[Cherry] Sai daqui, eu disse que ia começar! — a morena empurrou Othello, que lhe importunava tentando dividir a câmera com ela. – Enfim — continuou ela focando na câmera à sua frente. – olá povo de Tessander. Como muitos devem saber a esse ponto, me chamo Cherry e eu sou a filha da Evil Queen. Muitos me consideram, ainda, uma delinquente. E eu sei que dei motivos para vocês pensarem isso de mim. Mas como o ano acabou e estamos todos formados, estou aqui para mostrar minha versão dos fatos, como eu e Othello dissemos que iríamos fazer. Não apenas o que foi mostrado naquele infame blog. Primeiramente deixe-me falar um pouco sobre mim. – Ela então limpou a garganta e tirou uma mexa de seu cabelo que caía sobre os olhos. Se mexeu na cadeira e prosseguiu.— Eu nasci no reino do pai de Aaron. Sou a meia-irmã dele, mas isso vocês todos já devem saber a esse ponto. Porém eu e minha mãe tivemos que sair de lá, pois nossa vida mudou totalmente quando Branca, a mãe de Aaron, descobriu que o marido, meu pai e de Aaron, a traía com a minha mãe. Ela ficou mais puta ainda quando descobriu que ele teve uma filha com a minha mãe. Meu pai então ficou encurralado e acabou por banir a mim e à minha mãe do reino, para uma ilha bem longe. Alguns outros que eram classificados como vilões também estavam lá. Eu saí do reino de meu pai sabendo exatamente quem eu era; deveria ter uns 10 anos. Eu cresci sendo educada em casa e nunca tive nenhum problema com isso; mas esse ano minha mãe achou necessário eu entrar na 'Ascendants’. Segundo ela seria importante para mim que eu convivesse com outras pessoas. Para falar a verdade, eu nunca quis ir. Quem, em sã consciência, iria querer ficar ao redor daqueles que te exilaram e nem sentiram culpa?! E vocês são muito mesquinhos e reclusos, se achando o centro... — nesse momento Othello surgiu e empurrou-a para o lado.

{Othello} Chega desse sentimentalismo. Ninguém liga para o seu sofrimento ou para o da sua mãe. Eu sou a estrela aqui e todos querem ME ver. Olha! A audiência do nosso live até caiu. Fica aí na sua. — disse ele ajeitando o topete. Cherry gritou algo ao fundo e ele apenas a ignorou. Ela tentou roubar a câmera, fazendo a imagem ficar irreconhecível por alguns momentos, cheia de borrões, enquanto as vozes ficavam elevadas e não se podia entender o que era falado. Então a câmera foi posta no lugar e Othello estava na cadeira, centralizado na imagem com um sorriso de vitória. A morena disse algo ao fundo e ele revirou os olhos e virou sua cabeça para ela, que não podia ser vista na imagem reproduzida do quarto em que se encontravam – Você ainda está falando? Por favor fique calada para que eu possa brilhar aqui. — ele se virou novamente para a câmera e suspirou, abrindo um sorriso logo após. – Bom, eu não preciso me apresentar. Todos vocês me conhecem muito bem e também tudo que eu consegui realizar na vida. — ele parou quando Cherry gritou um sonoro 'nada' de algum lugar pelo ambiente. Um suspiro e ele continuou – Enfim, vamos ignorar essa idiota e começar pela verdade desde o inicio. Vamos ver... Primeiro dia de aula desse último ano.

— Dia 04 de Fevereiro de 2015 –

Othello estava em sua cama ricamente entalhada e decorada com lençóis de cetin e seus travesseiros super macios. Estava acostumado a acordar tarde devido às férias, porém sua mente se desligou de que hoje era o primeiro dia do último ano dele na escola. Uma mensagem em seu celular o fez acordar por causa do barulho. Abrindo os olhos depois de alguns minutos, outra mensagem chegou. Xingou quem quer que estivesse mandando as mensagens. Despertando totalmente, pegou o celular na mesinha de cabeceira e estreitou os olhos, com o brilho recente da tela do celular, enquanto via quem havia lhe perturbado. Xingou ainda mais quando viu quem era. "Gus e Izzy?! Sério? Vocês não tem nada melhor para fazer do que me perturbar logo de manhã? Boceta.” Pensou enquanto jogava o celular em sua poltrona branca macia. Esta, por sua vez, ficava com o encosto virado para uma enorme parede de vidro com duas portas igualmente de vidro, que dava para a sacada particular. Ao fazer isso, viu que Aaron não estava mais na cama. No banheiro talvez? Quando direcionou seu olhar para a porta, viu que esta estava entreaberta e a luz apagada. Suspirando, se levantou. – Que merda, viu. – disse ele enquanto andava pelo quarto de calção e sem sua camisa. Foi até a porta do closet e pegou seu roupão azul de veludo. Só então algo o ocorreu, fazendo com o que o mesmo parasse. Um clique se deu em sua cabeça e ele correu para aonde a poltrona estava, pegando seu celular e debloqueando o mesmo. Entrou no Whatsapp (um aplicativo para mensagens que requeria internet) e procurou pelo grupo que tinha em comum com Gus e Izzy: "Tirania 4 Life". Viu as mensagens de "parabéns para nós, ultimo ano" e "enfim veteranos" e gelou. Então fez a única coisa que passou pela sua cabeça. Deu um grito.

No andar de baixo, na cozinha, Aaron quase cuspiu seu café. Arrumado, estava na bancada a comer panquecas com a não-tão-jovem-mas-sempre-linda Bela, mãe de Othello. Eles se entreolharam e Aaron deu um riso curto. – É aquela época do ano. – comentou ele enquanto sua sogra se virava totalmente. Estava vestido com um lindo casaco preto que ressaltava sua pele alva como a neve do inverno que tiveram. Complementando usava uma blusa de botões branca com pequenos detalhes em costura vermelhos e uma calça jeans skinny preta. Seus sapatos eram vermelhos e o broche da escola estava estampado em seu casaco.

— Nem me fale. Ele fica tão agitado quando esse período chega. – e com um suspiro se apoiou na bancada da pia e bebericou seu chá. – Queria que ele fosse diferente. Mesmo com você ele não consegue ser mais... – ficou um momento a procurar a palavra certa e então disse, se contentando. -... humilde. – Aaron apenas deu de ombros cortando um pedaço de panqueca com o garfo. Assim que ia falar, Othello chegou com seu roupão aberto e calção amostra, parando no portal ricamente entalhado em madeira da cozinha.

Arfando, mostrou o celular para ele com a pagina da Gossip aberta. – Você sabe que dia é hoje?! – gritou ele com sua pergunta retórica. Observou seu namorado-futuro-marido indicando algo com os olhos à sua direita e parou para olhar. Ao ver que era sua mãe se empertigou e fechou o roupão. – Olá mãe. Tudo bem? – se adiantou para lhe abraçar. Não era sempre que sua mãe lhe fazia visitas e, como a amava, adorava quando as fazia e aproveitava-as sempre que podia. Observou Aaron dar risinhos enquanto mordia o pedaço e então Othello lhe mandou um sinal feio com a mão; isso fez o sorriso se aumentar. – Você está aqui! Ótimo, vamos aproveitar o dia juntos. – disse ele com um falso sorriso.

— Ué, mas hoje é o pri... – Aaron se deteve no meio da frase quando Othello lançou um olhar de advertência. E o conhecia bem demais para interpretar os sinais. – Bem, eu estarei lá em cima, escovando os dentes, caso precisem de mim. Foi um prazer lhe rever, Bela. – foi até a sogra e lhe beijou as bochechas, dando um abraço forte em seguida. Ela soltou um "igualmente" e então este se virou e se inclinou para dar um beijo breve nos lábios do amado. – Se acalma e vai se arrumar depois de falar com sua mãe. Não podemos sair muito tarde e você sabe. Estou te esperando.

Bela esperou o garoto sair para então falar com seu filho, apoiando suas mãos nos ombros dele. – Só estou aqui para lhe desejar um bom dia na escola. Não me tome por tola, pois não sou. Você pode enganar a todos com sua manipulação e seu jeitinho sonso, mas não a mim. Você saiu de mim e sei todos os seus segredos. Ainda mais por causa daquele blog. – ele deu uma empalidecida e ela sorriu para ele. – Isso é coisa da idade, imagino eu. Mas esse ano é diferente, está me ouvindo? Esse ano, vocês todos irão se formar e então estarão prontos para suas obrigações com seus devidos reinos. – ele engoliu em seco. Queria isso mais que nunca, mas agora que a realidade batia em sua porta sentia um frio em seu estômago. Como que sentindo isso, sua mãe abriu mais ainda seu famoso sorriso caloroso para ele. – Relaxe e concentre-se. Você vai se sair bem. Eu se seu pai temos fé em você. Eu devo ir agora, James está me esperando. – ela então lhe deu um beijo na bochecha em despedida e se encaminhou para a saída. Othello a acompanhou e viu a mesma abrir a grande porta de carvalho branca e descer os degraus de mármore. Seu motorista estava lhe esperando do lado de fora fumando. Quando a viu, apagou seu cigarro jogando-o ao chão e pisando. Abriu a porta para a mesma e ela entrou, parando para acenar brevemente antes. Ficou ainda para ver o motorista entrar na parte da frente da limusine e dar a volta na grande fonte que tinha na entrada da casa.

Othello então fechou a porta e subiu correndo as escadas para seu quarto, aonde Aaron desligava o telefone. - Gus ligou e falou que ele só está esperando a Izzy se arrumar para vir nos buscar. Aparentemente Phillip comprou um porsche para ele, em comemoração ao último ano. – Othello, na porta, levantou uma das sobrancelhas surpreso e Aaron falou enquanto ele se dirigia ao closet para escolher sua roupa – É. Também não sei como ele tive coragem de fazer isso. Gus não é lá o motorista mais atento.

— Nem o mais esperto. – disse Othello, sua voz abafada por estar dentro do closet. Dentro de alguns minutos escolheu sua roupa a contragosto e pressionado por Aaron e Izzy, mandando mensagens desesperada. Gus e Izzy já esperavam na porta. Os barulhos na parte de baixo da casa indicavam que a governanta havia acordado e outros indicavam que os empregados já haviam chegado. – Todos estão conspirando para que eu não fique lindamente pronto. – Aaron soltou um elogio, ignorado por Othello, que apenas suspirou exasperado.

Apesar de toda a correria, ele estava impecável. Colocara um perfume adocicado e estava com um blazer vermelho, ostentando a insígnia da escola. Sua calça skinny preta combinava com a blusa igualmente preta e para fechar vestia uma bota marrom da cor de seus cabelos, que dava um toque a mais. Satisfeito e para a satisfação de seu namorado, saíram de casa. O carro vermelho estava estacionado bem em frente à porta e Izzy e Gus acenavam frenéticos.

— Finalmente. Você ainda nem é Rainha e já está se atrasando. – disse Gus quando eles entraram no carro.

— Não seja estúpido, a realeza jamais se atrasa. Isso é o mínimo esperado de nós. Pontualidade. – disse Othello pondo o cinto assim que Gus arrancou com o carro.

— Aparentemente você falhou. - disse Izzy, provocando.

— Falha foi achar que esse batom rosa combina com sua saia azul. - disse Othello que se acomodava mais e apertava a lateral do carro. - Mas eu te amo mesmo assim.

— Pelos deuses, vai devagar! – reclamou Aaron enquanto Gus atravessava o portão mal aberto e derrapando pela pista principal a caminho da escola.

Rindo, Izzy provocou – Medroso. – mal disse isso, os celulares dos quatro apitaram com mensagens. Isso sempre era uma coisa ruim, pois indicava apenas uma coisa: - A gossip. – disse Izzy puxando seu celular, Aaron e Othello fazendo o mesmo. – Ela esteve fora as férias inteiras, realmente acreditei que ela havia parado.

— Isso por que você é estúpida. – disse Othello ainda focado na tela. Abriu a mensagem.

{Bom dia para todos vocês. Esse ano promete, pois indica que é o último ano da tirania do nosso famoso trio. Será que mais um trio irá aparecer entre os mais novos ou indicará tempo de paz para todos nós? Só digo uma coisa: comigo por perto, vocês nunca terão sossego. E esse ano não traz só a segurança de um próximo ano sem “O”,”G” e “I”, como também a chegada de sangue novo. Só sei que ficarei de olho quando a primeira bomba for lançada. Beijinhos, sua stalker favorita.}

— COMO É QUE É?! – gritou Othello pulando em seu assento, fazendo com que Gus quase batesse no carro da frente.

O dia de Cherry estava sendo bem bosta. Ela havia queimado sua torrada e derramado seu suco na camisa branca. E para piorar estava perdida em um dos corredores daquela imensa escola. As instruções dadas pela simpática recepcionista na área administrativa não estavam ajudando. Segurava seu horário com as aulas que deveria frequentar e o mapa da escola na frente, aberto. E era com ele que tentava se locomover, mas nos incontáveis corredores acabara se perdendo e não sabia mais onde estava. Já estava puta pois viu que ia ter que assistir uma aula de "reabilitação de jovens infratores". Que crime ela havia cometido?! Aquilo era simplesmente ultrajante. Isso, somado ao fato de aonde quer que olhasse via as mesmas pedras e o mesmo piso, não estava ajudando para que seu espirito ficasse melhor. Ajeitou seu casaco azul e pisou firme com suas botas pretas. As pessoas passavam olhando para ela de um jeito estranho e sussurrando enquanto estavam com os celulares abertos. Não sabia o que estava acontecendo, tendo em vista que se mudara para o complexo estudantil nas férias e ainda era nova no reino de Tessander. Além da escola, planejava fazer a faculdade que ficava do outro lado do território estudantil, para além da "cidade" de casas de estudantes e de lojinhas de comidas, cafés e restaurantes. Além de algumas lojas de roupas que jamais poderia pagar uma calcinha sequer. Sem rumo, decidiu perguntar para uma garota de cabelos roxos vivos. Viu que ela tinha o rosto mais simpático que vira o dia inteiro e decidiu investir. Porém ao fazer isso, um garoto com um cabelo parecendo mais uma juba castanho-escuro trombou com a mesma, fazendo seus papéis caírem todos por chão.

— Não vê aonde vai, novata? – disse ele em um rosnado. Impactada pela ferocidade gratuita, ela apenas se abaixou e pegou o que havia derrubado, não sem antes lançar um olhar mortal para ele com suas orbes escuras como a noite.

Porém, antes de se levantar ouviu passos e olhou para cima a tempo de ver a garota de cabelos lilás chegar e dar um tapa na cabeça do garoto. – Pare com essa marra, Dereck. Quem você pensa que é? Tentando se passar por um grande felino quando não passa de um gatinho acuado.

— Brianna. Bem que eu senti cheiro de peixe podre. – disse ele soltando um rosnado do fundo da garganta. Cherry finalmente se levantou e ia mostrar bons modos ao garoto quando ouviu uma voz atrás do trio.

— Pra que todos esse show logo de manhã? Não sabem que estão bloqueando a minha passagem? – disse um garoto magro e alto, com cabelos marrons bem claros que terminavam em um topete. Tinha uma pose austera e sua linguagem corporal indicava que estava acostumado a mandar. As outras duas figuras loiras, um de cada lado, eram igualmente impressionantes porém nem de tão longe tão chamativas. O garoto loiro era bem bonito, assim como o garoto que havia falado, de olhos castanhos, porém nem de longe tão austero, embora igualmente alto. E a terceira figura, uma garota loira de olhos azuis era igualmente bonita, porém era a menor dos três e a mais apagada igualmente. No todo eram um trio impressionante. Mas era necessário mais que isso para a assustar.

— E você quem é? – disse ela colocando as mãos na cintura e amassando os papeis ao fechar suas mãos em punhos.

— Problema – disse Brianna e o garoto em uníssono atrás dela.

O menino apenas riu e fez um gesto como quem afasta moscas. – Você deve ser a recém-chegada. Nada muito impressionante, devo admitir.

Antes que ela pudesse rebater, ouviu uma voz oriunda de trás do novo trio e, ao ver quem era, Cherry congelou. Era Aaron, seu primo. Ele chegou no garoto arrogante. – Amor, aqui. Esqueceu seu celular no carro. – então olhou para cima e reparou nos outros. Assim como Cherry, congelou no lugar. – Cherry?

— Aaron? – ela não sabia o que fazer, se deveria correr ou ficar. Sentiu tudo girando mas se concentrou em se manter em pé. E ele a havia reconhecido?! Ele sabia quem ela era? Isso não era bom.

— Vocês se conhecem? – perguntou o garoto loiro. – Isso não é possível, você é nova aqui. Ou não é?

— Somos meio-irmãos. – disse Aaron, fazendo com que a atmosfera do corredor desse uma mudada. Todos ficaram em silêncio e a tensão era tanta e o ar tão pesado que se tentasse poderia passar uma faca e cortá-lo. – Por parte de pai. – disse ele assumindo uma pose arrogante e uma mágoa passando visivelmente por seus olhos. Ela sentiu uma pressão na garganta e queria que tivesse um banheiro próximo para ela vomitar.

— Preciso sair daqui. – disse Cherry já se virando e indo passar entre Brianna e Dereck.

— Você não vai sair daqui. – disse Othello, se adiantando e segurando-a pelo braço. – Você vai ficar e vai me contar isso direitinho. Como assim irmã do meu namorado?