Save Me

Uma receita de Krypton


Os meus pensamentos estavam a mil naquele momento. Aquele cara mal me conhecia e queria que eu matasse meu primo? Ou será outra coisa que ele queria que eu fizesse? Fiquei com a cabeça pesada e deixei Raiden na cozinha indo direto ao quarto onde eu dormira, subindo as escadas que rangia a cada degrau que eu subia. Entrei no quarto, fechei a porta e deitei na cama. Sei que amassaria um pouco minha capa, mas não estava me importando nenhum pouco. Pousei minhas mãos uma sobre a outra sobre meu ventre e deixei minha mente vagar pelas lembranças de ontem, para assim tentar esquecer um pouco da responsabilidade que alguns estavam colocando sobre mim.

Enquanto eu observava uma teia de aranha se formando em uma parte do teto do quarto, fiquei perplexa ao saber que há tanto tempo vivi uma mentira em Kandaq. Tudo o que Adão Negro e Diana haviam me falado era torpezas e mentiras. Estava presa em uma teia de aranha e não havia percebido. Mas também agradeci por conhecer pessoas que me abriram os olhos e me mostraram toda a verdade.

Comecei então a recordar do que houve na véspera, aquele encontro com Hal que eu tanto ansiava, aquele beijo tão doce. Sentia saudades dele, do seu cheiro, da forma como fala. Apesar de ele não estar tão longe eu já sentia sua falta.

Uma leve batida me fez despertar do meu torpor. Pedi para que entrasse e vi Dinah, que adentrou logo no cômodo. Agora ela vestia sua jaqueta de couro com pingentes brilhantes, um collant por baixo e uma calça justa. Todo seu uniforme era preto com detalhes em amarelo e lhe deixava com um ar imponente, bem diferente do que usava antes em Atlantis.

— Diga o que quer. – perguntei levantando-me da cama e sentando.

Dinah se sentou em um banco de madeira que estava próximo a janela e deixou suas costas deitarem na parede que estava um pouco enegrecida. Pegou um livro velho e começou a folheá—lo, depois de uns instantes voltou seu olhar para mim e disse:

— Os rapazes estão traçando o plano de como ir a Metropólis de modo que seu primo não perceba que estamos a caminho.

— Podemos usar o tele transporte do Cyborg. – sugestionei enquanto penteava meus cabelos.

— Nós usaremos o tele transportador para chegarmos até Gotham. De lá iremos pegar uma van até Metrópolis.

Ela deu uma olhada na janela, caminhou até onde eu estava e me advertiu:

— Se arrume que iremos partir logo.

— E os outros insurgentes?

— Estarão lá conforme combinamos com eles.

Me levantei da cama e olhei num pedaço de espelho que tinha próximo da porta do banheiro e disse:

— Posso chegar rapidamente a Metrópolis com meus poderes, mas tenho que anulá-los para me esconder. Que chatice!

— Guarde seus poderes para a melhor parte. – disse Dinah segurando meus pulsos.

Em seguida Dinah saiu do quarto me deixando só. Àquelas horas os rapazes estavam se alimentando enquanto terminavam de colocar no papel tudo o que irão fazer para quando chegarmos a Metrópolis. Decidi me banhar. Me despi e comecei a me olhar muito e percebi que havia uma cicatriz pequena em minha coxa, provavelmente foi da fuga dos robôs de Brainiac há alguns anos atrás em Krypton. Naquele tempo nem imaginava que minha vida ia mudar tanto.

Fui para o banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água cair sobre minha pele branca depois em meus cabelos. Foi um banho rápido, pois sabia que alguém já viria atrás de mim. Enrolei—me numa toalha e com outra comecei a secar meus cabelos. Peguei meu uniforme que estava pendurado em um cabide e meu lingerie que estava em uma gaveta. Desenrolei a toalha e quando estava terminando de colocar meu sutiã ouvi algumas batidas na porta e uma voz grave perguntando:

— Kara, você já está pronta?

Era a voz de Hal. Senti meu rosto aquecer e fiquei aflita. Respondi pegando o macacão e iniciando o difícil processo de coloca-lo respondi:

— Já estou terminando de me arrumar.

— Estamos te esperando lá embaixo.

— Ok.

Como meus poderes haviam voltado usei minha super velocidade e cá estava pronta para a missão. Coloquei minhas mãos na cintura, me olhei no espelho e disse a mim mesma:

— Agora irei recuperar a honra de minha família.

Em seguida sai do quarto e desci as escadas. Percebi que eles estavam comendo algo muito bom pelos comentários e feições. Cheguei próxima a eles e perguntei:

— O que vocês estão comendo?

— Acho que você deve conhecer esse doce. – Dinah me ofereceu o prato com o doce.

Olhei com atenção aquele aperitivo e logo reconheci, aquilo... aquilo era uma receita de Krypton. Peguei um garfo, tirei um pedaço e coloquei na boca. Estava simplesmente perfeito.

— Está incrível! Só meu pai conseguia fazer esse doce assim.

De repente vi aparecer um homem da cozinha e que logo reconheci, era o meu pai Zor-El. Ele sorriu entre lágrimas e eu deixando o prato na mesa fui correndo ao seu encontro. Nós dois choramos e deixamos todos naquele lugar comovidos. Eu e meu pai tínhamos muito que conversar.