Revenge

Uma taça de coca e uma conversa


P.O.V. Daniel.

Fui até a casa dela e lá estava ela.

—Oi.

—Oi. Entra ai.

Era engraçado o jeito como ela falava, as palavras que usava. Nunca conheci uma mulher como Emily antes, em todos os aspectos. Sempre as mesmas festas chatas, com as mesmas garotas de cabeça vazia, mimadas que viviam se gabando, falando de futilidades, com as mesmas roupas.

—Onde está o bebê?

—Dormindo. Ele tem um quarto só pra ele.

Na casa haviam coisas penduradas no teto, brinquedos infantis coloridos, os grimórios nas prateleiras junto com os livros de anatomia e medicina. O sofá branco, a mesa de centro de madeira.

—Que madeira é essa?

—Carvalho.

Pedras dos mais variados tipos e do rádio tocava rock. Ela vestia uma camiseta do que imagino ser uma banda e calça jeans toda cheia de rasgos.

—Sua calça está rasgada.

—Eu sei. Paguei por isso.

As unhas pintadas de preto.

—Isso é uma banda?

—É. Linkin Park.

—Nunca ouvi falar.

—É. Pois é. No quesito cultura popular você tirou um zero. Espera, você sabe o que é cerveja?

Perguntou brincando. E eu respondi rindo.

—Sei.

—Bem, como você tem problemas com álcool vou pegar refrigerante.

Ela pegou duas taças e uma garrafa de coca cola de dois litros. Ai é que eu ri mesmo.

—É. Pode ser coca-cola, mas pelo menos eu vou botar numa taça chique.

Eu gosto de vir aqui. De ver essa Emily com essas roupas despojadas, descalça. Essas músicas que nunca ouvi.

—Então, como vai a nossa querida irmã?

—Bem. Está ansiosa para recomeçar o treinamento.

—Não vou recomeçar até ela estar completamente recuperada.

—Os médicos disseram que a Charlotte está bem.

—Os médicos não sabem o que procurar. Amanhã vou examiná-la.

Disse servindo a coca-cola nas taças.

—Então, o que nós vamos comer hoje senhor Grayson? Infelizmente o caviar está em falta.

Falou como se fosse uma garçonete.

—E quais são as opções, senhorita Thorne?

Disse entrando na brincadeira.

—Bem, temos pizza, sushi, comida chinesa e hambúrguer. Tudo digno da mais alta classe.

—Ah, com certeza. Eu adoro comida japonesa.

—Então vamos comer sushi.

Ela pediu a comida pelo telefone.

—Desta vez eu pago.

—Oh, não. Uma boa anfitriã nunca cobra da visita. Então, vamos fazer assim você paga metade e eu a outra metade. Combinado?

—Combinado. Sabia que eu não fazia ideia que dava para pedir comida pelo telefone?

Ela riu.

—Também, quem precisa de delivery quando se tem uma legião de empregados para servi-lo.

Tirei o blazer e pendurei no cabideiro violeta. Como a porta estava aberta estava batendo vento então ela colocou uma blusa de cashimire.

—Que tal trocar a trilha sonora?

Ela tirou o pen-drive do rádio e colocou outro no lugar.

—Músicas românticas?

—Peguei pesado?

—Não. Eu gostei.

—Não quer tirar essa gravata? Eu fui garçonete por muito tempo, tive que usar gravata, chocante. Eu sei. E eu odiava. Parecia que ia me enforcar.

—Oh, então você compreende.

—Infelizmente.

Graças a Deus pude tirar aquela maldita gravata. O jantar chegou, nós dividimos a conta e começamos a conversar.

—Então, me fala de você.

—Meu nome é Emily Rebecca Thorne Clark. Nasci dia onze de junho de 1984 ás 6:08 da manhã em Moorsville, Indiana. Sou filha de David Clark e Kara Wallace, fui casada uma vez com Rohan Kamath. Eu casei com ele para que pudesse ter o visto e ficar com o homem que ele amava.

Disse tomando um gole da coca cola.

—Espera ai, você casou com um cara gay?

—Sim. E só pra você saber, eu sabia que ele era gay. Namorei com o Aiden Mathis, ficamos noivos e ai eu descobri que o desgraçado era um caçador de bruxas que estava lá para me matar e ele matou minha irmã e quase levou meu sobrinho junto.

—Nossa!

—Passei minha vida pulando de um lar adotivo para o outro, mas me lembro da minha primeira mãe adotiva. Meredith Hayward. Tudo estava bem, estávamos muito felizes, mas nossos pais adotivos nos expulsaram no segundo em que descobriram sobre nossa magia. Mas, se quer mesmo saber ser expulsa foi melhor do que o exorcismo.

—Exorcismo?! Sério?

—Sim. Eles chamaram um padre e o padre jogou água benta na nossa cara. Não acabou muito bem. Para o padre. Ele não morreu, mas foi hospitalizado.

Disse rindo.

—Coitado. Sua vez.

—Bem, meu nome é Daniel Edward Grayson, nasci 13 de janeiro de 1987 em Nova York, na ilha de Manhattan. Sou filho de Victória Grayson e Conrad Grayson, tenho dois meio irmãos. Charlotte Clark e Patrick Osborn. Namorei com Margoux LeMarchal, com a Sara Munello e com a Ashley Devenport.

—Ashley? A assistente do seu pai? Que...

—Romântico?

—Clichê.

Eu rachei de dar risada. É algo que eu adoro nela, ela é absolutamente autêntica e sempre me faz rir.

—Á propósito eu matei uma das suas ex-namoradas. A Le Marchal. Eu a amaldiçoei e então eu a matei. Ela era caçadora também.

—Espera, você fez isso?

—Eles caçaram a minha família até quase a extinção, ai eu dei o troco. Minha mãe tentou...

—Te afogar quando você era criança. Charlotte falou.

Começou a tocar uma música e ela começou a cantar com o rádio.

—Quer dançar?

—Sim.

Começamos a dançar, a mobília se afastou para abrir espaço.

—Se importa em me dizer que música é essa?

—Always. Do Gavin James.

—Ótimo.

P.O.V. Emily.

Ele começou a me arrastar para fora.

—Espera, não podemos sair. O meu filho está dormindo lá encima.

—Só vamos até lá fora.

—Tudo bem.

Finalmente, finalmente ele me beijou. E foi bom. Mas, eu detectei uma presença na casa.

—O que?

—Tem alguém na casa Daniel.

Quando chegamos lá dentro...

—Shh. Vocês vão acordar o bebê.

—Aiden.

—É difícil crer que este serzinho que parece tão inofensivo, enrolado nesta mantinha amarela vai virar uma abominação. A sementinha do mal.

Segurei-o pelo pescoço, tirando-o do chão.

—Darth Vader. Gostei.

Forcei-o a soltar o Carl. Segurei o meu filho com a outra mão e coloquei-o no colo de Daniel.

—Você realmente acha que pode me derrotar? Me parar?

P.O.V. Daniel.

Então... track. Um pescoço quebrado.

—Ninguém machuca a minha família e se safa. Ninguém.

Emily se virou e olhou para mim.

—Você está bem?

—Estou.

—O Carl está bem?

—Sim. Tem um cadáver na sua sala de estar.

—E? Ele me perseguiu, me caçou a minha vida toda, matou minha irmã e tentou matar o meu bebê. Não serve pra nada além de ser comida de verme.

Criatura predatória. De fato.

—Emily, o que mais tem lá fora?

—O que quer dizer?

—Sobrenatural.

—Oh, isso. Vampiros, apesar da maioria ser lenda urbana. Eles tem sim que ser convidados a entrar na sua casa e uma estaca no coração acaba com eles. Mas, tem que ser uma estaca de álamo. Populus Alba, Populus Nigra, Populus tremuloides...

—Enfim... Populus qualquer coisa.

—Basicamente.

—Lobisomens?

—Amaldiçoados. Quando se transformam tem que quebrar todos os ossos do seu corpo. Funciona em homens e mulheres, mas quando a mulher fica grávida a maldição fica... dormente. Até ela parir. O gene dos lobisomens é hereditário. Uma maldição sanguinis, alguém que tem o gene pode passar a vida toda sem jamais se transformar.

—Como?

—A bruxa que criou a maldição empoderou-a com a energia de sua própria morte. Para ativar/ empoderar a maldição o indivíduo primeiro tem que ter o gene e segundo... tem que matar alguém. Homicídio doloso ou culposo não faz diferença. Uma morte é uma morte. Espíritos não enxergam nuances de cor.

—Espíritos? Como fantasmas?

—Sim fantasmas.

Caramba!

—E a prata?

—Quando um lobisomem é ferido por prata... cicatriza. Vampiros não podem caminhar ao sol, á menos que tenham um amuleto. Se não, eles queimam. Acônito funciona como sedativo e acônito azul é absolutamente venenoso para lobisomens.

—E quanto aos fantasmas?

—São divididos em classes. Espíritos vingadores que são os violentos, os que ficam buscando vingança, espíritos guardiões que ficam para proteger aqueles com quem se importam e agouros de morte. Que ficam para avisar as pessoas de algum mal ou perigo iminente.

—Demônios?

—Tem os demônios menores, os da encruzilhada por exemplo e ai tem os maiores como Lilith, a mãe de todos os demônios. Os Liliam. Os Liliam são barra pesada. Príncipes do Inferno pior ainda. A maioria dos ricos fez pactos por tudo aquilo.

—Meus pais...

—Não. Seus pais eram só... idiotas. Mas, aquele ricaço bonitão, o de olho azul com a esposa ruiva. Ele fez um acordo.

—Carlton Banks. Um dos mais jovens ricos do mundo, só perde para... o Nolan. O Nolan...

—Não! Ele é cético e medroso demais. Graças á Deus.

—Gente, mas que mundo é esse? No começo do verão eu só me preocupava em paquerar, aturar as festas beneficentes da minha mãe e agora? Bruxas, vampiros, lobisomens e demônios.

—Bem vindo ao submundo.

—E quanto a mais um beijo?

—Pensei que nunca pediria.

Nós nos beijamos e bem, não parou por ai. Ela colocou o bebê no berço e nos fomos para o quarto dela.

—Cama de casal, King Size?

—Sou espaçosa.

—Tudo bem então.

—Devo te avisar, as coisas podem ficar meio estranhas.

—Você acaba de matar alguém. E eu não ligo.

—Tá bom.

P.O.V. Emily.

Ele me beijou e começou a descer. O pescoço era um dos meus pontos fracos e ele percebeu isso. Abracei-o e pela primeira vez em toda a minha vida, eu deixei esta pessoa entrar. Deixei ele entrar. Eu não deixo as pessoas entrarem.

P.O.V. Daniel.

A cama começou a flutuar e as luzes a piscar, mas fora isso... foi naquele momento, naquele exato momento eu percebi que pela primeira vez a garota não estava fingindo. Ela se entregou totalmente, todas as defesas baixadas.

Nenhuma linguagem é mais honesta do que a linguagem corporal. E me senti tão culpado.

Quando finalmente acabamos ela olhou para mim com aqueles olhos castanhos cheios de ternura e disse:

—Eu amo você Daniel Edward Grayson. Mais do que pensei que fosse possível.

Mas, então o olhar dela mudou.

—Você se sente culpado. Porque? Isso é por causa da Charlotte? Ela e eu somos parentes, mas você e eu não somos.

—Eu sei.

—Então qual é o problema?