Acariciava os pelos de Floyd que estava sentado ao meu lado na escada da porta dos fundos. Observava as árvores balançarem de acordo com o vento. A virada de tempo era visível, meu corpo sentia a brisa bem mais gelada.

Contemplava o verde das árvores de modo inerte, olhava pra baixa cerca de madeira que separava meu quintal dos vizinhos, estavam precisando de uma pintura. Tudo parecia precisar de uma reforma, igualmente minha vida.

Acariciei as orelhas do alaranjadinho e seus olhos se fecharam em contentamento. Fiquei feliz por ele não ter me deixado, pois era a única companhia diária que tinha, além do pessoal do bar que via todo santo dia.

Abri um sorriso ao lembrar-me deles. Posso chamá-los de amigos, pois sinto-me bem com eles. Agimos como uma barulhenta e divertida família. Às vezes depois do nosso turno ficamos a beber e papear inutilidades. Archy fala suas bobagens e canta The Doors, fazendo-me segui-lo na melodia.

Tudo parece surreal, pois está perfeito demais, bom demais e me assusta. Sempre dizem que antes da tempestade vem a calmaria e sei que são palavras verdadeiras, já vivi isso.

Espanto tais pensamentos e centro-me na minha situação atual. Mordo meu lábio inferior ao pensar nele, o que tenho ao redor de meus dedos e preso em meus braços. Só de pensá-lo sinto vontade de beijar sua boca e correr doida para seu aconchego.

Sinto-me horrível por lhe omitir coisas. Deus, eu sou casada! Quão errado e pecaminoso é isso diante do matrimônio? Quão incorreto é isso aos olhos Divinos e alheios? Muitos me julgariam, mas ninguém está vivendo sob minha pele.

Se eu pensar longe demais, vou enlouquecer. Uma hora isso pode vir à tona, o certo seria eu acabar com isso, mas simplesmente não consigo, não dá mais! Ele se impregnou em mim.

Jake é tão espontâneo, leve, tão ele mesmo que não é nada difícil gostá-lo. Ele sempre está me fazendo sorrir e esquecer dos problemas que guardo apenas para mim. Ele me deixa à vontade e isso me bota medo. Nada pode crescer entre nós além disso, um desejo insanamente carnal.

Dou um longo suspiro e fecho os olhos. Apenas deixe ser, Lizzy bobinha! Penso enquanto divago sobre minha vida doida e descompassada.

— Estou perdida – falo para o vazio e meneio a cabeça.

Deixo o vento balançar meus cabelos e me acalentar. Por um segundo sinto tudo perfeito, pois tinha Jake em meus pensamentos, porém o medo volta quando James aparece e abro os olhos rapidamente.

— Sim, completamente perdida – divago.

O trabalho corre simplesmente bem, tudo em ordem. O movimento é alto, correria do pessoal, passos rápidos no piso amadeirado, pedidos em bandejas, sorrisos bêbados. Alguns amassos escondidos entre Jake e eu, mas está na cara que algo está acontecendo, todos notaram. Porém ninguém nos indagava nada, pois nem era preciso.

Se foi quase uma semana desde nosso último encontro no Drive-in onde o moço me obrigou a assistir Matrix. Tudo tem corrido bem, nos vimos pouco, apenas no bar. Algumas vezes ele me ligava e reclamava que eu tinha de comprar um celular, mas não o faria, não por hora.

Senti uma mão em minha cintura e logo sinto o perfume de Jake. Sorrio e levo minha boca até a dele. Provo de seus lábios e perco-me nas sensações. Ele se afasta e me fita os olhos, dou uma olhada ao nosso redor, o corredor que dá pra cozinha está vazio.

— Preocupada com o quê? Eu sou o chefe aqui, ninguém nos punirá.

O dei uma tapinha no ombro e ri.

— Tenho que fazer valer meu salário, não acha? Se não fosse por isso, ficaria o expediente todo te agarrando naquela sala – acenei com a cabeça pro escritório.

O homem sorriu.

— Não seria problema pra mim. Não diminuiria seu salário em nada.

— Hummm – fitei suas íris azuis arduamente – Não me tente, Jake.

Suas mãos acharam minha cintura e me trouxeram para seu corpo.

— Eu que deveria dizer isso.

Toquei seu queixo com meu indicador.

— Apenas acho que…

Nossas visões periféricas detectam uma ser que aparece de supetão no corredor, viramos nossos rostos rapidamente.

— Oh, me desculpe – falou uma encabulada Wendy – Não queria atrapalhar – ela tinha as mãos balançando freneticamente sobre o rosto.

Me apartei de Jake lentamente.

— Tudo bem, Wendy – disse me aproximando da moça – Preciso continuar o que sou paga pra fazer – joguei um olhar sugestivo para Jake e ele sorriu.

— Vá – falou o homem de dando um selinho em seguida.

Sorri sapeca pra baixinha e soltei minha mão de Jake. Bom, definitivamente todos saberiam. Dane-se! Todos souberam que saímos. Quem não perceberia minhas sumidas no expediente? Eu ficando até mais tarde? Os olhares que trocávamos. Tudo nos entregava e eu não dava mínima.

— Cadê o Jake? – indaguei para Archy que saía do corredor com sua mochila verde nos ombros.

Eram 3 da manhã e estávamos fechando o bar.

— O vi sair pela porta dos fundos.

Assenti e segui em direção aos fundos.

— Ei, já vou. Até mais, Liz – despediu-se Archy.

O acenei um até mais.

— Até amanhã.

Abri a porta que dava para os fundos. Foquei meus olhos no estacionamento de cascalhos e atrás os pinheiros. Lá estava Jake ao lado de sua 4x4 preta e… Rachel? O que essa piranha faz a essa hora aqui? Não! Fala sério! Ela não vive? Não trabalha? Vive em prol de estar na cola de Jake?

Jake estava de costas pra mim, mas a loira podia me ver e avistou-me. E por um segundo quase não acreditei no que ela fez, a vadia beijou Jake e para meu alívio, ele a repeliu.

Andei apressada com ódio até os dois. Isso não me diminuía a ravinha que por ele sentia. O que fazia aqui na surdina com a loira gostosa? Não quero nem pensar o que conversavam.

— Estou atrapalhando algo?

O homem virou-se e me encarou de olhos surpresos. O joguei um olhar frio e um congelante para Rachel.

— Na verdade está – falou a bronzeada – Não vê que estou tentando abrir os olhos de Jake? Aproveitadora!

Minhas sobrancelhas se arquearam e minha boca se abriu. Dei um passo a mais para perto dela. Jake num impulso segurou-me.

— Não tem nada melhor pra fazer? Será que não vê que isso é ridículo? Tem noção de que horas são? – a olhei com repulsa – Isso só mostra o quão desesperada você está.

Rachel se armou toda e deu um passo a frente. Jake a deteve também.

— Não sei o que você viu nessa sem graça – exclamou nervosa – Você é uma aproveitadora em todos os sentidos! Anda por aí roubando o homem dos outros.

Um silêncio monstruoso se apossou do local. Jake não disse nada, não a desmentiu, não a interrompeu, parecia que consentia. E se os dois estivessem ainda tendo relações? Não duvido, já passei por isso.

Não me rebaixaria a isso, não brigaria com ela por causa de Jake e nem homem nenhum.

— Ótimo então – dei de ombros enojada – Fique com seu homem!

Os dei as costas e comecei a caminhar rápido em direção ao meu carro. Escutei passos atrás de mim e um aperto fez-se em meu braço.

— O que foi agora, Elizabeth?

Virou-me e fez-me encará-lo.

— O que foi? – ri incrédula – Essa mulher doida vem aqui a essa hora, te beija pra me provocar, diz que você é a droga do homem dela… Ah, quer saber? Nem deveria me preocupar. Não temos nada mesmo!

Tentei virar-me de novo, ele impediu-me.

— Eu já falei! Eu e ela nunca tivemos nada sério, tipo, era só…

— Sexo! Beleza, já entendi. Vocês trepavam quando estavam a fim, normal… – dei de ombros indiferente, mas internamente eu fervia de ódio.

Vimos o momento que Rachel correu ao seu carro e se mandou nele. Jake passou a mão pelo rosto impaciente.

— Eu já falei com ela, Lizzy. Deixei claro nossa situação atual.

Aham! Deixou claro beijando a boca dela?

Ele riu de canto como se debochasse. Idiota!

— Ciúmes?

Comprimi meus lábios e o fitei com raivinha.

— Na verdade sim.

— Eu não a beijei, aquilo não chegou nem perto de ser um beijo, Liz. Pelo amor de Deus, estou aqui, com você, não com ela.

Sim, ele tinha razão, porém não diminuía a porra do ciúme idiota que sinto no momento. Nem ao menos entendo isso, porquê não temos absolutamente nada.

— Tenho de ir, Jake. Até amanhã.

Virei-me e segui em direção ao meu carro, ouvi seus passos.

— Não seja infantil, Lizzy – falou enquanto eu destrancava meu carro – Não me ignore.

O encarei séria.

— Deixe claro pra essa louca o que está rolando e… – pensei por um segundo – Quer saber? Não diga nada. Nada sério acontece aqui, Jake. Se você ainda a quer, tudo bem, mas me deixe em paz.

Eu não dizia coisa com coisa, culpa de meu temperamento compulsivo. Sempre fui de falar o que me vinha na mente, às vezes coisas insanas. A maioria das vezes acabava pagando por isso ou apenas fazia papel de idiota mesmo!

— Se é o que você quer… Só saiba que está sendo infantil, Elizabeth. Extremamente infantil.

Dei um sorriso debochado de canto, desse modo esconderia minha tristeza por ele deixar-me ir assim tão fácil. Sim, eu sei, sou uma controvérsia sem fim. Estou nervosa com ele, mas também não quero que ele deixe-me ir assim… tão fácil. Dane-se essa minha lógica fajuta e totalmente infantil.

— Agora preciso ir. Vá atrás de Rachel, ainda dá tempo – escarniei, ele nada disse.

O joguei um último olhar de soslaio, o homem tinha um semblante abatido. Tomei uma respiração e o dei as costas, entrei no carro partindo rapidamente dali. Logo me encontrava longe, quase perto de casa.Merda! Como sou tola, como sou orgulhosa e idiota! Pra falar a verdade, não duvido que Jake ainda a queira… Não… ele não seria capaz… ou seria? Tenho vontade de bater minha cabeça no volante, que ódio!

Chego em casa, estaciono o carro na garagem e adentro minha vazia residência. Atravesso a sala vazia e subo as escadas na penumbra. Escuto um miado e pelos macios em meus tornozelos.

— Calma, já vou te dar comida, seu apressadinho.

Floyd mia mais uma vez, porém o ignoro.

Chego no quarto já me despindo, adentro o banheiro e ligo o chuveiro. Tomo um rápido banho, apenas para relaxar o corpo. Saio da água, seco-me e me visto; apenas uma calcinha e uma regata branca. Na hora que vou jogar-me na cama, Floyd mia quase desesperado. Esqueci-me de meu bichano. O quão desastrada sou?

— Tudo bem… vamos lá.

Desço as escadas num rompante, Floyd me segue numa miadeira sem fim. Chego na cozinha e me estico até o armário de cima, alcanço sua ração e o rabinho do animal se levanta em felicidade.

Deposito certa quantidade em seu potinho e o observo comer apressado. Vou até a geladeira e pego a garrafa de água, tomo do gargalo mesmo.

Meu corpo dá um pulo quando escuto uma batida na porta, quase deixo a garrafa cair no chão. Arregalo os olhos, deixo a garrafa em cima do balcão e fecho a porta da geladeira com o pé. Ando gatuna até a porta, outra batida se faz, dou um salto.

Calma, Lizzy! Calma!

Fui até a janela da frente e avistei a caminhonete de Jake. Um alívio abateu meu corpo, uma alegria também. Destranquei a porta ansiosa e a abri depressa. O olhar de Jake queimou meu corpo e lembrei-me de minhas vestimentas.

O homem se aproximou e tomou rosto entre suas mãos.

— Entenda, Lizzy. Apenas quero você – beijou-me levemente – Só você.

Sorri e o envolvi o pescoço, trazendo-o para um beijo. Colei-me a ele, seu corpo quente próximo ao meu, sua boca na minha, sua língua envolvida na minha, um calor me tomava o corpo. O trouxe para dentro e nos separei rapidamente, um sorriso alegre em meus lábios.

Fechei a porta e o peguei pela mão.

— Vem… – sussurrei mordendo meu lábio inferior em meio a um sorriso.

Jake retribuiu meu sorriso entendendo minha intenção. O guiei escadas acima e entramos meu quarto. O homem enlaçou-me e procurou pela minha boca, outro beijo arrebatador me foi dado. Sentia-me pulsar de excitação, todo meu corpo pedia pelo dele.

O ajudei a tirar sua camisa, depois Jake ergueu-me em seu colo e deitou-me na cama. Seus beijos estavam em todos os lugares, então ele tira minha blusa, expondo-me. Suas mãos fazem uma viagem deliciosa, como se ele me adorasse. Vão de minhas coxas, meu quadril, costelas e por fim meus seios.

Gemo baixo e enrosco minhas pernas em volta dele, arqueio meu quadril e acaricio suas costas. Seus beijos acham mais uma vez meu corpo e minhas mãos o zíper de sua calça. O viro na cama e sorrio.

— Vamos nos livrar disso – digo já desabotoando seu jeans.

— E disso também – diz puxando a barra minha de calcinha.

Sorrio com a língua entre os dentes e passo minha mãos vagarosamente pelo seu peito como sempre quis fazer.

— Sempre quis fazer isso – murmurei o alisando o peito mais uma vez.

Caramba, como esse homem é delicioso!

— E eu isso – dito isso apalpou meus seios.

Ele tinha um sorriso bobo na boca, sem conter-me ri da situação. Abaixei-me e o beijei a boca, lambi seus lábios e pedi passagem para encontrar sua língua com a minha. Deixei um gemido me escapar a garganta, sentia minha feminilidade pulsar ao encontro de seu membro ainda sob a calça jeans.

Jake virou-nos novamente e se afastou rapidamente, ao lado da cama descalçou os sapatos com os pés, pisando no calcanhar. Abaixou a calça e a cueca box de uma vez e num ato engraçado coloquei minhas mãos sobre minha boca, sorria sacana. O homem sorriu e se apoiou sobre mim, devagar deslizou minha calcinha por entre minhas pernas.

Subiu beijando-me as pernas, beijou meu ventre, depois o vão entre meus seios, meu queixo e por fim minha boca ansiosa pela sua. Finalmente Jake pesou seu corpo sobre o meu, abri minhas pernas para melhor nos encaixarmos. Seus olhos procuraram pelos meus, estavam escuros de desejo, talvez fosse apenas a penumbra, mas eu via excitação naquele olhar.

Jake beijou-me forte, segurou uma de minhas pernas e finalmente o senti em mim. Soltamos um gemido juntos, o finquei as unhas e apertei-o ainda mais com as pernas. Já havia algum tempo desde que não tinha relações, já havia algum tempo desde que não sentia-me amada.

Inicialmente foi calmo, apenas sentindo um ao outro, pele contra pele, o desejo, a atração. Logo a volúpia nos achou, os movimentos eram rápidos e precisos. Jake tinha o antebraço direito apoiado ao lado de minha cabeça, assim podia fitar-me enquanto dava-me prazer.

Eu queria ficar de olhos abertos e vê-lo também sentir prazer em mim, mas meus olhos fechavam-se e minha cabeça se pendia pra trás, a sensação era arrebatadora, aniquiladora.

— Jake… – falei num gemido, o finquei minhas unhas.

Ele beijou-me o canto dos lábios entreabertos e sussurrou:

— Você é perfeita…

O que consegui fazer foi beijá-lo, enroscar mais minhas coxas nele, trazendo-as até suas costelas, queria desesperadamente senti-lo mais perto, mesmo que fosse fisicamente impossível.

Nosso beijo foi interrompido por gemidos de ambas partes, sua testa colou-se a minha e sua mão que acariciava meu corpo, achou minha mão e seus dedos se entrelaçaram aos meus, levando meu braço para cima de minha cabeça.

Comprimi os olhos ao sentir o prazer aumentar, algo que me apossava todo corpo. Aposto que com Jake não seria diferente, ele encontrava prazer em mim e isso me fazia-me quase enlouquecer; claro, juntamente de suas investidas em mim.

Mordi meu lábio inferior com força e soltei minha mão de Jake, finquei ambas mãos de unhas longas em suas costas largas, meu orgasmo havia chegado e de minha boca um gemido libertador foi solto.

Sorri ao contemplá-lo também chegar ao seu ápice, encontrar seu paraíso dentro de mim. Ele sorriu fraco e deitou-se ao meu lado, cansado.

Jake estava aqui, ao meu lado, em minha cama. Seu corpo enroscado ao meu, respiração ainda entrecortada e olhos ainda cheios de excitação. Apoiei-me em seu peito e o fitei sorrindo boba.

— Quero você só pra mim – disse ele afagando meus cabelos.

O afastei os cabelos um tanto suados da testa, o beijei de leve.

— Cuidado com o que você deseja, pode se tornar realidade.

— É o que mais desejo nesse momento.

Fiquei a fitar aquele olhos azuis sinceros, cheios de verdade. Enquanto eu estava aqui, nua, enroscada a meu pecado, mentindo para o melhor homem que já conheci. Sorri fraco, olhei pra baixo e voltei meu olhar culpado para o homem que julgo estar totalmente perdida.

— Podemos tentar, não podemos? – falei já sentindo suas mãos em minhas costas.

Jake curvou os lábios num sorriso, virou-nos na cama e tocou meu rosto, meus lábios.

— Eu quero você, isso me basta para tentar, Lizzy.

O acariciei a nuca.

— Te quero tanto, Jake… – o dei um selinho – Desculpe-me por agora pouco, eu sou uma idiota…

Ele calou-me com o indicador, sorria.

— Vamos viver o momento.

Assenti e o afaguei os cabelos.

— Vamos…

Logo sua boca achou a minha num beijo cheio de volúpia.

É isso que devo fazer, viver o momento, pois no fundo eu sei que nada duradouro sairá daqui. Estou fadada a perder tudo e viver a droga de uma mentira. Estou mentindo para esse homem que me toca e me faz sentir coisas indescritíveis. Se for errado, não quero estar certa.

O desejo é tudo que tenho, um desejo ardente. Me arde o peito, o corpo, os lábios. Eu sinto pegar fogo e Jake continua incendiando-me. Quando dou-me conta já estamos nos amando novamente.

Espero que tudo isso seja esse desejo, o desejo ardente.