Fazia um ano desde a última vez em que eu a vi.

Eu estava nervoso e ansioso por esse momento.

Assim que o ano escolar se encerrou e eu finalmente conseguiu me formar, a primeira coisa que eu fiz foi comprar uma passagem só de ida para Londres. Foi um movimento ousado e impulsivo, eu não sabia o que poderia encontrar lá. Havia conversado com Lucrécia alguma vezes durante o ano, era inevitável agora que ela e Nádia estavam estudando e morando juntas em Nova York e Gusman ainda mantinha contato e estava tentando seu relacionamento a distância com a Nádia.

Numa dessas conversas, Lu me perguntou como quem não quer nada. "e como vai a Carla? Ainda mantem contato Samu?".

Foi ai que eu contei a ela que depois da nossa despedida não nos falamos mais, eu não sabia como ela estava, se ela tinha um relacionamento, se estava feliz, eu não sabia de nada. O máximo que eu tinha de informações eram os stories e os posts dela no Instagram, e tinham diminuído muito depois que ela foi embora.

Acabei confessando a ela que eu tinha tentado mandar uma mensagem várias vezes, mas sempre excluída, eu era um covarde, estava com medo da rejeição. Ela com certeza me deu um sermão, gritou comigo e me xingou de diversas maneiras, falou que nunca tinha visto a Carla daquela maneira, nem mesmo com Polo, que foi namorado dela por anos. Isso só me fez sentir pior ainda.

Depois de confessar tudo o que aconteceu naquele ano e tudo o que eu sentia por ela, que ainda sinto na verdade, falei pra Lu sobre o meu plano. Eu queria arriscar.

Contei a ela que estava trabalhando bastante e guardando o máximo de dinheiro, porque no final do ano queria viajar para Londres pra encontrar ela.

"E o que você vai fazer quando chegar lá? Já sabe onde vai ficar, ou tem algum plano de backup caso dê algo errado?" perguntou Lu em uma de nossas vídeo chamadas.

"Não tenho ideia. Até o agora a única coisa do plano era ir até lá e encontrar ela." respondi fazendo uma cara confusa.

"Você só pode ser idiota mesmo! Bitch, precisar melhorar esse plano ai..." ela suspirou negando com a cabeça, mas depois falou "vou te ajudar, mas só porque eu sei que isso pode ser algo realmente bom pra ela, depois de toda essa merda que acontece ela merece, e você também".

"obrigado Lu".

Então foi ai que tu começou de verdade, era metade do ano e eu estava traçando meu plano com a Lu, não que fosse algo muito planejado, porque não era, eu falei pra ela que não queria ter um plano b caso desse errado. Se ela não me quisesse lá, eu voltaria direto pra casa e deu, pelo menos teríamos o encerramento que eu precisava. Apesar de ser totalmente contra com esse plano, Lu me ajudou. Apesar dela falar que não tinha muitas informações de Carla no início, ela mentiu, sabia o básico sobre a amiga, elas mantiveram o contato apesar de mínimo, então o que ela precisou investigar na verdade era se Carla estava em um relacionamento sério com alguém, se ela estava gostando de alguém, seu endereço e onde suas aulas eram.

Quando finalmente chegou o momento da minha formatura foi como se um peso tivesse saído do meu coração, aquele lugar literalmente trouxe muita dor pra minha família e eu não via a hora de sair dali pra sempre. Las Ensinas me deu meus melhores amigos, com certeza tudo teria sido muito pior sem eles, me deu Carla também, mas me tirou muito. O alívio que tivemos quando estava finalmente acabando, foi indescritível. Eu contei pros meus amigos sobre o meu plano, mas literalmente todos os detalhes, contei apenas pro Gusman e pro Omar, apesar de ter voltado a ser amigo de Rebe, ela me contou sobre o que conversou com Carla no Teatro Barceló antes de Polo morrer, e confesso que fiquei com muita raiva dela, porque achei que o que ela disse a Carla pode ter ajudado ainda mais na decisão dela de ir embora. Mas depois de um tempo, conseguimos voltar com a nossa amizade, mas nunca mais fomos os mesmos, eu ainda sinto que ela não acreditava nos sentimentos de Carla por mim e me achava um idiota por ainda gostar de uma garota que nem me mandava uma mensagem.

Gusman apesar de ter sido um pouco relutante no início, acabou sendo a pessoa que mais me deu força pra correr atrás do que eu quero. Inclusive, quando eu fui comprar a passagem, ele disse que antes precisava me dar um presente, disse que era um presente de formatura e também pra agradecer tudo que eu tinha feito pra trazer justiça pra irmã dele.

"Cara, você está louco?" falei assim que vi o que estava dentro do envelope. "eu não posso aceitar isso Gusman, porque você comprou a passagem, você sabia que eu ia comprar, eu guardei dinheiro pra isso meu!"

Gusman simplesmente riu da minha cara "porque eu quis e você vai aceitar, eu quero te ajudar a ir encontrar a Carla, e essa foi a maneira que eu achei de fazer isso, então aproveita seu idiota", ele continuou rindo da minha cara chocada e veio me abraçar.

Depois que o choque passou eu o abracei de volta, engoli meu orgulho e aceitei o presente. Me planejei para os últimos meses em Madri, consegui colocar minha casa pra alugar enquanto eu estivesse fora, coloquei um contrato de 3 meses, conversei com Gusman pedindo que se precisasse de um lugar pra ficar, se poderia ficar com ele por um tempo, até minha casa estivesse liberada do contrato, ele super me apoiou e disse que não tinha problema, se eu voltasse teria um lugar pra dormir. Tudo ficou na casa, só tirei alguns pertences mais pessoais, meus e da minha mãe que ainda estavam lá, coloquei na garagem de Gusman já que ele não deixou eu aluga um depósito.

Finalmente chegou o momento, peguei minhas coisas e coloquei em uma mochila, não ia levar muita coisa, não sabia o que poderia acontecer quando chegasse lá. Eu falei pra ela que iria levar macarrão, então precisava levar um pote e arranjar um lugar onde eu pudesse cozinhar lá.

Gusman e Omar me levaram até o aeroporto, estávamos nos despedindo quando Omar falou "se cuida lá cara, sabe que se precisar de alguma coisa não liga pra gente, porque não vamos conseguir te ajudar" falou rindo enquanto me abraçava.

Rindo também, Gusman veio me abraçar "vai lá garanhão, vai pegar a sua garota" antes de se afastar ele avisou sério "não esquece avisar quando chegar e pode deixar que eu cuido das coisas aqui" ela estava se referindo as questão do meu apartamento.

"Valeu pessoal, obrigado pela ajuda...vou nessa então, me desejem boa sorte!" falei sorrindo meio nervoso.

Me despedi deles e fui pegar o avião. Era a primeira vez que eu viajava de avião, além do nervosismo da primeira vez ainda não sabia o que iria acontecer. Eu estava 100% ansioso, a moça do meu lado ficava me olhando com uma cara de riso, ela inclusive me perguntou se era minha primeira vez num avião, ficamos conversando por um tempo, depois consegui descansar um pouco antes do avião finalmente aterrissar.

Chegando em Londres, a primeira coisa que eu fiz foi avisar ao pessoal que tinha chegada e que estava indo para o alojamento que eu tinha alugado por 2 dias. Pensei em alugar por mais dias, mas percebi que não fazia sentido, se ela não me quisesse ali, não tinha sentido continuar naquele lugar, então vai ter que ser na sorte mesmo.

Passei em um mercado para comprar os ingredientes do macarrão e assim que cheguei no alojamento fui cozinhar. Com tudo pronto fui ver que horas eram para poder encontrar ela na universidade. Achei que fosse ser melhor encontrar ela lá, assim ela não ficaria desconfortável caso quisesse me chutar pra fora da casa dela.

Arrumei o pote do macarrão, peguei minha carteira, celular, um casaco e algumas instruções pra me localizar em Londres. Chegando perto da universidade achei uma banquinha de flores, mas lembrei que eu não sabia qual era a favorita dela, então pra não ser muito ostentoso e nem fazer papel de idiota resolvi comprar só um buque pequeno de girassóis, a moça disse que significam adoração e boas vibrações, então pensei, porque não, eu preciso de boas vibrações agora!!

Entrando na universidade fiquei procurando pelo prédio dela que a Lu tinha me informado, demorei um pouco pra achar, mas finalmente quando achei fui me aproximando mais confiante. Eu estava perto de subir as escadas, mas achei melhor esperar por ela na rua, algumas pessoas estavam saindo de dentro do prédio. Depois que um grupo de alunos saiu junto e rindo, achei ter visto um cabelo loiro no meio deles, quando finalmente tive certeza que era ela.

Lá estava ela, linda como sempre, segurando alguns livros em um braço e no outro o celular na mão. Só de olhar pra ela eu já estava sorrindo que nem um idiota, mas meu sorriso não durou mais que 3 segundos, quando vi que ela ficou pra trás porque um cara tinha puxado o braço dela pra conversar e ela estava rindo com ele. Eles estavam tão próximos que meu coração começou a doer de uma maneira indescritível, eu simplesmente fiquei congelado no lugar, não sabia o que fazer. Eu sabia que era uma possibilidade isso acontecer, mas acho que nunca tinha efetivamente levado isso a sério.

Eu não sei quanto tempo tinha se passado, mas ela se virou por um momento pra mexer no cabelo e ficou chocada em me ver lá, parado feito um imbecil com um pote de macarrão na mão e um buque.

O cara que estava do lado dela continuou conversando com ela, mas ela não tinha se virado de volta pra ele. Parecia que o tempo tinha congelado naquele momento, se passaram 5 segundos, 5 minutos ou mais, eu não sei.

Ela começou a caminhar na minha direção, deixando o cara que estava falando com ela pra traz sem falar nada, o grupo que estava com eles também parou de conversar e ficaram olhando pra ela, não entendiam o que estava acontecendo.

Ela andava com passos firmes até a minha direção e só parou quando ficou a centímetros de mim. Ficamos nos encarando por um bom tempo até que eu quebrei o silêncio.

"Oi... você disse que aceitava visitas se eu trouxesse macarrão." falei com um leve sorriso de lado e com a cabeça cabisbaixa.

Ela continuava a me encarar como se não entendesse o que estava acontece ali, até que finalmente ela começou a rir. O riso dela me contagiou e ficamos sorrindo um para o outro.

"Eu não posso acreditar que você está realmente aqui" ela falou me olhando com carinho e ainda sorrindo.

"Eu sei que não deveria ter vindo sem avisar, desculpa." comentei olhando pra ela profundamente, com medo da resposta dela.

"Não.. Quer dizer, eu gostei que você veio!" ela respondeu com aquele sorriso lindo que eu tinha certeza que era só pra mim.

Ficamos sorrindo um para o outro novamente até que rimos da situação. Ela avançou pra me abraçar, foi meio desengonçado, ela com os livros na mão, eu com o pote e o buque, mas conseguimos nos abraçar e ficamos assim por uns bons segundos, apenas desfrutando do abraço do outro.

Quando nos afastamos sorriu e olhou para as minhas mãos. "o que você trouxe?".

"Pra você!" disse entregando o buque de girassóis. "Eu não sabia sua favorita, então decidi pegar girassóis, a moça da banca disse que significam adoração e boas vibrações, achei apropriado pro momento" comecei a rir baixinho depois do meu próprio comentário e ela riu junto.

"Acho que eu não tenho uma favorita, mas são lindas, obrigada!" disse ela cheirando a flor sorrindo.

"Ah e claro, eu trouxe o melhor macarrão do mundo, tenho certeza que dessa vez você vai pirar"

Ela estava com um sorriso tão suave no rosto, seus olhos estavam sorrindo também, como se estivesse em paz e feliz. "Bom, acho que eu que vou julgar isso né."

Poderia ser muito desconfortável pra algumas pessoas, mas o silêncio em que estávamos era perfeito, os dois ali, se encarando e sorrindo feio idiotas. Mas fomos interrompidos por algumas pessoas do grupo que ela estava antes.

"Carla, só queríamos saber se você ainda vai acompanhar a gente" o cara que ela estava conversando antes falou tocando o seu ombro.

Ela finalmente se virou pra ele e falou "não Jeff, a gente se fala depois ta!" e se virou pra mim de novo. O cara ainda ficou alguns segundos parado com a atitude dela, mas logo depois deu tchau e saiu dali com o resto do pessoal. Ela ficou me encarando e perguntou "vamos?".

"Vamos!" respondi, peguei seus livros pra que ela pudesse só carregar o buque nas mãos.

Ela pediu um taxi e deu seu endereço pro motorista. Sentamos cada um em uma extremidade do carro, as vezes nos olhávamos e ainda continuávamos a sorrir um para o outro, mas o silêncio permanecia.

Ao descermos do carro ela pagou o taxista e me indicou o caminho. Claramente o apartamento era luxuoso, mas nada muito extremo como a mansão dos pais dela em Madri. Subimos o elevador em silêncio e quando ela abriu a porta foi quando falou de novo.

"Pode tirar o casaco e colocar aqui do lado" ela estava se despindo e tirando os sapatos.

Fiquei um pouco perdido, porque estava com os livros na mão e o pote, até que ela viu e começou a rir. "Deixa eu te ajudar" pegou os livros colocando em cima da mesinha ao lado da porta e pegou o pote para levar pra cozinha.

Eu comecei a tirar meu casaco e meu tênis e segui ela para a cozinha. Ela estava colocando o buque em um vaso com água enquanto cheirava ele novamente, fiquei encostado na porta só admirando ela, como pode ela ficar cada vez mais bonita.

Ela percebeu que eu estava encarando ela e sorriu de canto. "o que foi?"

"Nada, só estou te admirando" falei olhando pra ela com tanto carinho que eu acho que ela conseguia sentir tudo que eu sentia só em um olhar.

Enquanto ela abria o micro-ondas e colocava o pote eu caminhei em sua direção e simplesmente abracei ela por traz, colocando meu rosto perto de seu pescoço pra poder cheirar ela melhor. Ela inclinou o pescoço para o lado para me dar mais espaço e passou os braços pelos meus, me abraçando também. Depois de alguns segundos ela se virou no abraço e ficou na minha frente com a testa encostada na minha e com os olhos fechados, passou os braços para o meu pescoço, nossas respirações se misturavam agora. Estava tão gostoso aquele abraço, era íntimo e tudo o que eu precisava naquele momento. Ela ficou fazendo carinho no meu cabelo enquanto estávamos ali.

"Senti sua falta" murmurei baixinho ainda de olhos fechados.

Ao invés de me responder ela se separou de mim e abriu os olhos, achei que ela iria se afastar, mas ela sorriu e me puxou para mais perto se inclinando para me beijar. Minhas mãos automaticamente foram para o seu rosto fazendo um carinho nela, ela suspirou e roçou o nariz no meu delicadamente, "eu senti sua falta também".