Save Me
Pagando o preço
Minhas mãos estavam trêmulas diante de tudo aquilo que estava acontecendo a minha volta. Em menos de 24 horas o casal que muitos idolatravam agora já não existiam mais, foram privados da vida graças a sua arrogância.
Eu estava sentada no chão e ao meu lado estava agachado e me ajudando a levantar o rapaz que acabara de salvar minha vida. Nisso Estelar, Hal e Bruce estavam se aproximando afoitos e preocupados. Hal logo se aproximou de mim e perguntou:
— Está tudo bem?
Eu disse que sim e me virei em direção ao corpo sem vida de Diana. Bruce estava agachado olhando-a, ele não estava com seu uniforme. Pude perceber que ele dizia alguma coisa para ela, consegui ouvir apenas uma frase vinda dos lábios dele:
— Eu não queria que as coisas terminassem assim.
Hal se voltou ao rapaz e perguntou de forma ríspida:
— Quem é você?
Acalmei Hal e disse:
— Não fale dessa forma, ele salvou minha vida.
O rapaz sorriu e respondeu:
— Me chamo James Trevor.
— Trevor? – perguntou Bruce se levantando.
— Por que a pergunta, Bruce? – indagou Kory se aproximando do corpo de Diana.
— Esse é o sobrenome do primeiro homem que pisou em Themyscira... — disse Bruce enquanto se levantava.
— Steve Trevor foi meu tio-avô. – interviu James dando um passo à frente – Ele nunca mais foi visto depois que foi visitar Themyscira. Após alguns meses, uma mulher vestida com roupa de guerreira foi a casa de meu avô e deu a noticia da morte de Steve... Parece que ela estava fazendo isso escondido. Tenho certeza que foi Diana que o matou.
— Você não mente, James – uma voz feminina se fez ouvir naquele lugar.
Sem hesitar olhei para a direção de onde vinha a voz e vi uma mulher a cavalo de longos cabelos loiros com sua roupa rústica de guerreira. Era Hipólita, mãe de Diana e rainha das amazonas. Estava também mais duas amazonas ao seu lado
Hipólita desceu do cavalo e foi em direção a James, este ficou temeroso para com aquela mulher imponente. Ela perguntou:
— Onde está Diana?
James deu um passo para o lado permitindo que ela visse o corpo da amazona. Fiquei ao lado de James caso Hipólita quisesse fazer algum a ele por causa da morte da filha. Ela olhava para o corpo sem vida da filha e pude ver apenas uma lágrima escorrendo pela maçã de seu rosto, limpando-a em seguida com as costas de uma das mãos. Em seguida respirou fundo e disse:
— Agora você não continuará a manchar a honra das amazonas.
Voltou-se para James que estava de cabeça baixa, pousou com leveza sua mão no ombro dele e falou:
— Em nome de todas as amazonas pedimos perdão a família Trevor pela morte de Steve. Ele foi morto pelas mãos da própria Diana... E me arrependo do fundo do meu coração por não ter impedido tamanha barbárie.
James levantou a cabeça enquanto enxugava suas lágrimas. Sem coragem de encarar a rainha perguntou:
— Mas... e...
Um sorriso franco se formou nos lábios de Hipolita e ela disse:
— Você vingou a morte de seu tio-avô. Nós perdoamos você, James.
Era estranho eu ouvir aquilo. Uma mãe perdoar o assassino da filha tão facilmente, por mais que sua filha fosse uma facínora. Até hoje eu tento entender o comportamento dos terráqueos com relação a isso, uns simplesmente não perdoam e querem se vingar, mas outros preferem não regar a mágoa que foi plantada nos seus corações e perdoam. A diversidade me fascina a cada dia, daria um ótimo trabalho de pesquisa de psicologia em Krypton.
(...)
Havia passado dois dias da morte de Kal. A noite do segundo dia começou o velório próximo de um crematório em um lugar afastado de Metropolis. Eu estava sozinha sentada em uma cadeira feita de uma madeira escura, ela não contrastava com o meu vestido longo que era da cor preta. O caixão de Kal estava lacrado em cima de uma mesa alta que estava no canto daquela pequena sala. Ao lado do caixão havia várias flores azuis e vermelhas e sua foto ao centro com uma feição séria. Eu olhava ora para o chão ora para a foto do meu primo.
Senti alguém se aproximar de mim e sentar ao meu lado. Quando segurou minha mão logo fui ao seu rosto e a reconheci – era a Jessica Kim. Logo a abracei e rompi num choro. Jéssica havia preparado todo aquele velório nos costumes coreanos e me senti honrada por isso.
— Obrigada – eu dizia entre lágrimas depois do abraço.
Jessica passou a mão no meu ombro e disse:
— Agora acabou. Você está livre!
— Você também está – respondi – queria ter ido de visitar na prisão...
Ela apenas sorriu e me abraçou brevemente. Em seguida Jéssica olhou para a foto do Kal e disse:
— Você não queria isso não é?
— Ah Jéssica, não consegui cumprir a promessa que fiz a minha mãe antes de partir de Krypton...
— Mas você tentou... A culpa não é sua daquele asteroide ter desviado a rota da nave de vocês.
Passado alguns minutos Jéssica perguntou:
— Eu soube da morte da Diana. Onde o corpo dela será enterrado?
— Hipolita levou para Themiscyra..
Aos poucos outras pessoas vieram e me abraçaram, meu pai ficou o tempo todo do lado de fora.
— Por que ele não quer entrar? – perguntei a Dinah
— Ele está com vergonha por tudo o que Kal fez... — respondi
Fui até a porta e vi meu pai conversando com Aquaman e Mera.
Já era por volta de meia—noite, eu só tinha um sanduíche em meu estômago, mas eu não sentia fome. Hal chegou sem seu uniforme e a me ver logo me abraçou e disse:
— Me desculpe por não estar mais cedo com você. Estava em OA vendo os últimos detalhes do julgamento de Adão Negro e Damian.
Naquela hora eu engoli seco e olhei para Batman que estava do lado de fora junto com John Stewart, provavelmente estavam conversando sobre o julgamento. Pela feição de Wayne as notícias não eram boas.
— Eles podem ser condenados a morte? – perguntei aflita.
Hal apenas anuiu com a cabeça afirmando.
(...)
Em seguida Jéssica veio até mim e disse:
— Kara! É a hora da cremação.
Senti uma pontada em meu coração e coloquei a mão no peito. Hal me abraçou e Jéssica foi avisar aos outros.
Os que puderam, entraram na pequena sala enquanto eu, meu pai e Hal ficamos bem próximos do caixão. Os empregados do crematório colocaram o caixão dentro do forno e quando o ligaram eu dei um grito abafado, colocando minhas mãos sobre a boca. As lágrimas correram por sobre meu rosto e me afaguei no ombro do meu pai que nada dizia. Eu podia ouvir o crepitar daquelas chamas que dentro de instantes consumiria o corpo do meu primo. Um dos empregados fechou a porta do forno e eu podia ver que ali se findava as chances de eu poder convencê-lo de não continuar com tantas maldades. Sinceramente a minha ficha não tinha caído quanto a morte de Kal, mesmo eu o vendo todo destroçado...
Depois de alguns minutos todos saíram da sala e conversavam entre si. Só se podia ouvir o burburinho das pessoas e o ruído de grilos. Olhei mais adiante e pude ver Mary Batson sentada em uma pedra mexendo no celular com uma mão e segurando o cigarro com a outra. Fui até ela e perguntei:
— E aí tudo bem?
Ela ergueu o seu olhar para mim e respondeu:
— Sim, mas acho que você não está...
Sim, é certeza que ela notou que eu chorei a alguns instantes. Dei um sorriso e disse:
— Dá pra notar de longe não é?
Ela se levantou, guardou o celular, apagou o cigarro e disse:
— Ele era seu parente... Vocês tinham uma ligação. Por mais que ele fosse um cara mau, não dava para cortar esse laço e... você criou expectativas erradas sobre seu primo.
— Realmente, você disse tudo.
— Kal era um cara legal! Eu, Billy e ele fizemos vários trabalhos juntos... No final comemorávamos num rodizio de pizza...
Nós duas rimos por alguns instantes e ela continuou agora com uma feição séria comprimindo os lábios, em seguida disse:
— Eu sei bem o que você está sentindo.
Senti um nó na garganta, mas não consegui segurar o choro. Abraçamo-nos e choramos por eles.
Fale com o autor