Segredos

Um Bar, Uma Boate E Um Quarto


Natalie voltou mais uma vez à boate que ia, normalmente uma vez por mês. Não sabia ao certo porque, mas queria saber se Zoey estava bem ou se o homem havia comentado sobre seus poderes para alguém.

Chegou e sentou-se próxima ao balcão, que normalmente era ocupado por um homem. Desta vez, Zoey, para a surpresa da menina, era quem estava atendendo. As duas se cumprimentaram, felizes.

– Ainda não me recuperei cem por cento, então o Senhor Roger me deixou trabalhar aqui.

– Roger? – Natalie sentiu um arrepio.

– Algum problema?

– Não. Nenhum. – Natalie forçou um sorriso – Me vê um drinque?

Zoey sorriu e pegou um drinque para a loira.

Charlotte, após uma sessão de treino com Russell, foi até o banheiro feminino tomar banho. No caminho, de volta à uma sala que os moradores do prédio transformaram em sala de lazer, Charlotte percebeu uma linha estranha em uma das paredes do corredor. Era uma linha vertical, do tamanho de uma porta que ia até o chão.

“Cara, acho melhor você dar uma olhada nisso aqui”

Cara apareceu do seu lado segundos depois.

– O que houve?

– Esta linha. Parece uma porta. Uma passagem secreta.

– Talvez uma sala secreta... Vou falar com Tim. Espere aqui.

Charlotte sentou-se no chão encostada à parede enquanto esperava Cara conseguir informações com o super computador. Minutos depois, ela retornou, com um controle remoto em mãos.

– É uma sala secreta. Uma sala de armas.

Cara pôs a mão na barriga, sentindo uma dor no local.

– O que foi?

– Nada. Não foi nada. – A morena apertou o botão do controle e a linha deixou de ser uma linha. A parede deslizou para o lado revelando uma sala cheia de armas.

Charlotte entrou correndo, mas Cara a segurou.

– Pode ter algum tipo de armadilha.

– É mesmo. Desculpe.

Cara sorriu e as duas entraram.

Havia armas de todos os tipos, guardadas em caixotes no chão ou na parede, em prateleiras. Charlotte encarou para o fim da sala retangular, encantada com uma espada guardada dentro de um paralelepípedo de vidro.

– Posso ficar com a arma?

– Nós não estamos em guerra mais, Charlotte.

– Não, mas e se os caras maus voltarem? Natalie e Kevin podem matar, nós não. Eu posso cortá-los enquanto vocês os distraem. Assim eu não vou mata-los, mas eles podem acabar morrendo por hemorragia.

– Você não deveria estar na escola?

– Escola é coisa de humanos.

– Eu não sou sua mãe, mas, mesmo discordando, acho que você pode ficar com a espada. Só tome cuidado para ninguém vê-la com você enquanto você tenta aprender como manejá-la.

– Como eu vou aprender a usá-la? Você vai me ensinar?

– Você quer a espada e nem pensou nisso!? – Cara e Charlotte riram – Tim pode conseguir algumas vídeo-aulas pra você e pro Russell treinarem.

“Stephen, você conseguiu alguma pista de Jedikiah?”

“Não. Estou sem nada.”

“Vou ao bar hoje à noite, você quer ir?”

“Não vai dar. Preciso estudar para a prova amanhã.”

“Tudo bem”

John e Stephen estavam no quarto do rapaz conversando sobre Jedikiah. Os dois estavam próximos, Stephen deitado em sua cama e John sentado ao seu lado, encarando-o por cima.

– Então Jedikiah acha que eu posso te devolver as memórias?

– Sim. Primeiro ele achava que Cara podia fazê-lo, visto que namorávamos no passado, mas então ele disse que você a amava mais e que ela teria uma conexão mais forte com você. No entanto, depois de ficar com a culpa por matar seu pai e manda-lo para o Limbo, eu e você nos aproximamos querendo salvá-lo.

– Acho que faz sentido. Quem eram aqueles caras de ontem?

– São da família do Senador. Jedikiah contou ao Senador sobre nossa espécie. Ele quer montar outra organização com supersoldados. Eu, você, Cara e Russell. Nós estamos na lista. – Stephen sorriu. Era o tipo de coisa que vinha do seu tio – Provavelmente foram eles que você disse que estavam procurando pelo seu tio.

– Na verdade, quem está procurando por ele é um outro da nossa espécie. O nome dele é Kevin. Você o conhece?

– Kevin? Jedikiah me avisou sobre ele. Disse que no fim precisaria de mim para protege-lo desse tal de Kevin.

– Ele nos visitou. É bem poderoso. Além de ele ter tomado do soro do projeto Anexo eu estou achando que ele é sinérgico como eu ou a Cassie.

– Quem é Cassie?

– Te conto depois – Disse Stephen, sem querer desviar do assunto ou entregar à John uma morte do qual ele não se lembrava – O fato é que nós não conhecemos esse tal de Kevin. Ele disse que não queria uma outra guerra, mas que mataria os Seres Do Amanhã se não encontrássemos vocês.

– Porque ele mesmo não procura por Jedikiah?

– Cara e Charlotte não confiam nele. Não querem deixar ele entrar. Além disso, Cara achava que você e meu tio estivessem juntos.

– Então se Jedikiah morresse, eu também morreria tentando protege-lo. Provavelmente. Mas ainda assim, seria um tiro no escuro. Não acho que Cara estava tentando me proteger. Acho que estava tentando proteger você.

– Me proteger?

– Você é sobrinho de Jedikiah. Kevin tentaria te usar para chegar até seu tio.

– Também faz sentido.

– Vocês fizeram bem em não deixa-lo entrar no prédio.

– Além disso, Tim apagou tudo. Não queríamos ter os negócios da Ultra em nossas mãos.

John sorriu para Stephen.

Cara estava sozinha no Refúgio, já que Russell e os outros haviam saído. Desde que Cara os liberara para se misturarem com os humanos, os outros que moravam com ela no Refúgio não fizeram cerimônias quanto às festas, bares, boates, baladas e outros lugares de lazer e perdição como estes.

Cara sentia-se sozinha, assim como Stephen se sentia em sua casa. Antes eram dois garotos disputando pela atenção da garota. Agora era uma garota sem garoto algum. Então, decidida a mudar isso, Cara simplesmente sumiu.

Reapareceu no banheiro feminino de um bar. Felizmente sem que ninguém a visse. Deu uma arrumada rápida no cabelo quando passou em frente ao espelho do banheiro e saiu. Foi até o balcão pedindo uma bebida sem a intenção de pagar.

Ficou sentada lá por dez minutos. Durante esse tempo, dois homens conversaram com a moça, porém nenhum deles lhe chamou atenção. Além disso, eram humanos. Cara tinha atração por aqueles que eram de sua espécie, já que o único humano ao qual quase teve relações tentou abusar da menina.

– Amigo, manda mais dois, por favor. – Disse Kevin que apareceu ao lado de Cara, encarando-a sorridente.

– Você?

– Eu. – Kevin sorriu para a menina.

– Porque você acha que eu aceitaria uma bebida sua?

– Porque eu sou charmoso. – Kevin piscou para Cara, que revirou os olhos, esforçando-se para não rir.

– Você está certo. – Ela admitiu – Você é charmoso e eu gosto disso. O problema é que...

– Pelo amor de Deus! Não vamos falar disso aqui. Vamos falar de coisa melhor. Não vim para brigar.

– Você veio para que?

– Diversão. Amor.

– Você realmente acha que vai encontrar amor aqui? Num lugar desses?

– E você vai?

Cara não respondeu, mas Kevin, mesmo sem ler a mente da menina, sabia que ela sentia-se sozinha.

– Você dança comigo?

– Porque não?

Cara sorriu e foi até a pista de dança ao lado de Kevin. Os dois dançaram bastante e em algum momento suas bocas se encontraram. Cara sentiu-se estranha por beijá-lo, mas já tinha tomado algumas bebidas antes e durante a dança, e Kevin era encantador quando não estava tentando mata-la. Cara o beijou novamente, envolvendo seus braços ao redor da nuca de Kevin, enquanto o mesmo segurava-a pela cintura.

Na boate, Zoey e Natalie conversavam alegremente. À essa altura, Natalie já havia conversado sobre os poderes com Zoey e a humana pareceu não se importar.

– Então quer dizer que você pode ler minha mente, fazer as coisas voarem e desaparecer de um lugar?

– É. São os três T’s.

– Telepatia, telecinese e teleporte. – Zoey sorriu – Deve ser emocionante ter esses poderes.

– É sim. Sabe... Normalmente eu não faria amizade com humanos. – disse Natalie assustando Zoey um pouco – Alguns meses atrás eu até ajudei numa tentativa de genocídio. – A dançarina sentiu um aperto no coração naquele momento, somado com um pouco de medo. Então Natalie a encarou nos olhos e então Zoey soube. – Mas ainda assim eu ajudei você. Você é especial. Não sei explicar, só...

Zoey apoiou as mãos no balcão e, inclinando-se para frente, beijou Natalie.

John e Stephen continuavam conversando e formando teorias sobre Kevin e como reaver a memória de John. Os dois estavam deitados lado a lado na cama de Stephen, que era bem apertada para os dois juntos. Além disso, o sono estava chegando para Stephen que lutava para manter os olhos acordados. Normalmente ele simplesmente viraria para o lado e dormiria à vontade, deixando John acordado e pensando na vida, sozinho, no entanto, não conseguia. A ideia de deixa-lo de lado quando ele mais precisava de um amigo não encaixava-se na mente de Stephen.

– Talvez você deva me beijar. – Disse Stephen com energia tentando despertar-se do sono.

– Ótima ideia, Stephen. Então se transarmos eu vou limpar minha mente.

Stephen riu enquanto John apenas o encarava.

– O que foi? – Perguntou Stephen ainda rindo quando percebeu a aproximação de John.

Ele sabia o que viria a seguir, mas mesmo assim, ficou imóvel apenas sentindo os lábios de John tocar os seus. John afastou sua boca da boca de Stephen, pensando se deveria ou não tê-lo beijado. Teve sua resposta quando Stephen tirou a camisa e, jogando-se por cima de John, voltou a beijá-lo vorazmente.