Save Me

Um mundo para curar


O que restou agora? O que sobrou depois de todo esse estrago que meu primo fez no mundo inteiro? As pessoas deixaram de confiar nos heróis, pois a justiça que era pregada por eles foi deturpada por um homem emocionalmente abalado. Por ele veio à morte de tantos inocentes – civis e meta-humanos que tiveram suas vidas ceifadas ante uma justiça errônea e desconexa.

Depois de abraçar Mary ela logo percebeu que eu estava exausta.

— Acho que está na hora de você ir.

— E você como vai embora?

— Bruce vai me levar até em casa.

Cyborg estava vindo em nossa direção e disse a mim:

— Se quiser pode ir para casa, Kara.

Sorri para Mary e disse que sim. Decidi não me despedir dos que estavam ali e mergulhei noite adentro num voo alto. Não demorei muito para chegar ao apartamento de Victor, ele me disse que passaria a noite acompanhando como seria o julgamento de Adão e Damian que seria no dia seguinte, que eu poderia dormir tranquila.

Tomei um banho quente e relaxante. Enquanto aquela água caía sobre meu corpo pedi para que ela levasse toda a culpa que ainda restasse da morte de Kal e que me acalmasse para que eu tivesse uma noite tranquila. Amanhã seria mais um longo dia e eu queria estar preparada para o que ia acontecer.

Sequei-me e coloquei uma camisola de algodão bem confortável e fui para o quarto que outrora eu havia ficado. Depois fui até a cozinha e fiz um misto quente. Enquanto eu o comia acompanhado com um suco de maracujá, eu vi a sombra de um homem flutuando na sala. Eu não acreditava em fantasmas, mas naquele momento pensei que era o de Kal. A sombra se aproximou mais e Hal entrou na cozinha.

— Que susto, Hal! Pensei que fosse um fantasma.

Ele começou a rir e disse:

— Me desculpe.

Terminei o lanche e falei me aproximando de Jordan que estava com sua roupa de civil, apenas com o anel verde em seu dedo.

— Como está o pessoal lá fora?

Ele deu um suspiro e respondeu:

— Todos estão lúgubres. Sem conversar muito. Bruce ainda não acredita que Damian pode ser condenado a morte.

— Queria conversar com ele, mas estou sem condições.

— Ele veio pedir clemência a mim, mas não é a mim que ele deve pedir e sim aos guardiões.

Olhei para o chão e disse como que sussurrando:

— Queria que tudo fosse diferente...

Hal não disse nada e me abraçou deixando que eu repousasse minha cabeça em seu peito. Eu o enlacei com os meus braços e ficamos assim por alguns instantes. Depois ele segurou em meus braços fazendo com que nossos olhos se encontrassem. Hal começou a acariciar a maçã do meu rosto, tirou uma mecha de meu cabelo da frente de meu rosto, segurou me pescoço e disse em voz baixa:

— É tão bom ver você...viva...

Segurei o antebraço dele e comecei a passar a mão pelos seus cabelos castanhos bem penteados fazendo-o sorrir. Em seguida ele aproximou mais o seu rosto do meu e deixei que os seus lábios encontrassem os meus num longo beijo. Meu coração parece que ia explodir com aquele sentimento avassalador. Hal começou a beijar meu pescoço com intensidade e de repente me veio a ideia de alguém mais aparecer no apartamento.

— Hal é melhor pararmos...

— Por quê? – perguntou e continuou a beijar minha boca. Eu o afastei.

— Alguém pode vir...

— Mas quem?

— Não sei, mas é melhor não.

Na verdade essa não era a principal desculpa. Acho que tudo aquilo estava indo rápido demais e eu não estava segura do que poderia acontecer em consequência daquele ato.

Hal deu uma risada e disse:

— Eu sei que não é por isso, mas tudo bem.

Ele ia saindo da cozinha, mas consegui segurá-lo pelo braço.

— Hal, o que você sabe?

Fiz ele se aproximar de mim e ele ficou calado apenas me olhando. Respirei fundo e disse:

— Eu não estou pronta, ok? Me desculpe.

Baixei a cabeça e só fiquei esperando ele tirar barato da minha cara, mas para minha surpresa ele ergueu minha cabeça e seu sorriso me consolou. Hal disse:

— Tudo bem. Vou respeitar você.

Em seguida ele beijou minha fronte e saiu indo para outro quarto. Comecei a rir sozinha. Por mais que eu o desejasse, acho que estava cedo demais para eu me entregar a ele e não me vejo pronta para isso.

Agora eu teria que tentar dormir, pois amanhã seria um grande dia.

(...)

Eu só fui uma vez a OA e não pensei que retornaria para aquele planeta tão pequeno, mas de uma beleza sem igual. Enquanto caminhava até o presídio eu olhava cada detalhe e sorria ao ver um integrante da tropa fazendo voos malabaristas, até que John Stewart veio até mim perguntou:

— Sentiu saudades de OA?

— Sim, mais não queria vir numa circunstância dessas...

— Não vamos criar expectativas. – disse John pousando a mão em meu ombro – A justiça será feita.

— E se eles morrerem?

— Será uma decisão dos guardiões... Mesmo que seja essa a decisão a tomar – John baixou a cabeça.

Olhei para o lado e vi Bruce um pouco cabisbaixo com seu uniforme de herói. Eu não sabia o que dizer a ele então permaneci no meu lugar.

Quando chegamos ao presídio, uma integrante da tropa veio até mim e perguntou:

— Você deve ser Kara Zor-El, certo?

— Sim, por que? – perguntei.

— Damian quer falar com você primeiro.

Olhei para Bruce que sorriu e anuiu com a cabeça. Acompanhei o Lanterna até a cela onde estava Damian, ele me viu e logo se levantou vindo ao meu encontro.

— Vou deixar vocês a sós. – disse o Lanterna se retirando.

Voltei meu olhar para Damian que estava com uma camiseta branca e uma calça jeans escura, seus cabelos estavam penteados, mas seu olhar triste. Ele segurava aquelas barras verdes fluorescentes como se quisesse arrancá-las dali e me olhava. Depois de alguns instantes perguntou:

— Como você está?

— Estou bem – disse isso e baixei a cabeça.

— O que fizeram com a Diana?

Engoli seco, pensei que ele já sabia do que havia acontecido com a amazona. Olhei-o e respondi:

— Ela foi assassinada por um civil.

Damian deu uma risada sarcástica e disse:

— Com certeza é um bajulador da insurgência...

— Ele me salvou da Diana – respondi de ímpeto – ela ia me matar com um punhal de kryptonita.

Ele respirou fundo e quis mudar de assunto perguntando:

— Você sabe o que vão fazer comigo?

— Não tenho ideia – respondi secamente.

— Kara — Damian me chamou, mas não olhei para ele — Kara olha para mim.

Voltei meu olhar para ele agora com uma feição de desgosto. Ele mordeu o lábio inferior e fechou os olhos com força, como se estivesse arrependido de ter falado daquele jeito.

— Me desculpa, eu não queria falar assim com você.

Continuei ouvindo.

— Você sabe que... eu gosto muito de você.

Ele já havia me falado isso quando estávamos em Kahndaq. Mas eu achava que ele estava brincando comigo, mas agora eu sentia em seu olhar algo de veracidade naquilo que ele me dizia. Eu só sentia por ele naquele momento pena. Como eu vou ficar com uma pessoa que se juntou com alguém para oprimir as pessoas? Tomei coragem e disse:

— Se você gostasse mesmo de mim, não deixaria que aquele casamento fajuto entre eu e Aquaman acontecesse. Você só gosta mesmo é de quem faz o que interessa a você.

— Não fale assim, Kara – disse ele aproximando mais o rosto – se eu contrariasse o Superman ele me mataria assim como fez com Billy.

Aquilo era uma desculpa, certeza que era... De verdade eu achava que Damian era um cara muito confuso, não sabia o queria. Estava grudado na barra da capa de Kal e agora estava sozinho e perdido sem saber o que fazer.

— Não acredito em você, Damian. – eu disse irritada.

— Então você vai deixar eles me condenarem?

— Você se condenou escolhendo se juntar ao meu primo.

— Mas você estava conosco...

— Eu não sabia que Kal era um assassino maluco. Eu não tinha ideia do que ele havia se transformado.

Ele olhou para mim com desdém e disse:

— Pode voltar para aquele bando que você chama de amigos.

Pensei em dar uma resposta bem malcriada para ele, mas achei melhor me calar e sair daquele lugar. Achei que ele havia se arrependido depois de tudo o que aconteceu, mas me enganei, pensei que ele teria a mesma atitude que seu pai teve, depois das atrocidades que cometeu, depois de ter sua mente comandada pelo meu primo com o sistema de Brainiac. O pior que Damian não precisou ter a mente corrompida por um sistema, seu ódio pela verdadeira justiça fez esse dano.

Voltei para onde os demais estavam. Depois que Bruce entrou Harley veio até mim e perguntou:

— E ai loirinha? Como foi?

— Damian está irredutível. Pensei que com a morte de Kal ele parasse com esse pensamento insano...

— Ah Kara, as coisas não funcionam assim. Mas no caso de Damian só um milagre.