Quando encaro o céu sem nuvens do verão no Texas. É tudo tão paradisíaco e bonito que fico assustada ao ver de novo. Me lembro de quando pisei o pé pela última vez nesse solo. Treze anos atrás, quando eu tinha doze anos. Eu amo esse lugar e sinto que há uma parte dele dentro de mim.

Encaro o ar do meu antigo bairro, as casas novas e as antigas, o prédio alto feito de ferro que fica perto da orla. Toco a maçaneta da minha nova casa, abro e vejo que posso recomeçar minha vida de forma justa e sociável. Não posso ficar enterrada no passado.

Fecho a porta e tiro o casaco, vejo que minhas coisas já estão aqui, como pedi para colocarem. Não terei problemas pelo resto da minha vida, com 250 milhões de herança dos meus pais. Se eu sentir a necessidade, se ficar triste. Posso morrer numa ilha no meio do Golfo do México.

Mas enquanto isso, tenho que parar de pensar dessa maneira e começar, realmente, uma nova vida. Subo as escadas para escolher meu quarto, olhando para os cantos da casa com as câmeras que eu não havia instalado. Abro a porta do quarto que fica do lado da escada e sou surpreendida por uma silhueta de preto que abre a porta da varanda e escapa com movimentos ágeis.

Quem quer que esteve aqui, deixou uma caixa preta na cama. Corro para a varanda e vejo que a figura já escapou e eu estou respirando o mais rápido que posso, dando tudo de mim para não entrar em desespero.

Toco a caixa preta e a abro, sem saber o que há dentro. Há um pendrive. O que está acontecendo?

***

-Senhora Prey, as informações que está prestes a receber são extremamente confidenciais. Você atingiu a maioridade e agora só pode esperar um mundo severo em que nada se conquista facilmente se não tivermos o necessário. E você tem. Em torno de 256 milhões na conta bancária que eu poderia facilmente, agora, sem medir esforços, esvaziar. Nós matamos seus pais, nós te tiramos o que você mais tinha de precioso. Devemos isso a você. Porém, agora que você está solta, a justiça procurará você, e só você tem acesso aos arquivos confidenciais de seu pai, que ninguém sabe onde está, nem mesmo nós, que temos dezoito mil satélites espalhados na órbita. Apenas você sabe e apenas você tem o direito de acabar com a Iniciativa.

-Nosso acordo é: você vai aceitar a entrada na Iniciativa e se tornar uma de nós, ou escolherá não participar e iremos tirar toda sua privacidade pelo resto de sua vida. Desculpe, senhora Prey, mas a Iniciativa não pode acabar assim. Um prazo de doze dias.

O vídeo-áudio termina e estou em choque ao saber que na varanda ao meu lado pode ter alguém me espionando, ou ao saber que no forro do teto acima de mim, tem milhares de escutas.

Eles mataram meus pais. Eles foram responsáveis.