Amor platônico. Um amor impossível, complicado. Koryand'r, princesa de Tamaran achava que vivia esse amor, sua pessoa amada parecia não correspondê-la, parecia não sentir o mesmo. Por muitos anos vivia nas sombras de dúvida, queria sair dali, queria seu lugar ao Sol. Mas a tempo, ela descobriu que estava errada, que todo aquele turbilhão de emoções por Dick era recíproco. Uma outra realidade do platonismo não atingira Kory, que era a decepção da realidade, afinal tudo que ela imaginava que Dick fosse, ele era, e muito mais! Se ela já o achava um máximo quando eram apenas amigos, agora ela se deleitava no quão certas - e até imcompletas - estavam suas expectativas. Ela o adorava, como uma criança adora batata frita e sorvete, como Richard Grayson adorava pudim. Viciou-se facilmente em seu falar, em vê-lo trabalhar, e ria quando, nessa última atividade, ele falava sozinho... o melhor de tudo isso era que agora ela tinha certeza que ele sentia o mesmo. A princesa acordava com um sorriso no rosto todos os dias ao saber que havia feito a escolha certa, persistido, e acreditado que era possível sim que duas pessoas que se amavam, ficassem juntas.

Mas agora havia um novo elemento: o sexo. Ela sabia das consequências físicas - até planejava ir à farmácia comprar um medicamento para evitar uma gravidez-, ela só não sabia o que pensar sobre as consequências psicológicas do ato. Muito antes Richard já havia falado sobre o grande tabu que era o assunto na Terra, mas em Tamaran era algo completamente normal e aceitável entre quaisquer pessoas interessadas. Kory já havia caído na Terra antes de seus instintos serem despertados, mas uma coisa era universal: o ato era indescutivelmente prazeroso e para ela ainda mais especial na companhia da pessoa que mais amava. Ela não imaginava que existiria um terráqueo tão doce e gentil, tão respeitável e carinhoso, que a fizesse se sentir plena e satisfeita. E mergulhada nesses pensamentos matutinos, ela percebeu que estava vivendo um dos melhores momentos de sua vida.

Ultimamente era raro que os Titãs tivessem sérios problemas. Os vilões ainda eram psicóticos e insanos, mas a vida pessoal do heróis ia de vento em popa. Volta e meia Garfield e Rachel não estavam bem, moças da cidade se insinuavam para ele sempre que podiam. Parecia que o muleque havia mesmo crescido e a empata conheceu seu lado ciumento, algo que ela não esperava descobrir de si mesma. Mas esse era um problema fácil de resolver, afinal ela já havia caído nas graças do rapaz-fera. Dick também tinha seus dilemas, e o cordão umbilical era difícil de ser quebrado. Sua "família" havia se metido em problemas. Depois de um duro embate com Bane, Bruce havia quebrado a costela e propôs a Dick que o substituísse como Batman por algum tempo.

Foi difícil aceitar. Embora confiasse na capacidade dos amigos, deixaria os Titãs por meses, e havia o jovem Tim Drake, terceiro Robin, que Dick julgava ser muito capaz de assumir o manto. "Você conhece Gotham desde os cinco", estava difícil para Bruce pronunciar tais palavras, estava difícil para Richard ouvir tais palavras. Por fim o menino prodígio aceitou, suportou Gotham por "dois meses, três dias e sete horas", e dizia isso aos amigos em quase todas as vezes que eles tocavam no assunto "Batman".

Mas junto com o uniforme do morcego, um outro passado vinha assombrá-lo. Era Bárbara, a mulher da sua vida por três anos. Ela sempre ajudava com códigos de segurança, informações secretas e as coisas mais impossíveis que alguém poderia conseguir. Richard a achava incrível, mas agora era só isso. Embora agora fossem apenas amigos, ainda era difícil tê-la tão perto. Voltar seus olhos para ela era quase que sinônimo de sentar num sofá, ligar a TV e assistir a feliz história dos dois com um final triste, a história com um final. Mas era só desviar o olhar, Kory estava ali em seus pensamentos, com toda sua ternura e ingenuidade, fazendo-o mais feliz do que ele podia imaginar que fosse possível... "É tão bom estar em casa", foi o pensamento que o invadiu ao abraçá-la depois de passar dois meses, três dias e sete horas longe dela.

– Mutano... em nome da nossa amizade... troca essa camisa!!! - Cyborg lançava um olhar preocupado e debochado ao amigo. Ravena possuia o mesmo olhar e Asa apenas ria da situação e da camisa florida e colorida do verdinho.

– Escuta Cyborg - Mutano falava sério - essa camisa é o máximo e se você quer colocar nossa amizade em jogo, tudo bem! É com você! - ele levantava as mãos como se estivesse se rendendo, mas ele não estava. Agora a empata ria ao lado de seu líder achando toda aquela situação tão ridícula que mal acreditava que aquela conversa estava acontecendo.

– Lembra quando ele usou isso em Tóquio??? - Richard levantava da mesa de café da manhã ainda gargalhando da situação e Cyborg lançou novamente aquele olhar - Você sabe mesmo ser um estrangeiro, não é Gar?!

– Ele já é um estrangeiro naturalmente... ele é verde... - Ravena entrava na brincadeira e Gar não podia acreditar que a própria namorada o encarnava. Richard já se acabava de rir segurando a porta da geladeira, ele apenas pegou fôlego por alguns segundos para depositar um beijo terno na testa de Estelar que havia chegado à cozinha naquele momento.

– O que foi agora? Estou sendo discriminado pela minha cor? Isso é racismo! Eu posso processar vocês...

– Na associação dos caras mal vestidos??? - Cyborg disse, arrancando um sorriso da recém acordada Kory.

– Então é isso "né"? Não venham me pedir ajuda quando vocês estiverem na pior e eu estiver me dando bem com minha camisa da sorte. Por vocês não me transformo mais nem em um canguru.

– Mutano, é óbvio que essa roupa não ajuda em nada em combate, só vai ter deixar mais lento que uma lesma manca - Ravena insinuou.

– Bem, você nunca me viu transformado em uma lesma... mas num cavalão você já viu né Rae Rae?! - Mutano disse num tom malicioso que instantaneamente arrancou gargalhadas dos outros amigos e deixou Ravena tão ruborizada que Estelar mentalmente a comparava com um tomate maduro.

"Huuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmm", "AAeeee Ravena!!!", "Despertou o cavalão!!" os meninos caçoavam da empata que ia de branca a vermelha. Embora houvesse um constrangimento inicial, ela não estava brava mas soltou alguns "mas que babaca!" entrando no clima descontraído.

– Olha pessoal... depois dessa vou até me retirar - Victor se levantava limpando as lágrimas do olho humano - Estou ajudando a Sarah e conversando com as crianças da reabilitação em que ela trabalha. E Rachel... cuidado com esse cara! - Disse apontando para Garfield, e a moça respondeu um "pode deixar" antes de fuzilar o namorado com os olhos.

Mutano convidou Rachel para conversarem na sala. Ele esperava um leve esporro, mas tudo estava bem. Ravena o aceitava do jeito que era e as brincadeiras já não a incomodavam mais e ele até brincava por vezes mas também sabia respeitar o jeito fechado da moça. Eles eram felizes e jamais podiam imaginar que isso ocorreria estando um na companhia do outro.

Na cozinha, um outro casal conversava.

– Você está bem? - Dick perguntou vendo a moça comer. Ela assentiu com os olhos animados e a boca cheia da salada de frutas. Ele riu da falha tentiva dela em falar e comer ao mesmo tempo e a observou por um momento. - Desculpa.

– Pelo que está se desculpando? - ela perguntou preocupada logo após terminar de comer - Aconteceu alguma coisa?

– É que ás vezes eu fico me perguntando como... como você passou tanto tempo sofrendo por minha causa, sem ficar brava comigo, sem nunca dizer nada.

– Ah Richard... - ela pegou as mãos do rapaz - você já se desculpou por isso - disse a moça inocentemente - Tudo isso passou, não é mesmo?! O que aconteceu no passado já não me afeta mais, e além disso nós tivemos uma bela amizade e essa amizade é o que nos sustenta... Eu quero que você seja o meu melhor amigo pra sempre.

– Eu também também quero isso Kory... E eu quero isso e muito mais...

Agora era a vez d'ela estudá-lo. Observava-o tentando compreender o que ele queria dizer com tais palavras. Seja lá o que ele planejasse para o futuro deles, ela estaria disposta. Flashes da madrugada anterior invadiam sua cabeça, ela fechou os olhos por alguns segundos para "ver" melhor, quase se esquecendo da presença de Richard ali. A doce vontade de dizer "eu não consigo parar de pensar no que aconteceu ontem" lhe vinha a tona de forma incessante, mas os costumes e medos terráqueos já faziam parte dela e como Dick não fazia o tipo romântico, ela receava que ele a achasse um tanto piegas.

Abriu os olhos e ele continuava ali, olhando para ela como se quisesse gravar todos os traços de seu alvo rosto, e antes que ela pudesse fazer um comentário de como seu perfume era bom, ele disse:

– Eu não consigo parar de pensar no que aconteceu ontem...

Foi inevitável que um largo sorriso preenchesse o rosto da ruiva.

– Eu também não - abaixou timidamente a cabeça ao dizer, e logo ele a levantou dando-lhe um suave beijo que aos poucos ficava voraz e que foi interrompido por um toque no telefone de Asa.

– Oi - a voz do rapaz soou seca e era tão perceptível que Kory se recolheu um pouco na cadeira, ela sabia que era algo relacionado a Gotham. Dick ficou em silêncio por um tempo e olhava seriamente para a alien - okay. Estou indo aí. - e desligou - Kory eu preciso resolver um problema. Tudo bem?

– Claro - ela sorria, mas seus lábios estavam tensos. Havia alguma coisa errada, não com Dick, mas com ela. Sentia uma fria mão invisível envolvendo e apertando seu coração. Ela sabia que nada de mal aconteceria a Richard - ele tinha uma proteção nata contra Gotham - mas o abraçou tão forte que o próprio Dick imaginava se não havia cometido algum erro, transmitido algo ruim em sua voz preocupada.

– Eu te amo, Kory - ele disse preocupado ainda envolvido pelo abraço com fragrância de lavanda. - E quando eu voltar nós podemos fazer uma visita ao planetário. O que você acha?

– Fabuloso! - ela disse, não se contendo da felicidade que era estar na presença de amado tirando um dia para o lazer, a euforia quase a fez esquecer por um momento do mal estar que a havia dominado há segundos atrás. Soltou-se do rapaz depositando mais uma vez seus lábios nos dele. - Vejo você. - disse ao soltar as mãos do rapaz antes de vê-lo sorrir e sumir por trás da porta automática.

A decepção era algo inevitável naquele momento. Dick planejara o dia com a ruiva, mas tinha de aceitar os ossos do ofício. O dever o chamava, mas ele queria fingir que estava dormindo, queria não responder, queria não ver que naquele dia precisavam do Asa Noturna e ele jamais imaginou que um dia pensaria assim. Ele estava surpreso em conhecer o novo Dick.

Chegando na mansão Wayne, decidira passar nos aposentos de Bruce antes de falar com Bárbara que havia lhe contatado. O homem morcego estava concentrado em um ponto fixo na paisagem por trás da grande janela de vidro e mal percebera quando Dick chegara reclamando, exatamente quando fazia quando tinha doze e estava descontente com as ordens de Bruce.

– Achei que já podia ir pra casa! O que esse idiota do Coringa ta pensando?

– É o que eu me pergunto há anos? - Bruce se virou para encarar Dick, que o analisava, agradecendo mentalmente pelo pai adotivo estar bem- como estão as coisas na Torre?

– Eles não param de encher o saco - Dick sorriu colocando as mãos no bolso da calça jeans.

– Então devia trazê-los para cá, ficar uns dias, para eles verem a beleza que é essa cidade - Bruce brincou enquanto colocava um casaco com uma certa dificuldade. Richard caminhou até Bruce o ajudando a vestir a peça, ouviu um "obrigado" e uma pergunta um tanto desconfortável: - Como você e a tamareana estão?

Asa pestanejou antes de responder, não era como se Bruce odiasse a ideia, mas temia pela segurança dos dois. Embora tenha dito e até mostrado para o filho, as consequências de um relacionamento com as vidas que tinham, ele sabia que Dick ultrapassaria essa barreira, ele era rebelde e corajoso. Ele era o Robin Revoltado - Depois de Jason Todd, é claro.

– Estamos bem. - respondeu o rapaz.

– Sabe que me só preocupo com... - Bruce começou.

– Vou pedí-la em casamento hoje - Dick soltou cortando o Batman.

Bruce sorriu sinceramente causando um sorriso em Dick também. O homem morcego esqueceu de todas aquelas regras de convivência e vida social e apenas se orgulhoso por em Richard um sorriso de felicidade.

– Estou feliz por você, sinceramente. Espero ser convidado!

– Obrigado! Vou pensar no seu caso - Dick brincou enquanto caminhavam para a sala onde outra ruiva os aguardava.

Envolta por três monitores, uma linda mulher de cabelos vermelhos e olhos claros digitava algo de forma perspicaz, e logo se virou em sua cadeira de rodas, quando os dois homens entraram na sala.

– Hey Babs - Dick disse de longe enquanto Bruce parava para analisar o monitor que estava no centro.

Discutiam sobre os passos do Coringa que mal esperou o ataque de Bane, para dar sinal de vida. E como estava vivo! Oráculo monitorava os passos do insano e achara uma pista significativa para capturá-lo. Precisavam esperar mais um tempo antes de agir, mas a mulher logo comunicara aos dois para estarem cientes e atentos. Ela continuaria trabalhando e fazendo o que fazia de melhor. Bruce recebera um telefonema e deixara Dick e Bárbara na sala. Dick se preparava para seu segundo interrogatório.

– Como você está? - ela começou. - Conseguiu descansar e aproveitar?

– Um pouco - ele respondeu e flashes da noite com Kory invadiram sua cabeça, lembrando a ele que tinha um inadiável compromisso - Mas como temos tempo até pegarmos esse louco, acho que consigo retomar minhas forças... e você?

– Fazendo o de sempre...

O silêncio perdurou por um desconfortável tempo. Richard queria dizer que tinha que ir mas isso abriria espaço para Babs se dar conta de que o Rapaz tinha um encontro. Ele não escondia dela, mas evitava qualquer tipo de situação constrangedora. O término dos dois não tinha ganhado um ponto final. Uma reticências pairava no ar e Dick tinha medo disso, tinha medo de conversas, tinha medo de ser posto à prova, tinha medo de começar a duvidar de seus sentimentos, mesmoo que naquele momento ele estivesse mais certo do que nunca.

– Richard, eu gostaria que soubesse de uma coisa... Sei que as coisas não terminaram bem, e eque eu fui responsáel por tudo o que aconteceu. - ela falava e com temor ele lhe dava toda sua atenção. - Mas não precisamos ficar nesse clima sempre que nos vermos.

– Desculpa Babs - ele relaxou, encostado na pequena mesa atrás de si - você sabe que eu não lido muito bem com isso.

– Esqueceu de como éramos amigos?

– Eu nunca esqueci de nada - ele disse sério.

– Você pode me procurar como uma amiga, pode me pedir ajuda para qualquer coisa, eu sempre vou estar aqui... você sabe disso, não é?!

– Eu sei Babs... - ele se aproximou da ruiva que o olhava por cima dos óculos sedutores. Qual era seu problema com ruivas? Ele deu um beijo rápido em sua testa, e sorriu ternamente para a moça. - Obrigada... eu tenho que ir.

Ela lhe retribuiu o sorriso, e virou-se novamente para o monitor, quando Dick deixou a sala.

Grayson saiu da mansão com a mente completamente vazia, e ele estranhou isso. Sua conversa com Bárbara e Bruce não rondavam sua cabeça, seu encontro com Kory não rondava sua cabeça. Ele estava aprendendo a deixar tudo nos lugares de onde saía. Uma sensação de paz o preenchia quando o comunicador tocou de forma assustadora e insistente.

– Dick, onde você está? Vá para Tamaran agora! Assim que chegar na Torre, sua nave estará preparada!

Um mal estar tomava conta de Dick e ia crescendo à medida que os segundos passavam. Seus olhos vasculharam toda aquela área procurando desesperadamente a veloz moto que o levaria para casa. A mensagem de Cyborg o deixara mais do que preocupado, principalmente por causa da palavra "Tamaran".