Rock Family

Capítulo 7 - Ao lado dele


O tempo acabou passando, como devia acontecer. As coisas mudaram nesse período.

No fim das estações quentes, passei ao lado dele, Bill, parecia em fim, ter partido em paz quando deixou de ser tão recente para ser uma ótima lembrança que nunca nos deixaria.

Taylor tinha um propósito de querer me levar aos lugares que eu esquecia que existiam. Como o Central Park. Morava em Nova York e desde que me acostumei com isso, esquecera de lá.

- Nossa, faz séculos que não venho ao Central Park.

Comentei com ele, enquanto andávamos com sorvetes de cascalho que acabamos de comprar.

- Eu imaginei, quem não mora perto daqui acaba esquecendo que isso existe.

- Eu lembro que quando era mais nova tinha o sonho de me apresentar no palco daqui.

Admiti.

- Acho que não tem ninguém que toca que nunca sonhou isso, sou um deles.

Ri com as semelhanças.

- E você não morava perto daqui, morava?

Perguntei por curiosidade, ele nunca falava sobre sua vida antes de entrar na banda. Ele suspirou, como se não gostasse de falar nisso.

- Não, não morava.

Percebia ele sempre cortando conversa sobre aquele assunto. Mas eu estava cheia daquilo, queria saber mais sobre ele, então insisti sorrateiramente:

- Morava com sua mãe e mais quem?

- Minha irmã e... – Ele pareceu não gostar de falar o próximo integrante da casa. - Meu pai.

Baixou o tom de voz ao falar dele. Qual era o problema? Parecia que ele tinha ido para banda por algum motivo, como se quisesse fugir de repente, e não quisesse contar o porquê.

- E... Por que não continuou morando lá?

- É que, meus pais se separaram e minha mãe e minha irmã mudaram de apartamento, eu não queria ser um cara maior de idade ocupando espaço na nova vida delas, então vi o anúncio no jornal e vim.

Depois que explicou, comecei á juntar as peças. Parecia que os pais dele tinham passado por uma separação tumultuada, talvez por conta do pai, já que não gostava de falar dele. Por isso o mistério, ainda tinha mágoa do pai.

- E por que não ficou com seu pai?

Não queria perguntar aquilo, mas a minha vontade de tentar ajuda-lo com aquele problema foi mais forte. Ele respirou fundo, coçou os cabelos como se procurasse as palavras, depois explicou:

- Não me dou bem com ele.

- Ele não acha que ser músico é uma profissão digna?

Sugeri.

- Não, é mais por causa da minha mãe. Ele sempre viveu maltratando ela, eu e minha irmã vivíamos cheios daquilo.

Então entendi, não queria perguntar mais nada, parecia mesmo um assunto delicado, viver com um pai que maltratava a mãe, talvez fisicamente também. Agora entendia o conflito dele com o pai, devia querer proteger a mãe e quando finalmente se separou, quis que ela vivesse em paz, sem ser um fardo.

- Entendi. Não sente falta dela?

Mudei um pouco de foco.

- Vou visita-la as vezes, mas não conto pra vocês. Ela está feliz por eu tocar na banda. Também falo de você pra ela, ela vive querendo que eu lhe leve lá.

Enrubesci. O que ele poderia dizer sobre mim pra mãe para que ela quisesse tanto me conhecer? Eu tinha um tanto de dúvida sobre ele. Estava mais do que claro que eu adoraria que ele mostrasse um interesse além da amizade por mim, mas não queria influir nada.

- O que você fala sobre mim?

- Ah, que você é a maior chata do mundo.

Zombou. Dei risada e protestei batendo no seu ombro de leve.

- Idiota.

-Sabe, além de quando a gente sai, eu, você, Marco, Louis e os outros amigos, você não costuma se envolver com mais ninguém... Não quer um namorado?

Eu enlouquecia com essas suas perguntas subjetivas, nunca sabia se queria inferir ele nisso ou só quisesse me ver feliz.

- É que eu nunca fui de correr atrás de relacionamentos, por isso não tive muitos.

- Então quando teve, eles vieram a você?

- Sim, com certeza.

- Tem preguiça de procurar caras?

- Para com isso. É só que eu não preciso disso tanto quanto as outras pessoas precisam, não sei, eu vivo tão tranquilamente que não me importo com arranjar namorados.

- E se fosse um bônus na sua felicidade?

- Aí tudo bem.

- Você é de outro planeta.

Zombou-me, ri.

Então o inverno chegou, minha estação favorita. Adorava como sol não aparecia e tudo parecia incrivelmente frio. Eu vestida de preto no meio de tanta neve branca, adorava tudo.

Enquanto saíamos do prédio, Taylor levou uma queda no gelo. Demos risada juntos assistindo ele se levantar dolorido.

- Aii...

Grunhia enquanto se levantava. Marco foi até lá e lhe deu um tapinha no ombro zombando:

- Ta dodói, neném?

Taylor deu um empurrão na cara de Marco rindo.

Me aproximei e ia seguir para ir pegar um taxi e ir ao bar com Louis e Marco como sempre, mas Taylor pegou meu braço, virei.

- O que foi?

- Quer carona?

Mordeu o lábio apontando com a cabeça para a sua moto decorada com chamas laranjas na moto vermelha, cintilava limpíssima.

Umedeci o lábio pensando, seria a primeira vez depois de muita insistência, na verdade eu não sabia aonde queria ir adiando isso, não tinha medo, só...

- Quem não fala consente, vamos.

Num ato ele me puxou para o lado da moto. Louis e Marco pararam adiante quando me viram ficar para trás perguntaram:

- Não vai com a gente hoje?

Abri a boca, mas Taylor respondeu por mim:

- Vai pegar uma carona comigo.

Riram do outro lado e pegaram o ônibus.

- Ta beleza, a gente se vê no bar.

Saíram.

O fitei com olhar de reprovação.

- Não vai doer, eu juro.

Brincou quanto sentava-se na moto. Respirei fundo e fiz o mesmo sentando atrás dele, não tive medo, o abracei por trás.

- Pode abraçar mais forte se sentir medo.

Falou com tom pervertido.

- Vai sonhando...!

Ri. A moto andou, roncando em direção à estrada. Não era mau motorista, mas era bem mais louco e relaxado do que parecia em cima da moto, dava guinadas e fazia umas curvas loucas para me aterrorizar, mas por sorte eu não me aterrorizo facilmente.

Estacionou na entrada de serviço do bar, era por onde nós entrávamos. Não tinha ninguém, Marco e Louis ainda deviam estar chegando e ainda tínhamos tempo antes do show começar, basicamente cinquenta minutos.

Desci da moto.

- Não foi tão bizarro quanto eu imaginei te ver dirigir.

Zombei.

- Disse que eu não mordo.

- Bom, é melhor a gente entrar...

Peguei minha bolsa e fui a caminho da entrada, mas ele pegou meu braço de novo.

- Espera. – olhei, esperando ele dizer o que queria. – Vamos ficar um pouco aqui fora. Não to a fim de ver o Carl ainda.

Resmungou. Fingi que aquilo não foi uma desculpa para ficar sozinho comigo, deixei para lá e voltei.

- Ta, tomara que levem sua moto.

Cogitei.

- Eu me viro, a não ser que esteja com medo.

Sorriu zombeteiro.

- Deixa disso. – bufei. - Não sei porque você adora dizer que eu tenho medo das coisas, já disse que eu não sou do tipo fresca.

- Isso é porque ainda não descobri do que você tem medo.

- Quem souber, morre.

Ri e fiz expressão de mistério. Me recostei na moto, ele ainda estava sentado nela.

- Veremos.

Duvidou dando de ombros.

- Maria... Ninguém te chama de Mary?

De repente ele soltou essa. Eu bufei impotente.

- Não, por favor, não me chame assim.

Pedi. Ele riu, não parecia querer fazer o que eu pedia.

- Qual é o problema? É bonito, Mary...

Ele falava enquanto brincava com uma mecha do meu cabelo.

- Não.

Neguei antes que continuasse, balançando a cabeça para os lados com nervosismo.

- Mary é legal.

- Não, não é.

- É sim, por que se importa? É só um apelido.

- Não, não é. É Maria. Ponto final.

Finalizei. Ele parou de falar, mas ainda sorria, provocativo.

Duas vozes soaram por trás de nós.

- Ainda aí?

Marco e Louis chegando. Sorri singela.

- Pois é, esperando vocês, dá para acreditar em como somos idiotas?

Gozei. Risadas.

- É mentira, ela não quer contar que quisermos ficar do lado de fora sozinhos.

Taylor desmentiu com segundas intenções, olhei para ele em protesto e ele sorriu, mordendo o lábio enquanto me olhava de cima a baixo. Não foi a primeira vez que ficara enrubescida na frente dele, fazia tempo que apostava naquelas provocações, não gostava nada de parecer tímida na frente de Marco e Louis.

- Hum... Olha só, Maria...!

Louis provocou. Baforei irritada.

- Cresçam.

Ignorei seca. Seguimos para dentro, ainda riam da piada. Fomos para o camarim, ainda faltavam quinze minutos para o show. O camarim tinha uma penteadeira daquelas iluminadas, só eu usava. Um sofá, amplificadores e um vestiário com banheiro.

Os meninos amontoaram-se no vestiário enquanto eu me sentei na penteadeira, não fazia nada de mais ali, apenas retocava o delineador penteava o cabelo.

O lugar estava em silêncio até que levei um susto com alguém que surgiu atrás de mim, vira pelo reflexo do espelho. Meu coração deu um pulo, depois desacelerou quando vi que era Taylor.

Bufei:

- Nossa, para virar fantasma só falta morrer.

Ele riu. Virei para ele com um sorriso, disfarçando minha timidez que eu temia ser notada por qualquer pessoa, principalmente pelo Taylor. Os garotos ainda estavam no vestiário. Taylor já estava pronto, tirou todas as camadas de casaco que precisou usar do lado de fora, e agora só vestia a sua toca folgada atrás de sempre, vermelha, e uma camisa xadrez de manga longa azul. Segurava um violão apoiando-o no chão.

- Está bonita.

Disse sereno. Sorri. Eu tinha cabelo preto com mechas vermelhas longos até um pouco abaixo dos ombros, minha pele era morena-clara, mas estava pálida, já que eu não gostava do sol. Meus olhos eram castanhos.

Agradeci o elogio com um sorriso torto, me levantando da penteadeira. Me seguiu com os olhos quando o atravessei para sentar no sofá.

- Mas isso não é novidade... – Sentou-se ao meu lado, naquele momento ficamos a sós, fitando os olhos um do outro. Não consegui evitar de soltar um breve suspiro. – Você está sempre bonita.

Sibilou, seu olhar era intenso e cheio de experiência em sedução. Pigarreei, nervosa.

- Ta falando isso só para parecer legal, ou...

Me interrompeu. Sentou ainda mais perto de mim, tocando nossas pernas nas outras e dizendo:

- Nunca falei tão sério.

O silêncio reinou. Nos olhávamos sem dizer nada, mas nosso olhar dizia tudo, o braço dele estava deitado no sofá atrás de mim, mas andou até meu queixo e o ergueu levemente aproximando minha boca da dele.

Estava pronta para beijá-lo quando as vozes dos garotos vindos do vestiário soaram.

- E aí? Prontos pro show?

Taylor parecia disposto a continuar mesmo com eles ali, mas eu recuei. Não fazia ideia de qual poderia ser a reação deles, mas algo me dizia que não seria das melhores. Poderiam considerar Taylor intruso e traidor, que seduziu a “Maria deles”, enquanto fingia que era amigo.

Tay bufou e virou-se revelando impaciente:

- Que seja.

Levantou-se indo para o palco, pegou a guitarra no caminho e ligou no amplificador.

O show não era o mesmo de uma banda famosa, então não tinha problema se todos não entrassem ao mesmo tempo. Então fomos para o palco, a plateia estava ao redor, parecia maior aquela semana, o que era ótimo.

Me posicionei no microfone e saudei a plateia antes de começar a cantar junto com a música.

Taylor parecia meio irritado comigo depois de ter recuado por conta dos meninos, mas não podia fazer nada. Marco e Louis eram como meus irmãos, eu não me arrependia de querer conservar eles como amigos.

De noite eu fui para meu quarto me preparar para dormir e vesti meu baby-doll. Alguém bateu na porta levemente. Taylor com um pouco da cabeça para dentro do quarto. Todos já estavam dormindo, o que ele queria?

- Posso entrar?

Perguntou num tom baixo para não chamar a atenção no outro quarto.

- Já está aqui mesmo não é.

Respondi num sussurro e um leve riso. Ele entrou e fechou a porta. Também devia estar se preparando para dormir, vestia uma camiseta branca e uma calça moletom azul-marinho. Vou a primeira vez que eu o vi sem touca, seus cabelos louro-escuros estavam a mostra arrepiados e meio molhados nas pontas.

Seus braços musculosos e cobertos de tatuagem também estavam à mostra. Suspirei me dando fôlego.

Esperei ele dizer alguma coisa, mas ele só me olhou e cruzou os braços com a testa franzida.

- O que foi?

Perguntei, perdida.

Não disse nada, se aproximou e tocou meu cotovelo.

- Não pode ficar fugindo o tempo todo...

Fitou-me intensamente, esperava a minha resposta.

- Não estou fugindo. – tirei o meu cotovelo da mão dele um pouco chateada, não podia dizer isso como se tivesse recuado por estar com medo. – Só não quero que Marco e Louis saibam.

- Por que tem medo deles, Maria?

- O quê...? –Bufei, abismada. - Eu não tenho medo!

- Então o que é? Não está preparada ainda...?

Se aproximava de mim enquanto falava, passou a mão na minha nuca e o outro braço na minha cintura.

- Não seja idiota, é só...

Ia falar alguma coisa, mas não conseguia pensar com ele tão próximo de mim.

Foi num passo adiante que me beijou, beijou meu lábio inferior e mordiscou de leve, respondi o beijo, puxei a gola da camisa dele enquanto ele passava as duas mãos para minha cintura e me pressionava contra o corpo dele. Tinha perdido a conta de como estava desejando-o.

O beijo do rock não era como os outros, era selvagem, cheio de mordidas e línguas brigando umas com as outras e eu adorava isso. Sem perceber andamos e ele me encostou contra a parede, me levantando sem esforço esbarrando nossas bocas uma nas outras. Minhas pernas abraçaram sua cintura me deixando na sua altura.

Conseguia sentir sua boca percorrendo meu pescoço, sentia vontade de continuar, mas não podia perder o controle.

- Ta, para... – O afastei devagar, olhou para mim e mordeu o lábio. – Eles podem acordar.

- Foi um começo.

Sorriu me pondo no chão.

- Você é um idiota.

Ri.

- E você é gostosa.

Me beijou de novo, fiquei vermelha quando ele saiu pela porta dizendo:

- Boa noite.

E se foi.

Ainda não tinha acreditado que tinha acontecido, como seria agora? Será que ele estaria disposto a não ficar perto de mim na frente de Marco e Louis?