Segredos

Complicações


Duas semanas se passaram após a luta contra Kevin. O soldado simplesmente teleportou-se quando John parou o tempo. Steven retirou a espada da direção de Jedikiah e depois levou John à antiga ala hospitalar da Ultra. John não vivia como outros humanos, portanto não possuía documentos e coisas do tipo, ou seja, levá-lo a um hospital levantaria suspeitas, porém Marla não negou ajuda. Assim que ficou sabendo o que acontecera e porque acontecera, Marla pegou o primeiro trem para ver o filho. Steven ficou contente por ver sua mãe e seu irmão após a experiência de quase morte.

Cara voltou após a luta. Disse ter sido teleportada por Kevin para o meio de uma mata. Tentou voltar na hora, mas havia alguém impedindo-a. Kevin sabia que era mais fácil lutar sozinho contra John e Stephen do que com Cara e Russell ajudando-os.

Jedikiah, Cara, Russell, Marla e Stephen se reuniram na sala onde John se recuperava. Stephen e Cara contaram tudo o que estava acontecendo, desde o ataque de Natalie no parque, até o momento em que John parou o tempo. Jedikiah, vendo que não havia mais como esconder, revelou que John possuía os poderes de Roger e que por isso foi capaz de parar o tempo. Marla e Stephen ficaram chocados. Cara achou, por um instante, que John estava fingindo que não sabia de nada, mas depois lembrou-se que o rapaz já havia passado por muito. Resolveu afastar o pensamento.

Após as duas semanas acabarem, John voltou para a casa de Stephen com ele. Cara queria que John ficasse com ela no refúgio, mas ele preferiu ficar com Stephen, pelo menos até recuperar a memória.

– Stephen...

O rapaz estava usando o computador para pesquisar mais sobre o cérebro e estimular o retorno de memórias. Parecia estar concentrado, então John pegou o caderno de Stephen no criado-mudo ao lado da cama, arrancou uma folha, amassou-a e, ao formar uma bola, jogou-a.

– O que você está fazendo?

– Tentando te ajudar a recuperar sua memória.

John fitou-o pelas costas, admirando-o.

– E nós?

– Não tem nós, John. Aquela noite foi um erro.

John revirou os olhos. Claro que tinha sido um erro. Um erro que os dois haviam gostado.

– Você está com raiva por causa dos poderes do seu pai?

– Estou feliz por você ter poderes outra vez e... Jedikiah atirou nele. Não tinha como salvá-lo.

– Stephen...

Stephen estremeceu. Encarava o monitor do computador, porém sabia o que viria a seguir. John, levantou-se da cama e descansou as mãos no ombro do amigo.

– Eu quero ser mais do que seu amigo.

– Eu não sou gay, John. – Disse Stephen sem encarar o loiro, mas sabia que ele estava sorrindo atrás dele .

– Vai dizer que você não tem sentido minha falta?

Stephen não respondeu. É claro que sentia. Sonhou com ele mais de uma vez e só voltou a sorrir com vontade depois que os dois se reencontraram. Porém nunca havia sentido aquilo por outro rapaz antes. Não. Era impossível que Stephen estivesse apaixonado por John, ou John apaixonado por Stephen.

– Eu estou apaixonado por você, Stephen.

Talvez nem tanto.

Stephen virou-se e olhou nos olhos de John. Levantou-se para que pudesse ver melhor o rosto lindo do loiro parado à sua frente. John estava com medo. Podia ler em seus olhos. Mas ele também estava.

Sem saber ao certo porque, Stephen levou sua mão direita ao rosto de John, acariciando-o enquanto sorria.

– Stephen...

– Você promete que nunca mais vai nos abandonar?

John suspirou enquanto pensava.

– Prometo.

Stephen puxou-o para um beijo. Um beijo longo e quente. Abraçou John enquanto beijava-o e sentia as mãos do loiro segurando-o na cintura e puxando-o para mais perto. Stephen sorriu entre o beijo, mas não demorou muito e voltaram a se beijar.

Russell estava passeando num parque sozinho. Refletindo sobre os últimos acontecimentos e sua participação neles. Sentia-se impotente por não conseguir fazer nada contra Kevin durante a luta ou por não conseguir preparar os outros do grupo para ajudarem na luta, exceto pela Charlotte, que era uma excelente aluna.

Seus pensamentos foram interrompidos por um rapaz que passou correndo ao seu lado com uma bolsa rosa na mão e uma jovem dama gritando atrás dele. Russell logo percebeu que se tratava de um roubo, então saiu correndo atrás do bandido.

Não muito longe, um guardinha corria atrás do bandido também, assim que percebeu a movimentação, porém Russell sabia que o guarda nunca o alcançaria, então teleportou-se. Parou na frente do bandido, dando-lhe um susto. O bandido deu-lhe socos, porém ele desviou de todos. Russell era ágil e isso o ajudava no combate. Girou, teleportando-se para atrás do bandido e chutou-o nas costas, fazendo o bandido cair.

Russell não percebeu, mas o guarda já havia chegado ali, viu Russell se teleportando para chutar o bandido e agora usando telecinese para pegar a bolsa de volta.

Quando Russell percebeu que o guarda estava assistindo a cena, logo tratou de devolver a bolsa. Impressionado o guarda chamou por Russell, que pensou em fugir, mas ao invés disso, resolveu ficar.

– Como você fez tudo isso?

– Eu tenho poderes. – Disse Russell simplesmente. Uma folha de jornal que voava pelo beco flutuou até os dois e ao ser dobrada por telecinese, transformou-se num barco de papel. – São só alguns truques.

– Diga-me rapaz... Você gostaria de estagiar na polícia!?

Russell ficou com cara de tacho, tentando acreditar no que tinha acabado de ouvir.

Zoey estava em casa com Natalie. Aos fins de semana, Zoey chamava a namorada para ficar com ela. Assistiam à filmes, ouviam músicas ruins enquanto riam de si mesmas, experimentavam novas receitas na cozinha e etc. Natalie estava completamente apaixonada por Zoey e sentia que nada poderia estragar sua relação com a dançarina.

– Hey! Acabou a pipoca. – falou Natalie procurando no armário superior da cozinha – Vou pegar umas para a gente assistir “Hangover 2”, pode ser?

– Sim, amor. Vou só pegar o dinheiro.

As duas passaram por um corredor e foram até a sala de visitas, onde havia um cabide com algumas bolsas de Zoey. A dançarina pegou uma bolsa azul marinho e tirou uma quantidade de dinheiro da carteira guardada ali para entregar à Natalie.

– Posso ir com você? – Perguntou enquanto entregava o dinheiro.

– Eu adoraria, mas me teleporto mais rápido quando estou sozinha.

Zoey fez beicinho enquanto Natalie ria. As duas se beijaram, uma acariciando o rosto da outra. Então veio o segundo beijo e por fim um riso.

– Quanto mais cedo eu for, mais cedo eu volto.

– Ok. Desculpe.

Natalie sorriu e, virando, teleportou-se.

Zoey fora despertada de seus felizes pensamentos sobre Natalie quando a campainha tocou. Felizmente estava perto da porta, então não demorou para atender.

– Pois não?

– Olá. Me chamo Jedikiah Price. Natalie está em casa?

Alguns minutos depois, aproximadamente trinta, Natalie teleportou-se de volta. Apareceu na sala de visitas, no mesmo lugar onde havia saído. Chamou pela namorada uma vez, porém Zoey não respondeu. Chamou a segunda começando a ficar preocupada. Teleportou-se até a cozinha e surpreendeu-se com Jedikiah sentado de frente para sua namorada.

– Ah, aí está você. - Falou Jedikiah com um sínico sorriso no rosto. – Estávamos esperando você.

– O que você está fazendo aqui?

– Passando pela vizinhaça então decidi dizer um oi.

– O que houve, Natalie!? – Perguntou Zoey achando incomum a agitação da namorada – O Dr. Price estava me dizendo como te conheceu.

Natalie encarou Jedikiah desesperada.

– Zoey... lembra quando eu te falei sobre não gostar de humanos e que eu tentei ajudar um plano de extinção em massa?

Zoey engoliu em seco. Não gostava quando Natalie falava sobre seu lado negro, apesar de estar feliz por conhecer até mesmo esse seu lado, porém se Jedikia estava ligada à ela e à esse lado negro, coisas boas não estavam por vir tão cedo.

– Imagino que ela tenha criado um imagem ruim de mim. Natalie, por que você não se senta conosco?

– O que você quer, Jedikiah? – Perguntou impaciente enquanto sentava-se ao lado da namorada.

– Sabe, Natalie... Surgiram algumas complicações em meus planos e já que você é uma das poucas de sua espécie que pode matar eu preciso de você.

– Eu não vou sujar minhas mãos por você, Jedikiah!

– Ah não. Não quero que você mate ninguém. Pelo contrário. Quero que você dê a vida à alguém.

– Como assim? Você não está fazendo sentido algum.

– Veja... Cara perdeu uns parafusos e acha que vocês podem viver em paz com os humanos. – Zoey encarou Jedikiah feio o que fez Natalie sorrir por um instante enquanto Jedikiah revirava os olhos – Acho que você sabe o que isso significa.

– Guerra.

– Sim. Os humanos não irão ver isso com bons olhos, por isso, precisamos montar uma defesa antes que seja tarde demais. Eu pensei em começar uma organização de supersoldados, como a antiga Ultra, mas não daria muito certo nessa guerra, uma vez que os humanos possuem a habilidade de matar e o resto de vocês não.

– Vá direto ao ponto por favor.

– A complicação no meu plano foi o meu sobrinho. Aparentemente John e Stephen estão namorando. Os outros não sabem, mas eu sou um gênio do mal, então...

– O que isso tem a ver comigo?

– Preciso que você faça filhos com John.

Natalie riu alto. Não se conteve, nem mesmo Jedikiah conseguiu e sorriu um pouco.

– Se Cara tem alguns parafusos soltos, você tem todos!

– Eu estou falando sério.

Jedikiah pôs uma pistola sobre a mesa.

– Ainda acha que eu estou brincando?

– Sem ofesas, mas assim como John, eu também mudei de lado e estou muito feliz com minha namorada. Provavelmente você está com D-Chips no bolso para que eu não possa usar meus poderes contra você e mais uma arma escondida aí embaixo. Mas isso não significa que eu não possa caçá-lo e então matá-lo. Se você me ameaçar ou ameaçar Zoey, eu juro, Jedikiah... Eu mato seu filho, Morgan e, por fim... Você.

– Você realmente acha que eu viria até você sem ter algo para me proteger? É claro que eu sei que você faria isso tudo mesmo deixando a pobrezinha do seu lado mais aterrorizada do que já está. Eu não sou idiota. Se eu fosse você colocaria um filho de John na sua barriga o mais rápido possível.

Jedikiah levantou-se ajeitando o casaco.

– Obrigado pelo café, Zoey. Estava delicioso, mas eu preciso voltar para... antes eles chamavam de Ultra, agora devem chamar de Refúgio. Não sei ao certo...

– Por quê? – Perguntou Natalie

– Tim pode ser útil para me ajudar no meu novo projeto...

– Eu digo... Por que você quer tanto que eu tenha um filho de John?

– Ah, sim. Bem... Evolução? Você pode matar assim como John. Os dois têm poderes, portanto, o filho de vocês, além de sinérgico, também nasceria com essa habilidade de matar, assim como os filhos de seu filho, etc... Estamos correndo contra o tempo aqui, Natalie. Não me decepcione.

Jedikiah pegou a arma de volta, guardando-a e saiu.