Save Me

Uma pérola na ostra


Chegou o grande dia (não para mim) do casamento entre eu e o rei de Atlantis.

Desde que cheguei neste reino até hoje, fui tratada com muito amor e carinho pela doce Pietra. Ela foi a minha confidente durante esse tempo e sempre me deu bons conselhos. Posso dizer que ela fez o papel de mãe, pois era o que eu precisava. Sem perceber fui abrindo o meu coração para ela e revelei que amo outro homem (isso já estava evidente).

Era de manhã e eu estava sentada frente ao espelho. Conseguia ver algumas pontas alaranjadas nos meus cabelos devido à tintura que apliquei assim que fugi da prisão do sol vermelho. Me fez lembrar os meus amigos que deixei na floresta amazônica. Dei um sorriso e disse para mim mesma:

— Não estou sozinha.

Ouvi duas batidinhas na porta e a voz suave de Pietra perguntando:

— Posso entrar?

Anui com a cabeça e ela logo entrou fechando a porta atrás de si. Olhou para mim e percebendo que eu não parava de mexer em meu cabelo perguntou?

— E essas manchas no seu cabelo?

— Ah é uma tintura que apliquei um tempo atrás – respondi voltando o meu olhar para o espelho – vou dar uma aparada para tirar essas pontas.

Como as pontas alaranjadas estavam pequenas, peguei uma tesoura e fui cortando eu mesma. Não ficou tão torto como eu pensei que ficaria. Pietra ficou admirada com a minha facilidade em eu cortar meu próprio cabelo e disse:

— Você é bem prática!

— Aprendi essa técnica com uma amiga – disse lembrando—me de Harley.

Pietra sentou ao meu lado e disse:

— Hoje é o grande dia. Você irá se tornar a rainha de Atlantis.

— Não precisa me lembrar disso – respondi me levantando. Estava com intenção de ir até a varanda quando se fez ouvir uma batida forte na porta.

Pietra foi ver quem era. Ao atender ela voltou à cabeça para mim e disse:

— Estão aqui algumas servas que irão te arrumar para a cerimônia.

Respirei fundo e permiti que elas entrassem. Em seguida voltei meu olhar para a varanda e na mesma hora passava um cardume de carpas. Como eu queria que elas me levassem.

(...)

Eu já estava com um lindo vestido branco de cumprimento até os pés com detalhes em pérolas no busto, meus cabelos estavam presos em um coque simples com pequenas presilhas que prendia os fios soltos. Duas servas ajustavam o vestido na parte da cintura, por eu ter uma cintura muito fina e seios pequenos o vestido ficou um pouco grande. Elas são milagreiras, pois conseguiram ajustar direitinho e de um jeito que ficou imperceptível.

Iam começar a maquiagem quando Dinah chegou a meu quarto. Ela me lançou um olhar de que queria falar comigo em particular. Pedi para que as meninas saíssem do quarto por um momento e elas obedeceram.

Sentei na cama deixando a calda do vestido um pouco espalhada pelo edredom da cama. Dinah me estudou e disse:

— Você fica linda de noiva.

— Bondade sua – eu disse num tom de cinismo – tem novidades não é?

Canário sentou ao meu lado e disse:

— Bruce está preocupado, pois você não tem aceitado as transmissões.

— Pietra está quase o tempo todo comigo. É difícil eu ficar sozinha.

Notei uma feição de certa tristeza em Dinah e perguntei se aconteceu alguma coisa. Ela respondeu:

— Nesse tempo que esteve aqui muitas coisas aconteceram – ela deu uma pausa, respirou fundo e continuou – Pamela nos traiu.

— Como assim? O que a Hera fez? Ela entregou a insurgência.

— Parece que não. Por conta própria ela foi até Metropolis e sintetizou, a pedido de Diana, uma droga. Stone desconfia que pode ser usada para fazer com que aqueles que são contra o regime passem a aceita-lo.

— Há quanto tempo ela fez isso? – perguntei revoltada em meu íntimo.

— Acho que passou uns três dias que você saiu de lá Harley descobriu lendo o diário dela.

— Onde a Hera está?

Canário engoliu seco e respondeu:

— Hera morreu envenenada ontem a noite ao sair do prédio do regime.

Coloquei minha mão no coração e engoli seco. Apesar de não ser muito próxima da doutora Isley, eu estava feliz em saber que ela decidiu ficar do nosso lado. Eu sabia da proximidade de Harley com ela e fiquei pensando como devia estar. O que ficou na minha cabeça é quem poderia tê-la envenenado. Perguntei a Dinah:

— Tem ideia de quem tenha feito isso?

— Pode ser a própria Diana ou alguém da insurgência por vingança pela traição.

— Quanto à droga? Quando pretendem disseminá-la?

— Estamos esperando mais informações com Cyborg.

Pietra abriu a porta me assustando e disse:

— Desculpe, senhorita Oliver, mas precisamos terminar de arrumar a noiva. Os convidados para a cerimônia já estão chegando.

— Já estou indo. – disse Dinah se despedindo de mim e saindo do quarto.

Aos poucos as servas se aproximaram para continuar o serviço. Pietra notou em mim um olhar distante e perguntou:

— Aconteceu alguma coisa menina?

— Não é nada – respondi com um sorriso.

Agora minha cabeça estava a mil. Se minha fuga der certo tenho que bolar um plano para pegar essa droga que Canário disse e me desfazer dela. A cada dia me convenço que meu primo está enlouquecendo mais e mais, preciso pará-lo.

(...)

Eu estava pronta. Podia ouvir as pessoas que estavam na grande sala do trono, algumas risadas e conversas. A minha vontade de fugir era naquele momento, mas eu sabia que não daria certo. Estava sem meus poderes já fazia um mês e descobri através de uma conversa entre as servas que haviam colocado em meu quarto a mesma substância que continha na prisão do sol vermelho. Por isso que me mantinham sempre dentro do quarto. Alguns guardas que escoltavam a mim tinham escondido em seus pulsos uma pulseira com um pequenino pedaço de kriptonita para me manter sem meus poderes.

De repente o vozerio cessou e a porta que estava a minha frente se abriu. Eu podia ver um número consideráveis de convidados todos voltados com o seu olhar para mim. Eu mantive meu olhar firme para frente e a feição séria. Podia ver o rei lá na frente com um semblante sério como o meu.

Comecei a caminhar acompanhada pelos guardas a passos lentos. Fui me aproximando do rei e do ancião que realizaria a cerimônia. Do lado direito do ancião havia um destacamento de quatro soldados e do lado esquerdo estava meu primo, Diana , Damian e Adão Negro. Cyborg não veio. Kal e Diana estavam com um sorriso sagaz para mim, olhei apenas de relance e voltei meu olhar para frente.

Enfim cheguei próxima do rei e do ancião. Arthur estava com sua roupa que mais parecia uma armadura, toda prateada e havia uma coroa na sua cabeça com um pingente esverdeado que ficava no meio de sua testa. Não vou negar, ele estava deslumbrante e sua beleza me deixava ruborizada, mas a maquiagem não permitia transparecer isso em mim. Arthur me olhava profundamente como se estivesse vendo minha alma. Parei de encará—lo e voltei meu olhar para o ancião e o rei fez o mesmo.

Começou então a cerimônia. Não conseguia prestar atenção no que o ancião dizia, minha mente estava no que Dinah havia me dito há umas horas atrás e também sobre minha fuga. Até que voltei ao mundo real quando o ancião disse:

— E agora vocês são marido e mulher.

Voltei meu olhar para o rei que olhava para mim com certa intensidade. O ancião disse sorrindo:

— Pode beijar a noiva, majestade.

Sem pestanejar, Arthur se aproximou e estavam nítidas as lágrimas em seus olhos. Senti uma comoção também e sabia bem o que ele estava sentindo. Ele segurou meu rosto, fechou os olhos e suavemente encostou seus lábios nos meus com uma doçura que não sei explicar. Fechei meus olhos e o beijo foi ovacionado por todos que estavam ali. Em seguida ele se separou de mim e sorriu, mas um sorriso triste. Uma tímida lágrima deslizou pelo seu rosto e eu a sequei com meu polegar. Nós viramos para o público que aplaudia. Eu tenho certeza que aquelas pessoas foram compradas pra fazer tudo aquilo. Não era possível que eles apoiavam essa palhaçada.

De repente vários servos apareceram e tiraram os bancos que estavam dispostos para os convidados. Em seguida uma mesa larga e farta de comida foi deslizando até chegar ao meio da grande sala e os convidados começaram a se servir. O rei não saia do meu lado, ele estava com um olhar distante. O chamei e perguntei:

— Está tudo bem?

— Você sabe que não está.

Baixei a cabeça e concordei com ele. Meu primo e Diana vieram até nós e nos cumprimentaram. Fiz questão de ser fria com eles. A amazona disse ao meu ouvido:

— Aproveite essa sua nova vida.

Me afastei dela e disse:

— Só peço que fique longe de mim.

— Pode ficar tranquila. O rei é todo seu.

Kal se aproximou de mim e disse:

— Felicidades prima! Espero que desfrute do presente.

O abracei e sussurrei em seu ouvido:

— Vai se ferrar.

Ele olhou para mim e sorriu dizendo:

— Vou pedir para Pietra lhe ensinar como se portar perante mim.

Kal foi saindo e eu disse:

— Ela fará isso por mim, general Zod!

(...)

Eu já estava cansada, meus pés doíam e o sono já estava me consumindo. Os convidados estavam mergulhados na festa e se dependessem deles durariam a eternidade. Pedi a uma serva que me levasse até o quarto e ela me acompanhou, mas não me levou até lá.

— Para onde está me levando? –perguntei atônita.

— Ora, majestade – respondeu a serva com um sorriso malicioso – Estou te levando para a suíte real, é lá que vai dormir agora. Esqueceu que será sua noite de núpcias?

Meu Deus, eu nem me lembrava disso. Estava disposta a não dormir com o rei e faria de tudo para isso. Um medo começou a tomar conta do meu coração e a lembrança de Hal me vinha fortemente. Onde ele estava naquele momento? Queria tanto falar com ele. Mas acho que era um pouco tarde para isso.

Chegamos à suíte e o lugar estava maravilhoso. Próprio para uma primeira noite de amor, mas para mim não seria. A serva me trouxe uma roupa de dormir e ela me disse:

— O rei já está chegando. Divirta-se.

Em seguida ela fechou a porta e fique segurando a aquele roupão de cetim. É sério que vou ter que usar só isso? Fiquei constrangida e não sabia onde enfiar minha cara. Deixei o roupão num sofá próximo. Abri uma fresta da porta, ao ver que não vinha ninguém fui descalça até o meu quarto e procurei um dos meus pijamas. Achei um e saí correndo para a suíte real. Quando cheguei no quarto pude sentir aquele perfume inebriante do rei, ele já havia chegado. Coloquei meu pijama debaixo da cama e esperei-o sentada na cama. Ele saiu do closet, estava sem camisa e vestia apenas a calça. Ele se aproximou de mim e disse:

— Pensei que já havia trocado de roupa.

— Me desculpe, majestade – eu disse como quem não sabia de nada, mas deixando minhas intenções claras — mas não consigo dormir apenas com um roupão de cetim.

Ele sentou ao meu lado e falou com o rosto pareado ao meu:

— Nós não vamos dormir agora.

E agora? Não tenho mais ideias. O rei começou a acariciar meu rosto e de ímpeto beijou minha testa. Se levantou, sorriu e disse:

— Tenho uma surpresa para você.

Sem dar tempo de eu falar algo, Dinah abriu a porta do quarto junto com um guarda e Mera. Sim, Mera estava bem ali e eu não estava entendendo mais nada.

— O que está acontecendo? – perguntei atônita.

— Você está livre, Kara! – disse o rei abraçando Mera.

— Como assim? – perguntei me levantando – Arthur sabia de tudo?

— No caminho eu te explico. – disse Dinah me estendendo a mão.

Não sabia como, mas aquela fuga era impossível de não dar certo.