Sabores

Salgado - Zosan


Seu rosto estava quente mesmo o dia estando gelado, provavelmente uma reação inflamatória causada pela descoberta feita há poucos minutos. Andava rígido, suas passadas militares afastavam as pessoas e deixavam seu pescoço dolorido. Enfiou a mãos trêmulas nos bolso da calça, segurou um cigarro entre o ombro e a bochecha; quase colocará fogo no celular.

— Merda — praguejou antes de respirar fundo, como se tentasse sugar a boa energia da natureza para manter a calma, mas fez seu nariz arder. Coçou-o com mais brutalidade que o necessário e xingou mais uma vez ao ver a ponta do dedo avermelhado.

Era um dos sintomas.

Havia feito uma pesquisa minuciosa na internet para saber o que estava acontecendo com seu corpo e acabou descobrindo o motivo: hipertensão. Sentia-se envergonhado em saber que ele, subchefe de um restaurante cinco estrelas, tinha o problema de pressão alta. Ridículo, nem ao menos gostava de colocar sal em suas refeições e quando fazia era a quantidade necessária para ressaltar o sabor do alimento, não para maltratar sua saúde e de seus clientes. Contudo, encarou a situação como o homem corajoso que era e foi ao médico para a confirmação.

Estava preparado para tudo, menos para ouvir que sua pressão arterial estava normal.

— Uma grande mentira! — esbravejou ao finalmente encontrar com Robin, sommelier do restaurante, e contar a descoberta. A mulher, sempre disponível para ouvi-lo e aconselhar com grande sabedoria, riu da forma desesperada que Sanji se movimentava; as mãos acima da cabeça, bagunçando os fios claros, e as sobrancelhas em espirais se movimentando com as expressões de desgosto e desolação.

— Podia ser pior, senhor cozinheiro. — Olhos em chamas a encararam questionando rudemente como aquilo era possível. — O senhor poderia não ter “pressão alta”. — O sorriso na face da colega dizia mais que as próprias palavras, pois Robin sabia a verdade e, para piorar, ele também.

Admita, senhor cozinheiro.

Nunca.

— Está bem? — Tontura, olhos embaçados, fraqueza e zumbido nos ouvidos. Não, ele não estava bem.

— Sim — murmurou incongruente, talvez fosse a língua em seu pescoço o impedido os pensamentos de se manisfestarem corretamente. Ou seu Id¹ vencendo o Superego², pois mesmo sua razão dizendo para se manter afastado daquele homem, não desejava parar.

Tontura, olhos embaçados, fraqueza e zumbido nos ouvidos. Tinha que ser hipertensão, pois se não fosse o caso teria que admitir que estar com Zoro o afetava mais do que deveria.

Não eram amantes, o combinado era apenas sexo e tudo ficaria bem se permanecessem assim. De fato as manhãs não eram agradáveis ao notar o lado direito da cama vazio, mas culpava as dores no peito (outro sintoma) e não a falta do Roronoa.

Mas quando Zoro o beijou, Sanji chegou a conclusão que não adiantava mais negar.

O marimo era culpado por sua pressão alta e sendo assim tudo ficaria bem, pois não estava apaixonado, era apenas a quantidade absurda de sal que o idiota possuía nos lábios - mesmo que no fundo soubesse que era apenas o gosto salgado de seu suor.