Acordo e estou algemada na cama, meu pulso esquerdo preso num dos braços de madeira. Satori está sentado perto da varanda.

–Você dormiu por um dia. Estive vigiando a casa, e pelo visto, eles não vão voltar até o prazo. Perdeu muito tempo dormindo.

–Por que me acorrentou? Me livra disso, Satori. Não estou brincando.

–Nem eles. Estou te ajudando, garota. A Iniciativa não será fácil de lidar, e você deveria saber disso. Eles podem não ser muitos, mas são capazes de coisas terríveis.

Eu o encaro por um tempo.

–Quem é você?

–Treino os melhores para a vida. Isso não inclui vingança.

–Eu não chamo isso de vingança.

–Vingança é uma palavra muito forte. Você não está buscando vingança, está buscando limpar o nome de seus pais.

–Meus pais se foram. Eu não quero isso, não quero arriscar minha vida e destruir esses terroristas.

–Você tem opção? Se não aceitar a proposta, você morre. Você já parou para pensar que sua vida vai acabar em doze dias? Que em doze dias você pode morrer ou esquecer sua identidade, quem você é, ou deixou de ser?

***

–Os arquivos-digo, depois de um tempo-Eles falaram de alguns arquivos secretos de meu pai que pode incriminá-los, mas eu não sei onde está.

–Então lembre. Um dos pontos importantes pode ser esses arquivos. Eles disseram que só você sabe onde está.

–Eu quero saber, mas, não sei. Não consigo imaginar.

–Eu posso te ajudar. Vai ser um método de resgate da consciência, usava ele na Yakuza, quando não nos lembrávamos de algumas coisas.

***

Ele coloca a palma de minha mão na mesa de madeira, os dedos muito espaçados uns entre os outros.

–Feche os olhos, e abra quando eu disser.

Fecho.

Ouço algum barulho, algo desliza na minha mão e eu fico gelada.

–Abra.

Quando abro o olho, Satori enfia uma faca na mesa entre meu dedo indicador e o médio, fico paralisada.

–Não tire a mão, ou vou errar.

Ele começa a alternar as facadas, entre os espaços nos dedos, cada vez mais rápido, meus olhos fechados e Satori me dizendo para abri-los, mas tenho medo.

–Abra. Agora.

Abro os olhos e vejo aqueles movimentos e o passado começa a vir a tona. Me lembro de meu pai me levando para andar de jato pela primeira vez, minha mãe nadando na piscina comigo. Então, Satori acerta a faca em meu dedo anelar e eu grito, mas minha mão continua parada.

–A dor é um dos caminhos para a verdade. Volte ao passado, Taylor. Volte ao passado.

A frase permanece ecoando em minha mente por várias e várias vezes até que me forço a lembrar de algum segredo.

'' Vou te contar um segredo, Taylor. É algo realmente importante e nem sua mãe pode saber. Promete?

Digo que sim.

Então, ele fecha meu olhos e quando tira a mão, vejo que estou numa sala fria e isolada. Olho para todos os cantos''

A lembrança desaparece. Sei onde meu pai me levou. Mas vou precisar de alguém em quem confiar.

–Descobriu onde achar o arquivo?-Satori pergunta.

–Não-minto.