Say Something

Capítulo 05 - Eu Sou Apenas Um Homem


O que eu daria para passar os dedos pelo seu cabelo, Para tocar seus lábios, te abraçar forte. Quando fizer suas preces, tente entender, eu sou apenas um homem, cometi erros.


Tinha adormecido mais uma vez na poltrona do quarto de Rose. Era o quinto dia que eu não sabia o que era dormir em uma cama de verdade. Abe Mazur havia começado sua própria investigação sobre o assassinato da rainha Tatiana, mas ainda não tínhamos nenhuma pista sobre o culpado.

Eu despertei quando a porta do quarto foi aberta e Lissa entrou. Eu não a via desde a última visita de Adrian. Ele vinha sempre e cada vez, parecia estar mais bêbado. O tom que ele sempre usava para falar com Rose me incomodava. A pior parte, é que eu sabia que não tinha nenhum direito de me sentir daquela maneira. Ele era o namorado dela, ele é quem deve apoiá-la e sempre estar ao seu lado falando as coisas que ela merece ouvir. Quanto a mim, me resta o arrependimento.

— Desculpe, eu te acordei? — Lissa mordeu o lábio inferior ao notar minha movimentação enquanto eu me ajeitava na poltrona.

— Não foi nada — eu olhei pela janela tentando me situar, notando o sol alto no céu — Você não deveria estar dormindo?

— Esse foi o único momento que encontrei para vir — ela se justificou — toda essa história de funeral está tomando meu tempo. Todos querem me ensinar protocolos e como eu devo me comportar. É exaustivo.

— Eu imagino — concordei notando leves olheiras sobre seus olhos cor de jade.

Ela caminhou até a cama, respirando fundo ao olhar para a amiga.

— Eu odeio vê-la dessa maneira — ela suspirou colocando algo na mão de Rose.

— O que é isso?

— Um anel encantado com o espírito — ela explicou levando uma mão até seu rosto, fazendo com que alguns hematomas desaparecessem — eu tenho tentado criar um encantamento mais forte para ajudá-la com a escuridão. Mas não estou conseguindo. Pelo menos eu sei que esse anel vai aliviar as coisas pra ela.

Eu acenei em concordância entendendo o que estava acontecendo ali. Lissa ainda não tinha total domínio do espírito, então fazer algo fora de seus conhecimentos geralmente requeria muito estudo. Seu tempo livre deve estar dividido entre se ocupar com o funeral e tentar encontrar uma solução para os problemas da amiga.

— Eu tento curá-la um pouco cada vez que venho aqui — ela suspirou — estou indo devagar, para não sobrecarregá-la com mais escuridão.

— Você precisa descansar — eu me levantei.

— Você também precisa — ela devolveu.

— Eu não...

— Eu soube que a Janine desembarcou há pouco, eu aposto que ela vem direto para cá — ela me interrompeu — por que você não dá um tempo para ela e tenta dormir um pouco em sua cama?

Eu pensei por um momento antes de aceitar sua sugestão. Lissa tinha razão, a guardiã Hathaway certamente gostaria de um momento a sós com sua filha. E eu também estava precisando de um banho. A acompanhei quando ela decidiu partir e nós cruzamos com a guardiã Hathaway no corredor. Eu me dirigi direto para meu quarto após deixar Lissa na entrada de seu dormitório. Segui meu plano de tomar um banho e dormi algumas horas antes de acordar com o toque do telefone do meu quarto.

Já estávamos quase no fim da manhã e eu me sentia desnorteado após checar o horário antes de levar o aparelho até o ouvido.

— Belikov...

— Sr Belikov? — uma voz feminina soou do outro lado — aqui é do hospital...

— O que aconteceu? — senti meu coração disparar em meu peito.

— O quadro da guardiã Rose Hathaway piorou consideravelmente. Ela teve uma parada cardíaca — ela disse as palavras que eu tanto temia — nós conseguimos reanimá-la, mas...

— Eu chego em alguns minutos — eu avisei antes de encerrar a chamada.

Eu não podia acreditar. Aquilo tinha que ser um pesadelo. Eu não posso realmente perdê-la. Eu preciso de uma chance para pedir seu perdão. Eu vinha evitando seguir por aquele caminho e até falar qualquer coisa para ela, ao contrário de seus outros visitantes. Eu não me sentia pronto para me despedir e no fundo de minha mente eu sabia que ela partiria assim que eu pedisse perdão.

Mas agora não poderia mais fugir daquilo. Eu não poderia deixar que ela se fosse sem saber de meus verdadeiros sentimentos.

Eu segui apressado por todo o caminho, tentando chegar rápido ao hospital, me surpreendendo ao encontrar Tasha saindo de lá.

— Dimka? — Ela me segurou, impedindo que eu continuasse.

— Tasha, sinto muito mas...

— É sobre a Rose, não é? — ela suspirou passando a me acompanhar.

— Como você sabe?— eu franzi o cenho.

— Eu estava com ela, foi horrível — ela gemeu — de uma hora pra outra o monitor cardíaco parou, e um monte de médicos invadiram o quarto...

Ela estava lá? E por que estava indo embora?

— Conseguiram reanimá-la. — eu murmurei seguindo pelos corredores — eu não vou mais sair de lá.

Tasha segurou meu braço, impedindo que eu continuasse. Eu lhe lancei um olhar confuso esperando que ela dissesse logo o que queria. Ela não percebe que estou com pressa?

— Dimka, o que você está fazendo não é saudável — ela suspirou — estou preocupada com você.

— O que você espera que eu faça, Tasha? — eu questionei — é a Rose ali!

— Eu sei, mas você já pensou que talvez seja melhor para ela deixá-la ir? — ela declarou olhando em meus olhos.

— Como? — eu não podia acreditar no que estava ouvindo.

— Dimka, tudo o que ela vai enfrentar se voltar... As acusações — ela suspirou — ela não merece passar por isso.

— Então ela merece morrer? — eu rosnei.

— Ninguém acreditará nela...

— Não Natasha, a única que parece não acreditar nela é você — eu dei alguns passos para longe, recebendo um olhar magoado como resposta — eu nunca a abandonaria.

Dei as costas a deixando para trás, me sentindo desconfiado de sua atitude, ela sempre agiu como se gostasse da Rose e ultimamente tem sido tão indiferente, como se estivesse satisfeita com todo aquele desfecho. Eu encontrei uma enfermeira no quarto monitorando Rose. Ela pareceu aliviada ao me ver ali.

— Sr Belikov, ela será levada para a cirurgia em alguns minutos.

— Cirurgia, por que!? — Eu me aproximei da garota a notando mais pálida.

— Um rompimento no baço — ela explicou.

— Ela ficará bem?

— Eu vou te dar um tempo sozinho com ela — a enfermeira suspirou, confirmando meus medos.

Essa poderia ser a minha última oportunidade de pedir perdão a ela, de dizer o quanto eu estava errado e deixar que ela soubesse o que eu sentia.

E eu tinha que aproveitar.