Harley e Capitão Frio apareceram na sala logo que ouviram o barulho. Cyborg ainda estava com as mãos rendidas, assustado pela recepção de Supergirl e dos outros heróis que estavam com ela. Harley se pôs a frente de Cyborg e disse:

— Calminha pessoal! Ele tá com a gente.

— O que garante que ele está conosco – disse Hal dando um passo a frente – Pode ser muito bem uma armadilha do Clark.

— Eu garanto que não, Hal – falou Cyborg abaixando as mãos e se aproximando dos heróis que estavam a sua frente – Sei que será difícil de acreditar em mim. Traí vocês todos esses anos, matei muitas pessoas admito, mas agora estou de volta e... Fico feliz em ver Kara sã e salva.

Koriand’r havia permanecido do lado de fora ao ouvir a voz de Cyborg. Sabia que ele a repreenderia por ter saído do exílio de Mianmar e resolveu ficar lá fora. Kara olhou ao seu redor a procura de Estelar e perguntou a Barry:

— Onde ela está?

Barry olhou para fora e pode uma faísca dos cabelos dela, respirou fundo e respondeu:

— Ela está lá fora.

— Ela quem? – perguntou Cyborg atônito – Há mais alguém com vocês que eu não saiba? – ele voltou-se para Harley.

Koriand’r se fez revelar saindo de onde estava e seu olhar se cruzou com o de Cyborg fazendo-o ficar comovido. Estava feliz por vê-la bem e ao mesmo tempo envergonhado por ter a deixado sofrer tanto nas dores físicas como na perda de Dick. Ele apenas disse:

— Kori...

E deixou uma lágrima correr pela sua tez negra. Estelar respirou fundo e sorriu se aproximando do amigo. Disse colocando suas mãos nos ombros de ferro e aço de Cyborg:

— Eu lhe devo a minha vida. Ninguém faria o que você fez por mim.

Em seguida o abraçou trazendo comoção a todos os presentes. Kara lembrou os detalhes da conversa que tivera com Estelar a caminho de OA e naquele instante acreditou em Cyborg. Foi até Hal que estava impaciente olhando aquela cena e disse:

— Cyborg deve estar falando a verdade.

— Não sei, Kara – disse Hal analisando Cyborg com o olhar – Estamos em tempos bélicos, temos que desconfiar até mesmo dos que estão conosco.

Kara meditou com cuidado cada palavra que seu colega havia dito. Jordan é experiente em guerras, viveu um bom tempo do lado inimigo e sabe que Clark é capaz de coisas inimagináveis para capturar seus inimigos. Mesmo relutando decidiu considerar a observação feita pelo Lanterna. Ficou observando Estelar e Victor Stone, nome de batismo de Cyborg, conversando. Flash se aproximou de Kara e murmurou:

— Peça explicações para a Harley. Pelo visto ele já deve estar um bom tempo trabalhando as escondidas para a insurgência.

Kara deu um passo à frente e disse a Stone:

— Prove-me que você não é leal ao regime!

— Você acha que sou um espião?- indagou Cyborg – depois de tudo o que vi seu primo fazer. A forma com que Superman impõe o seu poder à população, ele obriga a todos o adorarem como se fosse um deus iniciando uma perseguição a todos os que são de religiões monoteístas. Os que antes eram heróis estão matando até ladrões de pão... Esse regime voltou pior do que antes. Não posso mais compactuar com isso, por isso decidi me tornar um espião da insurgência e como vocês eu também quero a libertação de Wayne e de toda a Terra.

Hal apontou o seu anel para Victor deixando a luz esverdeada fazer uma espécie e scanner em todo corpo dele. Quando a luz se apagou Hal disse:

— Não há nenhuma escuta nele.

Harley observava toda a cena com os braços cruzados, mas se irritou ao ver toda desconfiança que seus amigos tinham de Victor. Saiu de onde estava e disse com os olhos fixados em Kara e Hal dizendo:

— Vocês acham mesmo que eu não o verifiquei para evitar escutas? O pessoal aqui já tinha acabado com a raça dele caso ele fosse um espião. Isso que vocês estão fazendo é ridículo!

Jordan balançou a cabeça incrédulo, não conseguia acreditar que Stone havia mudado. Teve a oportunidade de conviver com ele no tempo em que era um Lanterna Amarela e presenciou várias atrocidades que fizera junto com Superman. Lançou lhe um olhar frio e disse com aspereza:

— Mas ainda terá que ralar pra ganhar a minha confiança.

Cyborg apenas respirou fundo, fechou os olhos e disse:

— Como quiser Jordan.

Lanterna saiu da casa e sentou-se próximo a uma amoreira. Kara ficou o observando preocupada por ele largar a causa da insurgência e voltar para OA. Sentiu alguém puxar-lhe o braço, era Cyborg que disse:

— Você acredita em mim?

Supergirl se voltou para o homem robô e respondeu:

— Perdoe-me Vic. Eu... Ainda estou confusa e...

— Eu te entendo, Kara. – disse Cyborg com um sorriso franco e pousando suas mãos no ombro dela – Acho que agiria da mesma forma se estivesse em seu lugar.

Kara sorriu para Cyborg e se afastou dele dizendo:

— Tenha paciência conosco.

(...)

Jordan se sentia confuso por tudo o que havia vivido nos últimos instantes. Estava com receio de confiar em Stone, sentia vontade de voltar para OA e não retornar mais a Terra. Pensava nos amigos, na sua família, na possibilidade de ver Carol Ferris. Enquanto isso era observado por Kara, que estava escorada em uma estaca de madeira próxima a casa. Não sabia o motivo, mas todas as vezes que estava próxima a ele sentia algo que não sabia descrever, o que ela podia definir é que se sentia bem e segura perto de Jordan e não queria pensar na possibilidade dele se afastar. Achava atraente a forma como o rosto dele ficava sob a luz do sol da manhã. Ele não demorou muito para perceber que ela estava o observando e lançou lhe um olhar sobre fazendo-a corar. Hal perguntou sorrindo:

— Está tudo bem?

Kara se assustou e disse com um sorriso amarelo:

— Sim, só estou preocupada.

— Com o quê? – Ele perguntou atônito.

Ela se aproximou dele e ficou ajoelhada ao seu lado apoiando a sua mão no ombro dele. Em seguida respondeu olhando para o chão:

— Com você. Estou preocupada de você sair da nossa equipe.

— Bem... Confesso que quando eu vi o Victor – disse olhando para o céu – pensei em voltar para OA.

Kara sentiu um aperto em seu coração, cerrou os punhos e fechou os olhos se esforçando para não demonstrar nada a ele. Deixou uma frase sair de seus lábios:

— Você não pode ir embora.

Hal voltou o seu olhar para ela, Kara não teve coragem de encará-lo e continuou:

— Precisamos de você. Você... Detém a Força de Vontade que nos encoraja...

— Apenas o fato de vocês reorganizarem-se para a insurgência é uma prova que todos vocês são corajosos. E isso fizeram sem mim.

Kara engoliu seco e disse o fuzilando com o olhar.

— Eu quero que você fique.

— O café está pronto – cortou a voz estridente da Harley.

Hal e Kara se levantaram ambos limpando seus uniformes que estava cheio de terra. Entraram na casa sem cerimônia.

(...)

Depois que terminaram o café Victor foi em direção a Kara que estava com seus braços encostados no batente da janela. Ela logo percebeu a chegada dele voltando o olhar em sua direção, sabia que ele desejava lhe falar algo.

— Quer falar comigo, Stone? – perguntou Kara.

— Sim, eu estou há muito tempo com uma ideia na cabeça. – respondeu Cyborg – já expus para Quinn e ela achou a ideia genial para conseguirmos tirar Batman de lá.

— Me diga.

— O que você acha de você ser uma infiltrada como eu?

Kara ficou uma feição atônita e perguntou:

— Mas como? Ele logo saberá que sou eu.

— Calma. Eu já tenho a ideia do disfarce e do novo nome que darei a você. Preciso de alguém que esteja comigo para me ajudar a acabar com essa “hipnose” em que Batman está.

— Mas a Iris West não ajuda?

— Ela não tem superpoderes como você. Os que são metahumanos são todos leais ao regime.

Veio a sua mente tudo o que Hal falara sobre sua desconfiança a respeito do Cyborg. Ela sentia que precisava falar com ele sobre a ideia de Stone. Kara olhou para a janela e viu Jordan e Chetaah conversando, colocou mão sobre o vidro da janela e pensou: “Precisamos conversar de novo, Hal.”.