Já tinha se passado um ano desde a loucura de Los Angeles, aquela mesma que ninguém comenta, mas que ninguém consegue esquecer.

Era uma data agridoce. Por um momento seria a oportunidade perfeita para comemorar a minha terceira chance de viver, por outro, eu não queria trazer tudo aquilo de volta à memória de minha família.

Estava sentada à minha mesa, com o pensamento longe enquanto brincava com a aliança de noivado que Jethro havia me dado dois anos atrás... ou seriam três? Não importa. Era a nossa aliança e ponto. E significava muito para mim, significava tanto que eu nem quis um anel de noivado. Ele, claro, queria comprar um para mim, com um diamante ou qualquer outra pedra preciosa que eu quisesse – Jethro chegou ao cúmulo de querer comprar um anel que tivesse a pedra que representava o nascimento de Sophie! – e eu neguei cada uma das vezes que ele trouxe o assunto à tona.

Eu não precisava de nenhuma joia que simbolizasse o pedido que ele havia feito. Eu tinha as lembranças daquele dia, bem como cada uma das testemunhas que, virava e mexia, me lembravam daquela tarde, há oito meses.

— Oito meses! – Murmurei olhando para a aliança.

E dentro desses oito meses, Abby, Kelly e Ziva já tentaram de tudo para planejarem um casamento que seria capaz de parar D.C.. Abby tinha até um esboço de como seriam as decorações – nada de preto, por ordem de Kelly! – e já tinha até escolhido a música da valsa. E, assim como respondi à insistência de Jethro com o anel de noivado, eu dei a mesma resposta às três desesperadas.

— Obrigada, meninas, mas não quero uma festa de casamento. – E sempre terminava a conversa do mesmo jeito, dando um beijo na testa de cada uma. E ao som de protestos as deixava falando sozinhas.

Eu não precisava de um casamento onde até o Presidente fosse um dos convidados. Eu não queria me vestir de noiva, andar até o altar só para dizer “sim” e ser abençoada. Essas coisas acontecem quando você é jovem, não quando a noiva tem quase quarenta e o noivo já foi casado três vezes, não, quatro! Assim, nesse quesito, eu e Jethro estávamos na mesma página. Tínhamos a mesma ideia, quando desse vontade, chamaríamos Kelly e Ducky. Arrumaríamos Sophie e seguiríamos para o Cartório, só para oficializar, afinal, perante os homens, o que valia era aquele papel.

Sem festas, sem dramas de escolha de vestido, sem notícias no jornal, sem pessoas desagradáveis querendo fazer discursos.

Só Jethro, eu, nossas filhas e nosso melhor amigo.

É claro que quando o restante da família ficasse sabendo dessa nossa fuga, ficariam chateados, Abby principalmente, mas eles superariam, afinal, era a nossa escolha! Nossa vida.

Estava pensando nisso quando a porta da minha sala, coitadinha, foi aberta de supetão e bateu na parede antes de se fechar com um estrondo.

— Boa tarde, Jethro! – Cumprimentei-o sem tirar os olhos da aliança.

Ele não me respondeu, então não era nada relacionado ao trabalho, até porque ele deu a volta na minha mesa e parou atrás de mim.

— Como está o seu trabalho? – Me perguntou ao virar a minha cadeira na sua direção.

Fiz uma careta em direção à pilha de relatórios.

— Poderia estar mais adiantado. Posso saber o motivo?

— Vá para casa e se arrume.

— Motivos, Jethro! Eu só trabalho com motivos! – Tentei soar o mais clara possível.

E ele abriu um sorriso de lado, aquele que há onze anos é capaz de me derreter por dentro e, enigmaticamente, disse:

— Só vá para casa, se arrume. A Ruiva está te esperando lá. Vou te pegar em uma hora e meia.

— Sophie está por trás do seu plano?

— Kelly também.

— Jethro, você sabe que eu odeio surpresas, e gosto muito menos quando você coloca nossas filhas no meio dos seus planos mirabolantes!

Ele se inclinou na minha direção, chegou o rosto na altura da minha orelha e falou:

— Você não vai se arrepender dessa! – Depois lentamente levou os seus lábios até os meus. E, eu esqueci onde estava e a regrinha básica de que jamais iriamos nos deixar levar dentro do meu escritório. – Jen... – Ele interrompeu o beijo. Sempre mais controlado do que eu! – Você tem que ir. Melvin está lá embaixo.

Ia protestar, mas ele fechou o primeiro arquivo.

— Tudo bem! Contudo, Leroy Jethro Gibbs, jamais se esqueça de que sou eu quem manda nessa Agência! – Falei quando desliguei o computador.

— Sim, Madame Diretora. – Me respondeu já abrindo a porta e a segurando aberta para mim.

Passei por Cynthia e a avisei que poderia encerrar o expediente. Ela me agradeceu com um sorriso. Antes que eu saísse completamente de seu escritório, o telefone tocou. Esperei, poderia ser algo importante, porém minha assistente apenas meneou a cabeça e tampando o bocal, disse ser pessoal.

— Bom descanso! – Falei baixo.

Ela meneou a cabeça e se voltou para a ligação.

Jethro me escoltou até o carro, que estava na garagem de provas. Tudo muito arrumado para o que quer que ele tenha planejado.

Melvin foi falando o caminho inteiro. Meu motorista, e uma das pessoas a quem eu mais confiava no mundo, estava exultante, tinha encontrado “a mulher da vida dele” há uns dois meses e as coisas estavam indo tão bem que ele não conseguia esconder as novidades de ninguém.

— Como as ordens do Agente Gibbs, a senhora está entregue. – Me informou.

— Você também sabe de algo? – Perguntei desconfiada.

— Não, senhora. Só sei que era para te deixar em casa. – Melvin me respondeu.

— Obrigada! E tenha uma boa noite! – Me despedi, desci do carro e antes de andar até a porta da frente, parei para contemplar a nossa casa. Tínhamos feito tanto em tão pouco tempo... e agora temos uma casa para chamar de lar. Porém, minha paz acabou quando Sophie abriu a porta e veio me receber, com Jet em seus calcanhares.

— Olá Mamãe!!! – Ela ficou na ponta dos pés para me dar um abraço e um beijo. Minha menina estava ficando alta. Creio que tinha puxado o pai nesse aspecto.

— Olá, Miniatura. Seu pai me disse que você estava me esperando?

E lá estava aquele sorriso lindo que ela tinha.

— Sim! E seu banho de espuma está te esperando! – Me puxou para dentro de casa. – Pode deixar que levo suas coisas para o escritório! E tem uma surpresa para senhora. – Falou animada. – É só subir as escadas!

Fiz o que ela mandou, enquanto observava, até quando tive visão, ela levar as minhas coisas e guardá-las onde deveria. O único pertence que não a entreguei, foi minha arma, que eu colocaria no cofre do quarto.

Falando em quarto, tinha algo de diferente no ar, e não estou falando do perfume de sais de banho que eu podia sentir, era como se algo grande pudesse acontecer.

Deixei esse sentimento de lado e segui para o banheiro, lá, como a minha Miniatura já tinha me informado, a banheira exalava o perfume dos sais de banho, o vapor indicava que a água estava o no ponto ideal e uma garrafa de vinho.

— Isso tudo é para me relaxar? – Gritei.

Minha filha estava mais perto do que previ e ouvi a risada dela.

— Só seguindo as ordens de papai! – Foi a resposta que recebi.

Olhei para toda aquela preparação. Não poderia desperdiçar, jamais!

Confesso que perdi a noção da hora, não sei se era para isso ter acontecido, até porque em certo momento, poderia jurar que ouvi a voz de Jethro dentro do quarto, mas se ele realmente estivesse ali, teria vindo me atrapalhar. Assim, vendo que já tinha ficado muito ali dentro, saí da banheira à contragosto, vesti o roupão que estava dependurado por ali e fui à caça de algo para vestir.

Pus o pé para fora do banheiro e me deparei com a minha filha totalmente arrumada em um lindo vestido branco que ia até a altura do tornozelo, com faixas azuis na cintura e do joelho para baixo e uma sapatilha branca, sentada na minha cama, ao lado de um vestido que eu nunca vira e um par de sapatos igualmente inéditos para mim.

— O que é isso tudo?

Sophie, como só ela sabe fazer, deu uma gargalhada.

— Isso fui eu levando o papai para fazer compras!!

Encarei minha filha com a sobrancelha levantada.

— Acho que ele nunca mais vai me levar a lugar nenhum! – Disse pensativa. – Mas valeu à pena!! A senhora gostou?

Caminhei até à cama e dei uma boa olhada no vestido, estranhamente era branco, um branco off White, sem muitos detalhes, só com um decote em formato de coração, seu cumprimento ia até os joelhos.

— Bonito. Foi você quem escolheu?

Sophie balançou a cabeça e vi que as pontas de seus cabelos estavam cacheadas.

— Quem te arrumou assim?

Ela olhou para a própria roupa e disse:

— Eu escolhi a roupa. Kells arrumou o meu cabelo, depois de xingar mais de mil vezes dizendo que eu tenho uma cabeleira que dava para vender que eu jamais ficaria careca.

Tive que rir de todo o drama da minha filha mais velha.

— Tudo bem, qual é a ocasião? – Joguei verde, Sophie costumava soltar as histórias quando estava falante.

— Não posso contar, ou papai me põe para trabalhar para pagar nossas roupas...

Uma ameaça típica de Jethro. E que sempre funcionava com Sophie.

— Então... eu só tenho que colocar essa roupa.

— Sim, e se arrumar. Do jeito que a senhora sempre se arruma quando vai sair com o papai.

— Vou ter a minha pitaqueira oficial para me ajudar? – Dei um beijo no alto da cabeça dela. – Está usando perfume?

— Sim! Ganhei da Kelly! Gostoso, né?

Minha filha de nove anos já estava usando perfume... como estava crescendo rápido!

— Sim, a senhorita está muito cheirosa.

— E a senhora está começando a ficar atrasada.

Comecei a me arrumar, com os devidos comentários de Sophie, que sempre tinha aquela opinião sobre tudo o que eu pensava em usar. Até o meu batom!

— E então? – Perguntei para ela que estava atrás de mim.

— A senhora está muito bonita, mamãe. Mas ainda falta uma coisinha. – Ela estendeu as joias que tinha escolhido com tanto cuidado. E, coincidentemente, era o mesmo conjunto que usei no Baile de Aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais que fui com Jethro no ano em que voltei para D.C..

— Mas a senhorita gosta desse conjunto, hein? – Perguntei enquanto ela abotoava o cordão em meu pescoço.

— Acho essa pedra muito bonita!

— São safiras, Sophie.

— Bem... eu não sabia o nome, mas são as minhas preferidas, junto com os diamantes. – Me respondeu com um sorriso.

Me levantei da cadeira e perguntei.

— Como estou?

— Está bonita, mamãe. Mas acho que falta alguma coisa...

— Creio que posso resolver esse problema! – Kelly apareceu na porta do meu quarto e segurava uma caixinha. – Será vai dar certo, Moranguinho? – Piscou para a irmã.

— Acho que sim.

— Pelo visto você também vai aonde nós vamos. – Falei para Kelly, observando o belo vestido de verão que ela usava, assim que ela parou perto de mim e pegou o meu pulso esquerdo, colocando um bracelete ali.

— Vou sim. E sou a responsável por te levar até lá.

— Onde está Jethro? Ele disse que me pegaria em uma hora e meia...

— Papai já esteve aqui, já se arrumou e já foi para onde ele deveria ir. – Kelly me respondeu.

— Mas o que está acontecendo aqui? – Quis saber.

— Me espanta você ainda não ter descoberto, Jen. Geralmente você é a primeira a descobrir qualquer plano.

Na minha mente não vinha nada. A não ser que estávamos arrumadas demais.

— Bem... está na hora. Moranguinho, vá pegar o que falta e nos encontre no carro. – Kelly tomou a frente e entregou a chave do carro e o celular para Sophie que desceu da cama, ajeitou a saia do vestido e desceu a escada, cantarolando. – Você sabe o que tem que fazer! – Disse.

— Kelly... – Tentei alertar a minha filha mais velha.

— Hoje não, mãe! Esse tom de voz não vai me abalar hoje! – E eu percebi que Kelly vinha me chamando de mãe com muita frequência desde os acontecimentos do ano passado.

Descemos para o primeiro andar, a porta estava escorada e Kelly, mesmo diante do meu olhar, não me contou o que estava acontecendo. Caminhei até o carro, Sophie já estava no banco de trás, tinha ligado o som e cantava a música tema de Alladin.

Kelly assumiu o volante e foi cantando pelo caminho todo até o centro de Washington. E eu só me dei conta do que estava acontecendo quando ela parou o carro em frente à Prefeitura.

— Ele não fez isso! – Murmurei. E para a minha total vergonha, minhas filhas começaram a rir.

— Demorou, hein? – Kelly riu ainda mais.

No banco de trás, Sophie se soltou do assento elevado, e desceu, vindo parar ao lado do carro e abriu a porta para mim. Assim que fiquei de pé, ela me estendeu um buquê de orquídeas.

— Não são suas flores preferidas? – Ela tinha um enorme sorriso no rosto.

— Sim, são.

— Então... tudo está certo? – Kelly perguntou ao acabar de ajeitar o cabelo.

— A coisa nova: o vestido e o sapato. A coisa velha e azul: o par de brincos e o colar. A coisa emprestada: o bracelete. E temos o buquê também! Tudo aqui, Kells! – Sophie recitou.

E eu não sabia se estava mais envergonhada de não ter descoberto o plano ou se estava estupefata por eles terem conseguido esconder isso de mim.

— Presumo que Jethro esteja lá dentro. – Falei ao ver o carro dele do outro lado da rua.

— Sim. Ele está. E está com a outra testemunha. – Kelly me informou. – E pode ir entrando, porque já está mais do que na hora!

Subi os degraus, entrei no prédio e não foi difícil de achar o Cartório. Antes de Sophie abrir a porta para mim, pedi que ela esperasse.

— Tá tudo bem, mamãe?

— Sim, filhota. Está.

— Está tremendo, com a boca seca ou está passando um filme na sua cabeça? – Kelly me perguntou. – Espero que você não fiquei enjoada como eu fiquei....

— Tudo isso. – Fui sincera.

— Ser a noiva do dia não é lá muito fácil! – Ela disse com um sorriso. Abriu a porta e quando vi, eu estava encarando Jethro. E notei que Sophie tinha deixado a sua marca no pai, pois eu não conhecia aquele terno.

— Chegaram bem na hora. – Henry comentou.

Ao fundo, o juiz de paz chamou pelo próximo casal:

— Leroy Jethro Gibbs e Jennifer Shepard?

Jethro estendeu a mão e pegou a minha. Entreguei meu buquê para a irriquieta ruivinha que tinha parado ao lado de Kelly.

— Estamos aqui. – Respondemos juntos.

A cerimônia foi rápida. Até porque o ato é rápido. E quando vi, estava de frente para Jethro e respondendo a pergunta que eu jamais pensei que responderia, ainda mais tendo ele como o destinatário.

— Jennifer Shepard, é por livre e espontânea vontade que você aceita Leroy Jethro Gibbs como seu esposo?

— Sim. – Minha resposta saiu forte e determinada.

— Leroy Jethro Gibbs, é por livre e espontânea vontade que você aceita Jennifer Shepard como sua esposa.

Jethro não pensou nem por um segundo.

— Sim.

— Pelo poder investido a mim pela Cidade de Washington, eu vos declaro marido e mulher.

E, agora era verdade. Levamos onze anos para chegarmos até aqui e hoje estávamos oficialmente casados.

Assinamos os papeis. Kelly e Henry foram nossas testemunhas. E quando assinei meu nome, fiz questão de acrescentar um outro sobrenome, para a minha própria surpresa e a de Jethro.

Assinei: Jennifer Shepard-Gibbs.

O olhar de Jethro para mim demonstrava toda a surpresa que ele estava com o meu ato. Surpresa e um certo orgulho.

Eu não tinha aberto mão do meu sobrenome, apenas acrescentado o dele, ficando com o sobrenome composto igual ao da minha filha.

Com o fim da cerimônia, ele, naquele movimento que lhe tão particular, enlaçou a minha cintura e murmurou no meu ouvido:

— Vamos ter uma mudança no nome da Diretora do NCIS agora?

— Pelo visto terei que conversar com SECNAV sobre isso, mas vamos.

O sorriso enorme dele não em enganava, ele bem que gostou que eu assumisse o sobrenome dele.

— E agora, vamos para onde? – Perguntei assim que chegamos perto dos carros.

— Para casa. – Foi Sophie quem respondeu. – Ainda está cedo. – Ela comentou apontando para o céu.

Errada ela não estava, mas para quem sempre gostou de sair para jantar em família, achei uma resposta estranha.

— Se a Ruiva falou, é o que vamos fazer. – Jethro concordou e abriu a porta para que eu entrasse no escandaloso Dodge. – Senhora Gibbs. – Disse todo orgulhoso.

Sophie foi com Kelly e Henry, o que nos deu aquele pequeno momento às sós. Claro que não falamos nada, apesar de que eu ainda estava espantada que Jethro tenha conseguido esconder essa cerimônia de mim.

Por todo o caminho até nossa casa em Alexandria, ele segurou a minha mão e de tempos em tempos a levava até os lábios e beijava a aliança.

— Você estava contando os dias para isso, não estava? – Perguntei.

Ele não me respondeu, só beijou minha mão mais uma vez.

Paramos na porta da garagem e eu percebi que tinha mais carros do que o normal ali.

— Uma festa?! – Falei.

— Um meio termo. Foi o que consegui negociar com Kelly, Abbs, Ziva e Cynthia.

Mal descemos do carro e vimos Abby parada na porta.

— Ela disse sim?

Eu só levantei a mão esquerda!

— SIM!!! SIM!!! VOCÊS MERECEM MAIS DO QUE ISSO!! – Agora venham até aqui. – Ela nos puxou para dentro da casa, depois parou antes das portas duplas do salão de balé de Sophie. – Gibbs você vai. E você, Jenny. Fique aqui.

Jethro me deu um beijo e foi para o lugar onde Abby o indicou. Eu tentei ver o que estava acontecendo e Sophie soltou atrás de mim:

— Não vale trapacear.

— O que a senhorita sabe sobre isso?

— Como o vovô sempre diz: eu sempre sei de tudo o que acontece na família. E agora tenho que ficar aqui com a senhora até que Abbs nos chame.

— Ela montou uma cerimônia, não montou?

O sorriso e o olhar da minha filha foram a resposta que eu buscava.

- Mais ou menos.... Kells queria algo grande igual foi o casamento dela. Cynthia, Abbs e Ziver acharam que uma cerimônia com alguns poucos convidados seria melhor, aí... bem, elas vieram até o papai querendo dar uma festa de presente para vocês dois.

— E o seu pai concordou, pelo visto.

— Não, mamãe. Ele explicou que quando vocês entrassem em um acordo iriam até o Cartório e se casariam. Kells e Abbs quase tiveram um treco. Ziver prometeu que te trancaria na sua sala e que te torturaria psicologicamente até que você aceitasse uma festa. Cynthia disse que facilitaria o trabalha da Tia Ziva...

— E a mocinha, onde está nisso tudo?

— A senhora gosta de festas tanto quanto eu, ou seja, uma vez hoje e outra daqui a um século... eu achei exagero uma festa se a senhora e o papai não queriam, mas nada parou as quatro, então o papai deixou que elas preparassem o que quer que esteja do outro lado.

— Você não sabe? – Agora eu estava surpresa.

— Não. Fui colocada para fora da organização depois que papai me levou para comprar os vestidos e a roupa dele, foi tudo escondido, até que Kells viu o terno do papai no meu closet e me chamou de pequena traidora e não me falou mais nada do que estava planejando. Pelo visto a ideia do papai era vocês dois se casarem e irem direto para a Lua de Mel, e eu ficaria para amenizar a situação. Mas tinha um problema. Eu!

— Posso saber por quê?

— Porque alguém tinha que tomar conta de mim... e como Kelly e Abby estariam um tanto furiosas pelo pulo do gato de vocês, só sobraria o Tony... mas ele e a Tia Ziva estão morando juntos, então eu não tinha com quem ficar e papai me disse que eu não viajaria com vocês, não dessa vez. Assim, ele teve que contar para a Kelly e ela espalhou a notícia.

— Preciso ter medo?

Sophie se sentou no chão, um movimento para invejar as bailarinas do Bolshoi.

— Acho que não. Mas eu não sei de muita coisa hoje. – Fez um beicinho.

— Mas sabe qual é o seu papel quando a Abby nos chamar...

Isso eu sei.

— Então.

— Eu vou levar a senhora até o altar.

— Tem um altar lá fora? Mas...

— Armaram tudo durante o dia... por isso eu tive que mandar a senhora direto para o banho quando chegou, para que não visse nada do que estava sendo arrumado lá fora.

— Tem quanto tempo que tudo isso está sendo arrumado?

Sophie levou a mão ao queixo e pensou.

— Acho que umas seis semanas.

— Tudo isso?

— Sim... e cada semana que passou achamos que a senhora iria descobrir, mas não descobriu.

Seis semanas e eu não vi nada. Acho que estava no mundo da lua para ter perdido os sinais.

— Jibblet! Pode vir! – Abby nos chamou.

— Espero que a senhora esteja pronta! – Minha filha falou ao se levantar do chão e arrumar a saia do vestido.

— Deixe-me ver se não sujou essa saia branca! – Falei e Sophie deu uma pirueta. – Assim eu não consigo ver nada.

— JIBBLET!! Cadê a sua mãe? – Abby se esgoelou.

— Mamãe, melhor nós irmos.

— E vamos por onde?

Sophie cruzou o salão e abriu as portas duplas dos fundos.

— Por aqui.

Caminhei até onde ela ficou me esperando.

— Agora, só cuidado para não cair. – Me avisou, ajeitou o meu buquê e me estendeu o braço.

Peguei o braço direito da minha filha, e prestei atenção onde pisava, ainda estávamos em uma área onde a árvore bloqueava a nossa visão, porém, era possível sentir o perfume das flores e ouvir uma melodia. As quatro tinham pensado em tudo.

— Bem... chegamos. – Sophie anunciou e eu olhei em volta, creio que com uma feição de boba, pois o meu quintal tinha se transformado totalmente e tinha um altar bem no meio, onde Jethro me esperava.

— Isso tudo foi feito hoje?

— Nas últimas semanas, mamãe... mas não se esqueça, a Abbs estava envolvida na preparação! – Ela disse com um sorriso. – Vamos.

Segui o ritmo de minha filha que me levava até o altar, e pude ver quem eram os presentes. Só mesmo nossa família e amigos, dentre eles vi Jack, a quem oficialmente chamaria de sogro, Mike Franks, talvez o grande responsável por eu ter sobrevivido no ano passado, Noemi, Cynthia e seu noivo Theodore, Melvin e a “mulher da sua vida”, Meghan, Tony, Ziva, Abby, Tim, Jimmy, Breena, Claire e Louis, seu marido e, lógico, Kelly e Henry.

Como celebrante do casamento, ninguém melhor do que Ducky.

Talvez eu não quisesse uma cerimônia de casamento, mas ao ver tudo o que as meninas tinham preparado, eu não poderia estar mais grata no momento.

Sophie parou ao pé do altar e eu pude ver que ele não era um simples altar assim, foi esculpido de madeira bruta e eu não duvidava que fora Jethro quem o fizera. Jethro desceu os três degraus e pegou a minha mão, me levando com ele até a presença de Ducky.

— Ouvi dizer que você está por trás de tudo isso... – Murmurei.

— Tentei controlar Kelly e Abbs de todas as maneiras.

— Notei.

Ducky coçou a garganta chamando a nossa atenção e começando a celebrar o nosso casamento. Tudo era tão inesperado, que eu não fazia ideia do que esperar do próximo momento.

Até que, depois que Ducky fez uma pequena homenagem à nossa história, ele pediu pelas alianças.

Acontece que já estávamos com as nossas alianças. E eu ia falar isso, quando Jet apareceu, uma gravata prateada em seu pescoço e uma almofadinha apoiada na cabeça, trotou direto até Sophie, que desamarrou um único anel da almofada e entregou ao pai.

Levantei a minha sobrancelha, aquele era o típico anel que eu vinha negando em ganhar nos últimos meses, contudo ali estava, um anel em ouro branco com uma enorme safira no meio.

Não teve votos, já tínhamos feito, só mesmo o ato de Jethro colocando o anel em meu dedo anelar esquerdo, como um apoiador para a aliança que já estava ali.

— E pode beijar a noiva! – Ducky terminou a cerimônia com a já tradicional fala.

Não preciso dizer que as palmas e assobios foram altos.

— Senhor e Senhora Gibbs? – Ducky nos perguntou antes de anunciar alto.

— Mas é claro, Duck. – Jethro falou.

— Senhor e Senhora Gibbs! – Ducky falou alto para a alegria de todos.

— FINALMENTE!!! – Kelly gritou e foi a primeira a vir nos abraçar! – Eu esperei 11 longos anos por esse momento! – Lançou seus braços na nossa direção e nos abraçou de uma única vez.

Abby foi a próxima e cada um teve a sua chance. E depois nos sentamos na mesa do deck para podermos jantar. E eu nunca estive tão feliz quanto naquele momento.

A noite caiu e como já estávamos quase no verão, a temperatura estava agradável ao ponto de que ninguém queria ir embora, ou talvez, ainda houvesse uma outra surpresa que eu desconhecia.

— Bem... está na hora! – Kelly declarou.

— Muito na hora! – Abby pulou da cadeira!

— Vai ser apertado! – Ziva falou. – Mas se eu os levar, chegarão na hora.

— Tia Ziva, se você levar os dois, eles não chegam a lugar nenhum! – Sophie comentou.

— Nos levar para? – Perguntei.

— Jennifer, minha querida, você e Jethro estão de férias, duas semanas. Aproveitem a sua lua-de-mel. – Ducky falou.

— Duas semanas?! Aonde? – Olhei para Jethro que tinha ficado muito relaxado, sentado ao meu lado por toda a noite.

— Você verá quando chegarmos ao aeroporto. – Me respondeu. – Hei, Ruiva. Tudo está arrumado?

— Essa parte sim!

— Você fez as minhas malas? – Encarei a minha filha.

— Sim! Kells deu uma conferida se tudo estava lá, mas fui eu quem fiz.

— Sophie Shepard-Gibbs, para onde eu estou indo? – Pressionei.

— Ixi, mamãe. Se eu contar o papai corta a minha mesada! Mas logo a senhora fica sabendo.

— Você não vai?

— É claro que não, mãe! – Kelly interveio. – É a sua lua-de-mel, nada de baixinhas chatas para atrapalhar.

— Quinze dias?! Ela vai ficar quinze dias sem nenhum de nós? – Eu me desesperei, se na última viagem, que ficamos fora por quatro dias, ela apareceu nas páginas policiais, imagina por quinze dias.

— Relaxa, Jenny. Pode viajar tranquila. Eu tomo conta da Peste Ruiva. – Tony falou.

Eu não teria um mísero momento de descanso e paz.

Sophie me guiou até o meu quarto onde outras roupas já estavam separadas, essas para viagem. Viagem longa de avião. Jethro já havia se arrumado e descido com as malas, da porta do quarto era possível ouvir Kelly, Ziva e Tony brigando sobre quem seria o motorista que nos deixariam no aeroporto.

— Você tem certeza de que vai ficar bem? – Perguntei para Sophie que me ajudava com as roupas.

— Vou sim, mamãe. Vai dá tudo certo!

— Qualquer coisa, filha, nos ligue.

— Isso se a Kells me deixar pegar em um telefone para ligar para vocês. Ela disse que eu não tenho a permissão para atrapalhar vocês de jeito nenhum e se eu ligar escondido...

— Se você ligar escondido...

— Ela me deixa na casa da Senhora Sanders por uma semana. – Minha menina tinha os olhos arregalados quando falou.

— Então eu te ligo. Será mais seguro assim.

— Com certeza. E a senhora já está pronta! – Anunciou no momento em que Kelly gritou o meu nome.

Sophie desceu ao meu lado até a porta de entrada, onde Jethro passava um breve sermão na equipe e, principalmente em Kelly, sobre como ele esperava que cuidassem de Sophie.

— E você, Ruiva. Comporte-se. Nada de aprontar para aparecer nas páginas policiais de novo.

— Pode deixar, papai.

— E nada de ficar acordada a noite inteira, mesmo estando de férias.

— Não vou papai!

Jethro só estendeu os braços e Sophie pulou neles para se despedir do pai.

— E cuide de todos eles, principalmente da Kells, ela anda descontrolada nas últimas semanas! – Ouvimos ele dizer no ouvido da caçula. Sophie só gargalhou e deu um beijo na bochecha do pai antes de soltá-lo, depois correu de volta para mim e fez a mesma coisa, só que subindo no degrau acima do meu, já que eu não conseguia mais levantá-la no colo.

— Tchau mamãe! Faça uma ótima viagem. Vou sentir falta da senhora! – Me falou.

— Também vou sentir a sua falta. E para onde vou mesmo?

— O papai te conta no caminho! Porque acho que ele não vai deixar ninguém levar vocês!

E era a verdade, Jethro preferiu ir dirigindo e deixar o carro no estacionamento para que alguém o pegasse no dia seguinte, a arriscar ter Ziva como nossa motorista.

Entramos na fila do check in internacional e eu estava olhando para o painel de decolagens tentando achar qual voo pegaríamos.

— Tudo bem, já estamos aqui. Para onde vamos? – Perguntei depois de ver mais de cinquenta destinos diferentes.

Jethro só me estendeu a passagem, onde li.

Paris.

Eu só soube olhar para ele.

— Só uma parada, ou talvez metade do tempo... – Ele me disse.

— Aonde mais?

— Você verá, Sra. Gibbs.

Creio que ele não se cansaria de falar estas duas palavras tão cedo. E eu não me cansaria de ouvi-las, desde que fosse Jethro quem as pronunciasse.

Sim. Senhora Gibbs. Um título que eu nunca esperei ter de verdade, mas que soava tão bem.

Tão certo.

Como se me pertencesse desde...

Desde sempre.