Save Me

Uma decisão dolorosa


Enquanto eu vestia o meu uniforme rapidamente no quarto ao lado já podia sentir o cheiro de liberdade que me aguardava, apesar de ainda estar sem meus poderes. Olhei—me no espelho, passei a mão no símbolo da casa El que estava e meu peito e disse:

— Ainda tirarei a vergonha da família.

Naquele instante veio a lembrança que todos os dias vem me visitar: Minha mãe pedindo para que eu cuidasse de Kal e ensinasse os princípios de nossa família a ele. Mas cheguei tarde demais para isso. Ele já estava encabeçado para o mal. Às vezes passava pela minha mente de eu mata-lo, mas eu sabia que era uma ideia torpe e egoísta. Mas se essa for a única solução para o fim do regime?

Respirei fundo e disse a mim mesma:

— Preciso focar agora em sair daqui e rápido.

Virei para trás para ver se minha capa não estava amassada e fiquei satisfeita com o resultado. Ela balançava conforme eu caminhava pelo quarto. Aproximei-me do espelho e percebi que havia alguns resquícios da maquiagem do casamento, embebi um algodão com uma loção que tira maquiagem e tirei-a deixando o meu rosto limpo, passei apenas um gloss que estava ali disponível e saí do quarto.

Todos estavam ali me esperando. Dinah disse admirada:

— Tem certeza que está sem seus poderes?

— Sim – disse sorrindo.

De repente Aquaman aparece junto com Mera e diz sorrindo olhando para mim:

— Fico feliz que tudo tenha dado certo.

Também fiquei feliz, mesmo não sabendo de nada sobre o que tramaram. Olhei para os dois e comecei a pensar nas consequências que tudo isso causaria, um possível ataque poderoso contra Atlantis poderia ocorrer vindo do governo mundial arrasando todo aquele reino. Não desejava esse mal para aquele lugar principalmente agora que estavam fazendo por mim.

Aproximei-me do casal e perguntei:

— Já pensaram no que fazer em relação a uma reação que meu primo tiver?

— Fique tranquila – respondeu Arthur num sorriso franco – daremos um jeito.

— Não temos muito tempo, Kara – disse Dinah se aproximando de mim.

Soltei um ar dos meus pulmões e dei um abraço tanto em Arthur como em Mera e disse aos dois passando a mão pelo brasão da minha família que jazia em peito:

— Esse símbolo voltará a ter um significado de esperança.

— Assim esperamos, Kara. – disse Mera.

Nos despedimos e desaparecemos diante deles graças ao dispositivo que Cyborg deu a Dinah para tele transporte.

(...)

Fomos recebidos pelo próprio Arraia Negra e por um homem de traços asiáticos que usava um chapéu bem peculiar, na minha opinião. Como já era tarde, Arraia pediu para que fossemos dormir, pois amanhã tínhamos muito que fazer e assim procedemos.

Confesso que estava ansiosa para encontrar Hal, mas era bem provável que estava dormindo e o que menos queria era incomodá—lo. Fui para um quarto na parte de cima que a janela dava vista para a praia. Eu estava para me trocar para dormir quando vi um brilho esverdeado vindo da praia, os meus poderes voltavam aos poucos e me permitiu que conseguisse identificar o que era aquele brilho. Quando descobri meu coração esquentou como brasa e veio uma alegria sobre mim que não conseguia me conter. Não ia conseguir dormir naquela hora pensando que aquele que roubara o meu coração estava tão perto.

Abri uma fresta da janela e ao ver que não estava muito acima do chão eu pulei discretamente. Consegui chegar perto da origem do brilho num voo rasante. E lá estava ele sentado na areia, carregando o seu anel e vestido com seu uniforme da tropa olhando para um ponto no horizonte. Aproximei—me um pouco mais e perguntei:

— Não estava conseguindo dormir com todo esse brilho.

Ele voltou o seu olhar em minha direção e quando me viu se levantou indo ao meu encontro.

— Kara – ele disse enquanto me enlaçou num abraço – como eu senti sua falta.

Senti algo forte em meu peito, pois não esperava que ele dissesse isso. Imagino quanta dor ele passou todo o tempo que ficou no cárcere, sem contar a dor do luto e de ser acusado de um crime que seria incapaz de cometer.

Abracei-o mais forte e respondi:

— Eu também senti sua falta.

Ele se afastou de mim e seu rosto pareou com o meu. Estava em meio a um misto de sensações que não conseguiria descrever. Hal me disse:

— Me senti muito mal pelo que você fez em salvar minha vida.

— Por que se sentiu mal? – perguntei atônita.

— Eu não merecia tal sacrifício.

— Claro que merecia. Ficaria com muita culpa ao ver você morrer pelas mãos do meu primo. Algo que eu poderia ter evitado...

Naquele momento brotou em mim uma comoção tão forte que não consegui conter minhas lágrimas e as palavras faltaram. Cobri meu rosto com minhas mãos, mas senti a mão dele tirando-as, erguendo meu rosto e limpando minhas lágrimas. Seus olhos também estavam marejados e em instantes seus lábios encostaram-se aos meus num beijo casto. Entreguei-me naquele beijo aprofundando—me mais nele e desejei que aquele instante se eternizasse.

(...)

Já era por volta das dez da manhã quando Dinah veio me acordar. Me levantei de ímpeto e ela estava sentada em minha cama olhando para mim com um sorriso malicioso. Logo me lembrei do que havia acontecido na noite interior. Será que ela já sabia? Será que todos da casa já sabiam?

— Por que está me olhando assim? – perguntei

— Não é nada – respondeu Dinah depois de uma pequena risada – Muita coisa rolando na minha cabeça.

— Ah sim – respondi me levantando e procurando o meu uniforme.

— O cara do chapéu quer falar com você. – disse Dinah.

— Adiantou alguma coisa?

— Parece que a coisa é séria.

Suspirei e me voltei para Dinah e pedi para que ela avisasse que já estou descendo. Quando ela fechou a porta muitas coisas começaram a passar pela minha cabeça. O que será que esse cara quer falar comigo? Parece que ele é uma espécie de sábio ou algo assim que está acostumado a dar conselhos, pois sinto que hoje muita coisa vai acontecer.

(...)

Depois de eu ter tomado café da manhã o homem que queria falar comigo veio até mim com um ar um pouco pesaroso. Estavam nós dois na casa – mais especificamente na sala, os outros foram ao centro da cidade comprar comida e estavam bem disfarçados.

— Acho que você não deve saber quem sou – disse o homem sentando ao meu lado – me chamo Raiden, sou protetor do Plano Terreno da minha dimensão. Antes de você chegar à terra, lutei junto com a Liga da Justiça contra um inimigo muito poderoso. Fiquei muito desapontado ao ver no que tudo virou agora.

Fiquei sem palavras ao saber que ele conheceu meu primo e os outros heróis quando tudo estava em seu devido lugar. Como queria ter visto isso! O que me restou ver foi apenas Kal sendo corroído pelo ódio e vingança, gostaria que tudo fosse diferente.

Raiden continuou:

— Sei que você é jovem em nosso planeta e precisa aprender muitas coisas. Mas tem algo que eu preciso te falar que vai doer como uma espada transpassando em seu peito.

Senti uma pontada em meu coração, mas disse:

— Pode falar.

— Hoje de manhã recebemos a notícia de que seu primo está se preparando para atacar Atlantis e disse em rede mundial que colocará a cabeça de Aquaman na praça da sede para servir de exemplo.

— Não! – gritei colocando a mão na boca em seguida.

— Hoje iremos até lá e vamos para-lo, mas temo que só a uma forma de fazer isoo e é você que terá que fazê-lo.

Eu temia que isso um dia acontecesse, mas não achava que seria logo.

— Terei que mata-lo? – perguntei com os olhos marejados.