SPIN OFF - Carta Para Você

Lua de Mel e Babás Improvisadas


Nossa Lua-de-Mel estava sendo, como vou explicar, uma reprise de todas as partes boas da nossa missão de dez anos atrás. Éramos só nós dois, sem nenhuma preocupação na cabeça. Ou talvez, uma única preocupação.

A Ruivinha que fora concebida nessa cidade, há dez anos.

— Será que tudo está indo bem do outro lado do Oceano? – Perguntei para Jethro depois que me aninhei nele.

Ele ficou em silêncio, não porque não queria pensar nas filhas, mas porque estava tentando pensar no que elas poderiam estar aprontando a essa altura.

— Creio que sim, Jen. Notícias ruins chegam rápido. E eu não me preocuparia tanto assim. Tirando o bem estar e a vida de DiNozzo estarem em perigo, o restante vai ficar bem. Além do mais, tem Ducky, para quem já foi médico do Marinha Real, ele vai saber resolver qualquer problema que apareça.

Não sei o porquê, mas algo me disse que nem tudo estava tão bem assim... tirei esse pensamento da cabeça e me concentrei no meu marido ao meu lado.

— Quer saber, você tem razão. Eles vão sobreviver. Só não sei se você irá sobreviver a esse dia, Senhor Gibbs. – E o beijei apaixonadamente.

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— Tudo está pronto dentro dessa casa? – Gritei da porta.

— Calma, Kelly. Sua irmã não é surda!

— Mas eu não estou chamando a Moranguinho, Henry. Estou acordando o lesado do Tony.

— Pode parar de me chamar de lesado! – Tony apareceu no hall de entrada com uma xícara de café na mão. – E para o seu governo, é a Peste Ruiva quem não acordou até agora.

— Já tentou a água fria? – Henry falou ao meu lado.

— Se eu fosse você contava até três. – Ele sorriu e olhou para o alto da escada.

— SOCORRO!! ESTÁ TENTANDO ME MATAR, TIA ZIVA?? O QUE FIZ PARA SER ACORDADA COM UM BALDE DE ÁGUA FRIA?! – Eram os gritos da minha irmã, ao fundo era fácil de se ouvir os rosnados nervosos de Jet.

— Balde de água fria? Eficaz. Posso anotar essa tática. Aposto que foi ideia da Ziva.

— Não. A ideia foi de Tony. Só porque Sophie o acordou na base da mangueira ontem, enquanto ele cochilava deitado na cama elástica. – A israelense disse ao descer as escadas, estava tão despreocupada que batucava os dedos no fundo do balde.

— Então a ideia não é dele! – Falei sarcasticamente.

— Será que você nunca ouviu a frase: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”?

— Você citando Lavoisier? - Olhei para Tony e depois resolvi preguntar para quem entendia da situação: - Ele morreu afogado ontem e quando voltou o cérebro dele realmente ligou? – Perguntei para Ziva.

Ela deu uma risada e depois foi guardar o balde, já DiNozzo me olhava ofendido, como se eu tivesse dito que ele não tem cérebro.

— Ele ouviu o Tio Ducky falar isso comigo! – Minha irmã apareceu encharcada no alto da escada, carregando toda a roupa de cama dela, com a exceção do pijama, já que ela ainda não o tinha tirado. – E bom dia para vocês. Não que eu veja motivos para dizer bom dia, mas a educação me manda dizer. – Passou por nós com os cabelos pingando.

— Tony, você é o Rei da Pirataria de ideia! – Falei infeliz. – Ainda tem café nessa casa?

Ele apontou para a cozinha.

Quando entrei no cômodo, Sophie já estava voltando, murmurava infeliz que agora teria que lavar a roupa dela e dar um jeito de secar o colchão se ela quisesse dormir na própria cama à noite.

— Mas essa aí murmura igual ao papai! – Falei quando ouvi os passos da minha irmã na escada.

— E vai ficar assim pelo resto do dia! – Ziva disse e foi se servir do café.

Ficamos em silêncio por um tempo, apreciando um café antes da bagunça do dia, quando ouvimos dois sons: Abby chegou gritando bom dia para todos e o som de algo rolando a escada e parando no hall de entrada.

— O que é isso, Jibblet?! – Abby parou a sua saudação.

— Meu colchão... a Ziva me acordou com um balde de água... agora tá tudo molhado! E isso tem que secar até de noite!

— Deixa que eu te ajudo, Pequena. – Escutamos Tim falar.

— Obrigada, Meu Ursão Azul!

E com pouco tempo, Tim passou por nós carregando o colchão de Sophie para colocá-lo no sol.

— Por que vocês acordaram a Jibblet na base da água fria??!! – Abby apareceu na cozinha nos encarando.

— Não fomos nós! – Frisei. – Foi a Ziva!

— Então tem dedo do Tony também! – Disse a gótica mirando o casal Tiva.

Ziva deu de ombros.

— Já está tarde, Abby. Ela não levantava por conta própria, então resolvi o problema.

— Não... você encharcou a garota e o colchão dela!

— Ela não vai morrer! – Tony falou. – Foi só água, Abby. E a Peste Ruiva é forte!

Abby não ficou nada feliz com a explicação e sumiu para ajudar a minha irmã, provavelmente a secar o cabelo.

— Tudo bem, não temos ninguém para regular horário. Para onde vamos? – Perguntei assim que terminei a minha segunda caneca de café.

— Abby já tem o roteiro pronto. – Tim falou, se servindo de café, todos estavam muito à vontade com a ausência do Casal 20.

— E ela começa por... – Henry quis saber.

— Cinema. Depois quer ir fazer um piquenique no Parque Rock Creek, aí ela falou em ir em um Parque de Diversões em Rhode Island.

— Mas Rhode Island é longe! – Comentei.

— É a Abby. – Foi tudo o que McGee falou.

Com pouco Abby e a Moranguinho desceram. Minha irmã devidamente pronta para ir e, como que por milagre, estava usando tênis.

— Esqueceu a sapatilha? – Perguntei.

— Não, Abbs me disse que vamos no Rock Creek Park... tênis é melhor para andar por lá.

Levantei as mãos para o céu como que agradecendo que minha irmãzinha fashionista tinha senso, às vezes.

Sophie tomou o seu café da manhã, depois arrumou a cozinha, tudo sem reclamar.

— Tudo pronto? – Perguntei quando ela apareceu com uma mochilinha nas costas.

— Sim.

— O que tem aí?

— Um kit de primeiros socorros! – Ela disse séria. – Um pouco de tudo e meus óculos escuros.

— Precavida igual a mãe... – Henry murmurou.

— Aprendi com ela, Henry! – Sophie disse toda convencida. – Mas mudando de assunto, vou com quem? Temos três carros e não acho que precisamos de todos, podemos diminuir um e o economizar combustível.

Só para ter certeza, coloquei Sophie comigo e Henry, afinal, eu sou a irmã daquela pestinha e tenho a obrigação de tomar conta dela.

Chegamos ao cinema para assistir ao lançamento infantil do ano, Up, Altas Aventuras, Jimmy e Breena nos esperavam por lá.

Como não poderia deixar de ser, Tony praticamente sequestrou a Moranguinho para se sentar ao lado dele, enquanto os dois dividiam um balde extragrande de pipoca. Achei um tanto cedo para tanto sal e tanta pipoca...

— Não é sal demais? – Perguntei enquanto minha irmã colocava uma mão cheia na boca.

— Não. – Os dois responderam juntos.

Eram duas crianças mesmo!

Depois dos trailers, Tony saiu apressado em busca de água, voltou com quatro garrafinhas e logo estavam os dois tomando água iguais a dois camelos, foi irresistível de dizer:

— Eu avisei, não avisei?

Sophie fingiu que não me ouviu e comentou alguma cena do desenho com o Italiano de Araque.

O desenho era lindo, confesso que chorei horrores com a história de amor contada no início, sim, sou manteiga derretida e posso jurar que não fui a única! Vi muito bem Breena e Jimmy chorando, Abby com um lencinho e até Ziva David fungou alto.

Acabei por prestar atenção na animação e larguei minha irmã para dar os pitacos dela na orelha de DiNozzo, pena que ela não falou uma palavra... afinal, ela adora os desenhos da Pixar.

Após o filme, Abbs nos arrastou para comprar o que queríamos para o piquenique, claro que se fosse deixar por conta de Tony e Sophie só sairiam porcarias de dentro do supermercado, alguém teve que ser a responsável e comprar comidas decentes, claro que isso não ficou ao meu cargo, mas sim ao de Jimmy e Breena.

Com a nossa cesta cheia e tendo comprado uma imensa toalha xadrez vermelha e branca, fomos todos para o Parque Rock Creek. Eu que não sou boba nem nada, deixei que Sophie carregasse as coisas, e ela nem reclamou! Simplesmente foi tagarelando pelo caminho até o local escolhido a dedo por Tim. Ora sobre o desenho que tínhamos visto, ora sobre o que quer que ela tenha visto de diferente. Tim, o tempo inteiro, estava ao lado dela, ensinando-a como ser uma ótima escoteira, mostrando os marcos que ela deveria guardar caso se perdesse e, principalmente, como identificar o caminho certo pela bússola e pelo céu. A certa altura, ele entregou para minha irmã o mapa todo em quadrantes e a bússola e a mandou nos guiar no meio das árvores.

Sophie parou, olhou para o céu, observou a bússola e o mapa por um tempo, depois apontou o caminho e começou a andar, sendo ela a mais baixa do grupo, não se importou muito com a altura dos galhos por onde passava, então, não foi raro ouvir os meninos reclamando depois que batiam as cabeças.

— Hei, Peste Ruiva! Será que você não pode escolher uma passagem onde os galhos não vão tentar arrancar a minha cabeça?!

— Ih, Tony! Pare de frescura, aposto que os tapas que o papai dá em você doem muito mais do que esses esbarrões que você tá tendo. E, no mais, é só você abaixar a cabeça!

A risada de Ziva para essa resposta ecoou por todo o parque.

Sophie deixou Tony murmurando suas reclamações e apressou o passo, a acompanhamos com facilidade, até que ela parou na beirada de uma clareira.

— CHEGAMOS!! – Anunciou.

O lugar era lindo, e tinha até um corregozinho passando por ali.

— Não é um lugar perfeito?! – Abby entrou pulando na clareira.

— Com certeza, valeu a caminhada de meia hora! – Ziva comentou.

Breena ficou encantada com o lugar e Jimmy começou a discorrer sobre uma ou outra planta que tinha por ali.

Logo Abby clamou a atenção da minha irmã e as duas começaram a arrumar a toalha no chão e a espelhar as comidas.

— E lembrem-se, nada de deixar sujeira! A natureza só está nos emprestando esse lugar! – Falou a gótica quando tudo já estava arrumado.

— Alguém vai gritar “atacar”?

— Claro que não, Tony! Que ideia mais besta! – Reclamei.

— Então eu vou! ATACAR!!! – Berrou o Agente Sênior, eu juro, às vezes, eu tenho a certeza de que Anthony DiNozzo Júnior tem uma rara doença cerebral que o impediu de crescer, como Kate bem dizia, um Peter Pan Depravado.

Apesar dos alimentos 100% saudáveis que Jimmy tinha escolhido, principalmente para Sophie, o que acabou primeiro foram as porcarias. Claro que minha irmã, para não fazer desfeita, comeu os salgadinhos orgânicos que compraram para ela e ainda disse que era gostoso.

Sabe-se lá quem fez isso, mas apareceu um jogo de jenga e um baralho em cima da toalha, claramente para a escolha da maioria.

— JENGA! – Ziva soltou.

— Não! – Tim retrucou na hora. – Nós não vamos jogar jenga, Ziva, não enquanto você ficar jogando na minha cara aquela vez que jogamos na festa do pijama na casa do Gibbs.

— Mas você perdeu naquela vez! – Ziva argumentou, já se levantando.

— Lá vamos nós de novo... – Sophie falou baixinho.

— Eu não perdi! – Tim falou, também se levantando.

— O que eu não sei, Kells? – Henry me perguntou. E eu me lembrei que ele não estava naquela noite.

— Muita coisa... explico quando os dois acabarem de se matar! – Falei para o meu marido.

— Abrindo as apostas! Quem vence a briga, o Lorde Elfo ou a Ninja do Mossad? Depositem aqui o seu palpite com o devido valor da sua aposta! – Tirou o boné que tinha na cabeça e o jogou para o alto, o apresentando para colocarmos o dinheiro.

— Tony, não faz isso! – Sophie pediu.

— Peste Ruiva, o Novato não tem chances, todos sabem, mas vamos dar uma chance para ele. – DiNozzo piscou para a minha irmã.

— E então, McGee, vai ou não concordar comigo? – Perguntou Ziva, mas pelo tom que ela usou, parecia muito mais com uma ameaça.

— Eu não perdi o jogo, Ziva, foi você. Foram três partidas. Você jogou a torre duas vezes no chão.

— E você jogou uma. Na última rodada! – Ziva praticamente rosnou.

— Dois a um, Ziva. Você perdeu. Aceite! Simples assim.

Abby fez uma careta para a forma como Ziva se mexeu, escorregando a mão para o bolso da calça e buscando a faca que ela sempre carregava.

— Você me ameaçar com uma faca não muda o fato de que você perdeu. – Tim foi corajoso demais nessa. Eu já teria entregado a vitória de bandeja para a israelense a muito tempo!

— Ora, ora! Pelo visto o Novato tem uma coragem que nunca vimos! – Tony sorriu satisfeito e quando Ziva começou a bufar para dar a sua resposta, todos escutamos um grito abafado. Quando nos viramos, vimos um sujeito completamente ensanguentado, com uma faca no pescoço de Sophie.

— Jogue a faca, moça, ou a menina aqui morre! – Ele falou.

— Largue a garota! – Tony se levantou e buscou pela arma na cintura. Todo o clima de pré-briga em que estávamos indo para o espaço.

O sujeito, que parecia estar fugindo havia dias, apenas afundou a faca no pescoço da minha irmã que gemeu de dor e tentava se soltar.

— Fica quieta, pestinha! Ou eu vou fazer o seu sorriso ser de orelha a orelha.

Mas Sophie é teimosa, e não se rendeu, e nem poderia, não foi isso que vivíamos ensinando a ela?

— Não! – Ela disse e deu um pisão em seu agressor.

— Eu vou cortar a garganta dela ao meio... – E todos vimos o sangue começar a escorrer. Na clareira, os únicos armados eram Ziva, Tony e Tim, mas mesmo que eles tirassem as armas do coldre, em nada adiantaria, o homem estava meio que cambaleando e sempre tinha Sophie na sua frente, atirar daquele jeito, colocaria a vida da minha irmã em risco.

— Presumo que para chegarem até aqui, vieram de carro. Joguem as chaves na toalha ou... – Pressionou a faca no pescoço de Sophie novamente.

Tony, Henry e Jimmy jogaram as chaves.

— Pegue a do carro mais rápido. – Ele ordenou para a minha irmã e a empurrou de encontro ao chão e antes que ela pudesse fazer algo, sacou uma pistola e colocou no alto da cabeça dele.

Logicamente o carro mais rápido ali era o Mustang de Tony, mas Moranguinho pegou justamente a chave do carro de Henry, o BMW dele também é veloz, mas não tanto.

Antes que ela se levantasse, Sophie olhou diretamente para Ziva e sibilou o que pareceu serem três palavras.

Ziva deu um leve aceno de cabeça e Sophie se levantou, entregando as chaves do carro para o estranho que tinha acabado com a nossa festa.

— Aqui estão. Posso ficar.... – Ele não a deixou terminar e a agarrou pelo braço.

— Ela vai comigo, saibam que, se algum de vocês me seguir, ou se eu ver que a polícia está atrás de mim, ela morre. – E empurrou Sophie com ele para o meio da mata.

Eles sumiram de nossas vistas e no momento em que não escutávamos mais os sons dos seus passos, eu me virei alarmada para Ziva.

— O que Sophie disse para você?

— Taco de Beisebol.

— Só isso?! - Para mim não fazia sentido nenhum.

— A Sophie é esperta! – Henry disse. – Eu tenho um taco de beisebol no parta malas do meu carro.

— Tem??! - Como eu nunca tinha visto isso lá?

— E tem mais! - Abby cortou meu marido. - O seu carro tem GPS! O Mustang do Tony não tem como ser rastreado, pois é um clássico de 1969. Já o BMW de Henry é do ano passado, além do GPS, tem o computador, o que nos dá a chance de saber para onde estão indo!

Nada disso tinha passado pela minha cabeça, mas passou pela da minha irmã, pelo visto.

— Temos que ir para o NCIS, agora! – Ziva ordenou. – Eu vou seguir o rastro deles. Vocês voltem o mais rápido que puderem! – Falou e se embrenhou nas árvores. Tony logo atrás dela.

Breena, que até então não tinha se mexido, falou.

— Vocês vão. Eu posso ficar aqui e arrumar tudo! – E pegou as chaves do carro de Jimmy que estavam na toalha e jogou na direção de Henry.

— Tudo bem. Obrigada, Breena. Abbs, vamos! – Puxei a gótica comigo e sai correndo pelo meio das árvores. Eu sabia muito bem onde deveria ir, meu pai tinha me ensinado direitinho.

— Kelly, você tem certeza de que sabe para onde está indo? – Henry me perguntou, acompanhando com facilidade minha corrida.

— Estamos paralelos à linha que fizemos quando chegamos. Só confie em mim. E, Abbs, aqui tem sinal de celular?

— Ele falou para não chamar a polícia!! – O tom de voz dela era desesperado.

— Aquele cara cometeu algum crime, Abbs. Precisamos saber quem ele é!

Estávamos a cada segundo mais próximos do estacionamento, a claridade no meio das árvores já aumentava, à minha direita ouvi passos diminuindo, quando olhei, eram Ziva e Tony.

— Acharam eles? – Perguntei baixo.

Ziva balançou negativamente a cabeça. Tony estava ao celular, creio que chamando a equipe que estava de plantão nesse final de semana.

— A Cassidy vem? – Ziva questionou.

— Sim, mas me fizeram prometer que ligaríamos para o Chefe e a Diretora.

— Não! – Sibilei.

— Kelly, eles têm que ficar sabendo.

— O que vai adiantar, Tony? Eles estão na Europa! Não faço ideia de onde! Até que peguem um avião, que cheguem aqui, tenho certeza de que já resolvemos isso! Não são vocês o melhor time do NCIS?

Ziva iria retrucar, mas ouvimos um barulho, mais como um xingamento.

— O que...

— Veio do estacionamento. – Henry falou e foi o primeiro a sair da trilha.

Por alguns poucos segundos, a luz do sol me cegou, então, forcei meus olhos a se adaptarem e o que eu vi foi inacreditável.

— Eu não acredito! – Abby murmurou.

Tim, Tony e Ziva estavam paralisados.

— Sophie?! – Chamei minha irmã. – Sophie? – Chamei mais alto, mas ela não me ouviu. E nem ouviria.

Foi Ziva quem correu em direção ao carro de Henry. Foi ela quem chegou primeiro até minha irmã.

Sophie se assustou com a presença da israelense e se virou na direção dela, taco de beisebol alto, pronta para atacar quem a atacasse.

— Tudo bem, Pingo de Gente, ele já está mais do que imobilizado! Pode soltar esse taco.

Sophie soltou o taco e deu um belo chute no homem que a tinha feito de refém.

— E isso aqui é por estragar o meu passeio, seu nojento!

Tudo o que ouvimos foi o grunhir de dor do homem.

— Mas como? – Era tudo o que eu conseguia pensar.

Tony levantou o sequestrador de Sophie praticamente pelo pescoço e o jogou de encontro à tampa do porta-malas que estava aberto.

— E você está preso! – Falou alto, dando um belo chute nele.

— Qualquer coisa é melhor do que isso, mas me tirem de perto dessa menina! Nunca vi uma garota tão forte.

— Olha aqui, seu.... –

— Sophie, mantenha a educação. – Falei chegando perto dela e vendo o estrago que ela tinha feito. - Taco de beisebol?

Tony e Ziva levaram o homem que se recusava a dizer seu nome, para o Mustang, creio que eles se divertiriam na sala de interrogatório, porém, antes que eles pudessem enfiar o cara no banco de trás do carro, a Polícia Metropolitana de Washington chegou.

Ziva foi logo se identificando e Tony contando o que havia acontecido. E clamando que a jurisdição do caso era deles, afinal ele tinha ameaçado e sequestrado a filha da Diretora do NCIS.

Só que o sequestrador de Sophie, que descobrimos se chamar Joshua Burton, tinha assassinado duas famílias em uma semana, sequestrado as filhas da mesma idade de Sophie e sumido com os corpos delas. Minha irmã tinha se livrado de um psicopata com as próprias mãos! Com esse relato e tendo em vista as gravidades dos crimes cometidos, Tony e Ziva não tiveram opção a não ser entregar Burton para a PMW.

— Só uma pergunta, - O sargento em comando disse, depois que os oficiais levaram Burton. – Qual de vocês fez aquilo com ele? Tem mais de uma semana que atiramos nele e Burton nem ligou.

Todos nós olhamos para Sophie que estava com os olhos arregalados, creio que começando a entender o que aconteceu.

— Ela?! – Perguntou o Sargento.

— Sim. – Respondeu timidamente minha irmã. – Fui eu...

— Como?

— Com um taco de beisebol e uns bons chutes em um lugar bem específico.

O Sargento deu uma risada.

— Você é corajosa, garotinha. A Polícia Metropolitana de Washington agradece a sua ajuda.

Sophie ficou vermelhinha.

— De nada... – Falou praticamente se escondendo atrás de mim.

— Ela é a filha da Diretora do NCIS? – Escutei a pergunta.

Foi Ziva quem respondeu.

— Sim, ela é.

— Ouvi rumores que a mulher é durona, a filha deve ter puxado isso dela. – Foi o comentário final. – Vou precisar que ela deponha. Pode ser amanhã. Vocês são agentes, sabem que é de praxe.

— Tudo bem, ela estará na Delegacia amanhã. – Garanti.

Com a saída dos policiais, Tony ligou para Paula para cancelar a ajuda, tudo já estava bem e depois encaramos Sophie.

— Eu vou precisar de um advogado? – Minha perguntou completamente apavorada.

— Não, Sophie, não vai não. Mas não custa nada levar um. – Henry disse e pegou o celular.

— Vai fazer o que?

— Garantir que a sua irmã seja bem tratada na Delegacia amanhã. Nunca se sabe.

Ninguém discordou.

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Eu não tinha muita noção de que horas eram, na verdade, eu não tinha noção nem de que dia da semana era. Tudo estava tão... confuso. Misturado. Embaralhado.

A única certeza de que tinha era de estávamos em Marselha, nossa última parada depois de passarmos por Londres, Paris e Positano, e a melhor das notícias, não estávamos em um sótão minúsculo dessa vez.

Me espreguicei tentando descobrir por onde andava Jethro sem ter que me levantar da cama. Afinal, do meu lado ele não estava.

— Jethro? – Chamei. Sei que ele me escutaria de onde estivesse.

Nenhuma resposta.

Minha única alternativa era me levantar. Vesti a primeira roupa que encontrei e tive que rir da camisa que vesti. Lógico que de Jethro, e eu já sabia qual seria a reação dele quanto a isso.

Saí da suíte, esticando o pescoço pela sala que compunha o quarto de hotel onde estávamos hospedados. Ele não estava ali.

— Para onde você foi?

Não tinha muitos lugares onde procurá-lo, afinal, depois da sala e da suíte, só me restava a varanda. E ele não estava lá. Tinha desaparecido sem dizer para onde ia e nem deixou um bilhete. Voltei para a suíte a fim de ligar, quando o som do primeiro toque se fez ouvir no meu celular, escutei o aparelho jurássico de Jethro tocar dentro da gaveta do criado. Ele tinha acabado de quebrar a própria regra #03.

Uma hora ele teria que voltar, essa era a certeza. Assim, resignada com o súbito desaparecimento do meu marido, me sentei na sala e comecei a zapear pelos canais, procurando algo que não falasse francês.

Rodei quase todos os canais e não vi nada que me interessasse. Com um suspiro desliguei a TV e recostei a minha cabeça no encosto do sofá.

— Ainda bem que desligou, achei que iria passar o dia trocando de canais sem ver nada. – A voz de Jethro soou bem atrás de mim.

— Mas quando? Como? – Dei um pulo e quando vi estava de pé encarando Jethro.

— Quando eu saí ou quando eu voltei? – Ele tinha um sorrisinho de lado, daqueles que dizia que ele tinha ganhado a batalha de hoje ao me assustar.

— As duas, Jethro!!

— Saí a menos de quarenta minutos, Jen. Voltei tem dez.

— Eu não ouvi você chegar. – Acusei.

— Claro que não, estava trocando de canais igual a uma maluca enquanto murmurava possíveis vinganças contra mim.

— Eu falei meus planos alto?

— Pode ter certeza de que sim. – Ele deu a volta no sofá e veio me abraçar. – Mas tenho uma oferta de paz. – Me entregou um copo de café.

Olhei para o copo, reconhecendo a logomarca. Era do mesmo Café aonde fomos atrás de Zukhov pela primeira vez tantos anos atrás.

— Acho que posso aceitar isso. – Falei e roubei um beijo dele.

— Tenho isso! – Ele mostrou o jornal que tinha em mãos, o exemplar do dia do The Washington Post.

— As palavras cruzadas são minhas! – Avisei.

— Mas é claro que são! – Foi a resposta que ele me deu e depois me guiou até a mesa que tinha no centro da sala. Nos sentamos ali e ficamos bebericando o café, ele lendo a sessão de esportes e eu fazendo as palavras cruzadas. Uma cena muito parecida com o que acontecia dentro daquele sótão.

Terminei as palavras cruzadas e comecei a vasculhar pelo caderno de política, estávamos quase voltando para o mundo real, já era hora de começar a me atualizar sobre o que acontecia na cidade onde morava e trabalhava.

Li tudo sobre política, eram as mesmas baboseiras de sempre. Os mesmo políticos fazendo as mesmas asneiras de sempre. Revirei meus olhos para o último escândalo de um deles... Outra vez traindo a esposa com a secretária quase vinte e cinco anos mais nova... pelo visto ninguém aprendeu nada com o Bill Clinton.

Cansada do mesmo papo e vendo que nada de novo tinha acontecido no Hill, mudei de caderno. Jethro ainda estava no de esportes, evitei o de fofocas, talvez por ter saído demais nele nos últimos anos, quantas vezes não fui associada a este ou aquele político ou lobista ou empresário? Todos queriam saber um pouco mais sobre a única diretora entre as agências governamentais. Ri com o pensamento, até mesmo o meu segurança foi confundido com um possível affair meu.

Troquei o caderno e meus olhos caíram na manchete do caderno Polícia.

SERIAL KILLER É PRESO NO PARQUE ROCK CREEK.

Me assustei, afinal este era o parque preferido de Sophie e sempre que alguém podia, levava ela até lá para que ela saísse correndo com Jet.

Comecei a ler a matéria, me assustando com os detalhes dos crimes. Famílias inteiras mortas, com requintes de crueldade e sadismo. As mulheres foram tratadas como objetos sexuais e as filhas de oito e nove anos foram sequestradas, mortas, violentadas e tiveram seus corpos abandonados na área do parque.

Meu corpo inteiro gelou, imaginando pelo que todas estas famílias passaram.

Continuei a ler sobre o caso que pareceu assustar D.C. nos últimos dez dias, até que...

Meus olhos pararam na imagem do canto da reportagem, algo que eu vinha ignorando achando, erroneamente, que era a foto do maníaco. Não era. Era a foto da pessoa que ajudou a prender o maníaco. E eu conhecia as pessoas que estavam na foto, principalmente a baixinha, no meio, que estava ao lado do Capitão da Polícia Metropolitana de Washington.

—JETRHO!!! – Minha voz saiu esganiçada, assustada, horrorizada, desesperada.

— O que foi, Jen? – Ele soltou o jornal na hora e veio para o meu lado, eu não tinha percebido que tremia até que levantei o jornal à altura de seus olhos e apontei para a foto em questão.

Jethro pegou o jornal e começou a ler em voz alta a reportagem, eu não sabia se tampava os ouvidos ou se pegava o meu telefone e ligava para minha casa e acordava quem quer que estivesse de babá de Sophie nessa noite.

“E, ao ser questionada sobre como ela conseguiu imobilizar um homem com o dobro da idade, altura e peso, a pequena Sophie Shepard-Gibbs assim respondeu: Eu sabia que no carro do Henry (Henry Sanders, o vereador da Cidade de Washington) tinha um taco de beisebol e eu me lembrei disso no momento em que aquele homem pediu que eu pegasse uma das três chaves que minha família tinha jogado sobre a toalha de piquenique, assim, fiz tudo o que ele falou, peguei as chaves, entreguei-as a ele, segui-o pela mata, sempre calada, eu já tinha um plano formado. E, assim que chegamos no carro, ele abriu o porta-malas do carro e me mandou entrar lá dentro, só que ele se atrapalhou com as chaves, não conseguiu tirar da fechadura, e, assim, eu me abaixei, peguei o taco de beisebol e bati na cabeça dele, bem perto do olho que é onde é a região mais eficaz para se machucar alguém. Depois pulei do porta-malas e dei um chute nele, bem para imobilizar mesmo, no local onde a Tia Ziva me disse para chutar, e ia sair correndo quando a minha família apareceu para me salvar e para prender o homem.” – Jethro leu a parte do depoimento da nossa filha.

— Pode parar. – Gemi desesperada. – Sophie é um imã para perigo, não é possível!

— E tem mais! – Jethro disse, com um enorme sorriso. – Olha o que o Ruiva disse. Leu o último trecho da reportagem.

“E perguntamos para a garotinha ruiva se ela não ficou com medo, sua reposta não poderia ser mais surpreendente: Claro que não. Eu sabia que se o meu plano não desse certo, minha família vinha para me ajudar, eles sempre vêm! É a regra 15! Sempre trabalhe em equipe. E nós somos assim! E seus pais, o que eles te disseram? Bem... meus pais estão viajando, a trabalho, mas acho que eles ficarão orgulhosos, afinal, eu coloquei em prática tudo o que eles sempre me disseram para falar. Minha mamãe sempre me disse que nunca devemos demonstrar medo à ninguém, pois isso dará vantagem a quem está nos confrontando, e meu pai sempre me alertou que temos que ter um plano, para tudo. Eu tinha um plano, como já falei, e não demonstrei ou fiquei com medo, como mamãe sempre avisou. E eu sei me defender, Tia Ziva me ensinou vários golpes de defesa.

Jethro terminou de ler esse pedaço da reportagem e me devolveu o jornal, apontando para a foto que tinha me apavorado tanto, ali era possível ver minha filha segurando uma moldura de vidro, que segurava uma espécie de certificado:

Integrante Honorária da Polícia Metropolitana de Washington, por sua bravura.

Abaixei minha cabeça até o tampo da mesa e fiquei ali, pensando e repensando todos os motivos que eu tinha para NÃO pegar um avião nesse exato instante e voltar para D.C. e cometer um assassinato em massa.

— Você tem que admitir Jen, toda a situação deve ter sido bem perigosa, mas a Ruiva sabe se defender.

— Jethro, apenas pare. Eu estou tentando me controlar aqui e não quero te matar.

Ele riu alto.

— Não sei o motivo dessa reação. Você faria a mesma coisa.

— Eu não tenho nove anos, Jethro. – Levantei minha cabeça e o encarei.

— Ela é sua filha, Jen. Aceite isso. E... quem colocou a Ziva para treiná-la nos últimos anos foi você.

— Ela é nossa filha, Jethro. Não se esqueça disso. Até porque, um plano mirabolante desses, contando com um taco de beisebol enquanto o maníaco estava armado com uma arma de fogo é ser muito otimista ou ser muito, mas muito corajosa que chega a beirar a insanidade e isso, isso vem do seu lado da família, Sargento Atirador.

— Disse a mulher que se disfarçou de prostituta, invadiu uma delegacia de polícia e depois roubou um veleiro. – Ele retrucou ainda rindo.

— Eu tinha planejado os mínimos detalhes! – Falei ao me lembrar daquela noite.

— Mas contou com a sorte.

— Toda aquela operação foi uma questão de contar com a sorte, Jethro. Estamos vivos não porque alguém nos protegeu desde o início, mas porque tivemos sorte! – Explodi.

— Eu me pergunto que tipo de plano mirabolante poderá sair da cabeça da Ruiva se um dia ela se ver numa situação como a nossa... – Ele resolveu ignorar a minha ira.

— Não comece....

O sorriso dele ficou ainda maior.

— Jen... admita, você pode ver o futuro dela tão claro quanto eu...

— Ela tem nove anos. É uma criança, Jethro. E vai viver como uma.

Ele só levantou a sobrancelha.

— Ou o tanto que é possível tendo em vista a família que a cerca. – Completei. Não queria me dar por vencida, mas Jethro tinha razão.

— Essa a sua forma de dizer que eu estou certo, Jen? – Ele chegou perto de mim, parando às minhas costas, suas mãos em meus ombros.

— Nenhum de nós podemos prever o futuro, Jethro.

— Às vezes é fácil de se ver o que pode acontecer. Mas, como você disse, Jen, ela só tem nove anos e está do outro lado do oceano e nós dois ainda temos dois dias por aqui...

Eu entendi o que ele queria dizer por baixo dessas palavras, assim, me levantei e encarei os olhos que eram para ser azuis, mas estavam negros.

— Nisso nós concordamos!

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— Alguém virá nos pegar? – Jen me perguntou, esfregando os olhos e observando enquanto o avião se aproximava do Aeroporto Internacional de Dules.

— São três e meia da manhã, Jen. Acho improvável. Além do mais, não avisamos a ninguém que adiantamos o nosso voo.

Ela fez um muxoxo, creio que esperava um abraço das filhas assim que passasse pelas portas da área de desembarque.

— Me esqueci do fuso horário. – Murmurou e buscou por um espelho e o batom dentro da bolsa. – Jesus, eu estou horrível.

Eu não achava, mas aprendi, depois de muitas manhãs, que quanto a isso, eu não tinha que falar nada, Jen tinha a própria opinião sobre sua aparência em determinadas ocasiões.

O avião tremeu quando o trem de pouso foi acionado, Jen na mesma hora largou o batom e apertou a minha mão.

— Ainda tem medo assim de decolagens e aterrissagens? – Brinquei.

— São os momentos mais perigosos de se viajar de avião. A menos, é claro que você esteja em um avião oficial voando sob um território inimigo. – Retrucou sarcasticamente ainda apertando a minha mão.

Nossa aterrissagem foi um pouco turbulenta o que fez com que Jen quase quebrasse a minha mão de tanto que a apertou.

— Será que a toda poderosa Diretora do NCIS poderia soltar a minha mão agora? – Perguntei ao ouvido dela, já que Jen tinha, além de segurado a minha mão, se encolhido do meu lado e apoiado a cabeça no meu peito.

Escutei-a respirar fundo, se ajeitar na poltrona e encarar a poltrona na nossa frente, um movimento em que eu, como a conhecia muito bem, era para que ela tomasse o controle sobre suas emoções. Depois de respirar fundo por três vezes, soltou minha mão e me encarou.

— Se você comentar sobre isso com Sophie ou com Kelly... – Deixou a ameaça no ar.

— A Ruiva já sabe que você tem medo de decolagem e de aterrissagem, Kells eu não sei.

As portas da aeronave foram abertas, e várias pessoas começaram a descer como se fossem morrer se ficassem mais um momento dentro do avião.

— Não sei para que? As malas nem foram retiradas do bagageiro. – Jen comentou e se ajeitou no assento da primeira classe enquanto observava os demais se levantarem e recuperarem seus objetos.

Quando o corredor se esvaziou a ponto de que pudéssemos andar sem esbarrar em ninguém, Jen deu um tapinha na minha perna.

— Faça uso da sua altura e pegue nossas malas. – Disse com um sorriso e como se fosse me comprar, me deu um beijo.

Ela esperou pacientemente enquanto eu tirava as bagagens e assim que as duas malas e uma bolsa estavam no chão, se levantou, pegou uma mala e a puxou pelo corredor.

— Essa sempre é a pior parte.

— Chegar? – Perguntei.

— Não, desfazer as malas.

— Isso ainda vai demorar, temos que pegar as outras quatro malas. – Frisei. – Isso porque saímos daqui com duas.

Jen diminuiu o passo enquanto passávamos pelo terminal de desembarque e ficou do meu lado, me olhando com um sorriso, parou de repente e falou:

— Você pareceu ficar bem feliz com a barganha que fizemos quanto a sair para comprar alguns presentes. – Sussurrou no meu ouvido.

Pensei no modo como ela havia me convencido a sair por três dias seguidos em Paris para que ela pudesse comprar presentes para todos e algumas coisinhas para ela, Kelly, Sophie e até para mim.

— Na hora eu não tive o que reclamar, agora... são seis malas e três bolsas no total, Jen.

Outro sorriso.

— Vai me dizer que você não gostou daquele vestido?

Passei meu braço livre pela cintura dela.

— Conversamos sobre isso quando chegarmos em casa.

— Bastava dizer que gostou do vestido. – Ela deu de ombros. – Vou pegar um... não, dois carrinhos para colocarmos as malas. – Anunciou e saiu clicando os saltos pelo piso da área das esteiras, atraindo alguns olhares, das mulheres de inveja pela sua elegância de andar de salto mesmo depois de onze horas de voo, e dos homens, preferi me concentrar nas bagagens que começaram a aparecer na esteira, ou teria que ir atrás dela.

Jen voltou cinco minutos depois e parou do meu lado, me abraçando pela cintura e observando o dedo anelar da mão esquerda, vi que ela tinha um sorriso no rosto.

— No mundo da lua, Jen? – Perguntei enquanto beijava seus cabelos.

— Ainda tentando acreditar que isso é real. Como eu te disse, não esperava que virássemos realidade, ainda mais depois de tantos anos.

Só a abracei mais forte, se me falassem isso no dia em que eu desembarquei em Dover, sem ela, eu também não acreditaria.

Uma de nossas malas apareceu, e assim como ela havia feito dentro da aeronave, Jen só apontou.

Recuperamos as malas e fomos em busca de um taxi que coubesse todas essas malas e foi quando Jen se lembrou de ligar o celular, e logo que a coisinha se iniciou, vimos que tinha uma mensagem de Kelly.

A chave do carro da Jen está no balcão de pagamento do estacionamento, achamos melhor fazer isso, ao invés de ficarmos todos aí esperando vocês. Espero que tenham tido um ótimo voo! Nos vemos daqui a pouco.

— Eles pensam em tudo! – Jen falou e caminhou até o guichê para pagar o estacionamento e pegar a chave. Voltou balançando o chaveiro. – eu ou você no volante? – Perguntou com um sorriso.

Tomei a chave da mão dela e fomos procurar o carro.

Ela procurou no celular se Kelly havia se lembrado de falar onde o carro estava estacionado. Não tinha, mas tinha uma de Ziva.

Kells esqueceu de avisar que o carro está no setor F, quadrante 8 do estacionamento. E a propósito, estou com saudades. xoxo Soph

- Agora a informação está completa. – Comentei.

— Agradeça a sua filha mais nova, porque a mais velha... é voada de tudo tem hora. – Jen disse rindo das diferenças entre nossas meninas.

— São a água e o óleo, às vezes acho difícil que possam ser irmãs.

Achamos o carro, era praticamente o único naquele setor, guardamos as malas e foi por muito pouco que uma não coube.

— Tem certeza de que não quer que eu dirija? – Jen perguntou mais uma vez. – Você parece tão cansado... – Provocou.

— Talvez é porque você dormiu o tempo inteiro, Jen, praticamente falando na minha orelha o voo inteiro.

— Foi você quem dormiu. Eu só cochilei nas últimas duas horas. – Ela retrucou.

— E depois quase morreu de medo com a aterrissagem.

Ela não me respondeu, só abriu a porta do passageiro e se sentou.

— Creio que eu ganhei essa. – Falei assim que assumi o volante.

— Eu te avisei, pode ir parando de usar isso contra mim. – Ela tinha o rosto corado de fúria e os olhos brilhando.

Para acalmar a ira dela, peguei a sua mão na minha e beijei a aliança, deixando nossas mãos entrelaçadas sobre o banco dela.

— Está tentando me comprar com esse gesto? – Ela me perguntou, apontando com o queixo para nossas mãos.

— Creio que deu certo, já que seu tom de voz está muito mais calmo.

Ela se mexeu no banco, se sentando de lado e me encarou.

— Você gosta disso! De achar que me conhece tão bem ao ponto de que sabe o que eu estou sentindo só pelo meu tom de voz.

— Não, Jen. – Falei e a encarei, aproveitando um semáforo vermelho. – Eu consigo te ler só com o seu olhar, e descobrir o que você está aprontando.

Ela abriu um sorriso e com um pulo me roubou um beijo.

— Isso você não previu. – Disse ao voltar a se sentar normalmente.

E restante da viagem passou com ela brincando com os meus dedos e de vez em quando me dando um beijo, assim que reduzi já para guardar o carro na garagem, ela murmurou.

— É incrível, como de tantas coisas que poderiam ter sido salvas daquela casa, só a porta ficou intacta.

— Deve ter a ver com o fato de que você ameaçou o meu carro se eu encostasse nela.

Ela riu.

— Você encostou, se esqueceu. E a sua caminhonete está inteira. – Ela disse indiferente.

— Isso só prova uma coisa.

— Que é? – Ela me olhou antes de descer do carro.

— Você nunca leva as suas ameaças à sério quando se trata de mim.

Jen desceu do carro, deu a volta pela frente, abriu a porta do motorista e me encarando falou:

— Você realmente está muito presunçoso nesta noite, Leroy Jethro Gibbs. Não me tente, ou você passará a sua primeira noite depois de voltar da lua de mel no sofá, e não se esqueça, temos convidados.

Desafivelei o cinto e consegui segurá-la pela cintura.

— Vamos ver se você vai realmente fazer isso, Senhora Gibbs. – Dei um beijo nela e comecei a guiá-la pela casa.

— Sem fazer barulho. – Ela murmurou quando paramos para recuperar o fôlego. – E nada de tentar me levantar no colo, seu joelho não vai aguentar a escada. – Me alertou.

Voltamos a nos beijar e quando chegamos na porta do nosso quarto, Jen a abriu e eu a fechei com um chute, escorando Jen nela, sem ao menos, interromper o beijo.

Ela me deu um tapinha no ombro e eu terminei o beijo e passei para o pescoço dela.

— Ahn... Jethro. – Ela falava aos arquejos.

Não me importei com o que ela tinha que falar.

— Jethro. – Sua voz um pouco mais urgente.

— Jen... agora não...

— Agora SIM! – Ela sibilou, segurou o meu rosto e o virou para a nossa cama. – Temos uma telespectadora, adormecida na verdade, mas temos.

— O que ela está fazendo aqui? – Perguntei e pela primeira vez eu não estava nem um pouco feliz em ver a minha filha caçula.

— Ela deve ter sentido a nossa falta, Jethro. Então resolveu dormir na nossa cama. São quinze dias de separação. – Jen disse toda maternal, olhando para a Ruiva que dormia tranquilamente bem no meio da nossa cama, abraçada com a bola verde, o tal de Mushu estava ao pé da cama. – Vai dizer que você não sentiu falta dessa imagem? – Ela me perguntou com um sorriso.

— Senti, Jen. Mas vou colocá-la no quarto dela. – Informei.

— Deixe-a aqui. – Jen me deu um selinho. – Eu senti falta da minha Miniatura, mais do que eu pensei que seria possível.

Parei para observar minha caçula. Sim, eu tinha sentido falta dela, ainda mais quando ela começava a murmurar coisas sem sentidos enquanto dormia.

— Eu vou tomar um banho antes de me deitar. Isso é, se tiver espaço ali. – Jenny falou e antes de ir para o banheiro, passou e deu um beijo na testa de Sophie. – Eu senti sua falta, Miniatura.

Sophie murmurou “mamãe”, mas não acordou.

Me sentei na ponta da cama, o único lugar onde não tinha nenhum bichinho de pelúcia e comecei a tentar mover Sophie da posição atravessada que ela estava.

— Filha, me ajuda. – Falei para a Ruiva Adormecida.

Sophie, sendo filha de Jen, só murmurou algo ininteligível e se virou para o outro lado.

— Eu vou te colocar no seu quarto. – Sibilei diante da dorminhoca.

Minha filha começou a se espreguiçar, eu achei que ela acordaria, mas não. A única alternativa que tive foi levantá-la no colo e colocá-la no meio da cama, entre o meu travesseiro e o de Jen. Quanto aos bichinhos, juntei todos e os joguei sem cerimônia alguma dentro do quarto dela, pela manhã Sophie que organizasse tudo.

Eu não tinha notado que Jen tinha me visto duelar com uma criança adormecida, quando notei, ela estava parada, com os braços cruzados sobre o peito e ria:

— Ela está te dando trabalho ou você já está velho demais para lidar com o sono pesado de uma criança?

— Já ouviu a expressão “tal mãe, tal filha”, Jen?

Ela me deu um beijo.

— Sim, Jethro, já ouvi. E você precisa descansar. – Me apontou o banheiro.

Tomei meu banho e quando saí, vi que todo o meu trabalho de antes fora em vão, Sophie estava atravessada na cama novamente, só que dessa vez, era a mãe quem ela usava de travesseiro.

— Pelo visto eu vou acabar dormindo no sofá. – Falei diante da cena.

— Ela acordou por breves sessenta segundos, e depois de me cumprimentar daquele jeito de sempre, me disse que está dormindo aqui não porque sentiu saudade, mas porque o colchão dela está molhado. Não entrou em detalhes, mas...

— Ela poderia ter mentido que sentiu a nossa falta. – Disse e tentei achar um pedaço da cama para poder me deitar.

Jen passou a mão pela cabeça de Sophie e murmurou;

— Seu pai chegou.

Eu duvidei que isso a acordaria, mas logo Sophie se encolheu na cama, coçou o olho e se sentou, ainda grogue, mas me abriu um sorriso tão grande que só por isso eu poderia tê-la perdoado por ter dormido aqui sem aviso.

— Oi papai!! Eu senti tanto a falta do senhor! – Ela falou e se jogou nos meus braços, me dando um abraço apertado e um beijo, para logo cair no sono, me usando de travesseiro.

— Também quero um pedaço do meu travesseiro fofinho e quentinho. – Jen comentou me abraçando pelas costas.

Me vi na obrigação de passar Sophie para o meu lado esquerdo, e acabei me deitando entre as duas.

— Agora sim. - Jen falou e deu um beijo na testa de Sophie e um selinho em mim. – Creio que é isso que se chama casamento. – Se ajeitou no meu ombro e logo estava ressonando, sua respiração na mesma frequência da filha.

— Não, Jen, isso é família. – Falei e beijei o topo das duas cabeças que repousavam nos meus ombros.