Quando acordo, enfio a mão dentro do travesseiro e sinto o pendrive. Estou quase paranoica depois da noite passada. Levanto com o pendrive na mão e ando pela casa, as câmeras me vigiando. Tenho em torno de duas semanas para decidir. Duas semanas para me tornar independente de minhas escolhas e descobrir mais sobre o passado e o assassinato de meus pais.

–Vocês estão me ouvindo?-digo o mais alto que posso-Podem me ouvir?

Sei que podem.

–Por que estão fazendo isso? Não vou incriminá-los. Prometo que se caso a justiça me procure, eu vou dizer o que quiserem, irei negar a participação de vocês ou qualquer coisa do tipo. Direi que meu pai morreu de causas naturais.

Como sou burra. Sabem que meu pai foi assassinado.

Desisto.

Não faço meu café, pois estou sem fome e provavelmente não terei fome pelo resto do dia. Passo a mão pela cabeça e então as lembranças vem.

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Estou na porta de casa, quando meu pai coloca a mão em meu ombro, seus cabelos escuros cacheados.

–Querida, vá para a praia. Seu pai tem assuntos para resolver com...

Ele olha para uma mulher alta e loira e um homem negro de cabelos ralos que nunca vi. Não os conheço, mas vejo o quanto meu pai sente receio ao citá-los.

Digo que sim e saio correndo. Meu pé arrastando na areia até que piso na água fria e sinto o ar, o salitro vem na minha pele a medida que eu ando.

Era tudo uma questão de tempo até que eu ouvisse os gritos.

Viro o rosto e vejo uma explosão numa janela no andar de cima. O fogo começa a sair e se espalhar pela casa.

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Pisco os olhos e volto a realidade. Passo a mão no cabelo e ando de um lado para o outro. Agora eu tenho uma vida adulta, uma vida independente. Eu superei a dor da perda de meus pais, mas acho que estarei sempre ligada a isso de uma forma.

Saio de casa e ando em direção a praia. Preciso ficar sozinha.

***

Uma calça de pijama e um casaco é o que uso. Estou descalça, meus pés não tocam as ondas baixas, apenas a areia.

Minha mãe sempre me dizia para confiar nas pessoas apenas o necessário. Quando olho para alguém, eu sei se posso ou não confiar naquela pessoa, mas meu pai cometeu um erro no passado. E foi confiar demais. Custou sua vida.

Ouço uma voz chamar meu nome e saio do meu devaneio.

–Taylor.

Me viro e vejo um senhor de cabelos brancos, olhos puxados usando um manto de tecido branco leve.

–Sou Satori Akemi.

Aperto a mão dele.

–Já nos conhecemos?-pergunto.

–Não. Mas eu conhecia seu pai. E é aí que começa. Houveram várias manchetes nos jornais sobre a maioridade de Taylor Prey-ele sorri, mas se aproxima de mim e fecha o sorriso-Você vai precisar de mim se quiser que a Iniciativa T não acabe com você. A última vítima deles está num submarino num dos lugares mais profundos do mar pacífico, sobrevivendo apenas de vegetais, que uma hora acabarão e ele morrerá. E ele fez muito menos do que você tem poder. Estou aqui para ajudar.

***

–O que você sabe sobre meu pai?-ele bate a porta ao entrar.

–Não interessa-diz Satori-Você precisa focar na Iniciativa. Eles já entraram em contato com você?

Não sei se realmente devo confiar nele.

–Já.

–Como?

Respiro fundo. Talvez eu precise confiar nele para descobrir a verdade.

–Antes, como você sabe de tanta coisa?

–A empresa de seu pai, em conjunto com a minha, formam uma aliança intercontinental. Quanto a Iniciativa, bem...-ele respira fundo e fecha os olhos-Essas pessoas também me tiraram minha filha. Explodiram a escola dela. Eles já fizeram tanta coisa que nem sabemos.

–Sinto muito-digo. Posso confiar nele-Eles me entregaram isso.

***

Ouvimos ao áudio juntos depois que ele diz que as câmeras foram instaladas por ele quando soube que eu iria ser liberta.

–Eles querem conseguir você. Se você recusar, eles vão te matar, ou mandá-la para muito longe. Se aceitar, eles vão fazer uma lavagem cerebral até você perder consciência de seu próprio nome. É assim que trabalham.

–Espera-eu começo a entrar em desespero-então, ou eu aceito e me torno uma deles, ou eu morro?

–Tecnicamente sim.

Definitivamente estou desesperada.

–E o que vou fazer? Não quero nenhuma das opções, só quero viver em paz-não posso chorar.

–Taylor, o momento de ser fraca não é agora.

–Não posso entrar lá. Não posso ser uma deles.

–Você pode. É sua única opção, Taylor.

Aperto meus dentes e arrasto todos os objetos de vidro da mesa no chão e quebro todos.

Por que eu?

Por que eu?

Por que?

Eu?

–Descontrole é um dos pontos fracos da concentração. Precisa ter concentração, Taylor. Precisa focar.

Ele me puxa e coloca a palma de sua mão em frente ao meu rosto. Encaro sua mão, atordoada comigo mesma.

–Pronta?

–O que?

Ele coloca a mão em meu pescoço e me gira, colocando em mim uma chave de braço.

–É assim que um inimigo vence a luta. Você precisa ter noção dos seus medos e dos seus pontos fracos, ou nunca chegará.

Ele me joga no chão e coloca o pé em meu pescoço.

–Precisa ver seu sangue sendo derramado.

Satori me puxa pela gola da camisa e me acerta com seu punho. Outro golpe em meu rosto e o sangue começa a escorrer numa linha fina, derramando no chão.

–Pare. PARA.

–Eles não vão parar quando estiverem te atacando. Não sou seu inimigo, Taylor, mas se eu fosse, você estaria morta. Procure dentro de si o espírito de força.

Ele acerta um golpe em minhas costas. Tento me defender mas ele acha outro ponto em minha perna e caio no chão, até sentir algo bater em minha cabeça.

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–Amanda, eu te amo

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A voz de minha mãe.

E então, eu desmaio.