"Costumava existir uma torre acinzentada sozinha no mar
Você se tornou a luz no meu lado sombrio
O amor continua sendo a droga que dá uma onda, sem uso de pílulas"

-Casal, tragédia, mar... - o homem disse com olhos semicerrados propondo o desafio à moça que balançava os pés animadamente, sentada na do topo da Torre T. Ela parecia pensar um pouco, mas não demorou pra responder.

- Titanic!! - ela apontou para o namorado, animada, já sabendo que tinha acertado a brincadeira.

- Essa foi fácil... - ele riu sentando ao lado dela com um pote cheio de morangos com açúcar.

- Mas eu acertei - ela levantou as sobrancelhas se gabando - Vamos lá Rich saiba perder...

- Mas eu ainda não perdi, tenho mais uma chance - ele pegou um dos morangos e deu uma pequena mordida, depois o ofereceu à ruiva convencida colocando a fruta em sua boca.

- Vamos lá... - ela começou com a boca ainda cheia, olhando para o céu como se esperasse uma ideia que fosse desbancar seu oponente - Já sei... Pinguins, pés, superação.

- Haha muito fácil: Happy feet: o pinguin!! - Richard disse tão certo da vitória que provocou uma gargalhada instantânea em Kory.

- Errou feio - ela ria - o filme é "Ta dando onda"!!!

- Estelar, isso não é justo!

- É sim, você é muito ruim nesse jogo!

- Você que passa tempo demais vendo filmes - ele mordeu um morango.

- Uuuh desculpa se eu não passo minha vida inteira dentro de uma sala - ela o roubou de Dick.

- Você sabe que eu não sou mais assim né, Kory - ele disse cortando o clima descontraído, mas a moça soube sorrir e expor aquele olhar que confortava Dick, aquele olhar que dizia que tudo estava bem.

- Eu sei - ela respondeu acariciando o queixo suavemente quadrado e definido do homem, alternava seu olhar entre os olhos e a boca do rapaz, ambos hipinotizavam Kory não apenas no sentido físico mas também em seu psicológico, agora ela podia olhar para aquele rosto por completo quase todos os dias. A máscara não era mais uma barreira, nem física e nem emocional e agora ela podia se comunicar com aqueles olhos e aquela boca sem problemas. - a propósito, amanhã fazemos dois anos de namoro... não é?!

- É sim - ele riu - dia nove de julho. Eu gostaria de te dar um presente...

- Pode começar ganhando o jogo...

- Que sacana! - ele disse sem emoção.

- É brincadeira - e o abraçou - Não precisa me dar nada - ela o olhou e ele fazia o tipo de quem falsamente aceitou o que ela disse e que com certeza faria algo, mas não disse nada - olha... O que acha de nos juntarmos a nossos amigos, a Sarah já deve ter chegado e eu quero ver a cara dela quando ela vir aquele bolo maravilhoso do Cib.

- Claro... Eu também quero ver... Só não quero ver a reação do Ciborg quando ele descobrir que comemos todos os morangos que sobraram.

- Hoje tem lasanha, aposto que ele nem vai sentir falta - sorriu, e ambos desceram para a sala principal.

"Eu comparo você ao beijo de uma rosa no cinzento.
Quanto mais eu recebo de você
Mais estranha é a sensação,
E agora que a sua rosa está desabrochando
Uma luz atinge a escuridão do cinzento"

O clima cinzento da Torre que todos sempre tentavam equilibrar com um jogo de piadas, uma pizza ou uma noite de filmes não existia mais. Tudo parecia mais leve e muito menos doloroso e dramático para meros adolecentes. Meros adolescentes... Não havia quem dissesse isso sobre a equipe que já havia vencido inúmeros e todo tipo de vilões naquela cidade, contudo era a visão de quem via apenas a capa, os heróis, os mocinhos. Todo o sentimento, o drama, e a história que se passava naquela construção em forma de "T", só poderia ser visto e sentido por quem estava bem ali. Eles tabém tinham seus medos, seus problemas, seus demônios, que precisavam vencer todos os dias, além dos vilões. As vezes as cargas eram pesadas, mas o clima sombrio era bom, porque só ele fazia com que os jovens heróis percebessem que precisavam intervir. Um em auxílio ao outro, era isso que os salvava de si mesmos. Mas já não eram tão jovens. O tempo era cruel, e passando, levava bastante coisa consigo, transformando tudo em lembranças. A maturidade chegava não apenas com a idade, mas com as responsabilidades e decisões que todo mundo precisa tomar algum dia, ás vezes isso assustava os Titãs, mas ao mesmo tempo trazia algo novo, a sensação de sempre estar em risco, estar correndo perigo à beira da segurança.

Dois anos haviam se passado desde a morte de Eddy e a prisão de Slade. Os Titãs temporários agora eram permanentes e tinham sua própria base no sul do país, mas sempre estavam visitandos os Titãs liderados por Dick Grayson. Sarah também costumava visitá-los, mas Victor evitava sempre que podia, pois tinha medo que algo acontecesse à moça, devido à sua circunstância de herói. Mas nesse dia ele abriu uma exceção, era aniversário da loira e ele queria fazer uma surpresa.

- Vic, esse bolo tá espetacular - Ravena elogiou seu amigo.

- Porque você ainda não viu a lasanha... - ele deu uma última olhada em Ravena antes de virar com o bolo e colocá-lo na geladeira.

- Você é mesmo convencido hein Ciborgue. - a empata se levantou caminhando pela cozinha, indo de encontro ao namorado verde que lhe depositou um suave beijo nos lábios

- Eu disse pra você Rae, não dá "trela" pra esse cara! - Mutano passou pelo forno e olhou através da portinha de vidro uma lasanha muito atraente aos olhos, a grossa camada de queijo derretendo ali, impregnando a cozinha com um cheiro, que eles acreditavam que era o que tinha feito Robin e Estelar saírem do topo da Torre.

- Huum, que cheiro maravilhoso Vic - Star correu para o lado de Mutano e ali ficaram observando a massa, como se fossem a raposa espreitando as uvas no alto da árvore.

- Só isso pra fazer vocês pararem de se atracar - Vic brincou olhando maliciosamente para Dick.

- Estávamos brincando de "Qual é o filme?", língua grande! - Robin rebateu.

- Ah, eu desisto desse jogo, o Mutano é um ridículo - Rachel se sentou ao lado do líder, na mesa.

- Hey - o verdinho levantou ao ouvir seu nome - Não entendi, se você e o Ciborg não sabem jogar, não ponham a culpa em mim!!!

- A gente não sabe jogar? Tem certeza? Olha as palavras que ele fala: Mulher, Praia e Prancha!!! - Ciborg diz indignado

- E qual é o filme? Soul Surfer? - Richard perguntou inocentemente.

- "Bruna Surfistinha" - Ravena responde sem emoção, e compartilha uma pequena raiva junto de Victor ao ver os amigos caindo na gargalhada. São interrompidos quando escutam o som de que alguém havia chegado à Torre.

- É ela! Vamos! - Cib diz jogando as luvas térmicas num canto da cozinha e pegando um grande e apetitoso bolo de chocolate coberto com calda e vários morangos. A loira entrou na sala e sua expressão se congelou.

- SURPRESA!!! - Todos gritaram ao receber a moça que parecia muito feliz com a pequena "festa". Ficou ainda melhor ao ver aquela grande bomba calórica pronta para ser devorada.

- Adeus alimentação saudável!!! - ela disse e correu para dar um beijo em Vic que ficou atrapalhado segurando o bolo.

Todos felicitaram a moça e se puseram a fazer o que faziam de melhor: Comer e conversar. A própria Sarah que conhecia os Titãs há pouco tempo percebera que muita coisa havia mudado. Os amigos pareciam mais unidos do que nunca, e o sentimento de felicidade entre eles era algo recorrente. Eles entendiam uns aos outros e poucas vezes precisavam conversar para descobrir se havia algo de errado aconecendo. "Talvez isso sempre tenha sido assim", a loira pensou, "apenas não para uma pessoa...". E essa pessoa era Dick. Sua presença agora frequente no grupo tornara tudo diferente, tornara tudo mais leve e estava claro que era por causa de Kory.

"Mas você sabia
Que quando neva
Meus olhos se tornam maiores e
A luz que você emite pode ser vista?"

A áurea sombria que seguia Dick foi destruída juntamente com a felicidade limitada de Kory. Ele estava feliz por inteiro, e ela, também já não era mais feliz pela metade.

Já passava das duas quando todos foram dormir, com exceção de Kory. Surpreendeu-se ao sonhar num cochilo, num espaço tão curto de tempo. Sonhara com seus irmãos e ao acordar se perguntava onde estavam e o que estariam fazendo. Se dirigiu para o topo da Torre, o lugar que mais a aproximava de casa. Era uma noite verão, e estava realmente quente, embora fosse madrugada.

"Existe tanta coisa que um homem pode contar a você,
Tanto que ele pode dizer"

- Olá - Kory se assustou ao ouvir a voz de Dick - Insônia?

- Oi - ela se virou novamente para olhar pro céu - Só estou tendo uma noite nostalgica.

- Noite nostalgica? - ele se sentou ao lado dela, sobre um tapete macio que ela havia posto ali.

- Lembrando da minha família... dos meus irmãos, da Kommander... - ela concluiu desanimada.

- Entendo - ele a puxou de forma que ambos ficassem deitados na tapete e procurou aninhá-la em seus braços - nem tudo o que acontece é culpa sua, você precisa aprender a tirar um pouco o peso das suas costas.

- Você me ensina? - ela tirou seus olhos do céu e os voltou para Dick com um sorriso que já o deixou mais tranquilo.

- Juro que eu não sou a melhor pessoa para te ensinar isso.

- Eu sei - ela voltou a olhar pro céu - Hey, lembra quando você me trouxe pra cá uma vez, quando eu estava tendo pesadelos?

- Sim, eu lembro deste terrível e belo dia.

-Terrível e belo?

- Terrível, porque não quero mais te ver sofrendo por Tamaran, e belo porque... - ele hesitou, deixando Estelar apreensiva. - porque... foi quando eu descobri que eu precisava de você.

A ruiva sorriu.

- Você é sempre tão sério e tão fechado... - ela brincava com os dedos dele - Eu não esperava nunca ouvir esse tipo de coisa de você.

- É - ele sorriu meio desacreditado - Nem eu. - Ele disse antes de ser beijado por Estelar.

"Você permanece
Meu poder, meu prazer, minha dor"

Estelar começava a achar que não havia melhor ideia do que levantar no meio daquela noite. Era tão bom estar ali, com ele, em sua casa, sem preocupações. O gosto da boca de Dick era algo que ela tinha certeza de que nunca enjoaria, deixava ela extasiada e em alguns momentos durante o beijo dele, ela esquecia onde estava. Naquela noite não era diferente mais havia algo mais, algo que vinha tanto dele, quanto dela. O beijo parecia fcar maior que a boca, e agora se beijavam com o corpo, algo que há dois anos Dick vinha evitando.

"Para mim você é como um vício crescente que eu não posso negar
Me diz, isso é saudável?"

- Kory - ele dizia entre beijos, sem saber do paradeiro de suas mãos. Sabia apenas do das mãos dela, que estavam em seus cabelos e costas, algo que ele adorava. Estava muito difícil sair dali - Kory - ele disse e ela o olhou esperando que ele dissesse algo. Mas o olhar de Koryander não o deixava falar, pois antes mesmo d'ele fazer a pergunta, o olhar dela já dava a resposta. Ele queria dizer "é melhor não", mas só conseguiu sair: - Os outros estão lá embaixo.

Kory o amava mais do que qualquer homem que havia conhecido e sabia que Dick sentia o mesmo e a respeitava. Ela estava pronta e sabia que Dick também estava há muito tempo. Era decidida e sempre soube o que queria, e ela queria Dick. Nunca duvidava de seus sentimentos em relação a ele, agora que ela também tinha a certeza dele, não conseguia ver nada que impedisse os dois de ficarem juntos.

- Você... realmente se importa com os outros lá em baixo? - ela perguntou mirando o rapaz embaixo de si.

- Não - ele a beijou vorazmente ao dizer, girando e ficando por cima da alienígena.

"Eu comparo você ao beijo de uma rosa no cinzento
Quanto mais eu tenho você
Mais estranho parece, sim"

Não demorou pra que ele tirasse a camisa branca que usava para dormir, e a blusa fina e verde de Kory. Agora seus troncos estavam selados e suados pelo clima e pelo calor de seus corpos. Richard se demorava do pescoço macio de Kory beijando-o, dando leves mordidas e sentindo aquela fragrância que ela esbanjava e que ele adorava. Agora ele prestava atenção no paradeiro de suas mãos, elas passeavam por todo o corpo de Kory, deixando-o cada vez mais hipinotizado pelas curvas suaves da moça. A pele da mulher era macia mas estava molhada pelo suor, principalmente seu tórax que subia e descia arfando, e enquanto ela buscava por ar, sentiu Dick deslizando suas mãos por ali, fazendo-a suspirar e olhar bem para os olhos de dele que parecia estar em outro mundo, embora estivesse olhando fixamente para ela. Ela nunca havia sentido aquilo, mas estava feliz por sentir com Richard. Em um dado momento percebeu que seus corpos estavam completamente nus enquanto passava as mãos pelas costas masculinas - ela não sabia se fazia isso conscientemente ou não, mas por vezes suas unhas deixanvam um finíssimo rastro vermelho na pele morena daquelas costas. Depois de algumas tentativas - que ela até julgaria como divertidas - sentiu como se o seu corpo e o de Richard fossem apenas um. Os olhos de Richard estavam fechados, e Kory presumiu que ele estava tendo a mesma sensação que ela, enquanto se ritmava sob Rich. Até para ela que não era totalmente entendida das coisas, estava claro que atigiram o limite da intimidade entre duas pessoas, e de uma forma inexplicável se sentia imensamente feliz, e o que completava isso ainda mais era o fato de Richard também parecer estar. Depois de algumns minutos ali, sentiu seu corpo estremecer junto ao de Rich, apenas torcendo para que ninguém tivesse ouvido nada. Estelar se levantou rapidamente e procurou as roupas para vestir. Dick a observava com um sorriso no rosto:

- Você é linda. - ele disse e imediatamente ela o olhou.

- Obrigada - sorriu timidamente e voltou a vestir a blusa. Depois se sentou novamente perto de Dick que também se vestia.

"E agora que a sua rosa está desabrochando
Uma luz atinge a escuridão do cinzento"

- Eu não acredito que fiz isso - ele disse voltando a se deitar. Sua fala continha felicidade e medo ao mesmo tempo.

- Você... - ela o olhou novamente apreensiva - Você está arrependido? - a moça perguntou preocupada.

"Eu fui beijado por uma rosa na sepultura"

- É claro que não... é que... você é tão... sei lá... inocente - ele riu maliciosamente, mas depois o tom sério preencheu o espaço novamente - foi tão bom, mas por um lado eu me sinto... - ele procurava as palavras, mexendo nos pés sem alguma finalidade.

- Dick, foi um dos momentos mais felizes da minha vida, não se sinta mal por isso... Você devia estar feliz também - ela concluiu com o melhor sorriso que tinha.

" E se eu cair, tudo isso irá embora?"

- E eu estou - ele finalmente olhou para ela.

Deitaram novamente abraçados no tapete macio ali no topo da Torre. Agora o clima estava mais agradável, e o céu era o único lugar para o qual olhavam. Nenhum dos dois dizia nada apenas sorriam e olhavam para aquela imensidão azul-marinho vivendo aquele momento. Todo o paradigma humano versus alienígena parecia ter desabado bem ali. Como uma construção mal feita por alguém que não tem fé em relação ao amor. Amor esse que já havia sido cantado em verso e prosa por Kory e Dick, Era boa a sensação de não ter que se comunicar apenas através de tímidos olhares, as poucas palavras cheias de vontade e anseio um pelo outro, disfarçadas em coisas básicas e supérfluas. Mais do que nunca pertenciam um ao outro, não o rapaz Robin e a menina Estelar, mas sim o homem Dick Grayson e a mulher Koryand'r.

"Eu fui beijado por uma rosa"