1

Emily caminhou pela mata fechada, ela desejava ter uma faca ou algo com o que pudesse abrir o caminho, mas teve que se conformar com uma pequena lança que ela improvisou com um pedaço de galho. Ela tinha afinado a ponta com a ajuda de uma pedra e o resultado era razoável. Essa era mais uma das lições que ela aprendera com Takeda, e de fato durante o treinamento ela nunca imaginou que usaria aquilo. De todas as formas de vingança que Emily imaginou para os Grayson, em nenhuma delas estava ficar isolada numa ilha com Victoria.

Emily avistou alguns pequenos animais correndo na mata, mas ela sabia que seria muito difícil conseguir caçar com aquela lança tão simples. Sua esperança era encontrar algum tipo de planta comestível.

A vegetação ali dentro era diferente da que margeava a praia. Não havia mais coqueiros ou palmeiras, e as arvores tinham uma copa mais fechada dificultando a entrada da luz solar. Desde que entrou na mata, ela estava marcando o caminho com galhos ou folhas que encontrava, de modo que pudesse voltar sem problemas. Emily andou por horas, mas não encontrou nenhum tipo de fruto. Desanimada ela decidiu voltar a praia.

2

Na casa dos Grayson o clima era tenso, porem esperançoso. Daniel e Charlotte não desgrudavam do telefone na esperança de receberem alguma noticia de Victoria e Emily. Conrad mantinha contato constante com a policia e com a equipe especializada em busca que ele havia contratado. A grande dificuldade é que eles não sabiam exatamente onde foi o acidente, pois o avião perdeu o contato com a torre de comando pouco depois de partir, o que já era um sinal de que algo estava errado com a aeronave.

Ali perto Nolan estava tentando rastrear qualquer sinal emitido pelo avião e pra isso estava hackeando as informações de varias centrais aéreas. Ele sabia que isso era um risco, se descobrissem o que ele estava fazendo teriam motivos suficientes para manda-lo de volta para prisão, mas era a vida da Emily que estava em jogo e por ela ele faria qualquer coisa.

— Conseguiu alguma coisa — perguntou Aiden entrando apressado na casa acompanhado por Jack

— Ainda não — respondeu Nolan — essas coisas levam tempo

Aiden andava de um lado para o outro visivelmente transtornado

— Charlotte disse que também não recebeu nenhuma noticia — disse Jack

Nolan continuava concentrado no computador. Aiden se sentou ao lado dele

— Precisamos fazer alguma coisa — disse Aiden — podemos tentar conseguir um avião e...

— E o que? — questionou Jack — sair voando por ai procurando uma agulha num palheiro?

— Parem vocês dois — disse Nolan — estão me desconcentrando

Aiden se levantou

— Não vou ficar aqui parado olhando para uma tela — disse ele saindo e batendo a porta com força.

3

Emily já estava saindo da mata e já podia avistar o mar por entre as arvores. Ela estava desanimada por estar voltando de mãos vazias, e não percebeu quando pisou na raiz alta de uma árvore e acabou levando um tombo

— Aí — exclamou Emily — que droga de árvore

Emily massageou o pé e viu que não tinha sido nada de grave. Enquanto se apoiava no chão para se levantar ela viu algo que chamou sua atenção

— Como eu não vi isso antes — disse ela para si mesma

Camuflado no meio das folhas secas havia um coco. Era pequeno e não estava verde, na verdade estava bem seco, mas Emily e o pegou e o chacoalhou para ver se tinha água. Ela deduziu que sim, embora fosse pouca devido ao tamanho do fruto.

Emily se levantou e olhou para o coqueiro. Não tinha nada lá em cima, mas ela estava feliz pelo coco seco que tinha encontrado. Ela começou a procurar pelo chão, perto dos outros coqueiros, revirando as folhas, mas não encontrou mais nada, então ela decidiu seguir para a praia.

Emily chegou a praia carregando o coco. Victoria estava deitada no abrigo se protegendo do sol, que agora estava mais forte

— Victoria, olha o que encontrei — disse Emily se aproximando e erguendo o coco

Victoria pareceu de animar um pouco. Ela estava fraca, já estava há mais de 24 horas sem beber ou comer nada.

— Encontrou só isso? — perguntou Victoria

— Só. E foi uma sorte — respondeu Emily — não tem mais nada aqui por perto

Emily colocou o coco na pedra e já estava a ponto de bater nele com uma pedra menor, quando ela percebeu que se o coco se quebrasse iria desperdiçar toda a água. Ela refletiu por um tempo e logo teve uma ideia. Ao invés de bater, ela usou a pedra menor para raspar o coco buscando descasca-lo. Não foi tão difícil, o coco estava bem seco e a casca grossa saia com facilidade. Quando não conseguiu mais retirar as cascas, Emily apoiou o coco na pedra e seguiu até Victoria

— Preciso do seu cinto

— O que? — perguntou Victoria

— O seu cinto — repetiu Emily — preciso da fivela para furar o coco

— É um autentico Givenchy — disse Victoria colocando as mãos no cinto em sua cintura, como se quisesse protege-lo — Sabe quanto custa um cinto desses?

Emily não podia acreditar naquilo. Numa situação na qual estavam passando Victoria estava preocupada em não danificar seu cinto de marca?

— Por favor — disse Emily com dificuldade

Victoria pareceu ter percebido que aquilo era importante, retirou o cinto a contragosto e o entregou a Emily.

— Obrigada — disse Emily levantando-se

Emily puxou a fivela do cinto de modo que a parte pontuda formasse um pequeno espeto. Ela apoiou-o sobre a extremidade do coco, que continha a marca de um pequeno orifício e começou a bater com a ajuda da pedra. Em pouco tempo a fivela penetrou no coco e ao puxar de volta Emily viu que tinha conseguido perfura-lo

— Funcionou — disse Emily feliz.

Ela nunca tinha feito aquilo e não sabia se ia dar certo, mas se não desse, além de não conseguir furar o coco ela ainda ia ter que aguentar Victoria reclamando do cinto ter sido danificado a toa.

Emily segurou o coco e virou a parte furada para sua boca. Devido ao tamanho do furo ser muito pequeno, a água caia lentamente, mas foi suficiente para matar a sede que a estava consumindo. Após beber um pouco do liquido, Emily levou o coco até Victoria, que imediatamente bebeu o resto.

— Devagar — recomendou Emily — tome aos poucos

— Como vou tomar aos poucos o que já é pouco — retrucou Victoria

Emily olhou para o horizonte, ela não sabia quanto tempo tinha ficado andando pela mata, mas pela posição do sol Emily calculou que seriam umas 4 horas da tarde.

— Quando você acha que irão vir nos resgatar? — perguntou Victoria.

— Eu não sei — respondeu Emily — Mas não podemos ficar aqui

— O que você quer dizer? — perguntou Victoria que tinha terminado de beber a água do coco.

Victoria não estava gostando do rumo dessa conversa. Ela estava decidida a ficar ali, sentada no abrigo, até que um helicóptero ou barco viesse resgata-las. Que ideias estariam passando pela cabeça de Emily agora?

— Eu não sei quanto tempo vai levar até que consigam nos encontrar — explicou Emily — E já olhei pelas redondezas, não há nenhum tipo de comida ou água, além daquele lago sujo. Se ficarmos aqui vamos morrer

— E o que sugere que façamos? — perguntou Victoria tentado ver se conseguia extrair alguma gota a mais do coco.

— Temos que entrar na mata. — respondeu Emiy, já se preparando para a explosão de Victoria.

Mas surpreendentemente Victoria não disse nada. Emily estava confusa. Ela esperava que Victoria iria rejeitar imediatamente a ideia de entrar na mata e uma nova discussão estaria a caminho, mas ao invés disso, Victoria ficou em silencio.

— Temos que encontrar um lugar com maiores chances de sobrevivência — disse Emily se aproveitando do clima de paz entre elas.

Victoria finalmente quebrou o silêncio

— Mas o resgate deve chegar aqui na praia não é?

— Eu sei — respondeu Emily que já tinha bolado um plano sobre isso — Vamos deixar vestígios de que estivemos aqui e um rastro para que nos encontrem

Victoria estava impressionada com Emily desde a hora em que elas saltaram do avião. Como ela sabia tanto sobre sobrevivência?

— Que tipo de vestígios? — perguntou Victoria

— O primeiro deles é o fogo — disse Emily apontando para a fogueira que elas tinham mantido acesa desde o dia anterior.— E vamos deixar um sinal na areia. Preciso da sua ajuda

Victoria assentiu com a cabeça, e Emily estava realmente impressionada por ela estar colaborando sem maiores problemas.

Emily se levantou e estendeu a mão para ajudar Victoria a se levantar.

— Precisamos colher algumas pedras — disse Emily se abaixando e pegando a pedra com que tinha batido nos coco — desse tamanho mais ou menos.

Victoria não questionou. As duas ficaram andando pela praia e pela entrada da mata colhendo todas as pedras que conseguiram. Cerca de uma hora depois, uma enorme pilha de pedras se formava perto da fogueira.

— Você esta pensando em construir uma réplica da muralha da China? — perguntou Victoria recuperando seu tom ácido

—Acho que já esta bom— disse Emily.

Por incrível que pareça ela se alegrou com a ironia de Victoria, era sinal de que ela estava bem

— Precisamos formar as letras SOS de forma bem grande aqui na areia — continuou Emily — assim qualquer avião que sobrevoe essa área vai conseguir ver

A ideia era boa Victoria tinha que admitir, mas ela preferiu não admitir em voz alta.

As duas começaram a posicionar as pedras para formar as letras universais de um pedido de socorro. Era difícil formar letras de tamanho tão grande quando não se tem uma visão superior do terreno, mas mesmo que ficassem tortas seriam suficientes para serem vistas por um avião.

4

Aiden entrou como um furacão na mansão Grayson. Felizmente Daniel não estava lá, o que poderia ter causado uma briga. Conrad estava em seu escritório, e Aiden foi entrando sem bater

— O que esta fazendo aqui? — perguntou Conrad ao vê-lo

— Quero ajudar nas buscas — respondeu Aiden

— Já tem uma equipe especializada cuidando disso — disse Conrad.

Aiden se sentou, mais uma vez sem ser convidado

— Eu tenho experiência com esse tipo de coisa — disse Aiden — por favor me coloque na equipe de buscas

— Por que tanto interesse? — questionou Conrad

— Emily é minha amiga — disse ele — e Victoria também

Aiden tinha morado por uns tempos na casa da piscina dos Grayson, e de fato esteve bem próximo de Victoria. Conrad não sabia ao certo se eles haviam tido algum tipo de relacionamento mais íntimo ou não, mas na verdade ele não ligava muito para isso.

— Eu posso ajudar — disse Aiden olhando fixamente para Conrad.

— Esta bem — disse Conrad pegando o telefone — vou te colocar na equipe de buscas

Aiden respirou aliviado.

5

Quando Emily e Victoria terminaram de posicionar as pedras, já tinha começado a escurecer e as duas estavam exaustas. Emily reforçou o fogo com mais alguns pedaços de madeiras e depois quebrou o coco que ela tinha conseguido furar mais cedo. A polpa não era muito, mas era tudo o que elas tinham para o jantar.

Emily e Victoria sentaram-se perto da fogueira, cada uma segurando uma metade do coco.

— Qual o plano para amanha? —Perguntou Victoria

— Entrar na mata — respondeu Emily — procurar água, comida e com sorte um jeito de sair daqui.