Revenge

Dois patinhos na lagoa


P.O.V. Daniel.

Hoje é o aniversário de vinte e dois anos da Charlotte e apesar de tudo, eu ainda me sinto atraído pela Emily. Eu sei, certo? Sou um masoquista.

A primeira vez que me apaixono por alguém, este alguém é uma Femme Fatale que destruiu a minha família, é meia irmã da minha meia irmã e por acaso é uma bruxa. Literalmente uma bruxa.

A festa de aniversário estava normal como todo ano. Mas, Charlotte começou a reclamar que estava com calor, e ela tava com febre.

Mas, de repente ela pegou fogo. Combustão espontânea.

Então, a Emily apareceu e...

—Aduatur!

O fogo apagou, mas a Charlotte estava pelada e começou a despencar, mas Emily a segurou. A colocou de pé no chão e então a cobriu com um sobretudo.

—De nada maninha.

Ela tava muito linda naquele vestido que mais parecia uma toga grega.

—Você invadiu a minha festa.

—Salvei você de botar fogo em tudo no seu caminho. Eu me lembro quando a minha magia de fogo pirou da primeira vez. Foi horrível, mas levitação e magia de fogo ao mesmo tempo? Nunca vi isso antes.

—Se está tentando...

—Eu quero te ajudar, Charlotte! Mas, se quer virar um tornado desgovernado destruindo tudo no caminho, então vá em frente!

—Espera.

—Fala.

—Quer mesmo me ajudar?

—Sim. Veja, você não foi criada entre nós então... obviamente não conhece a regra de ouro das bruxas. O sangue acima de tudo. Olha, eu sei pelo o que está passando agora. Tudo. A dor, a perda, os poderes descontrolados.

—E quanto tempo vai durar?

—Depende da bruxa. O seu problema externo, é um reflexo de um problema interno. Algo que você guardou, algo que está adiando. Passei por isso também.

—Adiando?

—Está em negação Charlotte. Eu tenho quase certeza de que é por causa da sua mãe. Ela era sua mãe, apesar de tudo e você a ama apesar de tudo. E está tudo bem. Meu pai era o meu pai e ele também fez coisas... terríveis.

—Como matar a sua mãe.

—Também. Você tem sorte. Você não é filha da minha mãe. Minha mãe ela era uma Balcoin.

—Balcoin?

—Certo. Tenho que começar do zero com você. Venha comigo.

P.O.V. Charlotte.

Ela me deu um vestido que era meu.

—Sabia que isso iria acontecer?

—Não exatamente. Mas, esperava. Já estive no seu lugar Charlotte. Em todos os aspectos.

Disse pegando um livro velho na prateleira. Capa de couro preta gasta, ela abriu e de lá de dentro tirou um pedaço de papel mais velho ainda.

Ela pegou uma pinça.

—Eu já fiz a sobrancelha, obrigado.

—Sabe, com os malucos querendo nos queimar vivos nós bruxos ficamos muito bons em nos esconder. Os mortais são tão tapados, ou pelo menos eram no século quatorze.

Com a pinça ela separou uma folha da outra e escondida sob uma página em branco estava...

—Uma árvore genealógica?

—Sim. Minha árvore genealógica. Por parte de mãe. Por isso tenho certeza quase que absoluta de que... a destruidora da tal profecia, sou eu.

A árvore terminava no Carl, mas começava em...

—Francis Balcoin. E?

—E que Francis Balcoin era o bruxo das trevas mais poderoso que já existiu. Toda e qualquer magia negra que você possa ter... é nada comparado ao sangue Balcoin. É irônico não é? Como fogo e gelo. Nosso pai era descendente dos antigos bruxos de Asheron aqueles com o sangue mais puro e minha mãe... descendente de Francis Balcoin, a encarnação do mal, o bruxo mais malvado, cruel, implacável e impiedoso da história do submundo. Aquele com o sangue amaldiçoado. Quanto mais você usa mais você quer usar, é como um vício. Você fica achando desculpas para usá-la, diz a si mesmo que não teve escolha, mas não como a magia negra comum, a magia das Trevas herdada de Francis Balcoin consome o bruxo literalmente. Veias negras começaram a brotar no meu corpo, no pulso, depois no pescoço e dói. Sabia? Dor física. Tem as vozes na minha cabeça começam como sussurros, mas se não deixo sair... Charlotte eu morro.

—O que quer dizer deixar sair?

—Minha mãe chamava de purgar. Não me orgulho do que eu tenho que fazer, mas eu sempre escolho os piores entre os piores. Assassinos, cafetões, estupradores e até os magnatas que roubam, cometem crimes e acham que vão se safar. Eles são meus alvos preferidos. É fácil. Tão fácil. Eu deixo eles pensaram que tem o controle e então eu os mato. Eu tentei outras formas, mas não funciona. Essa é a maldição do meu sangue, é o resto da minha vida Charlotte uma fúria assassina que só pode ser aquietada através... da violência.

—Acha que isso é desculpa para...

Ela arregaçou as mangas do vestido branco e praticamente esfregou os braços na minha cara, eu vi as veias era como uma infecção que parecia querer tomar conta do corpo de Emily, então virou de costas e afastou o cabelo. Mais daquelas veias.

—Ainda acha que é brincadeira, little witch? Você não consegue imaginar a dor. Esta dor, esta escuridão, eu tenho que purgar de tempos em tempos ou ela me come viva! Literalmente.

O apartamento destruído.

—Você destruiu o apartamento. Por causa disso?

Emily fez que sim.

—Como eu disse, tentei alternativas como quebrar coisas. Mas, não funciona. Tem que ser carne e sangue. Eu estava planejando descontar...

—Na minha mãe.

—E no seu pai também. Mas, numa chocante virada de eventos eu tenho uma irmã e me apaixonei pelo cara que deveria ser o meu tiked dourado.

—Você estava com o Daniel por dinheiro?

—Não. Eu queria me infiltrar na sua família e destruí-la de dentro pra fora. Fazer os Grayson's sentirem a minha dor! A dor de ver alguém arrancar de você tudo o que você ama, todas as coisas pelas quais mais presa! De ver o mundo desmoronar na sua cabeça. Ainda me lembro do dia em que o meu pai foi preso! O nosso pai! E quem estava lá como testemunha? Oh, sim... Victória Grayson! Ela foi a última coisa que eu vi enquanto os policiais me arrastavam! E sabe o que eu vi nos olhos dela? Nada. Nada de dor, nada de arrependimento, nada de nada! Nem pena de mim e da minha irmã ela não teve.

As veias começaram a brotar no rosto dela, os olhos mudaram de cor. Do castanho para um azul frio e desolado.

Mas, ela se impediu antes de fazer alguma coisa. Saiu correndo.

—O que foi que aconteceu? Charlotte, você está bem?

—Não. Você não viu Daniel. Emily estava certa. Nossa mãe criou a destruidora. As veias negras brotando do corpo dela, no pescoço, nos ante-braços, no rosto e os olhos mudaram de cor. Do castanho para uma azul neon gelado, desolado. Emily disse que a mamãe tava lá quando levaram o meu pai biológico preso, enquanto a polícia arrastava ela e a irmã, disse que a última coisa que ela viu foi o rosto da principal testemunha contra David Clark, e a sua expressão neutra e vazia.

—Mamãe.

—É. Aparentemente a linhagem da mãe da Emily é de forte magia negra, uma magia tão negra Daniel que ela tem que... matar gente para tirar a coisa dela. E eu sei que ela não quer fazer aquilo, eu podia sentir. Podia sentir a dor dela Daniel! E ela não gosta de fazer aquilo, é obrigada.

P.O.V. Ashley.

Essa vadia. Eu a apresentei á Victória e agora estou desempregada e todos me culpam.

—Sua vadia!

—Sim, Ashley você é realmente uma vadia.

Ela pisou no meu pé afundando o salto agulha stiletto que perfurou o meu pé. Eu berrei.

E quando a loira se virou... o rosto dela era uma coisa horrível.

—Você tem sido um pé no meu saco já a algum tempo!

Senti o meu corpo ser arremessado longe e ela não parou, arranhou o ar e me arranhou. Senti ela quebrar cada osso do meu corpo, fiquei paralítica, depois tetraplégica e ela me esfolou.

—Sabe esta dor que está sentindo agora? Não é nada comparado ao que eu estou sentindo.

P.O.V. Emily.

Não podia, não conseguia segurar mais eu deixei sair e a sensação de purgar a escuridão foi... quase orgásmica. O problema foi a trilha de corpos que eu deixei. Matei todos os convidados da festa da Charlotte.

—Ai Meu Deus!

—Ai Meu Deus, Emily! Eles estão todos...

—Mortos. Todos mortos.

O cenário era o mesmo de sempre. Os cadáveres espalhados, os olhos vazados, ossos quebrados, corpos mutilados.

—Cada vez que isso acontece eu me odeio mais. Eu morro um pouco mais. Acho que vai chegar a hora em que minha humanidade vai pro saco e eu vou parar de ligar e honestamente? Seria ótimo. Se isso é o resto da minha vida... parar de me importar seria um alívio.

Então eu acordei.

—Emily? Emily, você está bem?

—Tenho que sair daqui.

—O que?

—Prometo que te treino. Te ensino tudo, mas agora tenho que sair daqui.

—Ems, estamos num barco.

—Então, ainda bem que vai acabar.

Ela subiu na borda do barco.

—Ems!

E se atirou.

P.O.V. Charlotte.

Eu vi uma coisa. Foi como uma visão. Acho Emily também viu e por isso ela pulou.

—Ho...

—Não faça isso. Emily tinha razão, nossa mãe criou a destruidora.

—Você...

—Emily. Eu vi o que ela viu, senti o que ela sentiu, ela é obrigada Danny. Se ela não purgar... ela morre. Mas, foi a Senhora Victória Grayson que deu a Emily o combustível para toda essa ira. Vi o dia em que meu pai biológico foi preso Danny, pelos olhos da Emily. Senti os policias me arrastando, a dor de garganta que ela sentiu enquanto berrava, o olhar absolutamente vazio da nossa mãe enquanto aquela garotinha era arrancada dos braços do pai, enquanto as duas meninas eram arrastadas, David sendo algemado. Danny foi horrível.

P.O.V. Emily.

Achei um lugar nojento cheio de mortais desprezíveis e descarreguei toda a minha ira neles. E a sensação foi orgásmica. Depois de destruir tudo e matar um bar lotado de gente, me arrumei e voltei para a festa.

—Emily... você...

—Estou bem. Por agora. Só vai durar algumas horas. Está ficando pior.

—Eu sei que não é sua culpa. Sei sobre a sua mãe.

—Então, sei que não me deve nada. Ao contrário, mas faça pelo meu sobrinho. Eu realmente não quero fazer aquilo. Não me trás alegria, ao contrário parece que me afundo cada vez mais.

—Vamos pegar um martini?

—Sim. Preciso de álcool no meu sistema com certeza.

—Vou trocar de roupa.

—Tudo bem.

E lá estava o vestido pendurado no cabide. Vesti-o. E subi de volta.

P.O.V. Daniel.

Sempre as mesmas pessoas, as mesmas festas, o mesmo tudo. Exceto meus pais que estavam na cadeia e Emily.

—Você é com certeza alguma coisa.

—Isso deveria ser um elogio?

Disse em tom de piada, uma piada irônica e pegando o Martini da minha mão.

—Ao acaso.

—E á um verão totalmente inesquecível.

—Totalmente. Você abalou o meu mundo Emily Thorne.

—Abalei o seu mundo? Eu chacoalhei o seu mundo como um tornado desgovernado. Clássico eu.

Disse tomando um gole da sua bebida.

—Nunca em um milhão de anos eu pensaria que passei anos vivendo com duas bruxas sem saber.

—Mas, nós nos conhecemos a... não diga isso. Nunca mais. Uma bruxa, a palavra bruxa significa mulher sábia, sua mãe não era sábia. Nunca mais compare a mim ou a Charlotte a ela. Eu entendo, ela é sua mãe. Mas bruxa ela não é.

Ficamos conversando e fazendo piadas, rindo. Apesar da alfinetada.

—Quer mais uma?

—Bebida ou piada?

—Os dois.

—Não obrigado.

—Graças á Deus porque...

—Sou horrível em contar piadas?

—Não. Porque minha cabeça está começando a girar e se eu beber mais uma gota de álcool acho que começo a achar suas piadas engraçadas.

—Ainda bem porque não aguento mais tomar água com gás.

—Água com gás? Você não bebe?

—Não. Eu sou um alcoólatra.

—Nossa!

—Costumava beber até cair, mas as coisas deram muito errado. Foi um acidente de carro, uma pessoa se feriu gravemente.

—Sinto muito.

—Sim. Eu também, mas precisei daquele choque para me acordar.

—Bem, eu pessoalmente acredito que todas as coisas acontecem por um motivo. E foi uma ótima festa. Não acredito que tenho outra irmã.

—E eu não acredito que sua irmã é minha irmã também.

—Vou me despedir da Charlotte.

—Mas, já?

—O barco está vazio Charlotte e não vai levar muito tempo agora. Vou ter que fazer de novo. E eu quero algum tempo com o meu bebê antes disso.

—Você tem um bebê?

—Carl.

—Pensei que ele fosse da...

—Ele é. Mas, sou a mamãe substituta, a madrinha e eu adoro.

—Certo. Tchau.

—Tchau feliz aniversário. E vou começar a te treinar esse final de semana, então se tiver algum compromisso, por favor desmarque. Não quero que você tenha que passar pelo o que eu passei. Não quero que machuque aqueles que ama porque não consegue controlar.

Disse olhando para mim. E eu vi a tatuagem no pulso dela.

—Infinito duplo?

—É. Meu pai inventou. Amanda tinha uma também. Ele disse que nos amaria o dobro do infinito.

—Eu estou indo na mesma direção que você. Quer uma carona?

—Não. Eu vou para o Stoaway, para pegar o Carl. Fica pra próxima.

—Certo. Pra próxima.

Ela saiu.

—Nossa! Isso é absolutamente complicado. Meu meio irmão, está apaixonado pela minha meia irmã. Somos as duas bruxas e todos os nossos pais foram presos. Sendo que um já morreu.

—É. Nem me fale. O que?

—Oh, agora eu te peguei. Vamos embora, meus pés estão cheios de bolhas.

—Posso te carregar.

—Danny, eu to de vestido. Não rola.