Sabores

Amargo - Pipabeth


— Droga! — praguejou apoiada contra a parede enquanto encarava os pingos vermelhos caindo de seu pé para o chão, sangue misturado com pó e outras sujeiras, como o caco de vidro em que havia pisado.

Mancando, passou por montes de pilhas de papéis e pacotes de alimentos industrializados. Entre tosses e espirros, quase escorregando nos restos de uma pizza borrachuda e mofada, abria caminho em meio aos detritos criados por ela na própria casa; o eufemismo físico de como estava seu interior.

Curvando-se após abrir a geladeira, encarou as opções que tinha a frente e pegou um menu de comida mexicana; o telefone ficava no armário. Dessa forma teria sempre uma piada irônica para mostrar para a Vida que não precisava de ajuda para morrer no fundo do poço ao qual fora arremessada brutalmente.

Piper McLean estava morta.

Havia sido assassinada na quarta quinta-feira de Novembro do ano que era pra ter sido o melhor de sua existência; o melhor dia de toda sua vivência. Mas o Destino, cruel carrasco, mancomunado com a Vida, de humor sádico, resolveram festejar o Dia de Ação de Graças desgraçando-a.

Homicídio doloso, triplamente qualificado. Motivo fútil, dificultação de defesa e meio cruel.

Os assassinos foram elegantemente flutuando pelo ventos outonais, resolvendo detalhes entre risos sarcásticos. O Dia da Piper Morta seria o novo feriado celebrado por eles e, quem sabe, por mais soberanos metafísicos condescendentes a tal maleficência.

Annabeth Chase fora, e não sem motivos, a pessoa mais importante para Piper – que tinha um botão dentro de si, brilhante e vermelho, e que a atraia feito uma mosca. Uma armadilha interna, a bomba que a explodiria em menos de um minuto e que apenas a Chase possuía a capacidade de desarmar. Melhor amiga, irmã, confidente e amante. Paciente e curandeira, base para os primeiros pensamentos que iam além do amanhã e que preenchiam a descendente de Cherokees de algo que ela pouco conhecia: doçura.

Destino e Vida, contudo, não gostavam dela. Em algum momento entre sua concepção e seu aniversário de um ano, ambos criaram um jogo, Amargure, que consistia em tirar de Piper cada e qualquer grão de felicidade.

E Annabeth não fora exceção.

Na quarta quinta-feira de Novembro do ano que era pra ter sido o melhor de sua existência; o melhor dia de toda sua vivência, foi a jogada final de Amargure. Um acidente que levara de Annabeth as memórias, mas de Piper, a alma. Atualmente ela apenas existia, talvez menos que isso.

Amargure enfim havia chegado ao fim, Vida e Destino pareciam ter se cansado de ditar regras ao jogo. Contudo, Piper estava descontente com o final e, em algum momento entre acordar aquela manhã e debruçar-se sobre o parapeito da varanda segurando o menu mexicano, decidiu que chegara a vez dela de brincar.

— Ninguém precisa saber… — murmurou apoiada no ferro frio enquanto encarava os pingos vermelhos que pintavam a rua.

Ninguém precisava saber que na quarta quinta-feira de Novembro daquele ano, Piper McLean havia convidado a Morte para um jogo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.