Save Me

Na fortaleza da Solidão


Não parava de olhar para o corpo de Kal transpassado por aquele cristal. Raiden estava certo, ele sabia o que estava dizendo. Batman me disse que quando o Superman da outra dimensão derrotou Kal, este disse: “Só vou parar quando eu estiver morto.”. Ele estava falando sério.

Me afastei de beira do penhasco de cristal e comecei a olhar para o teto todo cristalizado daquela fortaleza. O incrível é que eu não sentia vontade de chorar e acho que estava em choque, pois eu ainda não acreditava no que havia acabado de acontecer. Eu queria evitar ao máximo que tudo isso acontecesse, mas foi inevitável.

De repente ouvi um sinal no ponto e ouvi a voz de Bruce:

— Kara! Você está me ouvindo?

Respirei fundo e respondi que sim. Voltei a beira do penhasco para ver o corpo do meu primo. Bruce disse:

— Conseguimos capturar Robin e Adão Negro com a ajuda da Tropa dos Lanternas Verdes, mas Diana está foragida. E Kal-El? Você o neutralizou?

Engoli seco e comecei a tomar noção do que eu havia feito. Coloquei a mão na boca, fechei os olhos e fiquei em pausa por um momento. Uma brisa fria bateu em rosto e a voz de Bruce veio no ponto perguntando:

— Kara! Você está aí? O que houve com Kal?

Soltei o ar que havia em meus pulmões e respondi:

— Acho que fiz mais do que neutraliza-lo.

Houve uma pausa no outro lado do ponto, pude ouvir um suspiro de Wayne. Acho que ele compreendeu o que havia acontecido e disse:

— Fique onde está! Vou separar um grupo para ir até onde você está.

Não demoraram muito para chegar, logo pude ouvir alguns passos. Olhei em direção ao barulho e vi Canário, Cyborg, Hal Jordan, John Stewart, Capitão Frio e a Harley. Esta estava com a roupa que mais gostava, calça collant, blusa sem alças estilo espartilho, uma jaqueta de couro (ambos da cor vermelho e preto), duas pistolas em cada lado da cintura. Estava com sua maquiagem – exagerada como sempre. Ela veio correndo em minha direção e me deu um abraço apertado, eu estava com saudades dela. Se voltou para mim e disse com os olhos marejados:

— Eu pensei que nunca mais ia te ver.

— Cuidado para não borrar a maquiagem – respondi com um sorriso.

Harley enxugou suas lágrimas cuidadosamente com os dedos, deu uma risadinha e perguntou:

— É verdade que você matou o Super?

— Para com essas tolices, Harley! – disse Dinah passando por nós olhando firme para Quinn – Depois você faz essas perguntas a ela. Venha conosco.

Dei um tapinha nas costas de Harley e fui caminhando atrás dela dizendo:

— Eu sinto muito pela Pamela.

— Ah! Ela nos traiu, teve o que mereceu!

Os outros chegaram à beira do penhasco e estavam vendo o corpo de Kal pendido no cristal. Nisso Hal estava próximo a mim e me disse com voz baixa:

— Eu sentia que isso ia acontecer.

— Ou eu ou ele. – eu respondi engolindo seco.

— Hal – chamou John – consegue ir até lá e empurrar o corpo?

Jordan olhou para mim, em seguida foi até John e fez um constructo com o anel em forma de bolha e envolveu o corpo de Kal. Depois fez um impulso fazendo com que a bolha esverdeada subisse com o corpo e foi o que aconteceu. A bolha se desmanchou ao chegar ao chão onde pisávamos e o corpo repousava ali diante de todos. O corpo de Kal já havia se jorrado por todo o cristal. Harley foi a primeira a se aproximar e disse depois de dar um longo suspiro:

—Pensei que não ia viver para ver isso.

Os outros chegaram mais próximos e apenas olhavam o corpo. Não consigo encontrar uma palavra para descrever suas feições. Em seguida fui até eles e vi Kal, morto com seus olhos azuis petrificados. O seu uniforme estava banhado em seu sangue, podia-se ver os restos de suas vísceras saindo da laceração causada pelo cristal.

De repente comecei a sentir uma tontura e tudo se apagou.

Acordei em um quarto pequeno, mas bem aconchegante. Conseguia ver algumas fotos emolduradas de Cyborg, Estelar e algumas outras pessoas que eu não sabia quem eram. Levantei-me e fiquei ali, em cima da cama sentada, vestida com um short jeans e uma camiseta de cor rósea com um desenho de um pássaro azul. Ouvi alguns passos vindos em minha direção e recostei-me em uma parede próxima da cama. E na porta Estelar aparece olhando para mim, agora com uma roupa um pouco mais confortável, mas nada extravagante. Ela se aproximou de mim e se sentou na cama perguntando com uma voz aveludada:

— Como você está?

— Agora estou bem... E... Onde estou?

— No apartamento do Victor.

— Suponho que este seja o quarto dele. –arrisquei me endireitando na cama.

— Sim é – Kory respondeu com um sorriso – Batman pediu para que eu te trouxesse para cá... Depois de tudo o que aconteceu...

Eu sabia que Estelar queria evitar falar sobre o que aconteceu há algumas horas. Mas uma hora ou outra eu teria que lidar com isso. Segurei-a pelo braço e perguntei:

— O que farão comigo?

Estelar soltou o ar que tinha em seus pulmões e disse:

— Batman está fazendo uma reunião junto com os outros. John teme que você vá para julgamento em OA.

Eu meio que esperava por isso depois do que houve na Fortaleza.

— E o corpo de Kal? — perguntei

Os olhos verdes de Kory se cravaram em mim, não sabia descrever o que eles me transmitiam. Depois ela voltou seu olhar para baixo e disse:

— Selina deu a sugestão de enterrá-lo ao lado de Lois, mas seu pai quer cremá-lo. Parece que é a tradição de Krypton.

Eu confirmei anuindo com a cabeça. Depois olhei para a janela, era por volta de duas da tarde e sol estava forte, deixei sua luz bater em meu rosto e comecei a ter a noção de tudo o que havia acontecido. Veio-me a lembrança do corpo mutilado de Kal, ele estava morto e não havia outro jeito de parar a sua maldade.

Mas agora o que meu pai devia estar pensando de mim naquele momento? E a nova Krypton? Foi naquele momento que a ficha caiu, olhei para minhas mãos e comecei a chorar lembrando do que minha mãe havia me pedido antes de eu partir de Krypton. Kory se aproximou de mim e me abraçou e sussurrou:

— Vai ficar tudo bem.

(...)

Andando por aquele grande apartamento encontrei Mary Batson mexendo no celular e sentada em um sofá na sala. Aproximei-me dela e tentei puxar assunto:

— Pensei que estivesse na reunião com eles.

Ela se virou para mim, deu um sorriso e voltou seu foco para o celular dizendo:

— Bruce me chamou, mas eu preferi ficar de fora.

— Por quê?

— Sou apenas uma cidadã.

— Mas você já foi uma heroína, deveria participar.

— Nunca deveríamos ter nos metido com esses caras – Mary se levantou e foi até a janela.

Aquele assunto estava tornando o clima um pouco mais pesado que o normal. Aproximei-me mais de Mary e disse:

— Vamos tomar um ar.

— Eu vou ficar aqui – respondeu ela voltando para o sofá – mas não demora muito para eles não sentirem sua falta.

Preferi ir de modo convencional, naquele momento eu só queria ser uma garota normal.

Comecei a caminhar pelas calçadas e pude ver algumas pessoas chorando a morte do meu primo. Quando já havia andado uma distância considerável do prédio onde Stone morava, eu parei e sentei em uma calçada.

De repente senti algo sendo arremessado em minha direção, mas consegui desviar rapidamente. Ao longe vinha Diana gritando e começou a me desferir vários golpes, mas consegui defender-me deles. Ela gritava:

— Você o matou! Friamente! Eu devia ter acabado com você há muito tempo.

Nisso ela tentava me golpear mais vezes com seus punhos, mas eu desviava. Comecei entrar no ataque dando-lhe alguns socos em seu rosto e ela caiu no chão. Notei que ela estava com uma pequena bolsa tiracolo feita de couro, ela colocou a mão dentro dela e tirou umas duas pedras esverdeadas e eu já sabia o que era, pois comecei a sentir uma fraqueza . Nisso caí de joelhos e ela deu um chute no meu rosto fazendo com que eu caísse no chão. Ela sorriu sarcasticamente e com uma kriptonita pontiaguda nas mãos disse:

— Enfincarei essa pedra em seu coração e acabarei com você e com todos os insurgentes.

— Você... você vai ser pega – eu falava com dificuldade – não se iluda.

Quando ela estava prestes a se abaixar para cravar a pedra em meu coração, um rapaz a golpeou na cabeça com um objeto de ferro. Ela caiu no chão e uma poça de sangue começou a se formar em volta de sua cabeça. O rapaz veio em minha direção e me afastou de Diana. Começou a tirar as kriptonitas de perto de mim jogando-as longe e perguntou se eu estava bem, respondi que sim afirmando com a cabeça.

Eu não parava de olhar para Diana. Aproximei-me mais dela e percebi que suas pupilas estavam dilatadas. Coloquei meus dedos na região da jugular dela e não senti pulsação. Afastei-me de Diana e engoli seco. Diana estava morta.