreditando no que diria a seguir – Se você quiser, pode dormir aqui.

John sorriu, mostrando todos os dentes que conseguia.