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Capítulo 08 - Eu não queria te machucar


Você pode me perdoar de novo? Eu não sei o que eu disse, mas não queria te machucar

Rose Hathaway

Eu movi meus globos oculares, com as pálpebras ainda fechadas enquanto voltava lentamente à consciência. Eu sentia todos os membros do meu corpo pesados e era difícil me mover, ao longe, eu ouvia o som de um monitor cardíaco soar.

Outra vez não! Eu não aguento mais!

Eu abri os olhos devagar, observando mais uma vez o quarto do hospital. Por que eu não podia simplesmente morrer!? Virei meu rosto ainda me sentindo atordoada, meus sinais vitais estavam exibidos no monitor cardíaco. Eu respirei fundo me preparando para me levantar, e, não sei, talvez conversar com um fantasma.

— Bem vinda de volta — meus batimentos aceleram ao ouvir a voz de Dimitri.

Eu virei meu rosto para o outro lado, o encontrando sentado em uma poltrona ao lado da cama, sorrindo abertamente ao me observar.

Isso quer dizer que voltei.

— Hey, se acalme — ele pediu, trazendo a poltrona para mais perto — está tudo bem, você está bem.

Eu continuava perplexa, o observando boquiaberta. Isso está mesmo acontecendo? Eu estou viva?

Quero dizer, viva em meu corpo?

— Rose, você está bem? — ele franziu o cenho ao ver que eu não falava nada.

— Você... — minha voz saiu rouca e lenta, me fazendo tossir antes de voltar a falar — você está me vendo?

A expressão no rosto de Dimitri foi substituída por confusão, enquanto olhava em meus olhos sem saber exatamente o que eu queria dizer, até que seu semblante caiu, o fazendo suspirar.

— Rose, eu sei que nossos últimos encontros foram péssimos. Eu sinto muito — ele começou, acionando o controle da cama, inclinando-a para que eu ficasse em uma posição mais confortável — eu estava errado e sei que tenho muito para te dizer.

Eu levei alguns segundos para compreender o que se passava em sua mente. Eu sabia a que ele se referia, e poderia até interrompê-lo, mas a curiosidade em saber se ele manteria suas palavras agora que estou fora de perigo, falou mais alto.

— O que você quer dizer?

— Eu errei, eu errei desde o início com você. — ele declarou olhando em meus olhos — Eu menti quando falei que meu amor tinha acabado.

— Mas…

— Eu nunca deixei de te amar, Rose. O meu amor por você não poderia desaparecer desse jeito. Eu te amei todos os dias e esse amor me sufocava e me machucava por saber que eu não era digno dele. Eu continuo não sendo.

Eu me segurei para não interrompê-lo, eu queria saber onde ele chegaria com todo esse discurso. Então permaneci em silêncio, o observando.

— E a prova disso é o quanto eu a machuquei. — ele suspirou com um olhar de arrependimento — Você não merecia nenhuma daquelas palavras, e eu quase permiti que você partisse acreditando que aquilo era verdade.

— Todos cometeram erros, eu também os cometi — eu balbuciei.

— Mas você não quebrou sua promessa! Nunca desistiu de mim, mesmo com todos os motivos para isso.

Eu podia ver a agonia estampada em seu rosto, mas sabia que aquela conversa era necessária para nós dois. Se ainda houvesse alguma chance para nós, precisávamos esclarecer tudo, não podíamos deixar nada de fora.

— Eu prometi a mim mesmo que nunca mais te magoaria.

— Então por que você magoou? — eu perguntei com um fiapo de voz.

— Porque eu fui egoísta, eu estava tão focado em minha própria dor e culpa, que não conseguia enxergar nada além daquilo, e me transformei em uma pessoa egoísta e injusta.

Eu não pude mais conter minhas lágrimas, as deixando cair livremente pelo meu rosto. Se dependesse de mim, eu poderia enterrar aquele assunto de vez, mas eu sabia que não era tão simples.

— Eu não sei se você um dia será capaz de me perdoar por tudo o que eu te fiz, mas…

— Eu ouvi.

— O que?

— Durante o tempo que estive desacordada, eu ouvia tudo o que diziam — decidi ocultar parte de minha experiência extra corpórea naquele momento.

Ele me encarou descrente, parecendo não compreender o que estava falando. Eu respirei fundo, pensando sobre o que eu poderia falar.

— Eu sei que você passou todos esses dias aqui comigo, que você não queria se despedir. E eu sei que eu voltei porque você me pediu, e que eu não deixei de te amar.

Dimitri fechou os olhos por um momento, respirando fundo antes de voltar a abri-los, me surpreendendo com seu olhar marejado.

— Eu não mereço nada disso.

— E ainda assim, você tem. A questão, é o que você vai fazer a respeito.

Ele franziu o cenho, parecendo confuso com minha última declaração.

— Eu ouvi o que você falou, e eu entendo como você se sentiu — eu lutei para manter minha voz firme — eu sinto muito por ter te pressionado e não ter sido capaz de te ajudar como você merecia.

— Não foi culpa sua!

Dimitri se apressou em dizer, como se a qualquer momento eu pudesse voltar para o coma.

— E nem sua! Dimitri, tudo pelo que você se culpa não estava no seu controle. Não era você!

— Mas eu me lembro de cada detalhe, Rose. Eu teria te matado, eu teria te transformado — ele soltou com repulsa.

— Aquela coisa não era você, você nunca faria mal a mim, ou a qualquer outra pessoa. Eu te conheço melhor que ninguém, você me disse isso!

— Eu quase acabei com a sua vida — ele devolveu em pura agonia — olha onde eu te trouxe!

— Você me trouxe de volta! O que aconteceu, a forma como eu me senti envolvia muito mais do que nós dois e você sabe, você já viu isso.

Toda a frustração e agitação que tomou conta de mim fez o monitor cardíaco disparar, Dimitri se apressou em tentar me acalmar.

— Eu vou chamar um médico — ele decidiu.

— Não, eu estou bem!

— Eu devia ter chamado ele assim que você acordou — Dimitri negou com a cabeça, se levantando.

— Quando souberem que eu acordei, nós não teremos mais um minuto de paz, por favor. Vamos resolver tudo, por favor — eu supliquei.

Um pouco relutante, ele voltou a se sentar.

— Se o seu coração…

— Eu vou ficar calma, eu prometo!

— Você estava ouvindo tudo? — ele decidiu outra abordagem.

— Cada palavra, no começo eu estava cercada por uma escuridão tão forte que eu não conseguia me imaginar voltando, mas…

— Eu entendo, você não precisa falar — Dimitri segurou minha mão, olhando com ansiedade para o monitor cardíaco.

— Você me trouxe de volta — eu afirmei.

Um sorriso mínimo ameaçou chegar em seus lábios, mas logo ele voltou a ficar sério.

— Eu vou compensar meus erros, Rose — ele declarou com determinação — Mesmo que meu novo lugar na sua vida seja apenas como seu amigo, eu vou te compensar e…

Amigo? Do que ele está falando? Pensei que ele me amasse!

— Mas você disse que me ama — eu balbuciei, perdendo um pouco a cor.

— Mas você e o Ivashkov…

Adrian e eu… Aquilo era outra coisa que eu precisava consertar, eu nunca pensei que minha vida pudesse se tornar uma bagunça tão grande.

— Eu e ele…— eu balancei a cabeça negativamente.

— Rose, por favor, não. Eu não posso mudar o passado, mas posso agir de maneira decente de agora em diante. Eu nunca te pediria para fazer isso por mim!

— Eu não faço por você, eu faço por mim, e principalmente por ele — eu respirei fundo — ele merece mais do que estar com alguém que está apaixonada por outra pessoa.

Ele permaneceu em silêncio, ponderando tudo o que tinha acabado de falar.

— Eu amo você Dimitri, mas eu entendi que não posso te obrigar a ficar comigo se você não quiser. Não pense que está fazendo isso por um bem maior, porque eu quero ficar com você, mas apenas se você for capaz de superar o que aconteceu e não deixar o seu passado governar o seu futuro — eu suspirei, desviando meu olhar para minhas mãos.

Eu vi seu rosto ficar tenso, e soube que eu deveria dar um tempo para que ele absorvesse tudo aquilo.

— Eu acho que estou pronta para ver o médico agora.