Ruined Dreams
Elizabeth, My Dear
— Então o negócio é sério mesmo? Bom, entre você e… Jake.
Assenti para o loiro ao meu lado, Michael parecia intrigado.
— Sim, é sério… eu acho – falei sorrindo.
O loiro balançou a cabeça positivamente e se ajeitou melhor ao meu lado. O lago a nossa frente, a ponte antiga logo à esquerda. O gramado ralo e extremamente verde sob nós.
— Poderia jurar que você estava na minha – ele riu, ri junto.
— Não aconteceu, Mike – o toquei no ombro – Sinto muito.
Ele sorriu meneando a cabeça.
— Sem problema. Fico feliz por Jake ter uma garota como você. Falando nisso, lá vem ele.
Meu amor se aproximava em passos calmos pelo gramado. O sol resplandecendo o belo rosto, deixando os cabelos castanhos num tom mais claro, juntamente dos olhos azuis, pareciam translúcidos.
Sentou-se ao meu lado e beijou-me de leve os lábios. Sorri e me aconcheguei em seus braços.
— Fala, Jake! – exclamou Mike, os dois se cumprimentaram num amigável e conhecido aperto de mão – Tava dando uma volta e encontrei essa bela donzela sozinha nesse perigoso parque – brincou Mike.
— E se eu te disser que saí às pressas porque esqueci a chave do carro na ignição?
Nós três rimos.
— Jake sempre cabeção! – exclamou o loiro.
— Fazer o que né? Ao menos tenho Liz pra me lembrar as coisas.
O olhei de canto.
— Nem assim você funciona – falei rindo.
— Não fale assim de mim – fingiu tristeza.
Mike pigarreou.
— Bom, acho que já vou… Não quero estragar o momento romântico do casal.
— O que é isso? Fica aí, cara! – disse Jake.
O loiro logo se levantou e limpou o jeans escuro.
— Não, não. Tenho mesmo de ir, estava apenas fazendo uma caminhada e acabei encontrando Liz. Felicidades ao casal.
Nos despedimos do loiro e continuamos ali. Sentados no gramado observando o movimento.
— O senti meio estranho – falou Jake ajeitando seu braço sobre meus ombros.
— Também senti isso.
Preferi manter em segredo que Mike teve interesse por mim. Apoiei minha cabeça no ombro de meu amado e suspirei o abraçando.
Ele cheirava tão bem, seu perfume era o melhor. Tudo nele era bom. Desde suas unhas até seus fios de cabelo. Cada detalhe, cada singelo detalhizinho. Tudo se encaixava perfeitamente e era o melhor pra mim.
Fechei meus olhos e consegui, pela primeira vez, ver paz e felicidade num futuro com Jake. Não senti medo de arriscar, mais do que já arrisquei.
Levantei meu rosto e procurei seus olhos. O fitei por alguns segundos, ele sorria de canto. Toquei a barba rala e desci para o pescoço, achei seu ombro e braço, logo meus dedos se entrelaçavam aos dele. Levei sua mão até meu coração palpitante.
— Jake, eu… eu acho que amo você.
Por um segundo ele pareceu não acreditar em minhas palavras, bom, nem eu mesma acreditava. Porém não aguentava mais, isso me sufocava, tudo me sufocava, sentia-me afundar a cada segundo.
Os dedos de Jake acharam minha nuca, trazendo-me para ele, para um beijo. Podia sentir o sorriso nos lábios de meu amado, sorri junto. Abri meus olhos e achei as íris azuis acesas pela luz do sol.
— Elizabeth, você não tem noção do que você importa pra mim. Eu te amo tanto – beijou-me novamente e sorrimos – Amo você.
Seus braços me rodearam e tudo que fiz foi me aconchegar e sorrir. Repeti inúmeras vezes essa frase poderosíssima, capaz de mudar vidas e destinos, ou talvez destruí-los.
— Amo você, Jake.
—
— A torta de cereja que lhe prometi.
Coloquei o prato sobre a bancada amadeirada da cozinha. Sorria ao contemplar o sorriso de Jake. Os olhos gulosos e atentos na torta.
— Parece ótimo – ele pegou o garfo – Sinta o cheiro.
Ri da feição engraçada dele.
— Oh, espere! Há algo! – corri até a geladeira e de lá tirei a Coca-Cola – A melhor combinação de todos os tempos.
Peguei os copos, despejei o líquido gelado e o estendi um.
— Coma logo. O que está esperando?
— Sua permissão.
— Seu bobo. Prove!
Logo ele tinha a torta em seu paladar e os olhos fechados para melhor saborear. Se tinha algo em que eu me garantia, era nessa torta. Nunca mais esqueci da receita que mamãe ensinou-me anos atrás.
— Isso está maravilhoso, Liz.
Sorri em agrado.
— Agora tome um gole.
O estendi o copo, qual bebeu. Gargalhei ao vê-lo virar os olhos em prazer.
— Não disse? Melhor combinação.
— Caramba! Preciso disso todo dia. O que pôs aqui?
Sorri de canto e apoiei os cotovelos no balcão.
— Segredos culinários. Super confidenciais – fiz como se fechasse meus lábios num zíper.
Jake se esticou e me beijou.
— Qual é? Não vai contar mesmo? Não curto segredos, Lizzy – disse num tom brincalhão, porém isso me acertou como uma bala.
Dei um sorriso amarelo sem graça e logo James pairou sobre mim. Quando eu costumava fazer esta torta para ele.
— Talvez um dia eu o conte.
Ele deu de ombros e continuou a comer a torta contentemente. Então batidas ritmadas são escutadas em minha porta.
— Esperando alguém? – indagou Jake.
Neguei num aceno e logo saí para a sala com as pernas meio moles. Torci os dedos e fui primeiramente até a janela, nela avistei um ser ruivo. Dei um salto de alegria. Corri para abrir a porta e pulei para abraçar minha amiga.
— Mary que saudade!
A esmaguei em meus braços, ela retribuiu-me o abraço de urso.
— Lizzy, meu Deus! – ela afastou-me para fitar meu rosto sorridente – Olhe como está linda! Olhe esta pele… Até parece que anda transando.
Ela riu, mas seu sorriso logo sumiu ao avistar algo atrás de mim.
— Atrapalho? – indagou meu amor.
Virei-me para avistá-lo. O homem segurava um pires com torta em uma das mãos e na outra o garfo. O sorriso sacana nos lábios bem-feitos.
— Jake, essa é Mary – logo me apressei em dizer.
Olhei para minha amiga, mas a mesma parecia uma estátua, perplexa. Parecia não acreditar no que via. A joguei um olhar cúmplice, dizendo como: Que merda é essa?
A ruiva logo se refez e cumprimentou o comilão de tortas.
— Pensei que estivesse sozinha, amiga – disse-me sorrindo, apenas eu entendia aquele tom de voz.
— É, esqueci de avisar – dei de ombros.
— Bom revê-la, Mary – falou Jake.
— O mesmo – disse uma afobada Mary.
Eu sabia que nesse momento ela deveria estar se corroendo para saber o que acontecia e ao mesmo tempo me estapear por não tê-la contado.
— Liz, que tal você me ajudar com uma coisa ali no carro? – indagou Mary.
— Oh, claro!
— Querem ajuda? – se prontificou Jake.
A ruiva levantou a mão em protesto.
— Não, não! Coisas de mulher, sabe? Então…
O homem deu de ombros e apontou com a cabeça pra dentro, como se me dissesse pra onde estaria indo.
Fechei a porta atrás de mim e segui Mary até seu carro. Ela virou-se devagar e ficou a me encarar.
— Que.porra.é.essa? – indagou pausadamente – Meu Deus, Elizabeth! Você é louca, doida, aloprada ou o quê?
Ela me segurava pelos ombros.
— Mary, eu…
— Shh! – ela me interrompeu com o dedo indicador – Eu toda preocupada com minha amiga e ela aqui, com um gostosão desse! Jake? Sério? Caraca, ele tá um gato!
A encarei de cenho franzido.
— Pensei que você fosse me dar uma bronca.
— E eu vou! Já estou dando – ela tomou uma respiração – Olhe, Liz… Você não deveria estar com esse homem. Estão juntos? Num relacionamento?
— Já faz algum tempo.
Ela soltou um suspiro sôfrego.
— Meu Deus, Elizabeth! Isso é muito errado e… perigoso.
— Calma, Mary!
Ela riu nervosa.
— Calma? Não consigo ficar calma sabendo que seu marido está por aí, à solta.
Meu corpo levou um choque.
— À solta?
A ruiva passou a mão pela testa e meneou a cabeça.
— Sim, Liz. Ele fugiu, por isso vim o mais rápido que pude. Você precisa partir…
Afastei-me um passo. Meu mundo parecia desabar.
— Fugiu…? Mas como… ele… – segurei o lacrimejar de meus olhos – Não posso deixar, Jake.
— Sinto muito, Lizzy. Mas é o certo, você sabe do que James é possível e…
Logo não escutei mais as palavras de Mary, pois corri para dentro de casa e fui até a cozinha, lá estava um distraído Jake. Levantou o olhar ao me avistar.
Andei depressa até sua direção e o abracei forte.
— Te amo, Jake. Te amo muito.
— Ei, o que foi? – afagou meus cabelos – Também te amo, Liz. O que foi?
Olhei pro lado ao ouvir o som dos saltos altos de Mary. A ruiva nos observava com a feição entristecida. A encarei por alguns segundos e enfiei o rosto no peito do homem que me apertava forte.
— Não quero te perder, Jake.
James
Quase posso sentir o cheiro doce dela, sua pele macia que há muito não sinto, os lábios cheios, a boca esperta sempre pronta para debater contra minhas palavras. Os olhos verdes sempre atentos a cada passo meu, olhos quais fiz verter muitas lágrimas.
Faria qualquer coisa para sentir a ponta de seus dedos em minha pele, sentir seu corpo no meu, o suspirar cansado. Queria tanto ouvir sua voz, mesmo que fosse para me repudiar e tentar frustrar-me.
Na mesma intensidade de desejos bons que tenho para com minha amada esposa, também tenho desejos odiosos. Poderia estapeá-la e fazê-la aprender do modo mais difícil, mas me odiaria no seguinte instante, para depois esquecer o que fiz.
Amo minha esposa, amo Elizabeth.
Não vou desistir até encontrá-la e tirá-la desse trono. Nem que eu tenha de perder todos os ossos de meu corpo. Minha vontade é verdadeira e impaciente, vou achá-la e amá-la novamente… Amá-la de meu modo.
Preciso tê-la perto, preciso saber que ainda é minha, que é de minha posse, que me ama. Preciso tê-la ao meu redor, perto, nem que seja trancada em um quarto, apenas sob meu olhar amedrontador.
A pele pálida e amedrontada, os lábios trêmulos. Como queria tê-la agora, mesmo que fosse morta. Pois assim saberia que morreu minha, minha eterna noiva. O matrimônio sagrado, o anel dourado, a papelada que nos uniu diante dos homens e Deus. Minha amada.
Acaricio-a pela foto e sorrio.
— Está acabado para você, Elizabeth, minha querida.
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