Save Me

Na periferia de Metropolis


— Você bebeu além da conta, Victor? – perguntou Hal depois que ouviu a proposta de Cyborg para Supergirl se infiltrar no regime. – Kal logo irá descobrir quem ela é!

— Mas eu tenho um jeito certo para infiltra-la! – exclamou Stone defendendo sua ideia.

— Isso é loucura! – rebateu Hal se levantando e se aproximando de Cyborg – Não podemos entrega-la ao lobo, eu não... posso deixa-la fazer isso!

Todos os que estavam presentes na sala se entreolharam. Victor soltou uma risada de deboche e perguntou desconfiado:

— Por que essa proteção toda, Hal?

Kara percebeu a malícia no tom da pergunta de Cyborg, sabia onde tudo aquilo iria chegar. No íntimo ela gostava daquela proteção de Jordan, mas ao mesmo tempo sabia que aquilo tudo poderia ser um cuidado que Hal queria tomar para nenhum herói morrer nas mãos do auto conselheiro. Ela olhava atônita para Jordan que ficou sem palavras naquele instante, não imaginava que Victor poderia interpretar mal a sua indagação.

Para quebrar o clima o Pistoleiro, que estava sem a máscara, disse:

— Eu tive uma ideia melhor.

Todos se voltaram para ele, Harley disse:

— Espero que seja uma ideia que todos concordem.

— Eu conheço um grupo de cristãos – Pistoleiro começou – que praticam sua fé clandestinamente em um porão de uma igrejinha abandonada em Metrópolis. Minha mãe faz parte desse grupo e, segundo ela, há uma garota lá que trabalhou no STAR Labs e conhece todo o sistema de Brainiac, agora absorvido por Superman. A Supergirl será o elo entre ela e Cyborg para derrubarem esse sistema.

— Mas Cyborg não pode fazer isso sozinho? – perguntou Harley .

— Vai dar muito na cara se ele tentar – respondeu Allen enquanto comia uma maçã que estava disponível na fruteira – Tem que ser alguém de fora.

— E eu vou entrar assim? – perguntou Kara fazendo referência ao seu uniforme.

— Você tem tinta de cabelo aí palhacinha? – perguntou Chetaah se aproximando de Harley.

— Eu tenho a cor vermelha e uma lente de contato preta – respondeu Quinn com a mão no queixo – eu sabia que um dia eu usaria essas lentes.

— Vou arranjar um nome pra você – disse Cyborg – Vou pedir para alguém do escritório compre algumas roupas. Vamos lhe dar todas as instruções de como chegar lá.

— Se seguir as regras direito – disse Harley pousando a mão sobre o ombro de Kara - seu priminho nunca saberá que você está tão perto dele.

Pelo clima da sala, todos haviam concordado com a ideia do Pistoleiro, só faltava apenas Kara aceitar. Ela parecia um pouco insegura devido ao medo de aquele plano não dar certo. Apesar de ser uma kryptoniana, ela estava com medo, o mesmo medo que ela sentira quando Krypton foi invadido por Brainiac. De uma hora para outra o mundo em que ela se exilou mudou rapidamente e ainda está tentando se acostumar com toda essa mudança.

Todos estavam esperando a resposta de Kara e ela não sabia o que fazer. Cyborg se aproximou dela e disse:

— Caso não aceite vamos procurar uma alternativa. Mas se você aceitar a libertação de Batman pode vir mais rápido.

E era tudo o que Kara mais queria, que Bruce voltasse a ser quem ele era. Kara olhou para Cyborg e disse:

— Eu aceito ir. Pelo Bruce.

— Ótima escolha – disse Barry sorrindo.

Enquanto isso Hal ficou observando todos cumprimentando Kara pela decisão que ela acabara de dar. Por mais que não concordasse, tinha que respeitar o que ela decidiu. Havia a conhecido há pouco tempo e uma grande afeição se criou por ela, tinha medo de perdê-la como aconteceu com sua cidade e sua família.

Kara logo percebeu que Lanterna não estava muito contente com toda aquela situação. Foi até ele e o chamou para fora da casa. Os dois foram e Kara perguntou:

— Você está assim por eu ter aceitado a proposta do Victor?

Hal respirou fundo e disse:

— Acho que você sabe do que eu penso a esse respeito. Não queria perder mais ninguém para esse maldito regime.

Kara sabia um pouco da história de Jordan, também sabia que Superman conseguira restaurar Coast City, mas sentia certo temor em falar isso para ele. Durante o tempo em que estava presa, soube tudo sobre Carol Ferris que agora era a secretária pessoal do auto conselheiro e tinha muitas regalias. Teve oportunidade de conhecê-la pessoalmente quando Carol foi a prisão, pois estava curiosa em saber quem era a rebelde que estava na prisão do sol vermelho. Na pequena visita teve a oportunidade de ouvir a história entre Ferris e Jordan. Kara ficou impressionada com o ódio que seu primo incutiu na pobre moça a respeito de Hal, ela falava do Lanterna com muito desprezo e ira. Toda lembrança daquela conversa lhe deixava com mal-estar, pois conhecera um Hal totalmente diferente do que Ferris descreveu. Decidiu deixar que o tempo revelasse todos esses acontecimentos para Jordan e prometeu a si mesmo que não tocaria no assunto com ele.

Supergirl sorriu para Jordan e disse:

— Vai dar tudo certo. Preciso que confie em mim.

Hal também sorriu e a abraçou dizendo em um sussurro:

— Só não quero perder você.

Metrópolis

Kara tingiu o cabelo de vermelho e usava um rabo de cavalo, trajava uma blusa baby-look preta, calça jeans azul e um All Star preto, usava lentes de contato pretas e tinha uma bolsa tiracolo de couro sintético. Seu nome agora era Leona Willians e andava ao lado de Floyd Lawton, o Pistoleiro. Sentia-se estranha ao andar pela cidade naqueles trajes, usava sempre o seu uniforme com o escudo da casa El no peito, agora era uma simples civil. Por todos os lados que andava via pessoas com olhares temerosos e nos painéis sempre brilhava o escudo que antes era símbolo de esperança e se tornara o sinônimo do medo.

Floyd também usava um disfarce, mas não precisou se produzir tato, pois poucos conheciam o seu rosto. Usava uma camisa polo vinho, calça jeans preta e sapatos de couro, colocara apenas um bigode, apenas por desencargo de consciência. Ele percebeu que Kara estava nervosa e disse em voz baixa próximo ao ouvido dela:

— Se você não se acalmar logo te descobrirão Leona.

Kara respirou fundo e disse com um sorriso amarelo:

— Vai ser difícil eu acostumar com essa nova vida.

— Calma, será por pouco tempo.

Os dois tomaram um ônibus e foram para um bairro onde ficava numa divisa entre Metrópolis e outra cidade. O coletivo parou em frente a uma igreja em ruínas, o sol da tardezinha batia fazendo sombras amedrontadoras. Os dois desceram e Kara perguntou:

— Foi ele que fez isso?

Floyd suspirou e respondeu:

— Assim que ele entrou no poder mandou destruir todas as igrejas dizendo que apenas ele era pra ser adorado.

— Isso me dói o coração.

Em seguida Kara e Lawton desceram uma escada subterrânea e chegaram no seu destino depois de dois minutos. Lá encontraram um grande salão iluminado apenas com velas e várias pessoas sentadas no chão, uns comendo, outros conversando, outros lendo. Os dois andaram pelo lugar até pararem diante de uma senhora de tez negra que estava de costas, Floyd logo chamou em voz baixa:

— Mãe!

Jenny Lawton se virou e disse com júbilo:

— Filho querido!

Os dois se abraçaram e Kara ao vê-los assim lembrou-se de sua falecida mãe e uma ponta de saudade veio em seu coração. Jenny olhou Kara de alto a baixo e perguntou:

— É a sua namorada?

— Não — disse o Pistoleiro rindo — é uma amiga. Ela estava procurando um grupo de cristãos para poder se juntar daí eu me lembrei de vocês. Chama-se Leona Willians.

— Prazer, Leona. Me chamo Jenny Lawton, sou mãe desse garoto. Vamos orar para que ele e o grupo dos insurgentes tenham sucesso e detenha esse maluco que está no poder.

Kara anuiu com a cabeça e não queria imaginar os xingamentos que seu primo recebia do povo que governava.

Floyd pediu para que mostrasse onde estava Jessica Kim – a garota que trabalhou no STAR Labs. Jenny logo os conduziu para uma área onde batia os raios de sol e lá estava Jessica, sentada com um laptop aberto sobre suas pernas. Floyd a chamou e ela olhou na direção vinha o chamado, ao reconhecer o Pistoleiro deixou o laptop no chão e o saudou com um aperto de mão. Jenny disse com um sorriso no rosto:

— Jessica, quero lhe apresentar Leona Willians, ajude-a a se integrar ao nosso grupo.

Kim cumprimentou Kara e com um olhar enviesado disse:

— Você não me parece estranha.

Kara sentiu um nó no seu estomago, o medo de ser reconhecido lhe veio deixando-a aturdida.