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Capítulo 09 - Eu vou fazer com que tudo fique bem


Algum dia, de alguma maneira eu vou fazer com que tudo fique bem, mas não agora.

Rose Hathaway

— Você passou por muita coisa, guardiã Hathaway. Deve descansar o máximo que puder — o médico declarou após me examinar.

Ele tinha pedido para que Dimitri saísse enquanto me examinava, e ele foi, com a promessa de que retornaria mais tarde.

Eu ainda sentia dor, muita dor em todo o meu corpo, o que não era a toa, eu fiquei sabendo que já haviam se passado quatro dias desde a cirurgia, e me sentia curiosa por tudo o que aconteceu naquele período.

Um pouco a contragosto, eu convenci o jovem médico a me arrumar um espelho, para que eu pudesse ver todo o estrago causado em meu rosto. Eu estava observando o lado raspado de minha cabeça onde um corte feio foi suturado. A porta foi aberta, fazendo eu erguer o olhar, vendo Adrian entrar.

Eu me senti um pouco agitada, só de pensar em tudo o que teríamos para conversar naquele momento. Mas eu não poderia adiar aquela conversa nem sequer por um minuto.

— Se minha opinião ainda conta, eu gostei do novo corte de cabelo — ele zombou.

Eu me senti bem por vê-lo sóbrio e sorrindo,nas últimas vezes ele sempre esteve embriagado e péssimo. As últimas vezes. Se ele pudesse ouvir tudo o que disse a ele quando era um fantasma.

— Oi — eu forcei um sorriso.

— Estou tão feliz em te ver acordada, Dampirinha — ele se aproximou, depositando um beijo suave em minha testa — eu posso curar isso se você quiser.

Ele indicou a sutura em minha testa. Eu levei meus dedos até o corte, sentindo o local dolorido.

— Não, eu… eu prefiro não me envolver com nenhuma magia do espírito. Pelo menos não por enquanto.

Ele não evitou rir, se sentando na poltrona que Dimitri colocou ao lado de minha cama. Ele segurou minha mão — a que não estava engessada — a levando até os lábios.

— Você não está bêbado.

— Eu queria estar sóbrio para te ver, os médicos te tiraram da sedação ontem, então eu me preparei — ele voltou a beijar minha mão, eu fico tão feliz em ter você de volta, Rose. Você nos assustou.

Aquela pequena demonstração de carinho trouxe lágrimas aos meus olhos, antes que pudesse controlar, um soluço sentido escapou por meus lábios, fazendo com que eu me sentisse patética por me expor tanto assim para ele. Eu nunca permiti que ninguém visse minhas lágrimas, e agora não consigo parar de chorar.

— Rose, o que foi? Está sentindo dor? — Adrian arregalou os olhos.

— Eu sinto muito, por tudo o que fiz — eu retirei minha mão de seu alcance, limpando as lágrimas de meu rosto, procurando me controlar.

Ele compreendeu a que eu me referia, respirando fundo antes de alcançar minha mão novamente.

— Rose, não foi sua culpa. Se você tivesse visto a sua aura nos primeiros dias. Eu nunca vi nada tão denso e obscuro. Por um momento eu realmente temi que você fosse se entregar — ele desviou o olhar — cada vez que eu vinha te visitar, eu perdia mais a esperança.

— Eu percebi, você quase não aparecia sóbrio.

— O quê?

Ele franziu o cenho,e encarando com uma expressão confusa, fazendo com que percebesse meu deslize. Eu me senti perdida por um momento, mas se tem alguém que deve ser capaz de compreender o que eu passei, era ele.

— Você nos ouvia? Sei que às vezes isso pode acontecer, mas…

— Não só ouvia, eu também via a todos — eu admiti — nos últimos dias era como se eu fosse um fantasma, eu estava vendo e ouvindo tudo.

Ele piscou atordoado com a informação.

— Então você sabe de tudo o que aconteceu? Quem te visitou, quem falou com você, sobre Tia Tatiana.

— Sim, eu sei o que aconteceu, eu sinto muito.

Eu sei inclusive quem a matou, mas preferi manter aquela informação para mim no momento.

— Não importa, o importante agora é que você está bem, e está livre daquela escuridão — ele forçou um sorriso.

— Eu pensei que não fosse conseguir. Eu tinha desistido — eu balbuciei, me abrindo com aquele que esteve ao meu lado por tanto tempo — eu estava me despedindo de vocês, eu… eu sinto muito.

Ele respirou fundo, antes de levar minha mão até os lábios de novo, parecendo sem saber o que falar a seguir.

— O que te fez voltar, então? — ele questionou.

Meu olhar foi atraído para a janela de observação do quarto, onde Dimitri tinha surgido, ele se interrompeu ao notar que eu estava acompanhada, e logo se afastou, nos deixando para resolver toda a nossa situação.

— Ele pediu, não foi? — A voz de Adrian chamou minha atenção, me fazendo notar que ele tinha seguido o meu olhar.

— Eu sinto muito.

Foi a única resposta que consegui dar. O rapaz se levantou, se afastando até a janela do quarto, observando o movimento do lado de fora do hospital.

— Eu acho que sei o que vem a seguir — ele declarou ainda sem me olhar.

— Adrian, eu sinto muito. Eu amo você, de verdade, mas…

— Mas não me ama tanto quanto ama ele — ele completou.

— É diferente, Dimitri e eu… O que eu sinto…

Eu não sabia como começar a me explicar para o moroi, e eu devia a ele pelo menos isso.

— Dimitri não importa agora, o que importa é que eu realmente amo você Adrian, você precisa acreditar em mim, eu faria tudo por você. Mas eu não estou apaixonada por você, e você merece mais do que isso. Você é tão gentil, leal, e merece mais do que eu posso te dar, merece o pacote completo.

— O pacote completo... — ele desdenhou antes de se virar completamente furioso —Rose, eu amo você, eu fiz de tudo por você, te entreguei tudo, e mesmo assim não foi o suficiente!

Eu me surpreendi com sua explosão, dando um pequeno salto na cama, fazendo meu corpo doer. Eu não esperava aquela reação, mas creio que ele estava em seu direito. Seu olhar se prendeu no meu por um segundo, antes dele balançar a cabeça e voltar para a janela, respirando fundo.

— Eu sinto muito, Adrian. Eu acreditei de verdade que conseguiria superar e me entregar a você por completo — eu decidi quebrar o silêncio após alguns minutos.

Meus olhos estavam marejados e eu tive que me esforçar para manter a voz firme, mas eu me recusava a chorar mais uma vez. Aquela declaração fez com que o moroi se virasse para mim, suspirando resignado antes de voltar a se aproximar.

— Me desculpe, eu não devia ter reagido assim. E a culpa não foi só sua, eu… eu sabia que você não tinha superado, sabia que não estava pronta pra isso... Você estava frágil. Mas eu pensei que poderia ajudar.

— Eu não quero que você me odeie.

— Eu não a odeio! Rose, eu não vou mentir e falar que não estou magoado, mas eu estou feliz que você esteja aqui, e bem — ele voltou a segurar minha mão — nós vamos superar o que aconteceu.

— Nós vamos ficar bem?

— Bom, eu vou precisar de um tempo sozinho, com algumas garrafas de whisky, conhaque, e qualquer outro destilado.

Ele parou, reconsiderou por um momento, antes de voltar a falar.

— Menos Vodka, eu não quero nada que me lembre a Rússia no momento.

Não pude evitar de rir diante daquela declaração, sentindo uma pontada do lado superior esquerdo do meu abdômen. Eu arfei, me encolhendo um pouco.

— Cuidado, você caiu de uma boa altura e fez uma cirurgia, não deve fazer nenhum esforço.

— Eu quero ficar bem com você — eu retomei o assunto anterior.

— E nós vamos, com o tempo — ele garantiu, beijando minha mão — agora, eu vou dar um tempo para todas as outras pessoas que estão loucas para te ver.

Eu suspirei, não muito animada com aquela possibilidade, eu me sentia envergonhada por tudo o que aconteceu e não estava ansiosa para encarar a todos.

— Eu tenho muito a explicar, não é?

— Não, você só precisa se preocupar com a sua recuperação, o resto, deixa pra depois — ele garantiu se levantando — Não se preocupe com Isso.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.