Mileena: Segunda bênção!

Assim que a segunda explosão ecoou pela cidade, Mileena, cuja manopla emitia outra vez aquele brilho amarelado, desceu rapidamente pelas escadarias da torre e partiu em disparada em direção à entrada da cidade com a velocidade de um relâmpago. Como as vielas estavam tomadas de pessoas apavoradas com as explosões, a moça explosiva foi passando por cima dos telhados, o que foi fácil, pois as casas da cidade ficavam muito próximas umas das outras. Os moradores que a viram, na verdade, só enxergaram um vulto negro, o que só aumentou o pânico instalado na cidade. Próxima à entrada da cidade, ela pulou em cima do muro ao invés de passar através do que restou do portão e então foi para as árvores, saltando pelos galhos. Foi quando ela ouviu um forte grito.

Lady Fogaréu: MALDIÇÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO!!!

Mileena reconheceu a voz e percebeu que a dona dela estava bem próxima. Ao finalmente vê-la, ela saltou do galho, indo diretamente para o chão, a poucos metros de mulher de armadura que havia dado o grito, que se espantou com a chegada repentina da moça. Esta deu um sorriso metido para a mulher de armadura, que ficou sem reação.

Mileena: Relaxa aí, Fogaréu...

E levantou o punho cerrado, deixando a manga de sua jaqueta cair e mostrando sua manopla.

Mileena: A diversão só está começando.

Lady Fogaréu ficou olhando para Mileena por poucos segundos, parecendo perturbada. A manopla escarlate que ela usava levou a mulher encouraçada a puxar do canto de sua memória a lembrança de um rumor estranho que rondava pelo reino: O de um habilidoso justiceiro que obliterava qualquer coisa que tocasse com sua horrenda mão direita e, apesar de ter a preferência de atacar bandidos de baixa periculosidade, se tornou um dos indivíduos mais temidos de Sortiny por causa de seu impiedoso poder, o que fez com que muitos residentes de Sortiny o imaginassem como sendo algum tipo de monstro. Mas, para a surpresa da Lady Fogaréu, a Mão de Pravus não era nenhum monstro, sequer um homem, sendo apenas uma mulher aparentemente normal. Tentando se acalmar, a mulher encouraçada resolveu tirar isso a limpo.

Lady Fogaréu: Você... É a tal Mão de Pravus? Aquela que explode tudo o que tocar?

Mileena: A própria. Embora eu não tenha muito orgulho desse apelido, tenho que admitir que gosto de ver os outros se borrando por causa dele... O que eu imagino que seja esse o seu caso agora, não é, "Magnânima"?

Lady Fogaréu: Ah! Ora sua... Você ouviu o meu plano?!

Mileena: Tenho que admitir, era um plano legal. Você só deu azar de eu estar por perto.

Lady Fogaréu: Azar, é?

De relance, a Lady viu sua grande lança no chão, logo ao seu lado. Rapidamente, ela se abaixou e a empunhou com sua mão esquerda, apontando-a para a Mão de Pravus.

Lady Fogaréu: Azar é o seu por ter cruzado o meu caminho, sua cadela morta! Eu vou empalar você com a minha lança e te assar como se assa um javali!

Mileena: Não se eu te apagar primeiro, velinha de altar.

Lady Fogaréu: Pois tente, maldita! Em guarda!

A Lady fez o primeiro movimento, avançando a toda velocidade com sua lança de justa, enquanto sua adversária rapidamente jogou seu alforje para o lado e fez pose de combate. Já com esta quase ao seu alcance, a mulher tentou da uma forte estocada em Mileena, mas ela meramente esquivou para a esquerda. Porém, Lady Fogaréu não parou por aí e deu uma rápida varrida com sua lança, da qual sua adversária conseguiu escapar por pouco ao se projetar para trás, caindo de costas no chão. Com um impulso das pernas, Mileena rapidamente se pôs em pé e desferiu um soco para cima, acertando em cheio a parte descoberta do rosto da Lady. A mulher ainda cambaleou um pouco antes de cair, mas se pôs de pé logo depois. O golpe a deixou ainda mais tonta do que antes, mas também ainda mais furiosa; por isso, ela passou a executar ataques mais rápidos e ferozes contra Mileena. Esta se viu surpresa pois, apesar da precisão dos ataques não estar tão boa, a bruta insistência não dava mais espaço para ela reagir. A enorme lança da Lady Fogaréu dava uma margem de segurança muito grande para possibilitar um contra-ataque sem ser levar um golpe que poderia colocá-la a um passo da morte. Mas Mileena já sabia o que fazer para resolver isso.

Mileena: (Vamos ver se você consegue se sair tão bem sem esse seu palito de dente de dragão...)

Quando a Lady tentou dar uma estocada, Mileena se agarrou firmemente à sua lança, finalmente interrompendo os seus ataques. Mas Lady Fogaréu nem se incomodou.

Lady Fogaréu: Ah, vai tentar fazer cabo-de-guerra comigo, mocinha? Vai se arrepender.

A Lady ergueu a lança ao alto junto com Mileena, que, mesmo assustada com o feito de sua adversária, não largava a lança.

Mileena: N-Não acredito...

A mulher encouraçada então levou sua lança para trás, junto com Mileena e depois deu uma varrida com toda a força, fazendo Mileena ser arremessada contra um emaranhado de galhos grossos.

Mileena: Terceira bênção!

A manopla de Mileena emitiu mais uma vez um brilho amarelado antes de sua usuária ir de encontro contra os galhos. Ela se chocou contra três galhos na trajetória, partindo-os, antes de cair violentamente no chão, ficando de barriga para cima.

Mileena: Ugh... (Que força é essa... O que diabos essa broaca tomou quando criança, leite de ogra?)

Com um olhar vitorioso, Lady fogaréu se dirigiu vagarosamente à sua adversária caída.

Lady Fogaréu: Você devia ter ficado com os bandidos de quinta que você costumava caçar, Mão de Pravus. Agora, como prometi, eu vou fazer churrasco de você.

Porém, para a surpresa da Lady, a moça de manopla levantou as pernas pra cima e, com um impulso delas, se pôs de pé num instante, da mesma forma que fez quando esquivou do seu primeiro ataque.

Mileena: Em seus sonhos, velhota.

Lady Fogaréu: N-Não é possível! Você não devia nem se mexer depois daqueles impactos, quanto mais se pôr de pé!

Mileena: Pra você ver como eu sou vaso ruim, queridinha. Ao contrário dessa sua lança bonitinha aí...

O comentário de Mileena levou Lady Fogaréu a olhar para sua lança, que emitia o mesmo brilho rubro que aquela bolinha que veio parar a sua frente antes de explodir.

Lady Fogaréu: Ah!

A mulher não teve tempo suficiente para reagir. Num ato de desespero, ela jogou a lança em direção a Mileena, mas ela explodiu logo depois do arremesso e a onda de impacto jogou sua usuária pra trás.

Mileena: (Nessa eu tive sorte... Concentrei menos energia na lança para não causar uma explosão que me atingisse também. Mas, se ela tivesse jogado a lança um pouquinho antes, seria eu que estaria acabada agora).

Mileena, porém, não pôde cantar de vitória ainda, pois viu a Lady começando a se reerguer, levando-a a torcer os lábios em frustração.

Mileena: Hmph... Não sou o único vaso ruim aqui, não é?

Lady Fogaréu finalmente se pôs de pé, mas estava em estado horrível. Sua armadura resistiu a explosão e protegeu a Lady de danos mais sérios, mas ficou tão trincada que poderia ruir no ataque seguinte. Sem sua lança, ela não teria como manter sua oponente a uma distância segura, visto que Mileena era melhor no combate corpo-a-corpo. Seus sentidos, que já não estavam apurados por causa da primeira explosão, ficaram ainda mais bagunçados por causa dessa última. Porém, ela não estava se importando com nada disso. Em meio à vista embaçada, ela podia ver sua adversária logo a sua frente, o que só a deixava cada vez mais furiosa.

Lady Fogaréu: É melhor você se preparar, sua maldita, porque agora eu vou... Eu vou...

Centelhas surgiram a partir do corpo da Lady e algumas delas caíram na grama ao seu redor, criando chamas. Estas começaram pequenas, mas logo cresceram, queimando tudo ao redor e envolvendo a mulher, formando uma grande labareda. Contudo, a própria Lady não era consumida pelas chamas.

Mileena: (Ah, que legal. Ela é uma manipuladora de fogo. Por que será que eu não estou surpresa?)

Lady Fogaréu: EU VOU TE REDUZIR A PÓ!!!

Com esse brado, a Lady tornou a labareda ainda maior. As chamas se espalharam rapidamente pela relva, consumindo tudo ao redor. Mileena acabou cercada pelas chamas, mas isso era o de menos para ela. O que realmente a preocupava era o ataque seguinte da sua oponente, que, a julgar pela enorme energia elemental que emanava, seria o seu último. Não tendo para onde correr, Mileena se limitou a observar. Então, a Lady juntou as mãos e deu mais um grande brado.

Lady Fogaréu: SINTA A FÚRIA DE FOGARÉÉÉÉÉU!!!

Das mãos da Lady, saiu uma gigantesca rajada flamejante, que rapidamente alcançou Mileena e ainda avançou vários metros à frente, piorando bastante o incêndio. Depois de alguns segundos, a Lady cessou o ataque. Enquanto arfava de exaustão, ela observava o inferno flamejante que criou com sua rajada. Não havia sinal da Mileena.

Lady Fogaréu: Arf... Arf... Vê se volta pra Pravus e nunca mais volte...

Porém, seu alívio logo desapareceu quando ela finalmente viu uma silhueta vindo em sua direção. A princípio, ela achou que estava vendo coisas, pois estava com os sentidos debilitados. Porém, a silhueta logo se tornou definida: Era Mileena, envolta numa esfera luminosa, que logo desapareceu. A Lady ficou possuída de espanto.

Lady Fogaréu: Impossível... Ninguém nunca... Sobreviveu ao meu fogaréu...

Mileena: Tem uma primeira vez pra tudo, querida. E já que você terminou de brincar, agora é a minha vez.

Mileena continuou avançando lentamente em direção a Lady, que se pôs em guarda, mas assim que a moça de manopla chegou perto o suficiente, ela facilmente lhe acertou um soco na sua máscara, que foi destruída. A enorme cicatriz que ocupava o lugar do olho esquerdo da Lady não incomodou Mileena, que prosseguiu o ataque, desferindo vários socos em seu corpo. Por fim, ela se posicionou com o punho cerrado no abdome da Lady, que já estava abatida demais pra esboçar uma reação.

Mileena: Quarta bênção.

Assim que a manopla de Mileena brilhou, a moça fez um movimento súbito, aplicando um poderoso soco a curtíssima distância na Lady. Esta foi brutalmente jogada pra trás e acabou se chocando de costas em uma árvore, o que a fez eliminar sangue pela boca. O impacto com a árvore fez sua armadura ruir em pedaços. A Lady caiu sentada, tendo em seu rosto ensanguentado uma expressão com um olhar vidrado para o nada, quase desmaiando.

Lady Fogaréu: (Essa cadela... É uma bruxa guerreira... Mas como? Pensei que as bruxas guerreiras... O clã Darphai... Tivesse sido... Dizimado...)

Vendo que sua adversária não levantava mais, Mileena calmamente se aproximou dela. Lady Fogaréu já não conseguia discernir mais nada àquela altura. Sua mente estava tomada pelo desespero, mas em meio a isso, crescia o seu desejo de vingança.

Lady Fogaréu: (Isso não vai ficar assim... Um dia... Eu vou voltar... E aí, eu vou...)

A Lady sentiu seu rosto ser atingido novamente, desta vez com um chute. Ela finalmente cedeu. Então, Mileena foi atrás de seu alforje, que estava começando a pegar fogo, mas sua dona espalmou a mão com a manopla em direção ao fogo e ele logo se apagou. Depois, voltou e pegou sua oponente derrotada pelas vestes e saiu arrastando-a em meio as chamas furiosas que destruíam a floresta. Uma vez fora de lá, tomou seu rumo com sua presa abatida.