Caminhando por um campo coberto de grama e rochas, Vulcano tinha seus olhos fixos numa velha construção de pedra que se erguia a poucos metros de distância de onde o menino se encontrava.
-Vulcano: “Deve ser este o tal templo abandonado do qual me falaram. Mas será mesmo que alguém se esconde aqui?”
O único som que se ouvia era o da grama esmagada pelos passos do membro da rosa branca, o qual cessou quando este deteve-se e observou a entrada do edifício. Uma porta dupla de madeira, antigamente imponente, agora estava em estado precário, lascada e apodrecida. Metade desta havia caído ao chão e se partido ao meio há muito tempo, revelando parte do interior.
-Vulcano: “É melhor eu prestar muita atenção. Pode haver armadilhas.”
Cautelosamente, Vulcano subiu os três degraus que ligavam a grama ao piso de pedras rachadas. Em seguida ele adentrou na construção, incapaz de discernir muito em meio à escuridão. Prontamente gerou uma chama na palma de sua mão, iluminando o interior e fazendo com que uma revoada de morcegos buscasse abrigo em outro recinto.
-Vulcano: Se alguém mora mesmo aqui então tem um péssimo gosto para animais de estimação.

Yasmin deteve seu passo, analisando o riacho que encontrara no caminho. Era um curso d’água raso e de correnteza fraca, com cerca de quatro metros de uma margem até a outra. Não apresentaria dificuldades para ser atravessado.
-Luna: E agora, seguimos reto?
-Yasmin: As árvores são mais esparsas ao redor deste rio e ele parecer seguir na mesma direção em que estamos indo. Vamos caminhar pela margem dele por enquanto.
-Luna: Parece uma boa idéia.
-Karin: A propósito, será que tem comida por aqui? Eu estou ficando com fome...
-Luna: Controle-se, Karin. Temos assuntos mais importantes agora!
Karin, entristecida, desviou o olhar, fitando o solo úmido. Yasmin, por outro lado, dirigiu seus olhos ao alto, notando que a reclamação da menina de fato fazia sentido.
-Yasmin: Não deve demorar a anoitecer. Como duvido que vamos alcançar o nosso objetivo antes disso, é melhor procurarmos comida e abrigo. Além disso, parece que Karin só consegue usar o máximo de seus poderes quando está com o estômago cheio.
A capitã sorriu ao final do comentário, tentando animar Karin e alcançando sucesso. Luna, apesar de considerar que Yasmin deveria ser menos condescendente, decidiu que seria melhor ceder.
-Luna: Tudo bem então. Quais os planos agora?
-Yasmin: Vamos prosseguir pelo rio, quem sabe encontraremos peixes.

Cerca de meia hora depois, as três guerreiras continuavam a seguir pelo curso do rio sem grandes surpresas, até que notaram uma elevação no terreno do lado oposto, assim como uma abertura vagamente circular na terra, a qual levava a um túnel.
-Karin: Será que aquilo serve como abrigo?
-Yasmin: Pela proximidade com o rio eu arrisco dizer que não. O chão deve ser muito úmido.
-Luna: Não custa nada dar uma olhada. Eu vou lá.
Sem sequer esperar uma resposta de suas companheiras, Luna adentrou no rio. Porém, as águas afastaram-se do local onde esta pisou, efetivamente formando um furo na correnteza, como se houvesse uma barreira invisível impedindo que esta tocasse a manipuladora.
-Karin: Nossa! Luna, você é demais!
Luna deixou transparecer um sorriso de satisfação pelo elogio, embora este não pudesse ser visto pelas aliadas. Em seguida ela continuou sem caminho, mantendo sempre as águas afastadas e alcançando a outra margem perfeitamente seca. Em seguida ela se aproximou do túnel, avaliando a entrada iluminada pela luz do dia.
-Luna: É, você tinha razão, Yasmin.
A sacerdotisa virou-se para suas amigas, prosseguindo seu discurso.
-Luna: Até as paredes aqui estão úmidas, não temos condições de passar a noite aqui.
Subitamente, os olhos dela se arregalaram. Luna notou passos pesados se aproximando rapidamente e virou-se, mas era tarde demais para evitar o impacto que a lançou no meio do rio.
-Luna: Mas que droga!
De dentro do túnel saiu uma hidra. Um réptil robusto com três longos pescoços serpenteantes terminando em cabeças dracônicas. Um predador violento que costuma habitar pântanos e locais similares.
-Karin: É essa a criatura que dizem ser imortal? Que não adianta decapitar uma cabeça que outra nasce no lugar?
-Yasmin: Isso é apenas crendice popular! Vou acabar com esse monstro em um segundo!
Acumulando chamas em sua mão direita, Yasmin arremessou uma esfera de fogo contra o monstro. Porém, uma das cabeças despejou uma rajada de água pela boca, anulando o golpe da capitã.
-Yasmin: Já vi que vai ter que ser do jeito difícil. Que tal isso!?
Sacando sua espada, a guerreira do fogo saltou, visando decepar uma das cabeças do monstro. Porém, com movimentos sinuosos, a hidra retirou o pescoço alvo do alcance da espada e mordeu o braço de Yasmin com outra cabeça, atirando a garota contra o leito do rio.
-Yasmin: Urgh!
-Karin: Cuidado, Yasmin!
A capitã mal teve tempo de levantar-se antes de ser obrigada a saltar para o lado a fim de evitar outra mordida.
-Luna: Isso não fica assim! OLHA AQUI, SEU PROJETO DE JARARACA!!!
Transbordando de fúria, Luna estava em pé no meio da correnteza. Subitamente, um arco de pura água, com o dobro do tamanho do qual a sacerdotisa costumava usar, formou-se diante desta a partir das águas do rio. Assim que ela o empunhou, três grandes flechas de água tomaram forma, prontas para ser disparadas.
-Luna: Vou devolver em triplo o golpe que me deu.
A hidra agora fitava Luna, curiosa. Ao notar que as três flechas haviam sido disparadas, cada uma mirando uma cabeça diferente, o monstro disparou três jatos de água. Mas, desta vez, eles foram ineficientes. O impacto das flechas foi brutal, respingando água até em Karin.
-Yasmin: Ela conseguiu?
As três cabeças tombaram, permanecendo inertes em meio ao rio. Satisfeita com o resultado, Luna voltou para a margem do rio, assim como fez Yasmin.
-Luna: Detesto monstros. Realmente detesto.
-Yasmin: Pelo menos encontramos nosso jantar.
-Luna: Você está falando sério?
-Karin: Aposto que hidra assada deve ser uma delícia!

O sol se punha, tingindo de vermelho os céus de Chesord. Despreocupado, Sol observava a praça de Siral enquanto montava guarda ao lado do pilar. Mal sabia ele que estava sendo vigiado. No topo de uma construção, parcialmente escondidos, estavam William e Samantha.
-William: Apenas um? Eles estão nos subestimando?
-Samantha: Talvez, mas aquele é um dos membros da Ordem da Rosa Branca.
-William: Ah sim, eu lembro que você comentou que eles são considerados os heróis mais poderosos de Chesord. Fernand ficará contente com a possibilidade de lutar contra um deles.
-Samantha: Vai deixar Fernand lutar sozinho?
-William: Mas é claro que não. Quando atacarmos esse homem nem saberá o que o matou.