Revenge

Charlotte Grayson


P.O.V. Charlotte.

Quando nós chegamos o bar tinha ido para o espaço. O Stoaway tinha virado uma cena de crime. Os policiais estavam removendo os corpos.

—O que aconteceu?

—Ele morreu. Tudo mundo morreu. Minha mãe, meu pai, minha irmã, Jack.

—Emily... você...

—Eu não fiz isso Charlotte!

Ela estava segurando o bebê e chorando desconsoladamente.

—Perdi minha família, meu emprego, minha fonte de renda e eu não faço ideia do que vou fazer agora. Não tenho mais ninguém, mais nada. O que significa que... não tenho mais nada a perder.

—Senhorita Emily Thorne?

—Quem está perguntando?

—Sou Alice Chilton do conselho tutelar.

—Bem, é um prazer conhecê-la.

—A senhorita foi nomeada como a responsável pelo menor Carl Porter. Mas, talvez devesse considerar suas opções.

—Opções?

—O pai do menino não morreu, está hospitalizado.

—Oh, graças á Deus.

—Mas, a senhorita não tem um emprego, é estudante e...

—Eu encontrarei outro emprego.

A mulher segurando uma maleta e vestindo um terninho feminino preto, estendeu um cartão para Emily.

—Caso mude de ideia. Você tem que considerar o bem estar do seu sobrinho.

Emily ficou pistola com a mulher.

—Me permita colocar isso em perspectiva, senhora... eu cresci numa zona de guerra, meus pais acharam que poderiam me proteger e no fim eles foram incriminados e depois assassinados e minha irmã e eu passamos a nossa infância sozinhas e sem amor. E não tenho a menor intenção de deixar isso acontecer com o meu filho. Mas, obrigado pela consideração.

—Disponha.

A mulher saiu.

—Emily... eu senti...

—Algo ruim? Quando a mulher apareceu? Eu chamo isso de instinto de bruxa. Confie nisso Charlotte. E esqueça a casca.

—A casca?

—A aparência. Muitas vezes, vão aparecer na sua frente pessoas como ela. Todas cheias de glamour, batom, vestido, terno e gravata. Mas, quando o seu instinto de bruxa apitar... acredite ele não erra. É incrível a ilusão de que beleza é bondade. Eu sei, porque eu uso. Os mortais jamais desconfiam da beleza, ser uma bruxa é isso Charlotte. É sentir o que ninguém mais sente, ver o que ninguém mais vê, fazer o que ninguém consegue. Bem, temos que começar o seu treinamento. Então, escolha um lugar.

—A mansão. Eu gosto de lá.

—É claro que sim. É a sua casa. Então, vou pegar os meus grimórios e te encontro lá.

Em menos de dez minutos ela estava lá, carregando as caixas e o bebê.

—Planejando se mudar?

—Não Daniel. São apenas grimórios. Muito bem. Informação importante, existem três tipos de magia. Magia defensiva que você usa caso outra bruxa te ataque, magia protetiva que impede que outros feitiços atinjam a sua casa por exemplo e magia ofensiva que você usa para atacar outra pessoa.

Ela começou a espalhar velas pela sala.

—Porque as velas?

—Porque bruxas tem magia própria, mas se nos esforçamos muito sozinhas... o nariz sangra, desmaios. Por isso usamos o que chamamos de canalização. Tirar poder de outras coisas. Como as chamas por exemplo. Ou água, ou terra. Agora, acenda a vela.

—Vou buscar os... Oh! Como?

—Tem um pouco de ciência na magia também. Tudo ao nosso redor é feito de moléculas, quando as moléculas se agitam... isso produz fogo. A magia é o desejo virando realidade. Esvazie a sua mente, de todos os pensamentos.

—Como?

—Tente respirar fundo. Ninguém está com pressa. Comece a desacelerar a mente. Inspire e expire. Muito bom, de novo.

Demorei um bom tempo, mas eu consegui esvaziar a cabeça.

—Agora foque no pavio da vela. Sinta o ar ao redor dele, imagine o pavio acendendo e diga Incendea.

—Incendea.

Eu acendi, mas não foi o pavio da vela. Foi a cortina.

—Ai Meu Deus!

—Aduatur!

O fogo apagou.

—Bem, foi um bom começo. De novo.

Nós fizemos aquilo a tarde inteira até o meu nariz começar a sangrar. E eu consegui botar fogo em quase tudo menos na vela.

—Esse é o sinal para parar. Vou concertar o estrago e tentamos de novo amanhã. Coma, descanse e eu vou ao hospital visitar o Jack.

Com pouquíssimo esforço, Emily concertou tudo o que eu tinha queimado.

Ela mandou os grimórios embora e foi para o hospital.

P.O.V. Jack.

Ela chegou e trouxe o Carl.

—Jack o que houve?

—Acho que foram eles. Os tais cavaleiros. Eles levaram o dinheiro do caixa, mas abriram fogo contra os clientes e contra mim do mesmo jeito.

—Acobertando. Como sempre. Sinto muito Jack. Nunca deveria ter te arrastado para dentro disso. Amanda e eu não tínhamos esse direito.

Emily fez um feitiço para atenuar a minha dor.

—Eu fiquei em choque quando descobri, mas foi minha decisão. Eu amava a Amanda. Mesmo ela sendo uma bruxa.

E eu amo você também quis falar, mas não falei.

—Estou feliz que você está bem. Fiquei tão devastada quando pensei que você tinha...

Ela não conseguiu terminar a frase.

—Estou feliz que está bem.

Então o celular dela tocou.

—Com licença.

—Toda.

—Alô?

—Emily, a Charlotte está no hospital.

—O que? Porque?

—Eu a encontrei desmaiada com o nariz sangrando.

—Oh, não. Oh, Daniel! Você não deveria ter chamado a ambulância!

—O que?

—Daniel, os médicos não vão entender o que está acontecendo com ela. A primeira coisa que vão fazer é injetar adrenalina e isso pode matá-la!

—O que?! E o que está acontecendo com ela?

—Começamos hoje o treinamento dela, treinamos a tarde toda. Quando o nariz dela começou a sangrar falei para ela parar, comer e descansar. Mas, ela não me ouviu. Ela obviamente não me ouviu. Charlotte forçou demais, o corpo dela está sem energia e não tem força para voltar sozinho. Me diga em que ala do hospital vocês estão, o número do quarto dela.

—Duzentos e dois. Quinto andar.

—Tudo bem. Estou indo.

Ela desligou.

—Sinto muito, Jack mas a minha irmã precisa de mim. Volto assim que puder.

—Sem problemas.

É impressionante como ela consegue ser tão altruísta ás vezes e em outras beira o narcisismo. Emily é uma pessoa complexa, mais do que Amanda. Imagino que seja o preço de carregar o mundo nos ombros.

Emily sempre foi a responsável, a boa filha, sempre cuidou de tudo e de todos. Tirou a irmã de situações horríveis, deploráveis.

P.O.V. Daniel.

Puta que pariu. Sem saber eu mandei a minha irmã para pessoas que podem acidentalmente matá-la. O elevador se abriu e de lá saiu uma Emily esbaforida que carregava o bebê no moisés. Estava usando um vestido vermelho, salto alto.

—Vou precisar de umas ervas. Te mando uma mensagem com uma lista. Aqui. Essa é chave da minha casa e esta a do armário. É um armário de mogno entalhado. Vão haver várias coisas lá dentro. Os frascos com ervas estão etiquetados. Não toque em nada além das ervas. E me traga um pote e o pilão para eu misturar. Eu vou parar os médicos. Vai. Vai Daniel!

Eu fui correndo e ela entrou no quarto onde Charlotte estava. Um aceno de mão e todos os médicos estavam no chão.

Dirigi até a casa dela e depois de algum tempo de procura achei o tal armário. Abri e lá dentro haviam frascos com ervas e outras coisas também. Caixas antigas.

Meu celular apitou e lá estava a lista.

1-Alecrim.

2-Ginseng-indiano.

3-Bacopa.

4-Raiz de ouro.

Procurei entre os frascos e encontrei tudo. Peguei o pilão que era pequeno, não era o que eu esperava. Coloquei tudo numa caixa e levei ao hospital.

—Tai. Tudo o que pediu.

—Obrigado.

Ela amassou as ervas, misturou com água do filtro e meio que fez uma pasta com aquilo. Passou na mão e esfregou no peito de Charlotte fazendo algum tipo de encantamento.

—Os médicos...

—Não estão mortos, só inconscientes.

A pele de Charlotte absorveu aquilo numa velocidade extraordinária. E quase que imediatamente ela acordou.

—Bom dia, bela adormecida.

—Emily.

—Sabe, Charlie se não estivesse num leito de hospital... eu te dava uma bela duma surra!

—Eu... eu só...

—Queria fazer feitiços, acender as velas, canalizar. E você vai. Mas, antes de correr, tem que aprender a andar. Você podia ter morrido Charlotte. Nem faz ideia das forças com as quais está lidando. Se os ancestrais ficarem pistola com você eles tiram os seus poderes ou pior, te matam. Isso não é magia de Hollywood, é vida ou morte. Existem regras e se desobedece as regras... pode acabar se matando. Você consumiu tanto da sua energia que seu corpo não tinha forças para voltar sozinho e os médicos mortais não entenderiam o que estava acontecendo com você. A primeira coisa que iam fazer era injetar adrenalina e isso podia te matar. Eu sei, aconteceu comigo.

—Mas, eu não sou você.

—Está certa. Você não sou eu. Mas, a magia é universal. As regras são as mesmas para toda e qualquer bruxa ou bruxo. Homem ou mulher, aqui ou na China, as regras são iguais. Quando o nariz começar a sangrar pare. Coma, descanse, recarregue ou isso pode te custar a sua vida! Estou tentando... até agora fracassando, de impedir que você cometa os mesmos erros que eu. Quero algo melhor pra você. Então basicamente, ou segue as regras ou desiste. Simples assim. Desta vez não tem saída. É sim ou não. É obedecer ou morrer. Literalmente. Se me der licença, vou lavar as minhas mãos.

A expressão que ela usou deixou claro que ela não estava brincando. Foi tipo, lavo minhas mãos.

Os médicos acordaram e ficaram surpresos em ver a Charlotte consciente. Fizeram uma extensa bateria de exames antes de constatarem que Charlotte estava bem e perfeitamente saudável. E ela teve alta.

—Bem, nunca tinha visto a Emily tão irritada antes.

—É. Nem eu. Mas, ela mandou mesmo você parar?

—Sim. Mas, eu só queria acender a droga da vela!

—Você poderia ter se matado. Espero que isso sirva de alerta.

—Acredite, serviu.