Save You

Capítulo 1


Flashback

15 anos atrás...

Eu estudava na Jefferson’s High School. A única escola de Beaufort. Estudei lá desde o fundamental. Com isso, consegui conquistar toda a minha fama que eu tenho hoje. Tenho 18 anos e estou terminando o ensino médio.

Meu pai é um médico cardiologista respeitado na pequena cidade de Beaufort. Minha mãe não trabalhava.

Já há algum tempo eles se separaram, e eu decidi ficar com minha mãe. Por puro desprezo do meu pai. Ele nunca se preocupou comigo e nem com minha mãe. Simplesmente pagava a pensão porque era obrigado.

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Após um pequeno acidente com um menino lá da escola, em que eu machuquei minha perna e ainda levei a culpa, fui obrigado a participar de uma peça da escola. E na qual estava Jamie Sullivan. Ela ficou com o papel da cantora misteriosa, e eu fiquei com o papel principal.

- Eu não acho que eu seria adequado para o papel principal, professora..

- Você não tem que achar nada, Landon. O diretor me deu a liberdade de te colocar aonde eu quisesse.

- Mas que merda! – falei para mim mesmo.

- O que você disse, Carter?

- Nada não professora.

Alguns alunos riram.

- Agora que os papéis estão selecionados, vamos passar as falas.

Ao final do ensaio, a professora pediu para que formássemos grupos ou duplas para ensaiar.

Bufei.

Com quem eu poderia ensaiar?

Fui para a saída. Eric viria me buscar, mas ele ainda não havia chegado. Os alunos já se distanciavam.

- Landon. – ouvi alguém me chamar.

Me virei para ver quem era.

- Fala. – disse, áspero.

- Eu...vi que você não se juntou com ninguém para ensaiar...

- E daí?

- Eu queria saber se você precisa de ajuda. – falou ela sem se alterar com a minha falta de sensibilidade.

- Eu não preciso de ajuda. E muito menos da sua, Jamie.

- Tenho certeza que sim. Mas, enquanto você não percebe isso, vou estar à disposição. Tchau Landon. – disse se retirando.

- Eu não preciso da sua caridade... – gritei para ela me escutar.

Ela nem se virou, continuou andando normalmente para o estacionamento. Olhei para a estrada e nada do Éric vir me buscar. Ah mas aquele idiota me paga. Ele me paga por fazer eu fazer o que vou fazer agora..é, vocês entenderam.

O carro de Jamie saía do estacionamento. Fui até a estrada e parei em frente ao seu carro. Ela parou à centímetros de mim. Dei a volta na frente e fui até a janela do passageiro.

- Err, me desculpe pelo que disse. Será que você ainda aceita fazer uma caridade à um necessitado?

Ela sorriu de leve e abriu a porta do carro. Entrei com dificuldade e coloquei a muleta no banco de trás. Ela continuava parada na pista.

- E então, vamos? Ou você vai ficar parada aí no meio da pista? – perguntei.

- Coloca o cinto.

- Ah qual é..

- Coloca o cinto, Landon. Segurança em primeiro lugar.

- Aff...que sac... – calei depois de sentir o olhar dela me perfurar por quase falar um ‘palavrão’. Ai, que menina certinha.

Coloquei o cinto contra a vontade e ela ligou o carro. Demorou o dobro do tempo que eu gastaria se eu estivesse dirigindo, mas não falei nada por que sabia que não ia adiantar. Ela era a filha do pastor, a toda certinha Jamie Sullivan que nunca fez nada de errado, que nunca falou uma palavra feia, que nunca namorou...

- Está entregue.

- Obrigada. – falei simplesmente, saindo do carro.

Dei a volta pela frente de novo e segui para minha casa sem olhar para trás. Ouvi ela dar a partida no carro e sair lentamente. Entrei em casa e minha mãe me olhava com um olhar interessado.

- Jamie Sullivan, é? É a sua futura peguete? Landon, ela não é menina para essas coisas, além do mais ela é filha do pastor e...

- Mãe..mãe..não é isso o que você está pensando. Eu nunca ‘pegaria’ a Jamie. Ela só me deu uma carona. O Eric furou comigo.

- Hum, tá bom. O almoço já está pronto. – falou ela servindo a mesa.

Almocei rapidamente e fui para meu quarto. Coloquei o roteiro da peça em cima da cama e resolvi tomar um banho. Demorei um pouco mais do que devia. Saí do banho, vesti uma roupa qualquer. Peguei meu cd portátil, coloquei meus fones e comecei a ouvir música no último volume.

Uma semana depois...

Eu estava em meu quarto sentado em minha cama, encarando o papel à minha frente. Hoje a professora encheu meu saco porque eu ainda não comecei a decorar minhas falas. Ela pagou o maior sapo. Foi terrível.

Mas agora eu já pensava em outra coisa..aliás, me lembrava de um coisa.

- Tenho certeza que sim. Mas, enquanto você não percebe isso, vou estar à disposição. Tchau Landon. – Jamie me ofereceu ajuda.

Ela havia me oferecido ajuda e eu tinha ignorado-a completamente. Será que ela ainda aceitaria me ajudar? Eu havia sido muito rude com ela e agora eu vou ter que pedir desculpas. E faria isso amanhã. Só pra me livrar de outra briga da professora.

[...]

Acordei bem cedo pela manhã. Eu sabia que ela chegava bem cedo à escola, assim eu teria a oportunidade de pedir ajuda sem ninguém nos ver. Fiz a minha higiene e fui direto para a escola sem comer nada.

Chegando lá, a escola estava praticamente vazia. Tinha pouquíssimos alunos, embora faltasse meia hora para começar as aulas. Entrei na escola e depois de vasculhar cada canto vi que ela ainda não tinha chegado. Estranho, achei que ela já estaria aqui.

Fui para a frente da escola pra ver se ela chegava. E o tempo se passava e nada dela chegar. Desisti de esperar quando vejo meus amigos chegando. Talvez ela não viria hoje. Conversei com meus amigos por um tempo e depois fomos assistir as aulas.

Logo depois de acabar as aulas, peguei um ônibus e fui até a casa de Jamie. Ela tinha me oferecido ajuda, e agora eu precisava dela. Desci do ônibus e andei devagar até a sua casa. Cidade pequena todo mundo conhece todo mundo. Todos sabiam a casa de todos, e é claro que eu não poderia errar a casa mais procurada, a do pastor.

Estaquei na porta da sua casa, e hesitei em tocar a campainha. Eu nem sabia o que falar para ela. Eu poderia começar perguntando porque ela não apareceu na escola hoje. Toquei a campanhia, e rápido demais ela atendeu.

- Landon? Posso saber o que te traz aqui?

- Oi Jamie. Boa tarde pra você também.

- Boa tarde. – respondeu à contra-gosto.

- Porque a senhorita não foi pra escola hoje?

- Foi por isso que veio aqui? Eu acho que não né. Fala logo o que você quer.

- Humm, ok. A sua ajuda ainda está de pé? – falei mostrando a peça.

- Ahh, é isso. Mas você não disse que não precisava da minha caridade?

- Vai me negar ajuda? – perguntei, mas ela simplesmente me olhou com a sobrancelha arqueada.

- Olha, tá bom. Eu sei que eu fui rude com você, ok? Me desculpa. Mas é que eu preciso de ajuda.

- E porque isso agora? Por que eu deveria ajudá-lo?

- Porque...porque eu preciso decorar as falas e você foi a única pessoa que me ofereceu ajuda..

- E desde quando você fala comigo, Landon? Você sempre me ignorou, sempre. Não vejo porque ajudá-lo. A não ser que seja por um bem maior.

- Mas é para um bem maior. Essa peça merece ser bem apresentada. Todo ano foi. Eu não queria ficar conhecido por estragar a peça da cidade.

- Está bem então, Carter. Mas me prometa uma coisa primeiro.

- Qualquer coisa.

- Prometa que não vai se apaixonar por mim

- Puff... – ia falar besteira, mas pensei melhor quando vi ela olhar para mim com uma cara séria – Isso não vai ser problema.

- Então está bem. Ensaiamos depois das aulas.

- Porque não agora? Já é depois das aulas.

- Agora eu não posso. Não estou me sentindo muito bem. Tchau Landon.

- Tchau.

Voltei para casa com a cabeça um pouco cheia. Eu iria ensaiar com ela mas não podia deixar ninguém saber. Nem quero imaginar o que eles fariam se me pegassem andando junto com ela.

E que tipo de pedido foi aquele? Prometa que não vai se apaixonar por mim. Puff. Como se fosse possível. Isso nunca me passaria pela cabeça. Além do mais, eu a conhecia desde o primário e nunca falei com ela. Só falei porque estava precisando de ajuda.

Como ainda era cedo fui para casa almoçar e depois fui dar uma volta na cidade andando. Pois é, ainda não tinha terminado de consertar meu carro, e mesmo que estivesse pronto, eu não poderia andar por causa da minha perna. Só tiraria o gesso três dias antes da apresentação da peça. Isso significava que eu ficaria dependente da carona de alguém, ou do ônibus da escola. Ninguém merece.

Encontrei meus amigos em um bar. Fiquei com eles até por volta das oito horas e depois fui pra casa dando a desculpa de estar cansado. Cheguei em casa, jantei e dormi uma noite tranqüila e sem sonhos.

Cheguei na escola atrasado. Tinha perdido o ônibus e tive que acordar a minha mãe para ela me trazer na escola. Ela tinha um sono muito profundo, foi difícil fazê-la acordar. Quando cheguei na sala o professor já tinha escrito em metade do quadro e simplesmente olhou para mim com uma cara de desdém.

Sentei na única carteira vazia da sala ao lado de Jamie. Não olhei pra ela, e torci para que ela não falasse comigo. As aulas se passaram rapidamente. Talvez fosse porque eu não estava prestando muita atenção.

- Vamos, Landon? Eu te levo na sua casa. – falou o Éric.

- Ah não precisa. Eu tenho que ir na biblioteca. Eu ligo para minha mãe vir me buscar.

- Tem certeza que você vai na biblioteca? – perguntou ele, estranhando.

- Err...eu vou. Por quê?

- Por nada. Falou, cara. A gente se vê mais tarde então.

Fui logo procurar Jamie. Por sorte a encontrei ainda conversando com o professor. Esperei do lado de fora da sala, e quando ela saiu a peguei pelo braço.

- Ei, aonde vai? Não esta esquecendo de nada não?

- Eu não esqueci nada.

- Então vamos logo acabar com isso. Vamos para a biblioteca.

Chegando na biblioteca tinha alguns alunos lá. Entrei disfarçadamente e procurei um canto onde ninguém poderia nos ver. Peguei meu roteiro e começamos a ensaiar.

Era calmo, e eu achei surpreendentemente mais fácil de decorar com alguém, do que ensaiando sozinho. Jamie já falava quase todas as suas falas sem olhar no papel. Nossa, como ela consegue? Eu ainda não tinha decorado nem a primeira fala.

- Nossa Landon, você está péssimo. Dá pra fazer com mais ênfase pelo menos?

- Claro...é fácil pra você falar...já decorou as suas falas...

Parei de falar assim que ouço um grupo entrando na biblioteca fazendo o maior estardalhaço.

- Eu não acreditei. Acho que ele está é dando um bolo na gente.

- Eu também duvido. Landon Carter em uma biblioteca? Hahahahaa.

- Isso é estranho mesmo.

- Landon, cadêvocê? – ouvi uma menina gritar.

Droga. Agora ferrou, se eles me pegam aqui eu estou ferrado. Eles vão zoar de mim o resto do ano. Guardei minhas coisas na bolsa e falei com a Jamie.

- Podemos ensaiar em outro lugar? Aqui está muito barulho.

- Claro. – falou ela desconfiada.

Saímos pela saída dos fundos o mais rápido que pude. Jamie vinha atrás de mim com uma cara séria. Entramos no carro e ela arrancou sem dizer nada. Nem mandou eu colocar o cinto!Ela dirigiu até a sua casa e desceu do carro sem dizer uma palavra.

- Jamie! Espera, o que ouve?

- Você acha que eu não percebi? Sei muito bem porque você quis sair de lá correndo.

- Não..eu te falei...era só porque estava muito barulho.

- Não minta pra mim, Carter. Você não queria que seus amigos nos vissem juntos.

- Tá, é verdade, eu confesso. Você têm uma boa percepção.

- É mesmo? Acho que entendi. Você quer ensaiar sem que ninguém saiba, não é?

- Isso mesmo!

- Como amigos secretos? – falou ela sarcástica, com um sorriso forçado nos lábios.

- Você leu minha mente.

- Legal. Agora leia a minha. – disse, e seu sorriso forçado saiu imediatamente de sua boca. Ela ficou séria, mas eu não consegui entender o que ela quis dizer. Ela sabia que eu queria que fôssemos amigos secretos, mas agora estava diferente. Eu não entendia mais.

- Você é péssimo. – disse e saiu em disparada para sua casa.

Olhei ela sair. Fiquei sem reação. O que ela queria dizer com aquilo?

- Jamie, espera. O que foi? – falei correndo em sua direção.

Ela abriu a porta e virou na minha direção.

- É melhor você achar outra pessoa para te ajudar, Landon. Uma pessoa com quem você não tenha que se esconder dos seus amigos.

Disse e se virou, batendo a porta na minha cara.

DROGA! – pensei alto.

De costas ouvi a porta sendo aberta e o pai dela sair para fora. Será que eu tinha pronunciado alto? Pelo jeito que ele me olhava parecia que sim. Levantei minhas mãos como quem se rende e gritei um pedido de desculpas. Depois voltei para minha casa.