Rock Family

Capítulo 3 - Adeus, Bill


Uma onda de tristeza sobre caiu naquele apartamento. Não havia paz, ou tranquilidade emocional vinda de qualquer um de nós. Não podíamos andar pelos cômodos sem sermos atormentados pelas lembranças, então permanecemos cada qual em seu quarto.

Os garotos pediram desculpas á mim, por não terem me levado á sério quando disse que algo ruim aconteceria. Mas eu também não podia culpa-los. Não sabia que podia sentir quando coisas daquele gênero viriam á acontecer.

Na quarta-feira, esperamos sentados no sofá, a chegada dos pais de Bill. Não sabíamos o que esperar num reencontro como esse. Não sabia se sua reação seria das melhores, depois da morte de seu filho. Sua reação não foi muito boa quando ligamos, já era de se esperar. Agora, pessoalmente, depois de tanto tempo sem dar notícias, era realmente um desafio.

Enfim ouvimos a campainha tocar. Ninguém tinha coragem de levantar para atender, então tomei a frente de uma vez. Caminhei até a porta respirei fundo e abri. Me surpreendi ao ver, não os pais de Bill, mas meus pais, parados em frente a porta. Fiquei paralisada fitando-os sem entender. Teriam eles vindo junto aos pais de Bill? Eles eram amigos desde que morávamos na mesma cidade.

Minha mãe continuava a mesma, tinha cabelos castanhos claros

esperançosa, a pele morena-clara e as roupas modestas de sempre. Não deixei de ficar emocionada junto á minha imensa surpresa. Meu pai estava ao seu lado, olhava pra mim com os olhos castanho-escuros que me concedera com o mesmo tom reprovador de sempre, seus cabelos pretos tinham crescido mais desde que parti, acho que não cortara desde que não mandei ele fazer isso. Eu ficaria ali parada sem saber o que dizer ou falar se minha mãe não me tomasse num abraço acolhedor apertado.

- Ah filha, você esta bem! Estou tão feliz em lhe ver!

Eu gaguejei:

- Ah... O-oi mãe.

Ela se afastou para ver meu rosto.

- Meu Deus, está ainda mais parecida com uma mulher, com certeza não é a mesma garota com cara de criança que partiu da cidade.

Fiquei enrubescida.

- É, acho que sim.

Ela não parecia chateada, talvez a saudade camuflasse o ódio, mas não parecia nem mesmo isso. Afastou-se para andar até a sala e cumprimentar os meninos, que pareciam ainda mais surpresos que eu.

Meu pai entrou no apartamento arrastando as malas, ele com certeza estava mais chateado, éramos muito próximos quando vivíamos na mesma casa.

-Oi,filha

Abraçou-me, senti um certo tom de mágoa em sua voz, mas não quis comentar nada, já era surpresa demais terem aparecido.

Só depois de ter entrado vi os pais de Bill chegarem. Um casal oriental de rosto simpático, se tornara agora melancólico e de aparência deplorável. Estavam os dois de luto e óculos escuros, arrastavam as malas com desânimo.

- Olá, Maria.

A mãe de Bill abraçou-me cordialmente, mantendo o tom triste na voz. Ela costumava gostar de mim quando éramos crianças, eu e os outros íamos na casa de Bill e ela fazia o lanche e reclamava do barulho, mas sabia que nada daquilo fazia diferença num momento como aquele.

Eu já iria fechar a porta quando vi os pais de Louis e Marco entrando sorridentes e ansiosos pelo reencontro de seus filhos. Ao menos todos estavam de luto, mas ainda não fazia menor sentido que tivessem vindo.

Mais tarde assistimos os nossos pais sondarem a casa como se procurassem bagunça.

- Olha isso aqui, Inês! Impecável, parece que nem são mesmo nossos filhos!

Minha mãe disse pra mãe de Louis ao entrar no banheiro e ver tudo organizado. Depois de olhar toda a casa, eles foram até a sala e nos viram sentados.

- Olha, eu nunca pensei que encontraria uma casa tão organizada.

A mãe de Marco disse surpresa. Nós não dissemos nada. Não era normal que eles estivessem tão bem com a ideia de termos partido para ir morar juntos ali.

- Achei que iam tentar nos matar quando nos achassem.

Louis soltou aquilo, eu e Marco o repreendemos com os olhos. Mas nos assustamos quando vimos que a reação deles foi rir.

- Bom, no começo sim. – Minha mãe disse sorrindo. – Mas depois que o tempo passou e vocês não voltaram achamos que tinham finalmente tinham tomado responsabilidade e começado á ter sua própria vida, entendemos que vocês queriam seguir seus sonhos. Está tudo bem, então, não tem porque ter rixa.

Eu sorri aliviada. Até que a mãe de Bill apareceu entre eles vinda do corredor.

- É, mas Bill se foi.

Lamentou. Todos lamentaram por isso.

- Pois é, sentimos muito por isso. Acho que era muito cedo pra que ele partisse. Mas não foi culpa de ninguém. Vamos nos organizar para dizer adeus agora. Ele merece.

Desta vez foi o pai de Marco que antecedeu. A mãe de Bill assentiu num ar triste e segurou o choro.

- Bom, eu fui até o quarto dele. – Dessa vez disse chorando. – Peguei as coisas acho que vou doar. Tenho que ir até o hospital agora, com licença.

Assistimos em silêncio ela sair seguida do marido com a mala com as roupas de Bill e sair pela porta. Me senti muito mal, olhei para aquela sala e vi que não estava a mesma. Bill não estava lá para reencontrar seus pais também, já estava bem longe dali.

- Isso é lamentável.

A mãe de Marco soltou aquele comentário no meio do silêncio.

Conversamos com nossos pais ali, demos risada a pesar da tristeza e depois, eles saíram para o hotel onde ficariam.

Na manhã do velório nos vimos, eles partiriam logo depois de volta pra casa.

Entramos na capela do cemitério, haviam velas espalhadas pelo lugar, sentia o clima mórbido e a tristeza das pessoas ao meu redor. O caixão estava no centro, sua mãe acariciava sua superfície e chorava ao lado de seu marido. Não era comum eu ter de dizer adeus, não para alguém como Bill. Senti a primeira lágrima rolar em meu rosto. Minha mãe estava do outro lado, caminhou até mim e me abraçou em ato de condolência.

- Ah filha, sinto tanto.

Lamentou no meu ouvido. Eu assenti e continuei chorando. Ela ficou ali durante toda a despedida, chorei pela perda de meu amigo.

- Ele era um bom menino...

Minha mãe dizia enquanto a cerimônia acontecia, era ruim saber daquilo, eu sabia que era. Ingênuo, bobalhão, mas fiel e amoroso. Meu grande amigo de longa data que nunca iria esquecer.

No fim, minha mãe falou comigo:

- Filha, agora que Bill lamentavelmente partiu, acho que não poderão continuar com a banda. O que você acha de vocês voltarem? Recomeçar na nossa cidade natal? Não seria bom?

- Não.

Respondi de relance. Só pelo impacto de pensar em voltar para onde tudo começou, depois de tanto tempo tentando sair de lá e ter uma chance aqui. Coberta de lembranças de nossa infância e adolescência junto á Bill, naquela cidade pequena onde todos saberiam quem somos. Não era correto voltar, não era o que Bill desejaria depois de termos conseguido realizar nosso sonho, abandonar tudo por causa dele, ficaria bravo.

- Não podemos abandonar tudo agora, vamos continuar com a banda.

Expliquei-lhe. Ela suspirou, como se não acreditasse, eu sabia que no fundo, mamãe nunca tinha acreditado que aquela era a vida certa pra mim, sempre achara que algum dia iria desabar e eu teria de voltar pra casa, mas eu era muito persistente pra isso.

- Filha, como continuar sem um baterista?

- Arranjamos outro. Não sei. Só não podemos voltar, não depois de tudo.

Ela suspirou, mas uma vez e em fim deu de ombros:

- Tudo bem, acho que não posso insistir, tenho que respeitar o que quer. Só não deixem de falar conosco de novo, certo?

Desta vez seu tom foi carinhoso e compreensivo, abracei-a e assisti ela entrar no taxi junto ao meu pai e os outros pais.

Marco e Louis apareceram ao meu lado. Suspiraram assistindo eles irem embora.

- É... Agora é definitivo. Estamos sem Bill.

Marco disse-me. Eu assenti fitando o nada. Parecia que nada era concreto agora, de volta ao começo depois de tanta luta pra sair de lá. Sem Bill, com um contrato de apresentações num show bar que logo expiraria sem o cumprimento. Nada, tudo em vão, insólito.

Não sabia por onde começar, minha vontade depois de me despedir de um amigo tão próximo era de não fazer nada, mas não podia nem descansar na dor de minha perda com o tempo se passando e nosso chefe, Carl, sem shows no bar.

Era hora de mudar.