— Você não vai sair daqui – disse Othello, se adiantando e segurando-a pelo braço. – Você vai ficar e vai me contar isso direitinho. Como assim irmã do meu namorado?

Ela semicerrou os olhos para o garoto quando virou a cabeça em sua direção. – Me solte. Quem você pensa que é para me manter aqui? – ela o desafiou.

Uma faísca de ódio passando por seus olhos. Com um puxão livrou seu braço e se virou totalmente para ele, sustentando o olhar.

— Você não se toca mesmo, né? Eu já disse que sou o namorado dele. Tudo que diz respeito à família dele me diz respeito. Até porque, vamos nos casar. Todos sabem disso. – disse ele irritado e cruzando os braços. Em seguida levantou a cabeça em ar de superioridade.

Ela deu um riso de deboche, não podia acreditar no que tinha ouvido. – Como você é deprimente, né? Fica planejando o futuro desde já, quando não sabe nem sobre o dia de amanhã. Poupe-me. E mesmo que ele seja seu namorado, qualquer que seja o assunto, ele tem que ser resolvido entre mim e ele. Não é um namorado histérico e que acha ser superior às pessoas, mas na verdade não é melhor que ninguém, que irá se interpor nisso. Inclusive é inferior. – jogou tudo isso em um fôlego só enquanto se aproximava um pouco mais do garoto.

Othello fechou tanto a cara e ficou tão irritado que seu rosto começou a ficar roxo. Cerrou as mãos em punhos ao abaixar os braços ao lado do corpo. Tentava se controlar mas não conseguia e então os armários de ambos os lados das paredes começaram a abrir e a fechar, fazendo vários estrondos que preenchiam toda a extensão do corredor e inclusive invadia as salas que haviam nele. Fechou os olhos enquanto os materiais e pertences dos donos dos armários caíam ao chão; queria, mas não conseguia mais controlar. Aquela garota escrota havia deixado-o fora de si.

Ela arregalou os olhos sobre o que estava acontecendo e sentiu alguém lhe puxando e falando consigo para saírem dali. Era Brianna e ouviu o garoto atrás dela – Dereck? – murmurar algo. A loira estava entrando em pânico e Aaron estava se aproximando de seu namorado agitadíssimo, pondo a mão em seu ombro. Estranhamente, enquanto observava a cena, viu que o menino loiro era o único estranhamente calmo. Ele se adiantou e colocou a mão no ombro do menino descontrolado, antes removendo a de Aaron. Se concentrou, fechando os olhos, e murmurando algumas palavras ao se inclinar mais para perto de Othello, bem em seu ouvido. Aos poucos os armários pararam de bater e tudo voltou a ficar calmo novamente. Uma pequena multidão se assomava atrás do grupo, tentando ver o que se passava.

O loiro então se virou para cherry e o olhar que recebeu não foi dos muito amigáveis. Ela tinha retraído alguns passos, devido a toda confusão, de modo que o loiro se interpôs entre o amigo e ela. Ele fitou bem fundo nos olhos da morena e algo nele indicou a ela que ele era mais do que aparentava. Por ter crescido na ilha junto com outros delinquentes, ela sabia reconhecer maldade e crueldade quando via; até pelo fato de ter convivido todos os dias com sua mãe. E aquele garoto, através do olhar, transmitiu exatamente isso a ela. – Não se aproxime mais de nós. Iremos ignorar tudo o que aconteceu aqui hoje e você deveria fazer o mesmo. Eu posso te garantir que não fará bem para a sua saúde ficar no nosso caminho de novo. Principalmente no meu. – ele falou baixo e bem próximo dela, de modo que ela era a única a ouvi-o. E com essa ameaça velada, ele abriu um sorriso e seu olhar passou a ser jovial e aéreo. – Vamos, gente. – ele disse se virando e levando Othello, com Izzy atrás dele e Aaron na frente, furando a multidão, que agora começava a se dispersar.

Um barulho de vários bipes de celular tocou, menos de Cherry. Ela observou enquanto todos do corredor abriam a tela de seus celulares. Ela se virou para Brianne e, vendo que ela estava com o celular em mãos, correu para perto para ver o que havia acontecido. Na tela do aparelho estava um blast da Gossip. Uma foto de Othello segurando a mão de Cherry, enquanto ela olhava desafiadoramente para ele e a seguinte mensagem {Ora ora, se não é que este dia realmente começou bem. Como sempre, minhas previsões estão corretíssimas e a primeira bomba não demorou a cair, servida por ninguém menos que a nossa querida novata. Para quem não soube ou perdeu o que aconteceu agorinha mesmo, nossa querida Bombshell é nada mais, nada menos, que a irmã de nosso querido "A". O que será que isso vai acarretar para o relacionamento dos dois pombinhos? Só sei de uma coisa: Esse ano começou melhor do que eu poderia pedir. Beijinhos da sua stalker favorita.}

Cherry se virou para ver a reação das pessoas, percebendo então que todos a encaravam. A morena então se virou para Brianna, que estendeu a mão para ela e disse – Venha comigo. Eu te ajudo a chegar aonde estava querendo desde o inicio. – passando uma de suas mãos pelo braço da menina, começou a caminhar com ela. Com a livre pegou o horário dela. – Olha que sorte! Sua primeira aula é comigo. Ciências Biológicas. E uma coisa, é melhor esquecer isso que aconteceu aqui. Mas, caso não queira, fale comigo. Você pode ser uma aliada especial, depois disso. – disse ela sorrindo para Cherry, que apenas olhou para ela sem entender e preferiu não se pronunciar no momento, deixando-se ser conduzida pela outra.

— Inicio da tarde do mesmo dia –

Gus havia deixado Izzy em sua casa e agora ia até a casa de Othello. Este pedira para ele dormir lá, para ajuda-lo a ficar calmo. Suas habilidades relaxantes eram bastante estimadas pelo amigo, que sempre procurava o manter por perto. Isso somado ao fato de Aaron estar sempre ao seu lado, lhe dava um pouco de paz de espírito. E só ele sabia o quanto precisava para enfrentar aquela Gossip e as pessoas que querem o ver falhar, pois o temem e o odeiam.

Depois de deixar o carro frente à casa para que um dos criados estacionasse na parte de trás, os três entraram. Othello disse que iria tomar um banho e Gus prometeu que faria logo após uma massagem nele para que pudesse ficar mais relaxado. Então, ambos Aaron e Gus esperaram por ele na sala.

Depois de alguns minutos, Othello saiu do banho só de roupão e colocou apenas uma calça de moletom. Podia sentir que iria fazer frio naquela madrugada e só não botou a parte de cima pois Gus disse que iria lhe fazer a massagem. E a massagem de Gus era tudo de bom. Desceu as escadas para a sala, porém se deteve quando do silêncio começou a ouvir as vozes de Aaron e Gus. Como era curioso e enxerido por natureza, ele decidiu se esconder colado a parede que se entendia para a cozinha, do lado do portal da porta da sala.

— Você não me engana, já disse. – disse Aaron. Apesar da voz descontraída, ele sentiu um tom acusatório.

— Como assim? Do que você está falando? – rebateu Gus de imediato. Na dele havia apenas um desinteresse, habitual de sempre.

— Você, agindo ai como se fosse inocente e idiota, quando na verdade você sabe bastante coisa. – disse Aaron. Pela aproximação da voz, percebeu que havia se levantado. – Você é bem inteligente e está manipulando todos. Mas a mim você não engana. O que você acha de todos da escola souberem do seu segredinho?

— Ah agora você quer falar de manipulação né, senhor santinho? – disse Gus. Sua voz havia mudado; Othello percebeu que soou mais fria, como se fosse um sibilo. Isso o assustou, pois nunca tinha ouvido Gus assim. – Me pergunto o que o seu querido namorado faria se soubesse que você...

— Calado! – Aaron elevou a voz e ele ouviu barulho de passos ficando próximos, porém pararem. – E esse ele te ouvir?

— Eu não ligo. Já ta na hora de ele saber não acha? – disse Gus e ouviu o som de algo pesado sendo levemente arrastado para trás – a poltrona da sala – e passos em seguida. A voz de Gus agora estava mais perto e tão baixa e grave que ele achou que fosse outra pessoa falando. – Se você acha que pode me ameaçar, Aaron, você está muito enganado. É melhor você ficar de olhos bem abertos. – ouviu então o som de algo como que sendo levemente amassado; um som leve. – Você ta me entendendo? – não ouviu mais nada e então o mesmo som. Passos se seguiram, vários e então outros. – Sente-se no sofá ai e finja que nada aconteceu. Não quer botar em risco seu relacionamento né, queridinho? – mais sons de passos e algo fazendo um barulho abafado. – Ótimo. E não se esqueça. Você está aqui. – Gus terminou e então sons de palmas foram ouvidas.

Othello suspirou e fechou os olhos. O que tinha acabado de ouvir? Gus não era aquilo que ele se mostrava, claramente. Esse tempo todo ele estava sendo enganado pelo amigo?! Logo ele?! Se é que ele podia o chamar de amigo agora. O que ele deve ter contado para a Gossip! E que segredo havia? E pior, Gus conseguira enganar a todos esse tempo todo. O quão perigoso ele era?! Mas decidiu deixar os pensamentos de lado e se concentrou o máximo que pode em fazer uma cara neutra. Se afastou da parede e veio andando novamente, dessa vez passando pelo portal, indo para a sala. Observou Gus olhar para cima e sorrir para ele; se ele percebeu o que Othello tentava conter, não demonstrou. Aaron também sorriu, porém foi um sorriso amarelado. Guardou sua raiva. "O que ele fez para mim? Por que isso vai ameaçar nosso relacionamento?" Pensou enquanto parava com seu roupão fechado no meio da sala. – E ai vadia fleia – começou se virando para a Gus. – quero minha massagem. Pra agora.

— Mais ou menos mesmo momento, apartamento de Cherry –

Cherry estava sentada em sua sala que não era tão grande, olhando para o quadro branco trazido por Brianna. Ocupava quase todo o aposento e ela estava preocupada com os arranhões que o cavalete de madeira poderia trazer. Mas apesar da apreensão que sentia pelo seu piso, ficava calada enquanto a garota contava seu plano. Mais cedo na escola, Cherry havia ficado intrigada com a proposta da garota. Durante a aula de Ciências Biológicas, dissecando um rato, a garota de lilás havia contado para ela como os três, Othello, Gus e Izzy, havia reinado na escola, humilhando todos e fazendo com que todos tivessem ódio e medo deles. Ela explicou que no caso dela era mais ódio. E disse que um dia alguém iria fazê-los pagar. Elas trocaram contato e a morena ofereceu para que ela passasse em sua casa mais tarde. Aparentemente tinha feito uma amiga e queria preservar tal amizade. Pois pelo jeito a coisa ficaria assim durante um bom tempo.

Quando Brianna ligou, avisando que ia para lá (pois assim era melhor para conversarem), ela não entendeu muito bem. Porém, quando viu que a garota trazia o cavalete, ficou mais perdida do que nunca. Mas enquanto ouvia a explicação, seus gráficos e exemplificações, começava a ter uma noção do que a amiga queria. Mas ela quis ter a certeza antes de tirar qualquer conclusão precipitada que fosse.

— Espere um pouco, deixe-me entender direito. Você ta querendo me dizer que a gente precisa fazer isso tudo. Pra que? Só pra humilhar eles? – perguntou Cherry, se inclinando no sofá em seus pijamas.

Brianna então parou de escrever no ato, enquanto a ouvia falar. Virou-se para ela e inclinou a cabeça para o lado. – Só humilhar? Querida, não. – ela deu uma risada curta e seca e então seu semblante ficou sério e olhou com intensidade para ela. – Nós vamos destruí-los. Um por um. Até não sobrar nada.